Silencioso e preocupante

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1 Bullying Silencioso e preocupante Estudo revela que cerca de 30% dos estudantes de Goiânia sofrem agressão no ambiente escolar. As vítimas preferem se calar enquanto caminham para um triste fim Por Murillo Buaretto Sempre fui uma menina quieta. Usava óculos, não tinha um cabelo bonito como as demais meninas da minha sala e nem dinheiro para comprar boas roupas. Então me chamavam diariamente de ET, Feia, Monstro, Cabeção, Bart Sympson... Eu ficava irritada; eles gostavam. Às vezes, queria comprar algo na cantina, mas tinha vergonha de ir até lá. Jogavam papel no meu cabelo, arrancavam minha tiara, era terrível (...)! Hoje já superei alguns traumas. Sou professora. Só que o medo de zombarem de mim é o mesmo... Um medo constante de rejeição. Às vezes fico depressiva e choro muito. Neste depoimento, Gláucia (nome fictício) desabafa um problema que sofreu e que ocorre com milhares de pessoas no mundo todo. Trata-se do bullying, um comportamento agressivo, intencional e repetitivo que têm o único objetivo de ridicularizar o outro e expô-lo ao constrangimento público. O fenômeno ocorre em qualquer ambiente onde haja relações interpessoais, mas a frequência maior é entre adolescentes e jovens no ambiente escolar. Comentários maldosos, apelidos caracterizam o mal. No bullying existe uma relação de desigualdade de poder. Os agressores se aproveitam de algumas características mais fortes, espertos, populares, etc. para intimidar a vítima. Muitas pessoas consideram tais atitudes normais, brincadeiras próprias da idade e da socialização do indivíduo. Mas não é bem assim. Especialistas enfatizam: violência não deve fazer parte do desenvolvimento de nenhuma pessoa. De acordo com a psicóloga educacional Noecir Mendonça, as consequências para vítimas podem ser graves. Com as agressões constantes, as vítimas se sentem solitárias e excluídas. Vivem com o sentimento constante de incompetência e insatisfação com a vida e diminuem sua auto-estima. Muitas vezes, o problema reflete na saúde física do indivíduo. Em casos extremos, algumas vítimas planejam vingança seguida de suicídio e homicídio. Já os praticantes se firmam como pessoas violentas, vindo a se tornarem marginais, explica Noecir. Na maioria dos casos, as vítimas não contam a ninguém o que sofrem. Eles preferem se silenciar, pois têm medo que o agressor descubra e aumente as agressões. Por este motivo, o assunto era pouco conhecido até alguns anos atrás. Entretanto, devido ao constante número de casos trágicos, o tema tem sido cada vez mais tratado pela mídia. Segundo a vice-presidente do Centro Multidisciplinar de Orientação sobre o Bullying Escolar (Cemeobs), de Brasília, Cleo Fante, entre 3 e 4 anos de idade já é possível perceber tanto o comportamento abusivo, manipulador, dominador, quanto o passivo, submisso e indefeso. A estudiosa no assunto afirma que a convivência familiar e escolar deve ser olhada com mais cuidado. As instituições de ensino devem investir em conscientização de profissionais, pais e alunos sobre o tema, alerta a pesquisadora. Segundo Cleo, o mal só poderá ser combatido se a prática de virtudes como

2 solidariedade, cooperação, tolerância, empatia, respeito às diferenças e compaixão estiver sempre presente nas escolas e na família. Agressão do bullying ocorre principalmente nos espaços escolares Foto: Site Memórias e além Nova vertente A tecnologia é a mais nova ferramenta utilizada pelos agressores para atingir suas vítimas. Com tantas possibilidades na rede s, blogs e sites de relacionamento os ataques virtuais são cada vez mais constantes. Difamações, depoimentos vexatórios, ameaças, fotografias montadas e divulgadas na internet são algumas das manifestações que ocorrem nesse novo meio usado para humilhar o outro, que já tem até um nome específico: cyberbullying. De acordo com Cléo Fante, a crença de que não serão identificados e punidos aumenta a prática de agressões virtuais. Essas pessoas precisam ser conscientizadas de que a difamação pela internet é crime e que há meios, sim, de eles serem descobertos e punidos, frisa. Para a especialista, não se pode atribuir a culpa desse tipo de comportamento exclusivamente à família. Esses indivíduos sofrem influências diversas. Escola, mídia, família, sociedade, todos devem refletir sobre o assunto. No site Orkut, que é um dos meios usados por muitos ofensores para atingirem suas vítimas, existem também várias comunidades criadas com o motivo contrário. Nesses espaços, pessoas que já sofreram com o bullying trocam experiências, além de alertar aqueles que sofrem sobre como proceder para se livrar deste mal.

