Texto 1. Perspectivas para o trabalho integrado com a questão do crack e outras drogas
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- Terezinha Ávila Carmona
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1 Texto 1 Perspectivas para o trabalho integrado com a questão do crack e outras drogas Segundo o Ministério da Justiça (2011) entre as várias questões do dia a dia que exigem atenção especial, pela sua complexidade e singularidade, temos o tema drogas. Esta é uma questão que direta ou indiretamente, diz respeito a todos nós Governo e Sociedade. Esse assunto permite olhares sob várias perspectivas, no sentido de ampliar a consciência para a importância da intersetorialidade e descentralização das ações sobre drogas no país. Dessa forma, podemos apreciá-lo enquanto cidadãos de uma nação, membros de uma família, participantes de uma comunidade ou como indivíduos. Para cada uma dessas ações, justifica-se um engajamento pleno e indispensável de cada segmento. Nesse contexto, é necessário fundamentar, no princípio da responsabilidade compartilhada, a coordenação de esforços entre os diversos segmentos do Governo e da sociedade, em todos os níveis, buscando efetividade e sinergia no resultado das ações. É importante a compreensão de que o uso abusivo ou a dependência de drogas é um transtorno onde predomina a heterogeneidade, já que afeta as pessoas de diferentes maneiras, por diferentes razões, em diferentes contextos e circunstâncias. Muitos consumidores de drogas não compartilham da expectativa e desejo de abstinência dos profissionais de saúde, e abandonam os serviços. Outros sequer procuram tais serviços, pois não se sentem acolhidos em suas diferenças. Assim o nível de adesão ao tratamento ou a práticas preventivas e de promoção é baixo, não contribuindo para a (re) inserção social e familiar do usuário. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003). 1
2 Durante muito tempo a questão do uso abusivo ou dependência de drogas esteve num vazio de ações, onde os usuários eram negligenciados diante de seus direitos fundamentais à saúde ou qualquer outra política pública. Somente em 2003, o Ministério da Saúde MS adotou a Política de Atenção Integral a Usuários de Álcool e Outras Drogas, que incorporou diretrizes consoantes com os princípios da política de saúde mental vigente (Lei Federal n /2001) e os pressupostos da OMS para a área de Saúde Mental. Nesse momento a saúde assume a responsabilidade do cuidado a esses usuários. Porém, no decorrer das ações desenvolvidas e, diante da complexidade das questões relacionadas a essa problemática, percebeu-se a necessidade do desenvolvimento de ações integradas e intersetoriais que conseguisse ampliar o cuidado e a atenção a esse usuário. Partindo dessa premissa, na constituição da Política Nacional sobre Drogas do Ministério da Justiça/SENAD (2005) as diretrizes da Prevenção, Tratamento e Reinserção Social já se destacam e três estratégias para o enfrentamento, controle e cuidado da problemática das drogas foram pensadas para serem desenvolvidas de forma paralela. Para o Governo, ações direcionadas para redução da oferta, redução da demanda e redução de danos precisariam ser desenvolvidas para dar conta desta problemática, uma vez que estamos diante de diferentes desejos, modos de pensar e agir acerca da questão do uso de drogas. Nesse sentido devemos compreender que: 2
3 REDUÇÃO DA OFERTA Consiste no desenvolvimento de ações de erradicação de plantações, destruição de princípios ativos; repressão à produção, refino e ao tráfico de drogas; combate a lavagem de dinheiro e de fiscalização e controle da produção, da comercialização e do uso de drogas; REDUÇÃO DA DEMANDA Consiste no desenvolvimento de ações para desestimular o consumo, em especial a iniciação, e para tratar os usuários e dependentes. REDUÇÃO DE DANOS Orienta a execução das ações para a prevenção das consequências danosas à saúde decorrentes do uso de drogas, sem necessariamente interferir na oferta ou no consumo. Finalmente, em 2006, o Governo Brasileiro revoga as Leis nº 6.368/1976 e /2002, e sanciona a Lei nº , que institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas SISNAD; prescreve medidas para prevenção ao uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para a repressão a produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define crimes e dá outras providências (BRASIL, 2006). Um dos principais avanços desta Lei é a distinção entre usuários / dependentes de drogas e traficantes. Com o foco na intersetorialidade, essa Lei, dentre seus objetivos, prevê a redução das conseqüências sociais e de saúde decorrentes do uso de drogas e, consequentemente, a prevenção do uso indevido; a atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas e; a repressão ao tráfico ilícito de drogas. É importante destacar que nesse momento, já existe a previsão de atuação de instituições de saúde e de ASSISTÊNCIA SOCIAL no atendimento a esses usuários. Como princípios norteadores, a Lei nº considera a abordagem multidisciplinar na atenção ao usuário de drogas e aos respectivos familiares; o equilíbrio entre prevenção, atenção e reinserção social de usuários e a repressão ao tráfico; a definição de um projeto terapêutico 3
4 individualizado, orientado para a inclusão social e para a redução de riscos e de danos sociais e à saúde. Esse é um dos primeiros momentos que a Assistência Social é convocada a contribuir, de forma efetiva, junto às ações promovendo uma atenção integral aos usuários que fazem uso abusivo ou são dependentes de alguma substância psicoativa. É importante ressaltar que desde 1988, a Constituição Federal já trazia uma nova concepção para a Assistência Social brasileira. Incluída no âmbito da Seguridade Social e regulamentada pela Lei Orgânica da Assistência Social LOAS em dezembro de 1993, como política social pública, a assistência social iniciava seu trânsito para um campo novo: o campo dos direitos, da universalização dos acessos e da responsabilidade estatal. A LOAS cria, nesse momento, uma nova matriz para a política de assistência social, inserindo-a no sistema do bem-estar social brasileiro concebido como campo de Seguridade Social, configurando o triângulo juntamente com a saúde e a previdência social. A inserção na Seguridade Social aponta, também, para seu caráter de política de Proteção Social articulada a outras políticas do campo social voltadas à garantia de direitos e de condições dignas de vida. O Sistema Único de Assistência Social SUAS, concretiza a Política Nacional de Assistência Social PNAS (2004), estabelecendo um novo modelo de gestão, com enfoque na proteção social que se estrutura conforme matriz padronizada de serviços socioassistenciais organizados em dois níveis de proteção: Proteção Social Básica (PSB) e Proteção Social Especial (PSE) de Média e Alta Complexidade. A PNAS elenca, entre seus usuários, cidadãos e grupos que se encontram em situações de vulnerabilidade e riscos, inclusive por uso de substâncias psicoativas. Percebe-se, diante dessa contextualização, que a atenção junto aos usuários de drogas não é um campo novo para a 4
5 Assistência Social. Foi preciso a compreensão de que no âmbito da saúde, apenas, as intervenções frente a essa problemática não seriam eficazes para dar conta de toda a complexidade da temática. Nessa perspectiva da integralidade e intersetorialidade, e a crescente demanda nas intervenções junto a esse segmento, a população provoca respostas dos poderes públicos e da sociedade em geral. Dessa forma, o Governo Federal, inicia discussões de como integrar ações já desenvolvidas nas diversas políticas publicas do nosso País. União, Estados, Municípios e o Distrito Federal deram passos importantes nesta direção, contudo ainda insuficientes, na época, para o enfrentamento de uma questão complexa e de múltiplas dimensões que afeta a todos. No âmbito federal podemos destacar algumas iniciativas como o Plano Emergencial de Ampliação do Acesso ao Tratamento e Prevenção em Álcool e outras Drogas no Sistema Único de Saúde - SUS (PEAD ), instituído por meio da PORTARIA Nº 1.190, DE 4 DE JUNHO DE 2009, constituindo-se no primeiro programa do Governo Federal direcionado para o cuidado integral dos usuários de álcool e outras drogas. Inicia-se com o PEAD uma preocupação em promover uma atenção integral ao usuário de álcool e outras drogas no âmbito do SUS. A ampliação do acesso prevê não só a diversidade de serviços, mas a atuação de forma preventiva, promovendo tratamento e estratégias de redução de danos. Para o êxito dessas intervenções, ações intersetoriais foram apontadas como essenciais diante da complexidade no atendimento desses usuários. Porém, mesmo diante da identificação dessa necessidade, o PEAD teve na sua organização, um direcionamento predominante no âmbito da saúde, o que não se mostrou suficiente para o enfrentamento da questão. Posteriormente, o Governo Federal divulga a implantação do Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas, instituído pelo decreto 7.179, de 20 de maio de 2010 e posteriormente alterado a partir do Decreto de 08 de dezembro de 2011 com o Plano Crack é Possível Vencer, que preconiza ações executadas de forma descentralizada e integrada por meio da conjugação de esforços entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. Nesse Plano, 5
