Tribunal de Contas do Estado de São Paulo

Transcrição

1 Item 03 Tribunal de Contas do Estado de São Paulo RELATOR - CONSELHEIRO ANTONIO ROQUE CITADINI 15ª Sessão Ordinária do Tribunal Pleno, dia 30/5/2012 Processo: TC /003/08 Recorrente(s): Prefeitura Municipal da Estância Climática de Bragança Paulista. Prefeito: João Afonso Solis. Decisão Recorrida: V. Acórdão da 2ª Câmara (Conselheiros Edgard Camargo Rodrigues Relator, Renato Martins Costa e Robson Marinho), publicado no DOE em 30/06/2010. Advogados: Ricardo Pagliari Levy, Roberto Zilsch Lambauer, Renata de Almeida Faria, Fabrício Cobra Arbex e outros. Senhor Presidente, Senhores Conselheiros, e, Senhor Procurador Geral do Ministério Público de Contas, Relato o RECURSO ORDINÁRIO interposto pela Prefeitura Municipal da Estância Climática de Bragança Paulista( 1 ), contra o V. Acórdão( 2 ) que julgou irregulares a dispensa de licitação, o contrato( 3 ) decorrente e, por força do princípio da acessoriedade, os aditamentos( 4 ), bem como ilegais os atos determinativos das despesas, firmados pela ora recorrente e a Companhia Brasileira de Soluções e Serviços, referentes ao fornecimento de cartões eletrônicos de alimentação para os servidores municipais. 1 V. fls. 247/ V. fls V. contrato celebrado em 10/08/06, no valor atribuído de R$5.000,00. 4 V. Aditivos celebrados em 21/12/06, 04/06/07 e 19/11/07. 1

2 Importa frisar que o juízo a quo, ao proferir sua decisão, além de reprovar a contratação direta sob o fundamento legal eleito (inciso VIII, do artigo 24, da Lei federal nº 8.666/93), rejeitou a possibilidade de enquadramento da matéria no inciso II, do artigo 24, da mencionada norma legal. A Recorrente, em síntese, defende a regularidade do fundamento legal da dispensa, aduzindo que o Banco do Brasil, ao invés do consignado na r. decisão recorrida, deve ser tido como parte no contrato e não como mero mediador. Destaca, ainda, que o ajuste foi celebrado pelo preço de R$ 5.000,00, por conta dos serviços prestados pela Contratada (fornecimento e administração do cartão alimentação), não se podendo considerar, para fins de apuração do valor da contratação, os repasses aos funcionários. Após, ingressaram nos autos petições da empresa contratada( 5 ), e da empresa Sodexo Pass do Brasil Serviços e Comércio Ltda. (do mesmo segmento do mercado e que denunciou o caso deste contrato junto à Promotoria Pública da Comarca de Bragança Paulista)( 6 ); a primeira, defendendo a regularidade do referido procedimento de contratação, e, a segunda, ao contrário, defendendo a confirmação e manutenção da decisão de irregularidade da matéria, ambas assinadas por ilustres advogados e por mim recebidas como meras informações, principalmente diante do prazo recursal vencido e da regular instrução processual. Falando sobre o apelo, tanto a Assessoria Técnica e sua Chefia( 7 ), quanto a Secretaria Diretoria Geral( 8 ), concordaram no sentido de 5 Vide fls. 320/334 e anexo de fls. 335/ Vide fls. 375/393 e anexos de fls. 394/ Vide fls. 268/ Vide fls. 368/371. 2