3 Celulares e internet são os principais meios por onde é praticado o cyberbullying Foto: Site Tugafun Números em Goiás Dois terços dos estudantes de Goiânia estão envolvidas no fenômeno bullying. Esta incidência foi constatada em uma pesquisa realizada pelo Núcleo de Análise do Comportamento da Universidade Federal do Paraná (UFPR) que analisou o nível de violência em algumas escolas brasileiras. Segundo o estudo, quase 30% dos alunos da capital goiana aparecem como vítimas e cerca de 40% como agressores. O Centro de Apoio Operacional da Infância e Juventude (CAO) do Ministério Público de Goiás recebe, em média, 15 denúncias de bullying escolar mensalmente. Mas, segundo o coordenador do CAO, o promotor de Justiça Everaldo Sebastião de Sousa, o número de casos é bem maior, já que a grande maioria das vítimas não denuncia. O problema é recorrente em todas as escolas, mas as denúncias partem principalmente de pais de vítimas das unidades particulares, talvez pelo maior conhecimento, explica Everaldo. Punição Embora os estudos na área de crimes virtuais estejam crescendo cada vez mais entre estudantes e profissionais de Direito, ainda não há uma legislação específica. Mas, de acordo com o promotor Everaldo, podem ser aplicadas sanções do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) para punir os praticantes, já que a maioria dos agressores é menor de idade. Agressão, independentemente de quem envolve, é crime. O acusado poderá ter que cumprir medidas sócio-educativas que vão desde uma advertência até prestação de serviços à comunidade. Cabe também ação de reparação contra os pais do agressor e contra a escola, por não ter adotado procedimento para cessar o comportamento irregular, afirma Everaldo. A Polícia Civil tem agido no combate ao cyberbullying. Com a identificação dos computadores (por meio do IP, que é um endereço de cada máquina) de onde partem as ofensas pela internet, solicita-se na Justiça a quebra do sigilo do cliente para localizar o provedor e se informar sobre quem utilizou aquela determinada máquina naquele instante. A partir daí, os policiais conseguem um mandado de busca e apreensão do material utilizado para o crime. O que fazer De acordo com o juiz João Bosco Soares Silva, a princípio, qualquer um que se sentir lesado através de algum texto, imagem ou vídeo em quaisquer sites pode notificar diretamente o prestador de serviço de conteúdo para que remova o conteúdo. Mesmo assim, o juiz afirma que o melhor a ser feito é preservar o maior número de provas que conseguir. O conteúdo das páginas impressos pode ser usado na investigação policial. Segundo ele, o ideal é registrar as provas on-line em um cartório. Munido de provas, o próximo passo é ir até uma Delegacia de Polícia e registrar a ocorrência. Em Goiânia, as vítimas de bullying virtual devem recorrer à Divisão de Repressão aos Cibercrimes (DRC) da Delegacia Estadual de Investigações Criminais

4 (DEIC), localizada na Cidade Jardim. As denúncias podem ser feitas também via telefone, no Ministério Público, pelo número 197. Vítimas do bullying convencional também devem denunciar. Omitir-se, sem dúvida, não é a melhor opção. Especialistas no assunto garantem que é necessário não se calar e ir atrás das devidas providências. A lei está ao lado das vítimas, mas se estas não procurarem, dificilmente o problema cessará. "A partir do momento em que o agredido mostre uma posição de me respeite', o bullying deixa de existir. Ele precisa denunciar para que não sofra novas humilhações ou que outro colega seja alvo das brincadeiras", conclui o advogado e mestre em Direito das Relações Sociais, Luciano Marchesini.

5 Links ou Boxes: Casos extremos que partiram de vítimas do Bullying Em 2004, o caso de bullying que obteve mais repercussão no Brasil ocorreu, em Taiuva, interior de São Paulo. Um jovem de 18 anos, vítima das agressões, feriu oito pessoas e se suicidou em seguida. Em 1999, na cidade de Columbine, nos Estados Unidos, dois adolescentes - um de 18 e outro de 17 anos - mataram 12 colegas e um professor. Após os assassinatos e deixarem 23 feridos, os jovens se suicidaram. Fonte: Paraná Online, 30/03/09 Envolvidos no problema Bullying Vítima: é pouco sociável, sofre repetidamente as conseqüências dos comportamentos agressivos de outros, possui aspecto físico frágil, coordenação motora deficiente, extrema sensibilidade, timidez, passividade, submissão, insegurança, baixa autoestima, alguma dificuldade de aprendizado, ansiedade e aspectos depressivos. Sente dificuldade de impor-se ao grupo, tanto física quanto verbalmente. Agressor: reproduz os maus-tratos sofridos. Como forma de compensação procura uma outra vítima mais frágil e comete contra esta todas as agressões sofridas na escola, ou em casa, transformando o bullying em um ciclo vicioso. Espectadores são alunos que adotam a lei do silêncio. Testemunham a tudo, mas não tomam partido, nem saem em defesa do agredido por medo de serem a próxima vítima. Também nesse grupo estão alguns alunos que não participam dos ataques, mas manifestam apoio ao agressor. Fonte: Artigo Bullying: quando a escola não é um paraíso, da psicopedagoga Geane de Jesus Silva Trechos de três depoimentos de usuários do Orkut que sofriam de Bullying Desde de a 5ª Série sofri com bullying. Me chamavam de Lucy por ser menor q os outros. Não sabia me defender. Na semana passada me incomodaram tanto que comecei a me arranhar com minhas unhas fazendo meu braço quase sangrar e dizendo que queria morrer. (Bárbara) Eu sempre fui gordinha.tinha um garoto que pagava os outros pra me maltratarem, e eu vivia rebatendo ele. Cansei de ficar sofrendo. Tenho auto estima baixíssima,tenho desejo de matar a todos que me fizeram mal... Envelheci psicologicamente demais para minha idade e tenho horror à quase tudo. (Ana) O problema não era o de relacionamento e sim o meu nome. Alguns deles começaram a repetir meu nome de forma irritante e rápida para eu me irritar! Nunca me irritei, mas como eu ficava quieto, eles achavam que eu estava bravo. Os professores viam isso e nunca tomaram uma decisão efetiva! Com o passar dos anos aquilo foi me deixando meio desanimado com a escola. Ninguém se relacionava comigo! Quem queria se queimar com os outros? Ninguém, é claro! Isso tudo gerou em mim uma raiva tão grande pela injustiça que faziam. Nunca contei isso pra minha família por mero orgulho juvenil. Muitos professores me taxaram como tímido, mas não era timidez. Era autoproteção contra os colegas que eu tinha que conviver na escola. Não merecia ser desrespeitado! Muito menos porque eu não desrespeitava nenhum colega! (Anônimo)

6 Fonte: Site Orkut