RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO
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- Jorge Espírito Santo Fialho
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1 RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO Elaine Cristina Moreira Schnaider Janaina Ap. Pires do Nascimento Professora Orientadora: Mestre Zilda Mara Consalter Universidade Estadual de Ponta Grossa Resumo: O presente trabalho pretende abordar a responsabilidade subjetiva nas relações entre paciente e médico. Estuda os fatores que levam a responsabilidade subjetiva do médico apurada nos casos de culpa do profissional por negligência e imprudência, bem como a responsabilidade objetiva nos casos de resultado não obtido. Em abordagem indutiva e interdisciplinar, foi realizada uma pesquisa bibliográfica a respeito do tema, e com a utilização de jurisprudência elaborou-se uma abordagem que partiu dos aspectos teóricos em direção à aplicação na prática diária realizando a subsunção do fato à norma jurídica, o que nem sempre é tão simples. Trata-se de pesquisa preliminar, que na fase atual, traz uma maior compreensão a respeito da responsabilidade civil, com finalidade de esclarecer aos profissionais sua responsabilidade perante seus clientes, dentro da sociedade moderna de hoje. Palavras-chave: responsabilidade; jurisprudência; culpa; indenização; dano. Introdução: Atualmente, os usuários de serviços médicos necessitam cada vez mais de informações para terem ideia clara acerca de seus direitos. No campo da Medicina, os avanços são notáveis e com novas técnicas adotadas, cresce a cada dia a responsabilidade desses profissionais, pois muitas vezes ocorrem erros em procedimentos simples que levam á morte dos seus pacientes. Dentre os tipos de responsabilização civil desses profissionais, há a responsabilidade objetiva e a subjetiva, sendo que a primeira independe de culpa, bastando o prejuízo para que haja o dever de indenizar, já a segunda depende da conduta, culpa e do nexo de causalidade. Com este estudo não se busca uma solução para os dilemas enfrentados no Poder Judiciário, mas sim, uma tentativa de compreensão de como se fará a subsunção de casos concretos à norma, analisando teoria e jurisprudência comparativamente com o intuito de compreender os rumos e implicações da conduta médica e a sua responsabilização civil em nossa sociedade. Objetivos: Pesquisar os fatores que levam a procedência ou improcedência dos pedidos junto ao Poder Judiciário. Diferenciar a responsabilidade subjetiva, regra geral, da objetiva, regra especial. Verificar pelo método indutivo a subsunção da norma aos casos concretos. Esclarecer os reais direitos dos usuários de serviços de saúde.
2 Métodos e Técnicas de Pesquisa: Trata-se de um trabalho inicial, realizado a partir de pesquisa bibliográfica e jurisprudencial sobre a temática, em abordagem indutiva e interdisciplinar, proporcionando um contato inicial com a questão e indicando a necessidade de pesquisa continuada, visando aprofundar a discussão. Resultados e Discussão: A Responsabilidade Civil Médica situa-se no campo na responsabilidade civil subjetiva e uma de suas características principais é que a culpa sempre deve ser provada: A responsabilidade civil do medico tem recebido da jurisprudência um tratamento diferenciado sendo necessário que a culpa do medico seja provada pelo autor da ação de responsabilidade civil contra este profissional. (SOUZA, 2006, p. 30). Em supedâneo ao argumento de Souza está a seguinte decisão do TJPR: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. ERRO MÉDICO. AUSÊNCIA DE CULPA. RESPONSABILIDADE CIVIL. INEXISTÊNCIA. Para caracterização da responsabilidade civil por erro médico é imprescindível a demonstração de culpa do profissional, o que não ficou configurado no caso em espécie, máxime a demonstração de que o procedimento adotado pelo médico assistente ser o adequado e em conformidade com o quadro apresentado pela paciente. