PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE RONDÔNIA Porto Velho - Fórum Criminal
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- Luiz Fernando Raminhos Dreer
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1 Vara: 1ª Vara da Auditoria Militar Processo: Classe: Ação penal (réu solto) Autor: Ministério Público do Estado de Rondônia Denunciado: André Luiz Alencar de Oliveira Vítima: UNIBANCO - União de Bancos Brasileiros S/A Vistos etc. O réu foi denunciado porque no dia 25 de outubro de 2002, por volta das 17h00, no interior da agência do Banco Unibanco, sito à Rua José do Patrocínio, nº 703, Bairro Centro, nesta Capital, em unidade de desígnios com outras duas pessoas não identificadas, mediante violência e grave ameaça exercida com o emprego de arma de fogo e faca, auxiliou materialmente a subtração da quantia de R$ ,00 (oitenta e quatro mil reais) pertencentes ao Banco Unibanco. Pediu o MP a condenação do réu como incurso nas penas do Art. 157, 2º, Incisos I e II, c/c Art. 29, caput, ambos do Código Penal. A denúncia foi recebida em (fls. 160). O réu foi citado pessoalmente às fls O réu foi interrogado às fls. 177/ /182). Apresentou as alegações preliminares tempestivamente (fls. Em juízo foram ouvidas 06 testemunhas (fls. 200/203 e 215). Em alegações finais o MP ratificou o exposto na exordial acusatória e pugnou pela condenação. A defesa, por sua vez, requereu a absolvição do réu por entender que não existem provas suficientes para a condenação. É o relatório. D E C I D O: A materialidade do crime em comento está assaz demonstrada pela ocorrência policial de fls. 08/10; pelo auto de apreensão e apresentação de fls. 11; pelo laudo de exame de corpo de delito realizado na vítima Isaías às fls. 46/47; pelo laudo de avaliação merceológica de fls. 57; pelos depoimentos das vítimas (fls. 200/203 e 215). No que tange à autoria delitiva verifico diante de todo o conjunto probatório amealhado que não se pode afirmar de forma inconteste que o réu foi a pessoa que Pág. 1 de 5
2 deu auxílio material para a entrada dos executores do roubo à agência bancária. A única certeza que se extrai dos autos é que o réu efetivamente estava no interior da agência bancária, assim como todas as demais testemunhas/vítimas (funcionários do banco vítima e prestadores de serviço de segurança). Inclusive, nesse ponto a prova é plena, haja vista que o réu alega que sempre prestou serviços terceirizados naquela instituição financeira, o que foi ratificado por todas testemunhas. Em síntese, o que se tem contra o réu é o fato do mesmo não ser funcionário da empresa vítima, como se somente isso já indicasse que favoreceu a prática do crime. Compulsando os autos cuidadosamente verifico que: 1. O réu esteve na agência, no dia do crime, prestando serviços de manutenção de telefonia, assim como as demais testemunhas/vítimas estavam trabalhando normalmente; 2. Havia autorização por parte da gerência do banco vítima para a sua estada e permanência após o horário de atendimento; 3. De alguma forma os executores do assalto adentraram a agência e renderam o réu e mais alguns funcionários; 4. O assalto foi exitoso e os executores perpetraram fuga levando os valores já consignados sem deixar quaisquer pistas. Consigne-se que os itens acima transcritos restam inteiramente provados. Vejamos todos os depoimentos prestados: "...no dia dos fatos, estava no banco fora do horário de funcionamento, na sala do gerador; a manutenção que estava realizando só poderia ser feita fora do horário de funcionamento; havia ordem de serviço autorizando o declarante a estar na sala naquele momento; estava acompanhado de um funcionário do banco..."(depoimento do réu às fls. 177/178). Grifei. "...o réu estava de fato prestando serviços na agência nesse dia, mediante chamada para conserto de telefones, sendo que tendo ocorrido o assalto acabou ocorrendo desconfiança que o réu tenha facilitado a entrada dos demais assaltantes pelo portão dos fundos da agência /.../ a chave do referido portão por onde entraram os assaltantes ficava pendurada numa porta dentro do banco e que qualquer pessoa que ali trabalhasse poderia ter acesso a ela..."(maria Auxiliadora Marinho Pinheiro testemunha fls. 215). Grifei. Pág. 2 de 5
3 "...a presença do réu no banco era gde vez em quando h. Que nesse dia ele ficou cerca de duas horas no banco, o que em tese seria até normal. Que percebeu que o réu subiu em uma cadeira e mexeu num sensor de monitoramento. Que mesmo assim nada desconfiou antes do assalto. Que a porta de acesso ao banco pelos fundos e que fica próximo ao gerador foi encontrada destrancada, indicando que alguém a teria aberto /.../ Que a porta sempre ficava fechada e trancada, mas a chave ficava pendurada num portachaves próximo desta..."