3 que a peça deva ser conhecida e, no mérito, mantida a respeitável decisão atacada. O Ministério Público de Contas não destoa dos préopinantes, concluindo, em parecer( 9 ), que a dispensa de licitação efetivada pela Prefeitura de Bragança Paulista se deu irregularmente, bem como a consequente contratação e os termos aditivos posteriores, devendo, assim, ser mantida na íntegra a r. decisão combatida. ESSE É O RELATÓRIO. VOTO. PRELIMINARMENTE, POR RESTAREM ATENDIDOS OS PRESSUPOSTOS DE SUA ADMISSIBILIDADE, CONHEÇO DO RECURSO. NO MÉRITO, COMO RELATADO, A INSTRUÇÃO DOS AUTOS MOSTRA OPINIÃO UNÂNIME DOS ÓRGÃOS DA CASA, NO SENTIDO DA MANUTENÇÃO DO JULGADO, COM A PROPOSTA DE DESPROVIMENTO DO RECURSO EM EXAME, QUE FOI INTERPOSTO PELA PREFEITURA. NESTE SENTIDO, A ASSESSORIA JURÍDICA DE ATJ MOSTRA QUE AS RAZÕES DE RECURSO REPETEM AS ALEGAÇÕES JÁ CONTIDAS NA INSTRUÇÃO INICIAL, RESSALTANDO NÃO TEREM SIDO ACEITAS NAQUELA OPORTUNIDADE POR NENHUM DOS ÓRGÃOS TÉCNICOS, TAMPOUCO PELO RELATOR OU, AINDA, POR QUALQUER OUTRO INTEGRANTE DA CÂMARA JULGADORA. E SUA CHEFIA, 9 Vide fls. 415/422. 3

4 ACOMPANHANDO-A, REAFIRMOU A OPINIÃO DE QUE A CONTRATAÇÃO DEVERIA TER SIDO PRECEDIDA DE LICITAÇÃO, DADA A EXISTÊNCIA, NO MERCADO, DE VÁRIOS FORNECEDORES, PROVÁVEIS PROPONENTES, O QUE FAZ PRESUMIR A POSSIBILIDADE DE ECONOMICIDADE, NÃO CONFIRMADA PELA AUSÊNCIA DE DISPUTA QUE SE REGISTRA COM A CONTRATAÇÃO DIRETA. JÁ A SECRETARIA DIRETORIA GERAL INICIA SUA MANIFESTAÇÃO LEMBRANDO QUE A PREFEITURA CONTRATOU DIRETAMENTE A CBSS COMPANHIA BRASILEIRA DE SOLUÇÕES E SERVIÇOS, FAZENDO-O COM FUNDAMENTO NO ARTIGO 24, INCISO II DA LEI DE LICITAÇÕES, PORQUE ATRIBUIU À CONTRATAÇÃO O VALOR CORRESPONDENTE À TAXA DE ADMINISTRAÇÃO, QUAL SEJA: R$-5.000,00 (CINCO MIL REAIS). EXTRATOS CONSTANTES DOS ESCLARECIMENTOS PRESTADOS PELA PRÓPRIA CONTRATADA, E MUITO BEM APANHADOS PELO SENHOR DIRETOR GERAL (FLS.369), CONTÉM AFIRMATIVA EXPRESSA NESTE SENTIDO, E DEIXA CLARO QUE O BANCO DO BRASIL É ACIONISTA DA CONTRATADA, PORÉM, NÃO EXECUTA OS SERVIÇOS CONTRATADOS, DE EMISSÃO E GESTÃO DOS CARTÕES VISA VALE ALIMENTAÇÃO, CONCLUINDO, ASSIM, COM A AFIRMAÇÃO DA PRÓPRIA CONTRATADA, DE QUE O BANCO DO BRASIL TEVE PAPEL APENAS DE INTERMEDIÁRIO ENTRE AS PARTES. POR SUA VEZ, O MINISTÉRIO PÚBLICO DE CONTAS TRAZ PARECER NA MESMA DIREÇÃO, RESSALTANDO OS 4

