TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE SÃO PAULO TRIBUNAL PLENO SESSÃO DE 02/10/2013 ITEM 07

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1 TRIBUNAL PLENO SESSÃO DE 02/10/2013 ITEM 07 RECURSO ORDINÁRIO TC /026/07 Recorrente: Farid Said Madi - Ex-Prefeito do Município da Estância Balneária de Guarujá. Assunto: Contrato entre a Prefeitura Municipal da Estância Balneária de Guarujá e Verdurama Comércio Atacadista de Alimentos Ltda., objetivando a aquisição de gêneros alimentícios em geral e cestas básicas para as Secretarias de Educação, Saúde e Ação Social. Responsável: Farid Said Madi (Prefeito à época). Em Julgamento: Recurso Ordinário interposto contra o acórdão da E. Segunda Câmara, que julgou irregulares a concorrência, a ata de registro de preços e o termo de aditamento, acionando o disposto no artigo 2º, incisos XV e XXVII, da Lei Complementar nº 709/93. Acórdão publicado no D.O.E. de Advogados: Antônio Araldo Ferraz Dal Pozzo, Vilson do Nascimento e outros. Acompanham: Expedientes: TC /026/09 e TC /026/08. Fiscalização atual: GDF-9 DSF-I. RELATÓRIO A Prefeitura de Guarujá instaurou processo de Concorrência objetivando formar Registro de Preços de gêneros alimentícios e cestas básicas destinados às Secretarias de Educação, Saúde e Ação Social. O processo licitatório, a correspondente Ata de Registro de Preços e o termo aditivo posteriormente celebrado foram apreciados pela E. Segunda Câmara na Sessão de 05/04/11, oportunidade em que foram julgados irregulares (v. Acórdão de fl.

2 1402). Inconformado, o ex-prefeito de Guarujá, Senhor Farid Said Madi interpôs razões de Recurso Ordinário nas fls. 1405/1427). Enfrentando cada um dos pontos controvertidos que fundamentaram o julgado recorrido, iniciou o recorrente defendendo a eficácia da exigência disposta no item III do edital, no sentido da apresentação, como documento de habilitação, da prova de quitação da licitante perante o Conselho Regional de Nutrição. A regra haveria de ser aprovada porque: o edital foi publicado anteriormente à edição da Súmula nº 28; a quitação de anuidade constitui condição essencial ao exercício da atividade profissional; e também porque a medida contaria com amparo na Lei nº 6.583/78, que disciplinou a criação dos Conselhos Federal e Regionais de Nutrição, remetendo a hipótese, dessa maneira, ao preceito do art. 30, inciso IV, da Lei de Licitações. Esses argumentos foram ainda empregados para justificar a validade do conteúdo do item VI, que exigiu das licitantes a apresentação de avaliação de conformidade e licença de uso de marca expedidas pelo INMETRO. 2

3 No que se refere aos preços registrados, disse que a fase interna do certame contou com pesquisa de preços idônea e que as fornecedoras consultadas, ao contrário do que constou na instrução dos autos, são do ramo e contam com finalidades sociais consentâneas com o objeto disputado, tanto que uma delas (Pontual) apresenta objeto social idêntico ao da empresa vencedora do certame (Verdurama). Mais ainda, justificou a falta de publicação trimestral dos preços ao alto custo envolvido, informando, de outra parte, que a Prefeitura observa o princípio da publicidade veiculando dados da espécie por meio de seu sítio na Internet. Por fim, no que se refere à questionada prorrogação da vigência da Ata de Registro de Preços, asseverou que a providência atendeu ao disposto no Decreto Municipal nº 7.581/05 que, espelhado na disciplina jurídica conferida ao tema pelo Decreto Federal nº 3.931/01, admite a hipótese desde que comprovada a vantagem econômica da prorrogação. No GTP, a manifestação foi favorável ao processamento do recurso (fls. 1430/1432), em função do que os autos foram distribuídos pela E. Presidência (fl. 1433). Assim feito, o processo foi remetido para a ATJ, 3

4 para quem as razões de apelo não merecem provimento. Assessoria Técnica (fls. 1436/1437) e Chefia (fls. 1438/1439) não vislumbram argumentos suficientes para ensejar a pretendida reforma, consignando, ao contrário, que as falhas representaram violação à jurisprudência da Corte, com nítidos reflexos na competitividade da disputa. A manifestação da SDG foi convergente, na medida em que as falhas apontadas afrontariam a jurisprudência consolidada da Corte, não havendo no Recurso qualquer elemento com potencial para modificar o entendimento da Colenda Câmara (fls. 1440/1442). É o breve relatório. JAPN 4

5 VOTO PRELIMINAR O v.acórdão recorrido foi publicado em 19/04/11, ao passo que a interposição do apelo foi registrada em 29. O ex-prefeito Municipal, responsável à época pelos atos fiscalizados, constitui parte legitima e o Recurso Ordinário apresenta-se adequado. Assim, atendidos os requisitos de forma, tomo conhecimento do Recurso. 5

