289 APELAÇÃO CÍVEL N

Transcrição

1 APELAÇÃO CÍVEL N APTES: ARNALDO DE ASSIS FILHO E OUTRO APDO: MARCELO PEREIRA COSTA RELATOR: DESEMBARGADOR MAURICIO CALDAS LOPES Ação Indenizatória por danos morais, materiais e estéticos. Agressões físicas chutes e socos - perpetradas pelos réus nas proximidades da clínica veterinária de que é sócio o autor, de que lhe resultara, de imediato, internação hospitalar e lesões, em especial na perna esquerda, ensejando procedimento cirúrgico de cauterização de safena. Sentença de procedência. Apelação. Provas que corroboram a procedência da ação, certos o evento e seu nexo etiológico com as lesões chutes e socos - sofridas pelo autor da ação, do que dão bom testemunho o registro de ocorrência, os depoimentos pessoal da parte autora e testemunhal da vizinha do autor, colhidos por meio audiovisual, as fotos acostadas, as notas fiscais adunadas, o boletim de atendimento médico do Hospital Estadual Rocha Faria e o laudo pericial. Conduta cruel e agressiva dos apelantes. Obrigação secundária de compor danos configurada. Dano patrimonial que resulta, no caso, das despesas comprovadamente efetuadas com o restabelecimento da saúde do autor, nitidamente relacionadas ao evento danoso curativos, honorários de anestesista, remédios, incluídos ademais, os óculos, danificados que ficaram em virtude do espancamento conforme depoimento pessoal do apelado e que serão corrigidas monetariamente e acrescidas de juros de mora desde o respectivo desembolso, pormenor em que fica alterado o julgado recorrido Súmula 161 do TJRJ -, desnecessária que se exibe a remessa do tema à liquidação por arbitramento. Dano moral. O dano de índole moral é absolutamente indiscutível e resulta da própria lesão física suportada pela vítima demandando internação hospitalar para submissão a procedimento cirúrgico de cauterização de safena -, isso sem falar na angústia e na perda da paz por que passara ela, vítima de chutes e socos, e finalmente socorrida pela ambulância do Corpo de Bombeiros após ser espancada ininterruptamente pelos apelantes enquanto desfalecida na esquina da clínica veterinária. Dor moral que resulta in re ipsa. Quantum adequado da respectiva verba compensatória. Dano estético que resulta, no caso, de lesão do membro inferior esquerdo apontada pelo laudo pericial índice eletrônico que revelara cicatriz longitudinal anterior, medindo 4,5 cm de extensão, com sinais evidentes de cicatrização irregular por esgarçamento da sutura. Presença de varizes essenciais no terço inferior e insuficiência venosa crônica. Movimentação ativa de todos os segmentos, musculatura trófica e arcos de movimentos mantidos. Montante em que fixada a verba indenizatória que deverá ser corrigido desde a data da sentença, acrescido dos juros de mora da data do evento, extracontratual que se exibe o ilícito Súmulas 54 do STJ e 161 desta Corte de Justiça - e que não cobra achegas quaisquer, seja para reduzi-la, seja para majorá-la, eis que o laudo pericial é enfático ao afirmar que a sequela na perna é de grau mínimo. Juros e correção monetária dos danos material e moral/estéticos alterados ex officio Súmula 161 desta Corte de Justiça. Recurso não provido. 1

2 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos da Apelação Cível nº em que são apelantes ARNALDO DE ASSIS FILHO e ARNALDO DE ASSIS NETO e apelado MARCELO PEREIRA COSTA, ACORDAM os Desembargadores que integram a Décima Oitava Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, à unanimidade de votos, em, negar provimento ao recurso, alterados ex officio o termo inicial dos juros do dano moral/estético e o da correção monetária e dos juros de mora dos danos materiais. do relator. Assim decidem, na conformidade do relatório e voto RELATÓRIO 1. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO pelo rito ordinário aforada por MARCELO PEREIRA COSTA em face de ARNALDO DE ASSIS FILHO e ARNALDO DE ASSIS NETO, pai e filho, com vistas à reparação dos danos morais, materiais e estéticos suportados em decorrência de agressões físicas chutes e socos - perpetradas pelos réus nas proximidades da clínica veterinária de que é sócio, de que lhe resultara, de imediato, internação hospitalar em face de lesões, em especial na perna esquerda, ensejando procedimento cirúrgico para cauterização de safena. A sentença de 1º grau julgara proceder a demanda para o fim de condenar solidariamente os réus a compor danos de índole moral estimados em R$ ,00 (quinze mil reais) e estéticos no importe de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), ambos corrigidos desde a data da sentença e acrescidos de juros de 1% ao mês a partir da 2

