vilização pela palavra está bem relacionado à divulgação católica da Retórica antiga.

Transcrição

1 Title 書 評 Eliane Marta Teixeira Lopes, Lu Filho, Cynthia Greive Veiga(org.) 5 Brasil (Belo Horizonte: Autêntica, Author(s) Dias, Nilta Journal Encontros lusófonos, (16) Issue Date Type 紀 要 /Departmental Bulletin Paper Text Version 出 版 者 /publisher URL 59 Rights

2 書 評 Eliane Marta Teixeira Lopes, Luciano Mendes Faria Filho, Cynthia Greive Veiga (orgs.) 500 anos de Educação no Brasil (Belo Horizonte: Autêntica, 2011) Nilta Dias O livro 500 anos de Educação no Brasil é uma coletânea composta de 24 artigos relacionados à história da educação no Brasil e escritos por pesquisadores e professores de diferentes centros de pesquisas e universidades brasileiras. A obra organizada por Eliane Marta Teixeira Lopes, Luciano Mendes Faria Filho e Cynthia Greive Veiga e publicada pela Editora Autêntica já está na sua 5a edição e foi, inicialmente, patrocinada pela Prefeitura Municipal de Belo Horizonte (Minas Gerais, Brasil) como parte do projeto Belo Horizonte Cidade Viva Os artigos que compõem a referida obra tratam a história da educação brasileira com uma visão bastante pertinente e diversificada das importantes transformações socioeconômicas e culturais por que passaram e vêm passando a sociedade brasileira e o Brasil como um todo. Segundo os organizadores, a escolha dos autores e dos textos foi feita com base em dois critérios bastante gerais. O primeiro foi procurar criar uma abrangência cronológica que pudesse garantir a referência direta ou indireta a todos os períodos considerados importantes na história da educação brasileira. O segundo foi escolher temas considerados de grande importância para a melhor compreensão da história da educação no Brasil. Deste modo, foi elaborado um livro de história que tem como objeto específico de estudo a educação. Os 24 artigos apresentados no livro formam um conteúdo geral bem diversificado e plural, o que é bastante apropriado para uma obra que faz referências à história da educação do povo brasileiro, cujas principais características são diversidade e pluralidade. Embora a maioria dos artigos tenha sido disposta com base numa ordem cronológica, os mesmos possuem uma determinada autonomia que garante sua compreensão individual, por isso, não precisam, obrigatoriamente, ser lidos na sequência em que são apresentados. Vejamos a seguir, título, autor e breve apresentação de cada artigo: A CIVILIZAÇÃO PELA PALAVRA por João Adolfo Hansen. O autor apresenta informações e fatos históricos importantes que nos ajudam a perceber quão grande era a influência das doutrinas da Igreja Católica na formação do indivíduo. O termo ci- 1. Projeto comemorativo do primeiro centenário da cidade de Belo Horizonte. 38

3 vilização pela palavra está bem relacionado à divulgação católica da Retórica antiga. EDUCAÇÃO JESUÍTICA NO BRASIL COLONIAL por José Maria de Paiva. Texto sobre a atuação dos jesuítas na educação no Brasil. Segundo o autor, os portugueses, por terem como base o padrão cultural português, agiam de modo a mantê-lo e para isso, o único recurso era a imposição. Sendo assim, a educação jesuítica cumpria a missão de preservar a cultura portuguesa que era centrada na hierarquia e alicerçada na religião. O SEMINÁRIO DE OLINDA por Gilberto Luiz Alves. O autor apresenta fatos importantes da política educacional do fundador do colégio-seminário de Olinda, Bispo José Joaquim da Cunha de Azeredo Coutinho, destacando suas ideias burguesas e seu apego aos bens materiais. O texto nos oferece informações históricas que nos ajudam a refletir sobre alguns motivos pelos quais até hoje muitos não têm acesso à educação de qualidade. Fala de uma educação financiada por todos e usufruída por poucos. MULHERES EDUCADAS NA COLÔNIA por Arilda Ines Miranda Ribeiro. O texto traz informações e fatos importantes referentes à educação feminina, mostra qual era o papel da mulher no período colonial e como ela era vista e tratada pela família e pela sociedade. O MESTRE-ESCOLA E A PROFESSORA por Heloisa de O. S. Villela. A autora apresenta uma sequência de acontecimentos que nos ajudam a entender como surgiu e se desenvolveu a profissão docente no Brasil. Fala também da feminização do magistério, uma profissão que até então era exercida praticamente só por homens. INSTRUÇÃO ELEMENTAR NO SÉCULO XIX por Luciano Mendes de Faria Filho. Neste texto temos acesso a informações referentes às ideias pedagógicas e políticas que serviram de base para implantar as escolas de primeiras letras, e posteriormente, a criação dos sistemas de ensino primário no Brasil. ENSINO SUPERIOR E UNIVERSIDADE NO BRASIL por Luiz Antônio Cunha. Como sugere o título, o texto refere-se ao ensino superior. O autor nos oferece informações históricas sobre os estabelecimentos e o sistema de ensino superior no Brasil, apresenta alguns movimentos estudantis e reformas universitárias e faz uma análise de vários pontos importantes que deverão ser observados numa proposta de mudanças no ensino superior brasileiro. 39

