BULLYING NA ESCOLA: OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA. Camila Righi Medeiros Camillo. Suzete Benites. UNIFRA - Centro Universitário Franciscano
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- Ângelo Weber Santana
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1 BULLYING NA ESCOLA: OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA Camila Righi Medeiros Camillo Suzete Benites UNIFRA - Centro Universitário Franciscano INTRODUÇÃO Este trabalho tem como temática o bullying e pretende destacar o ambiente escolar como propício para a realização de atitudes discriminatórias, considerando a diversidade cultural, social, econômica, religiosa, física, entre outras. O objetivo principal é conhecer como o bullying vem sendo produzido na escola hoje, entendendo as relações de saber/poder imbricadas nesse contexto. Como objetivos específicos pretende-se conhecer as estratégias docentes frente às práticas de bullying na sala de aula; compreender a produção do sujeito escolar na contemporaneidade e discutir a formação do professor diante dessas demandas. METODOLOGIA De cunho qualitativo, a pesquisa desenvolveu-se em duas escolas da cidade de Santa Maria/Rio Grande do Sul/Brasil, uma pública municipal e outra particular. Os sujeitos 1 da investigação foram seis professores, três de cada escola e os instrumentos para coleta de dados constituíram-se em observação no intervalo, entrada e saída dos alunos e uma entrevista com os professores. Considerando essa materialidade definiu-se uma categoria principal de análise chamada Olhares do professor em relação às práticas de bullying. REFERENCIAL TEÓRICO Bullying é um termo da língua inglesa (bully = valentão ) e refere-se a diversas formas de atitudes agressivas verbais, físicas, intencionais e repetitivas, que ocorrem sem motivação aparente, causando dor e angústia, intimidando ou agredindo outra pessoa que não tenha capacidade ou possibilidade de defesa, pela relação desigual de forças ou poder. 1 Para a identificação dos professores entrevistados serão utilizadas as iniciais A, B e C. Portanto, professores A, B e C da escola pública municipal e professores A, B e C da escola particular. 1
2 O bullying envolve atos, palavras ou comportamentos prejudiciais intencionais e repetidos. Os comportamentos incluídos no bullying são variados: palavras ofensivas, humilhação, difusão de boatos, fofoca, exposição ao ridículo, transformação em bode expiatório e acusações, isolamento, atribuição de tarefas poucas profissionais ou áreas indesejáveis no local de trabalho, negativa de férias ou feriados, socos, agressões, chutes, ameaças, insultos, ostracismo, sexualização, ofensas raciais, étnicas ou de gênero (MOZ, 2007, p. 21). Considerando o conceito atualmente utilizado para caracterizar as práticas de bullying entende-se que na sociedade contemporânea ele torna-se uma invenção moderna produtiva, responsável pela produção de novas identidades no contexto escolar. A sociedade cria padrões de normalidade definindo como os sujeitos devem ser, portar-se, vestir-se. Paralelamente, produz estratégias para acabar com o mesmo, ou seja, inventa a normalidade que inventa a si mesma para logo massacrar, encarcerar e domesticar o outro (SKLIAR, 2003, p. 153). Considerando essa normalidade busca-se compreender a produção do bullying na escola, enredado nas relações de saber/poder que definem o verdadeiro e normal no espaço escolar. Entende-se que a normalidade procura capturar sujeitos diferentes objetivando torná-los homogêneos, apagando sua alteridade e estranheza ou reforçando-a. Conviver em sociedade remete seguir normas, padrões impostos e cobrados por ela mesma, caso contrário, ao diferenciar-se do aceitável socialmente sofre-se consequências dessa estranheza, ou como nos coloca SKLIAR (2003), somos produtos e produtores dessa invenção maléfica. Portanto, problematizar as práticas de bullying na sociedade contemporânea, e a própria naturalização da normalidade, requer entender as relações de saber/poder imbricadas. RESULTADOS E DISCUSSÕES Categoria principal: Olhares do professor em relação às práticas de bullying De acordo com a pergunta norteadora desse estudo, o que você entende por bullying, os professores das duas redes de ensino demonstraram entendimento de forma convergente, como podemos observar nas palavras do professor C, escola particular: É a violência psicológica ou física, que são praticadas de forma intencional e repetitivas, por um grupo ou pessoa, com finalidade de intimidar ou agredir a vítima 2 (grifo das autoras). Considerando a compreensão dos professores por bullying, Silva (2010, p.22) elucida o termo adotado para explicar todo tipo de comportamento agressivo, cruel, proposital e 2 Formatação definida pelas autoras do trabalho para dar destaque às respostas dos professores entrevistados. 2