6 VOTO DE MÉRITO O processo de licitação instaurado pela Prefeitura de Guarujá dispôs de regras de seleção sabidamente reprovadas nesta Corte e que, no caso concreto, explicaram o reduzido acesso de interessados à disputa. De um lado, os requisitos de qualificação técnica impuseram a apresentação de registro no CRN acompanhado de prova de quitação anual, exigência que viola a jurisprudência deste E. Tribunal, ora consolidada no enunciado da Súmula nº 28. Ainda no que se refere à qualificação exigida, o certificado de avaliação de conformidade e a licença de uso da marca INMETRO/MAPA 1 haveriam, no máximo, de integrar o rol de condições para a celebração dos contratos, na medida em que constituem documentos afetos à figura da vencedora do certame. Sobre esse tema, inclusive, busquei fazer um paralelo com os requisitos que medem a habilitação jurídica das licitantes, mais especificamente no que se refere à autorização de funcionamento expedida pelo órgão competente, nos termos de 1 Marca indicativa de atendimento aos requisitos do regulamento de avaliação de conformidade para cestas de alimentos e similares Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial e Ministério da Agricultura, Pecuária e do Abastecimento. 6

7 norma específica, e que, por ser obrigatória, não desbordaria da fase de habilitação. Essa situação, vista no conteúdo do item IV, que trata da licença de funcionamento expedida pela ANVISA, documento sem o qual a empresa não se credencia a funcionar legalmente e a travar negócios válidos, não se repete na exigência dos questionados certificado de avaliação de conformidade e licença para uso de marca INMETRO/MAPA. Essencialmente, referidos documentos prestam-se a atestar que a empresa certificada atende às boas práticas de produção de cestas de alimentos, na conformidade da Instrução Normativa SDA/MAPA nº 51/2002, não se confundindo, portanto, com outras formas de licenciamento que atingem a própria existência e funcionamento da empresa e que, nessa exata medida, não afrontam o comando da Súmula nº 14. Desarrazoada, portanto, a exigência, porquanto, no limite, passível de ser exigida apenas da licitante vencedora, o que não ocorreu no caso concreto. De outra parte, prosseguindo, persiste a dúvida quanto ao orçamento estimativo do certame, formado a partir de 7

8 pesquisa de preços feita com empresas alheias ao mercado atacadista de gêneros alimentícios. Devo confessar que a alegação de que uma das empresas pesquisadas apresentou escopo que se identificava com o da contratada fez vislumbrar traço de idoneidade no orçamento estimativo elaborado. Contudo, o conjunto desses valores pode ter ficado justamente acima do que seria a média do mercado vigente por refletir levantamento feito a partir de mercados com perfis de preço diferentes (atacado e varejo). Ademais, o trabalho poderia ter sido ampliado com o histórico de compras da Prefeitura nos últimos contratos, o que, considerado um cenário de estabilidade de preços e poucas sazonalidades, indicaria estimativa mais adequada para a avaliação das propostas. E, por último, no que se refere à prorrogação da Ata de Registro de Preços, há de se consignar que o edital foi lançado à praça em 2005 e a Ata de Registro de Preços decorrente foi firmada em fevereiro de 2006, períodos em que o tema não se encontrava consolidado entre nós. 8

9 Recordo que, ao ser estabelecido o marco jurisprudencial sobre a matéria (TC-44523/026/10, E. Tribunal Pleno, Sessão de 03/02/10), esta Corte caminhou no sentido de tratar de forma casuística situações aperfeiçoadas em momento anterior. Este é o caso que ora retorna ao debate. A Prefeitura concretamente prorrogou a vigência da Ata por doze meses, medida cuja aprovação pressuporia, principalmente, comprovação incontornável de que a extensão dos efeitos da ata propiciaria vantagem de ordem financeira à Administração. Mantida a conclusão da E. Câmara de que os preços registrados não estariam comprometidos com os valores praticados no mercado na ocasião, porquanto selecionados a partir de fonte inidônea, não se vislumbra na hipótese ao menos um dos requisitos que confeririam contorno de aceitabilidade à prorrogação da Ata de Registro de Preços. A extensão dos efeitos da ata no tempo demandaria a aquisição dos gêneros alimentícios e cestas básicas a preços espelhados no mercado ou mais vantajosos, a ponto de tornar a formação de novo registro medida antieconômica e oposta ao interesse público. 9

10 Acolhendo, portanto, a instrução de ATJ, Assessoria Técnica e Chefia, bem assim de SDG, meu VOTO nega provimento ao Recurso Ordinário interposto pelo ex-prefeito do Município de Guarujá e ratifica o v. Acórdão recorrido na íntegra. RENATO MARTINS COSTA Conselheiro 10