4 A TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL por Jailson Alves dos Santos. O autor inicia o texto falando da gênese da discriminação do trabalho manual e segue apresentando fatos e políticas importantes que contribuíram para a concretização do ensino profissional no Brasil. REFORMAS DA INSTRUÇÃO PÚBLICA por Marta Maria Chagas de Carvalho. Ao apresentar e comentar algumas reformas educacionais, a autora faz uma ampla análise da instrução pública brasileira desde a escola paulista, considerada como sistema modelo, até a Reforma Fernando de Azevedo que objetivava concretizar o princípio da escola única centrada no trabalho. CONSELHOS DE BÁRBARA HELIODORA por Eliane Marta Teixeira Lopes. A autora faz uma análise do poema Conselhos a meus filhos, de Bárbara Heliodora, apresentando aspectos literários, históricos e sociais que o contextualizam. PRECEPTORAS ALEMÃS NO BRASIL por Marly Gonçalves Bicalho Ritzkat. O texto traz importantes informações sobre a passagem de preceptoras alemãs pelo Brasil. A autora apresenta alguns relatos que nos dão uma ideia de como era a educação não institucionalizada, dada em casa e que representa importante marco na formação das mulheres da elite no século XIX. A FICÇÃO DIDÁTICA DE NÍSIA FLORESTA por Constância Lima Duarte. Com base nos estudos da obra de Nísia Floresta Brasileira Augusta, a autora apresenta uma análise de suas ideias e fala da sua contribuição para o avanço da educação feminina no Brasil. NEGROS E EDUCAÇÃO NO BRASIL por Luiz Alberto Oliveira Gonçalves. No texto, o autor faz uma análise da situação educacional dos negros brasileiros apresentando fatos importantes que nos ajudam a entender como os negros vêm, ao longo da história, se organizando e lutando por melhores condições educacionais. A EDUCAÇÃO DE IMIGRANTES NO BRASIL por Lúcio Kreutz. O texto traz uma análise geral do processo escolar dos imigrantes. O autor, entre outros, apresenta importantes aspectos históricos, socioeconômicos, culturais e políticos que permearam e nortearam a educação de imigrantes no Brasil. (DES)ENCANTOS DA MODERNIDADE PEDAGÓGICA por Clarice Nunes. A autora faz uma análise minuciosa de diferentes aspectos relacionados à modernidade pedagógica no Brasil. Apresenta fatos e questionamentos que nos levam a refletir sobre uma realidade 40