5 PONTOS ABORDADOS, ESPECIALMENTE POR SDG, E ADUZINDO QUE A CONTRATAÇÃO EM EXAME FEITA DIRETAMENTE, PORTANTO, COM DISPENSA DE LICITAÇÃO, ENVOLVE DOTAÇÕES ORÇAMENTÁRIAS DA ORDEM DE UM MILHÃO DE REAIS, VALOR ESSE ENTREGUE DIRETAMENTE À CONTRATADA PELA PREFEITURA. MANIFESTA OPINIÃO DE TER SIDO ILEGAL A DISPENSA, CONCLUINDO QUE, EM TESE, OCORRERA A INFRAÇÃO PENAL PREVISTA NO ARTIGO 89 DA LEI DE LICITAÇÕES, ALÉM DA CONDUTA PREVISTA NO INCISO VIII DO ARTIGO 10 DA LEI Nº 8.429/92. TAIS RAZÕES LEVAM AQUELE ÓRGÃO A PROPOR O CONHECIMENTO E O DESPROVIMENTO DO RECURSO, COM REMESSA DE CÓPIA AO MINISTÉRIO PUBLICO DA COMARCA DE BRAGANÇA PAULISTA. ANALISANDO OS AUTOS, OUTRO NÃO É MEU CONVENCIMENTO. NÃO HÁ DÚVIDA ALGUMA QUE OS RECURSOS PÚBLICOS DA PREFEITURA ENVOLVIDOS NA CONTRATAÇÃO É A SOMA DA TAXA DE ADMINISTRAÇÃO PAGA COM O VALOR DEVIDO AOS SERVIDORES MUNICIPAIS. TAMBÉM NÃO HÁ DÚVIDA DE QUE HOUVE DESRESPEITO AOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA ISONOMIA E COMPETITIVIDADE. DE FATO, SE MOSTRA INSUSTENTÁVEL A DEFESA DA DISPENSA DE LICITAÇÃO FUNDAMENTADA APENAS NO VALOR DA TAXA DE ADMINISTRAÇÃO. BASTA LEMBRAR A POSSIBILIDADE DE SE TER UMA TAXA NEGATIVA O QUE TEM SIDO ACEITO EM CONTRATAÇÕES DESTE TIPO, COMO ILUSTRAM CONTRATAÇÕES PESQUISADAS DEMONSTRANDO QUE A 5

6 COMPETIÇÃO NESTE MERCADO ALCANÇA TAXAS DE MENOS 1% A 2%, NO MÍNIMO, COM O QUE, NA HIPÓTESE, O VALOR JÁ ESTARIA ELEVADO EM QUANTIA SUPERIOR A R$9.000,00, A FAVOR DO ERÁRIO PÚBLICO( 10 ). REALMENTE, COMO DA INSTRUÇÃO RESTOU CLARO, O LUCRO DAS EMPRESAS EM TAL NEGOCIO NÃO RESULTA da TAXA DE ADMINISTRAÇÃO, MAS, SIM, DA GESTÃO DOS RECURSOS PÚBLICOS QUE LHE SÃO COLOCADOS À DISPOSIÇÃO E QUE SÃO ADMINISTRADOS GERANDO RECEITAS MAIORES OU MENORES, A DEPENDER DA POLITICA DE ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DA CONTRATADA E DAS CIRCUNSTÂNCIAS DE MERCADO. O CERTO É QUE O VALOR DOS RECURSOS PÚBLICOS HÁ DE SER, SEM DÚVIDA, A SOMATORIA DOS VALES DE CADA FUNCIONÁRIO. E, NO CASO PRESENTE, A EXIGÊNCIA DE LICITAÇÃO, CONFORME EXPLICADO, NÃO TRAZ QUALQUER DÚVIDA. MINHA CONCLUSÃO, PORTANTO, É A DE QUE DEVA SER MANTIDA A R. DECISÃO RECORRIDA, POR SEUS JURÍDICOS E SÓLIDOS FUNDAMENTOS, ENVIANDO-SE CÓPIA DESTE RELATÓRIO E VOTO AO MINISTÉRIO PÚBLICO DA COMARCA DE BRAGANÇA PAULISTA, PARA SUBSIDIAR O INQUERITO LÁ INSTAURADO E NOTICIADO NOS AUTOS. ESTE É O MEU VOTO. MAS, SENHOR PRESIDENTE, ANTES QUE VOSSA EXCELÊNCIA ABRA OPORTUNIDADE PARA DISCUSSÃO DESTE VOTO, GOSTARIA DE LEMBRAR AO E. PLENÁRIO QUE NA SESSÃO 10 Vide, por exemplo, o Pregão nº 004/2012, Processo PRCI nº do Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo - COREN. 6