6 são observadas a intersetorialidade, a integralidade, a participação da sociedade civil e o controle social. O plano Crack é Possível Vencer tem como objetivos aumentar, substancialmente a oferta de tratamento de saúde e atenção aos usuários, aprimorar o enfrentamento ao tráfico de drogas e o desmantelamento das organizações criminosas ligadas ao tráfico, implantar o policiamento ostensivo de proximidade nos territórios onde haja concentração no uso de crack e outras drogas, com disponibilização de bases móveis policiais e de sistema de videomonitoramento fixo e móvel, assim como ampliar as atividades de prevenção por meio da educação, informação e capacitação, especialmente junto às escolas públicas. Neste contexto foram estabelecidos eixos de atuação distribuídos da seguinte forma: Eixo cuidado onde consistem ações voltadas para área da Saúde e Assistência Social; Eixo autoridade onde consistem ações de Segurança Pública; e o Eixo prevenção onde consistem ações de educação e informação. Segundo o Programa, todas essas ações deverão ser desenvolvidas através da articulação, principalmente, entre a Assistência Social, Saúde e Segurança Pública que devem unir estratégias para assegurar uma atenção integral a esses usuários, seja no eixo cuidado, autoridade ou prevenção. Assim, no âmbito do SUAS, um dos principais desdobramentos das ações do eixo cuidado do Programa Crack é Possível Vencer referiu-se a expansão de recursos federais para o cofinanciamento de serviços nas suas unidades de referência: CRAS, CREAS, Centro POP, oferta do Serviço Especializado em Abordagem Social, bem como vagas em serviços de acolhimento institucional em geral. Essas ações deverão sempre propor um fluxo de atendimento integrado ao SUS, para facilitar à rede a visualização do atendimento conjunto no território, considerando a articulação entre unidades e serviços das Políticas de Assistência Social e Saúde. 6
7 Dessa maneira, concretiza-se, definitivamente, no país, o paradigma da intersetorialidade no campo das políticas públicas sobre drogas e a assistência social é definitivamente convocada para o trabalho social com a questão. Referências BRASIL. Constituição. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, Senado, BRASIL. Presidência da República. Lei Orgânica de Assistência Social. Lei nº 7.742, de 07 de dezembro de BRASIL. Lei nº , de 06 de abril de Política nacional de saúde mental dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Disponível em: < /files/u4/11_pol_saudemental.pdf>. Acesso em: 15 dezembro BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. SVS/CN-DST/AIDS. A Política do Ministério da Saúde para Atenção Integral a Usuários de Álcool e outras Drogas. Brasília BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria Nacional de Assistência Social. Política Nacional de Assistência Social. Brasília, BRASIL. Lei de 23 de agosto de Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define crimes e dá outras providências. Disponível em < Acesso em 15 dezembro BRASIL. Diário Oficial da União. Decreto nº 7.179, de 20 de maio de 2010, que institui o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas. BRASIL. Diário Oficial da União. Decreto nº 7.637, de 8 de dezembro 2011 que altera o Decreto no 7.179, de 20 de maio de 2010, que institui o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas. BRASIL, Ministério da Justiça. Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas.. Política Nacional sobre Drogas (2005). In: Legislação e Políticas Públicas sobre drogas no Brasil. Brasília, BRASIL, Ministério da Justiça. Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas. Legislação e Políticas Públicas sobre drogas no Brasil. Brasília,
8 BRASIL. Casa Civil, Ministério da Saúde, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Ministério da Justiça, Ministério da Educação. Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Oficina de Alinhamento Conceitual do Programa Crack é Possível Vencer texto orientador. Brasília,
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