(francisco da Costa de Farias vigilante testemunha/vítima fls. 200). Grifei. "...era gerente da agência assaltada, sendo que R$ ,00 foram levados por pessoas armadas. Que no momento do assalto André estava na agência, mas não sabe se o mesmo contribuiu com os assaltantes. Que haviam vários funcionários na agência, inclusive circulando próximos da porta pela qual os assaltantes entraram /.../ o réu dava manutenção nos telefones da agência /.../ a entrada de pessoas para manutenção era autorizada pela gerente administrativa, Maria Auxiliadora /.../ o sistema de segurança por filmagens foi desligado /.../ o alarme também foi desligado /.../ o sistema de monitoramento ficava exatamente na sala de telefonia que o réu estava verificando, mas outros funcionários também tinham acesso a essa sala /.../ na referida sala só havia uma chave, sendo que neste dia a mesma foi aberta e deixada aberta para livre trânsito do réu..."(francirlene Belo Mendes de Santana gerente testemunha/vítima fls. 201). Grifei. "...efetivamente houve o roubo no banco /.../ o réu estava fazendo manutenção de telefonia no banco /.../ viu o réu passando em frente a tesouraria e saindo por uma porta que dava acesso ao almoxarifado, grupo gerador e dali para a parte externa do banco /.../ na sequencia o réu já retornou supostamente rendido pelos bandidos, juntamente com outro funcionário do banco /.../ não observou se o réu passou pela tesouraria portando um celular..."(josias Cardoso da Silva Jr. - funcionário do banco testemunha/vítima fls. 202). Grifei. "...efetivamente houve o roubo no banco /.../ mas não sabe se o mesmo facilitou a entrada no banco dos assaltantes /.../ na sala de monitoramento tanto a gerente administrativa como vez que outra outros funcionários Pág. 3 de 5
4 também tinham acesso /.../ próximo do portão que foi encontrado aberto também circulava outros funcionários /.../a chave do referido portão ficava pendurada atrás da porta da cozinha, onde todos os funcionários tinham acesso /.../ a declarante tinham inclusive trancado referido portão minutos antes do assalto..."(adailza Cácia Ferreira Carvalho funcionária do banco testemunha/vítima fls. 202). Grifei. "...o réu estava dando manutenção no banco /.../ a sala de telefonia e monitoramento era a mesma e o réu ali estava trabalhando /.../ conversou rapidamente com o réu e voltou para o caixa /.../ momentos após /.../ encontrou o réu rendido pelos assaltantes, sendo o declarante também rendido com uma arma..."(zeno Santos do Nacimento Jr. - funcionário do banco testemunha/vítima fls. 202/203). Grifei. hipotéticas: Diante de todo o exposto acima existem, no mínimo três situações Primeiro, possivelmente o réu, em razão da confiança nele depositada, tanto pela gerência como pelos funcionários do banco vítima, desligou o sistema de monitoramento (já que foi visto por um dos informantes quando mexeu em um fio de um sensor) e, após, abriu a porta dos fundos para a entrada dos executores do crime de roubo; Segundo, é bem possível que algum dos funcionários do banco (gerente, caixa, tesoureiro, segurança, etc.) em mancomunhão com executores do crime possa ter desligado o monitoramento e o alarme da agência, uma vez que, conforme visto, todos detinham livre acesso dentro da agência, e facilitado a entrada daqueles para que perpetrassem o roubo em questão; Terceiro, a funcionária encarregada de trancar a porta dos fundos pode ter, erroneamente ou também intencionalmente ao fazê-lo, deixado a porta aberta, permitindo assim a entrada dos assaltantes. Ademais o próprio vigia do banco afirma que o réu teria lhe feito perguntas sobre a chegada de dinheiro na agência, valores nos caixas, etc, e disso, aparentemente, nada desconfiou ele? Estranha essa situação para um segurança que, aliás, também poderia, ou até deveria, figurar na lista de suspeitos. Destarte, em que pese o esforço do órgão ministerial em tentar provar que o réu tomou parte efetiva neste crime, haja vista que lavrou laborioso parecer que fundamenta a sua opinião, tudo não passa de suposição, e no plano da ilação o melhor caminho é, sem sombra de dúvidas, o da absolvição. Reitero. É possível que o réu tenha tomado parte nesse crime, mas isso não ficou efetivamente demonstrado nestes autos. Derradeiramente, consigno que depois de exaustivamente analisar a Pág. 4 de 5
5 prova do processo, por todo esse contexto, conforme a fundamentação supra, não há prova suficiente para a condenação, pois ainda que o réu tenha agido de forma suspeita (perguntas referentes aos valores; livre acesso na agência; mexer em um sensor de monitoramento; etc.) não se pode afirmar, com certeza, que ele deu o auxílio material aos executores. Existem apenas alguns indícios que causam dúvida, ou uma quase certeza, de sua participação, mas insuficientes para ensejar a dureza de uma condenação, pois no juízo criminal não se condena por suposições ou meros indícios insólitos, mas sim com base na certeza de que o réu agiu ou auxiliou a ocorrência do evento criminoso. POSTO ISTO, JULGO IMPROCEDENTE a denúncia formulada pelo Ministério Público para ABSOLVER o réu ANDRÉ LUIZ ALENCAR DE OLIVEIRA, já devidamente qualificado nos autos, por não existirem provas de ter o réu concorrido para a infração penal, firme no disposto no Art. 386, Inciso V, do Código de Processo Penal, o que faço conforme o exposto na fundamentação acima. Publique-se. Registre-se. Intime-se. Custas pelo Estado. Com o trânsito, arquive-se. Porto Velho-RO, quarta-feira, 15 de outubro de Léo Antônio Fachin Juiz de Direito Militar Pág. 5 de 5
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