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. (TJPR - 10ª C. Cível - AC Medianeira - Rel.: Jurandyr Reis Junior - Unânime - - J ) (grifo nosso) A natureza da responsabilidade civil médica é contratual: [...], a relação médicopaciente é aceita pela doutrina do Direito e pelos julgamentos dos magistrados, em seus diversos graus, como tendo características de uma relação contratual, apesar de sua atipicidade, inominado que é, como contrato. (SOUZA, 2006, p. 35) E por trata-se de relação contratual a incidência de responsabilidade subjetiva é tratada pelo Código de Defesa do Consumidor, vejamos: Art. 14, CDC O fornecedor de serviços responde independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. 4 A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa. Médico não se compromete a curar, mas a proceder de acordo com as regras e métodos da profissão, pois assumem obrigação de meio e não de resultado. Serão civilmente responsabilizados somente quando ficar provada qualquer modalidade de culpa: imprudência, negligência ou imperícia (art. 951 CC.). Verifica-se que a prova da negligência e da imperícia constitui fonte essencial para a culpabilidade do profissional, sendo uma dificuldade para as vítimas assumir o ônus da prova. Aqui no Paraná, conforme jurisprudência a maioria dos casos, os pedidos de indenização acabam sendo denegados, por falta de provas referente a culpa do profissional da medicina ou de seus subordinados, pois não se pode presumir a culpa (GONÇALVES, 2010, p. 428). Na continuidade, Gonçalves (2008, p.30/31) fundamenta que quando a culpa já é presumida, o autor só precisa provar a ação ou omissão e o dano resultante da conduta, invertendo-se o ônus da prova.
3 No entanto, na maioria dos casos a atividade médica é realizada como atividade de meio e não de resultado, predominando a responsabilidade subjetiva, na qual sem prova de culpa, improcede a ação de indenização. Não se pode comparar uma correção de disfunção visual com uma cirurgia estética. Porém pode ocorrer a inversão do ônus da prova para que o médico comprove que utilizou a técnica adequada e que agiu de forma diligente. Da relação de consumo entre médico e paciente verifica-se na esfera processual a possibilidade da inversão do ônus da prova quando estiver caracterizada a verossimilhança com as alegações do paciente e a hipossuficiência técnica deste: AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO, EM DECORRÊNCIA DE ERRO MÉDICO - RELAÇÃO DE CONSUMO - RESPONSABILIDADE SUBJETIVA DOS PROFISSIONAIS LIBERAIS, QUE NÃO AFASTA A INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR - INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA - DEFERIMENTO - VEROSSIMILHANÇA DAS ALEGAÇÕES E HIPOSSUFICIÊNCIA CARACTERIZADAS. RECUSO DESPROVIDO. (TJ-PR - AI: PR , Relator: Luiz Lopes. Data de Julgamento: 24/06/2010, 10ª Câmara Cível, Data de Publicação: DJ: 427). Os deveres do médico na relação contratual situam-se na consulta, tratamento e acompanhamento pós-tratamento. O cirurgião, antes de proceder à cirurgia, deve obter o consentimento válido do paciente, essencial para a licitude do ato médico dever tanto mais exigível quanto maior a gravidade da operação e agora expressamente previsto no art. 15, do Código Civil. Para proteger a inviolabilidade do corpo humano, é necessária a autorização do paciente ou de seu responsável para assumir o pleno conhecimento dos riscos existentes. Se não houver tempo hábil para essas providências, em casos de emergência terá o profissional a obrigação de realizar o tratamento, eximindo-se de qualquer responsabilidade por não tê-la obtido. O profissional médico que não fornecer ao paciente as verdades corretas, para que baseado nestas o paciente tome uma decisão independente, não está respeitando a autonomia do paciente, incorrendo, assim, em um agir culposo, pelo qual é passível de ser responsabilizado. (SOUZA, 2006, p.43) A autonomia do paciente é liberdade de escolha do paciente a realização do tratamento assim que toma conhecimento de suas condições biológicas e psíquicas, conforme informações do artigo Bioética: O princípio da autonomia e o termo de consentimento livre e esclarecido de Adriana de Freitas Torres (2007): Manifestação da essência do princípio da autonomia é o consentimento esclarecido. Todo indivíduo tem direito de consentir ou recusar propostas de caráter preventivo, diagnóstico ou terapêutico que tenham potencial de afetar sua integridade físico-psíquica ou social. O consentimento deve ser dado livremente, após completo esclarecimento sobre o procedimento, dentro de um nível intelectual do paciente; renovável e revogável. Estando este ciente das informações médicas deve este cumprir os seus deveres dos quais podemos citar: a remuneração médica, seguir os conselhos do profissional, obedecer a suas prescrições, informar o médico de seus sintomas e quadro clínico já averiguado por outro profissional, etc. O dever de informar consiste em dever mútuo que deve ser observado por ambas as partes. O médico deve informar ao paciente diagnósticos, prognósticos, riscos e