7 DE 18/04/2012 VOSSA EXCELÊNCIA NOTICIOU A INICIATIVA - EM BOA HORA ADOTADA PELA E. PRESIDÊNCIA - DE PROMOVER UM LEVANTAMENTO E REQUISITAR DE TODOS OS MUNICÍPIOS OS TERMOS CONTRATUAIS REALIZADOS COM A CONTRATADA CBSS, TENDO POR OBJETO A CONTRATAÇÃO DE VALE ALIMENTAÇÃO, EM FACE DA NOTICIA, NA IMPRENSA, DE IRREGULARIDADES PRATICADAS NESSAS CONTRATAÇÕES. A DISCUSSÃO DO ASSUNTO NAQUELA SESSÃO RESULTOU NA CONCORDÂNCIA DOS EMINENTES CONSELHEIROS, DE QUE OS PROCESSOS REQUISITADOS E NÃO DISTRIBUÍDOS, O FOSSEM A ÚNICO RELATOR, DEVENDO, ENTRETANTO, AGUARDAR-SE O DESFECHO DESTE RECURSO QUE ORA APRESENTO PARA JULGAMENTO. COMO SE OBSERVA, AINDA QUE APARENTEMENTE COMPLEXA A MATÉRIA, ESPERO TER DEIXADO CLARA A POSIÇÃO QUE ENTENDI APLICÁVEL, DE QUE, SEM NENHUMA DÚVIDA, O OBJETO VALE ALIMENTAÇÃO É OFERECIDO POR VÁRIOS FORNECEDORES E O VALOR DO BENEFÍCIO CONCEDIDO AOS SERVIDORES DEVE, SEMPRE, INTEGRAR O VALOR DA CONTRATAÇÃO. TAIS FATOS TORNAM NECESSÁRIA A INSTAURAÇÃO DE LICITAÇÃO, A QUAL SÓ PODERÁ VIR A SER DISPENSADA NOS CASOS EM QUE, EVENTUALMENTE, O VALOR TOTAL DA CONTRATAÇÃO, INCLUINDO O VALOR DOS TAIS VALES, NÃO ALCANCE O MÍNIMO EXIGIDO, NOS TERMOS DA LEGISLAÇÃO VIGENTE, E POR ESTE FATO PERMITA A DISPENSA, O QUE SE CRÊ, EVENTUALMENTE 7

8 POSSA ACONTECER EM MUNICÍPIOS MUITO PEQUENOS, SEJA EM POPULAÇÃO, SEJA EM SERVIDORES. ASSIM, À MARGEM DO JULGAMENTO DESTE PROCESSO, PROPONHO QUE O E. PLENÁRIO APROVE, EM CARÁTER NORMATIVO, DELIBERAÇÃO INFORMANDO AOS GESTORES ESTADUAIS E MUNICIPAIS, QUE TODA CONTRATAÇÃO PARA OS SERVIÇOS DE FORNECIMENTO DE VALE ALIMENTAÇÃO HÁ DE SER PRECEDIDA DE LICITAÇÃO, ADMITINDO-SE EXCEÇÃO, APENAS E TÃO SOMENTE, SE O VALOR TOTAL APURADO NÃO ALCANÇAR O MÍNIMO DO TETO FIXADO NA LEGISLAÇÃO. NESTAS CONDIÇÕES, SENHOR PRESIDENTE, APRESENTO O VOTO PELO DESPROVIMENTO DO RECURSO, E SE APROVADA A PROPOSTA DE DELIBERAÇÃO, ENVIAREI À PRESIDÊNCIA UMA MINUTA PARA ANÁLISE DOS SENHORES CONSELHEIROS. SUGIRO, AINDA, QUE SE A MATÉRIA FOR APROVADA SEJA DADA AMPLA DIVULGAÇÃO NA PAGINA DO TRIBUNAL, NA INTERNET. São Paulo, 30 de maio de MAVR/OP ANTONIO ROQUE CITADINI Conselheiro 8