5 pedagógica, que ao mesmo tempo que resiste à modernidade, ajuda a construí-la. EDUCAÇÃO ESTÉTICA PARA O POVO por Cynthia Greive Veiga. No texto, a autora apresenta e analisa temas relacionados à difusão da educação estética nas escolas brasileiras. Destaca e comenta o desejo de governantes e elite de modificarem as cidades e o povo sem se preocuparem com a diversidade. O CINEMA COMO PEDAGOGIA por Guacira Lopes Louro. No texto, o cinema é tratado como uma pedagogia cultural. A autora analisa algumas práticas sociais e identidades culturais que surgiram na sociedade brasileira por influência do cinema. A ESCOLA CONTRA A FAMÍLIA por Marcus Vinicius da Cunha. O texto apresenta importantes tópicos relacionados ao papel da escola e da família na educação e formação do indivíduo. Ao tratar mecanismos de discriminação entre camadas sociais, o autor foca sua análise em pontos referentes à posição ocupada pela escola diante das famílias. EDUCANDO A INFÂNCIA BRASILEIRA por Moysés Kuhlmann Jr. O texto apresenta o processo de desenvolvimento da educação infantil no Brasil. As análises do autor estão centradas, quase que totalmente, em fontes de estudos realizados em São Paulo, Rio de Janeiro e por órgãos do governo federal, mesmo assim, é possível concluir que esse processo histórico engloba também outras localidades brasileiras. ESCOLA NOVA E PROCESSO EDUCATIVO por Diana Gonçalves Vidal. O texto tem como tema principal a influência da Escola Nova na prática pedagógica brasileira. Com este enfoque, a autora aborda de maneira especial a escrita, a leitura e as ciências naturais como disciplinas escolares. MEDICINA, HIGIENE E EDUCAÇÃO ESCOLAR por José G. Gondra. O autor, tendo em foco aspectos da história da educação brasileira no século XIX, examina a formulação de um projeto para a escola, projeto este apresentado em nome da ciência, ou seja, em nome da razão. Entre outros pontos, ele analisa algumas relações entre medicina, educação e sociedade. A INSTRUÇÃO PÚBLICA NAS CORTES GERAIS PORTUGUESAS por Rogério Fernandes. Com base em análises de diversos documentos, o autor trata questões relacionadas à instrução pública brasileira. Oferece-nos inúmeras informações que revelam o processo histórico de pouca 41

6 atenção às questões relacionadas à educação pública no Brasil. A EDUCAÇÃO COMO DESAFIO NA ORDEM JURÍDICA por Carlos Roberto Jamil Cury. O texto apresenta alguns aspectos legais relacionados à educação. O autor, ao apresentar fatos históricos e importantes leis relacionadas à educação no Brasil, ajuda-nos a conhecer melhor e refletir sobre algumas questões legais nas quais está baseada a educação brasileira. ESTUDOS DE HISTÓRIA DA PROFISSÃO DOCENTE por Denice Bárbara Catani. Com base na análise de diferentes obras e buscando apontar convergências existentes nas investigações sobre a profissionalização docente, a autora apresenta questões relacionadas à produção dos estudos históricos referentes à profissão docente no Brasil. Com o que foi apresentado é possível ter uma ideia geral do conteúdo dessa obra, que apresenta ainda notas e bibliografia ao final de cada artigo e uma breve apresentação de cada autor ao final do livro. A educação brasileira, ao longo dos anos, vem sofrendo inúmeras modificações e melhorias, mas ainda apresenta muitas lacunas. Embora tenha conseguido avanços relevantes, ainda apresenta grande dificuldade para solucionar problemas antigos como o analfabetismo. O grande número de analfabetos, incluindo os analfabetos funcionais 2, é a maior prova de que ainda não se cumprem com total eficiência as Leis Básicas da Educação Brasileira. Como exemplo, citamos o inciso I do art. 206 da Constituição Federal 3, referente à educação, no qual está exposto o princípio de igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; e também o inciso VII do mesmo artigo: garantia de padrão de qualidade. Se conseguíssemos garantir o pleno cumprimento de pelo menos estes dois incisos, certamente teríamos uma realidade educacional bem diferente da que temos hoje. Se a própria Constituição garante o direito à educação, por que tantos não têm acesso à mesma? Esta e muitas outras indagações, dúvidas e questionamentos fazem parte das conversas, debates e pesquisas, que têm a educação como tema. Os textos apresentados no livro 500 anos de Educação no Brasil poderão nos dar muitas respostas, além de se tornarem fonte de motivação e um bom suporte para novas pesquisas e novas descobertas. (ニウタ ジアス 上 智 大 学 外 国 語 学 部 嘱 託 講 師 ) 2. No Brasil, são considerados analfabetos pessoas com mais de 15 anos que não sabem ler e escrever; e analfabetos funcionais são adultos que concluíram apenas os três primeiros anos do Ensino Fundamental, sabem ler e escrever frases simples, mas não conseguem expressar seus pensamentos por meio da escrita, interpretar satisfatoriamente o que leem e nem fazer operações matemáticas mais elaboradas. (Almanaque Abril, Editora Abril, 2014, p. 216) 3. LDB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: Lei 9.394/1996, Rio de Janeiro, Lamparina, 2010, p.27 42