4 objetivos do tratamento. (KFOURI, p.33). O paciente deve informar ao profissional seus sintomas, medicamentos que já utilizou, tratamentos que já realizou, participando ativamente do tratamento. O médico pode ser responsabilizado civilmente por um ato executado por um terceiro. Quando age como preponente, comissivamente, o médico será responsabilizado em virtude do caráter in vigilando e in eligendo da sua obrigação pelo que o executar o seu preposto. (SOUZA, p.49), ou seja, quando o médico delega a função a outrem e o instrui de forma inadequada e equivocada lesionando a paciente. Em outros casos, aplica-se a teoria da causalidade adequada onde a responsabilidade civil dos demais profissionais, quando trabalhando em equipe é individual, ou seja, caracterizada a culpa do profissional apenas ele responde subjetivamente: [...], não existindo a subordinação, cada um responderá pelos atos que tiver praticado e na razão direita com que os mesmos tenham contribuído para a lesão prejuízos no paciente. (SOUZA, p. 51). Considerações Finais: No Brasil vige uma regra dual de responsabilidade civil, em que temos responsabilidade subjetiva coexistindo com a responsabilidade objetiva, especialmente em função da atividade de risco desenvolvida pelo autor do dano. Essas considerações provem do preceito fundamental do neminem laedere, ou seja, de que ninguém deve ser lesado pela conduta alheia (GAGLIANO, 2011, p. 57/58). A Responsabilidade Civil do Médico situa-se no campo da responsabilidade civil subjetiva, o elemento primordial é a culpa que deve ser demonstrada, pois em sua ausência não há ilícito. Pode ser dividida em obrigação de meio ou de resultado, sendo que na primeira visa-se fornecer o melhor tratamento para a moléstia acometida ao paciente, enquanto nos tratamento que visam resultado busca-se uma melhor aparência estética. Concluímos que a obrigação de indenizar é a consequência juridicamente lógica do ato ilícito (GAGLIANO, 2011, p.55), comprovada a culpa o médico terá o dever de indenizar o paciente pelos danos causados. Referências: COELHO, Fábio Ulhôa. Curso de direito civil obrigações: responsabilidade civil, vol. 2, 3 ed. rev. São Paulo: Saraiva, GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: responsabilidade civil, vol.3., 4. ed. rev. atual. e reform. São Paulo: Saraiva, GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: responsabilidade civil, vol.3., 9. ed. São Paulo: Saraiva, GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume IV: responsabilidade civil. 3. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008.
5 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil esquematizado, vol. 1, São Paulo: Saraiva, GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil. 12. ed. São Paulo: Saraiva, KFOURI NETO, Miguel. Responsabilidade civil do médico. 6. ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, PARANÁ, Tribunal de Justiça. AI: PR , Relator: Luiz Lopes, Data de Julgamento: 24/06/2010, 10ª Câmara Cível, Data de Publicação: DJ: 427. Disponível em:< >. Acesso em : 04 mai PARANÁ, Tribunal de Justiça- AC Medianeira - Rel.: Jurandyr Reis Junior - Unânime - - J Disponível em: < Acesso em: 04 mai SOUZA, Neri Tadeu Camara. Responsabilidade civil e penal do médico. Campinas, São Paulo: LZN, TORRES, Adriana de Freitas, Bioética: O Princípio da autonomia e o termo de consentimento livre e esclarecido. Ci. Inf., Paraíba, Jornal do CRM-PB nº 72, Abril-Junho, Disponível em:< oetica-o-principio-da-autonomia-e-o-termo-de-consentimento-livre-eesclarecido&catid=46:artigos&itemid=483>. Acesso em : 04 mai
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