3 sistemático inerente às relações interpessoais. As práticas do bullying apresentam-se de diversas formas, frequentemente nota-se que a vítima não recebe apenas um tipo de maustratos, e as ações de violência física e psicológica por parte do agressor não têm limites. São manifestações verbais e físicas que acabam trazendo complicações psicológicas no indivíduo vítima (como baixa autoestima, transtornos do pânico...) (professor A, escola pública, grifo das autoras). Salienta-se que as práticas do bullying têm relação com uma diferença de idade entre os alunos, ou seja, segundo relatos dos professores e observações realizadas, as manifestações de bullying não são tão evidentes em alunos menores de seis anos quanto nos alunos de idades maiores, que já sabem o que querem e possuem entendimento sobre suas ações. Sobre a diferença de idade dos alunos e suas atitudes frente ao bullying, professor B, escola particular diz: Como atuo com crianças pequenas não percebo muito essas práticas. Apenas uma menina que está acima do peso, em alguns momentos recebe certas manifestações negativas dos colegas que a chamam de gorda (grifo das autoras). Em contrapartida, professores da escola pública/municipal por terem alunos com idades maiores, percebem que essas manifestações acentuam-se, e são unânimes em salientar que elas aparecem através de agressões físicas/verbais, discriminação em relação à classe econômica e apelidos. Destaca-se ainda algumas recorrências nas compreensões dos professores quanto às manifestações de bullying na escola onde atuam: Agressões físicas e verbais, através de redes sociais (professor A, escola pública/municipal). Percebemos no dia a dia da escola que algumas formas de violência psicológicas acontecem entre as crianças, pela vontade de querer dominar e controlar o colega, nas escolhas de brincadeiras e outras atividades. Não permitir que o outro tenha vontade de expressar os seus desejos e opiniões e fazer com que ele se sinta intimidado e ameaçado é uma forma de fazer bullying (professor C, escola particular, grifo das autoras). Nesse sentido, evidencia-se as relações de poder entre os pares: entre aquele que exerce o controle (aluno agressor) e o outro (aluno que sofre a agressão), o qual aparentemente sem possibilidade de reação coloca-se no lugar de estranho e passa a sofrer as ações do bullying. E é nesse jogo de poder, de quem exerce mais poder sobre o outro, que se define o normal, o anormal, o estranho, a vítima do bullying. Na prática do bullying podemos ressaltar alguns fatores estimuladores destas condutas, como fatores econômicos, culturais, influência de amigos, entre outros. Atualmente há uma grande influência das mídias (jornal, televisão, rádio, internet) na produção e proliferação das práticas do bullying, pois entende-se que essa ferramenta tem grande poder de domínio público principalmente entre crianças e adolescentes que ainda estão em fase de 3
4 desenvolvimento, construção de ideias e formação de opinião. Pode-se notar esse aspecto nas respostas dos professores tanto da escola municipal quanto da particular: As crianças assistem desenhos violentos na televisão e muitas vezes acabam reproduzindo o que assistem (professor A, escola particular, grifo das autoras). Acredito que primeiramente a falta de limites e respeito de algumas crianças e suas famílias. Em segundo acredito que a mídia coloca muitos estereótipos que muitas vezes podem estimular essas práticas (professor B, escola particular, grifo das autoras). O bullying sempre existiu... mas atualmente está mais acentuado devido à mídia (TV, internet,...) (professor A, escola pública/municipal, grifo das autoras). A mídia torna-se uma grande aliada social na produção de padrões de normalidade, ou seja, por meio dela se definem padrões estéticos, intelectuais e morais que nos conduzem, ou procuram nos conduzir, para a convivência harmoniosa com nossos pares. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesse trabalho considera-se que a temática do bullying é relativamente nova enquanto nomenclatura, mas na base da formação do sujeito e da constituição da própria escola ele sempre existiu, tornando refém alunos, professores e família. A partir da apreciação da entrevista com os professores e observações dos alunos no ambiente escolar ressalta-se que a produção do bullying na escola contemporânea constitui-se a partir de ações de violência escolar ou atitudes de intimidação entre os alunos, atrelados a busca por autoafirmação de grupos, disputa de espaço e liderança ou na reprodução de modelos de violência e exclusão sofridos pelo próprio praticante em outros ambientes. Nesse contexto, compreende-se que a relação entre o normal e o anormal configura-se no cenário da escola e aparece como um sinal verde para que as práticas de bullying aconteçam. Quem agride, humilha, ofende sente-se ameaçado e incomodado, pelas diferenças que outro apresenta, seja pela cor, religião, deficiência, opção sexual, posição social, entre outras. Acreditando nessas verdades que ele mesmo determina como essenciais e aceitáveis o aluno constitui-se como o agressor que persegue e pratica maus tratos físicos e psicológicos com suas vítimas, por nomeá-las de estranhos. Este estudo demonstrou a relação escola-bullying como aquela que merece destaque, da mesma forma que os sujeitos produzidos por essas práticas, as noções de normal e anormal e as novas configurações que a escola desenha diante desse cenário. 4
5 REFERÊNCIAS MOZ, J. M.; ZAWADSKI, M. L. Bullying: estratégias de sobrevivência para crianças e adultos. São Paulo: Artmed, SILVA, A. B. B. Bullying: mentes perigosas nas escolas. Rio de Janeiro: Objetiva, SKLIAR, C. Pedagogia (improvável) da diferença: e se o outro não estivesse aí? Rio de Janeiro: DP&A,
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