3 citação, assim como quanto aos de ordem material, decorrentes de despesas relacionadas ao restabelecimento da saúde do ofendido remédios, curativos, recibos de anestesista e óculos partido durante a refrega, no valor total de R$ 1.803,58 (mil, oitocentos e três reais e cinquenta e oito centavos), acrescidos de juros da mora de 1% ao mês e da correção monetária a partir da data da citação. Sujeitou-os, por fim, ao pagamento das despesas processuais e dos honorários de advogado, estes fixados em 15% do valor atualizado da condenação, observado o disposto no art. 12 da Lei 1060/50 ante a gratuidade de justiça deferida aos réus. 1.1 Daí o apelo desses que propugna pela reforma do julgado recorrido forte em que não demonstrada culpa sua na produção do evento, impugnadas todas as provas carreadas aos autos, pericial, documental e oral, de modo a comprometer o nexo de causação entre o evento e as lesões patrimoniais e extrapatrimoniais ditas experimentadas pela parte autora. Aduz que as fotografias anexadas, tanto das contusões, quanto da cirurgia realizada na perna a seu ver, ao nítido escopo de reparação de problemas de saúde pré-existentes - possuem cunho sensacionalista e não se prestam a provar nada, por isso que os hematomas constatados são advindos da queda do autor e não das agressões ocorridas. Refuta a prova testemunhal produzida que não teria imputado ao autor como iniciante do espancamento. Por fim, rechaça o pagamento de novos óculos da vítima tendo em vista a aquisição ter se dado três meses antes do imbróglio. Em cumulação simples, se batem pela redução das verbas indenizatórias atento ao princípio da proporcionalidade e da razoabilidade. 3

4 1.2 Recurso devidamente contrariado. 1.3 Este o sucinto relatório com que submeto a espécie à douta revisão. VOTO DO RELATOR 2. O conjunto probatório, contrariamente ao que asserem os apelantes, corrobora a procedência da ação, ao tornar certos o evento e seu nexo etiológico com as lesões chutes e socos - sofridas pelo autor da ação, do que dão bom testemunho o registro de ocorrência (índices eletrônicos 23/25), os depoimentos pessoal da parte autora (índice eletrônico 197) e testemunhal da vizinha do autor, Sra. Sirlei Graga (índice eletrônico 198), colhidos por meio audiovisual (art. 3º seg. da resolução 14/2010 do Órgão Especial do TJRJ), as fotos acostadas (índices eletrônicos 30/70), as notas fiscais adunadas (índices eletrônicos 73/92), o boletim de atendimento médico do Hospital Estadual Rocha Faria (índice eletrônico 71), o laudo pericial (índices eletrônicos 210/221) e a conduta cruel e agressiva dos apelantes. Eis o depoimento colhido da testemunha Sirlei através do audiovisual: Era vizinha do autor, que conversava com o autor no portão, quando o 1º réu passou, apontando-lhe o dedo na cara afirmando que ele jogava bomba e que iria jogar na casa das pessoas; ela disse que na casa dela, ele não iria jogar bomba, do contrário ela chamaria a polícia por também possuir um cão. Veio o 2º réu por detrás e com a mão aberta, jogou o autor no chão; o motorista da clínica veterinária tentou socorrer em vão pois havia apanhado também, sendo ambos socorridos pelo caminhão da Casa Bahia que passava no momento... O autor teria ficado no chão sem poder se mexer porque era chute, chute, soco. Marcelo foi agredido, não tendo nem levantado a mão, só tampava (sic) o rosto para não apanhar; desconhece a razão da briga. 4

5 O 2º réu agrediu primeiramente por detrás o autor, vindo em seguida o 1º réu a agredir o autor. Ficou no chão, tendo ido chamar a polícia e o bombeiro. Autor fez exame de corpo de delito. Não viu os réus serem machucados. Autor foi socorrido pela ambulância do bombeiro e o motorista da clínica. Depoente que mora no local há quase 40 anos. A veterinária se situa ao lado da casa da testemunha. Não conhece direito os réus. Nega que autor tenha agredido verbalmente os réus. Há implicância entre as partes. Que os réus soltam bomba pela vizinhança em especial em casas em que há cachorro. Não frequenta a casa do autor, são apenas vizinhos, não trata o cão na veterinária do autor. 3. De todo esse cenário probatório, a outra solução não poderia ter chegado a doutora juíza de 1º grau, senão que a da procedência da ação, na medida em que os fatos, por si só, e segundo se extrai do quod plerumque accidit, causaram, sim, constrangimentos e dor moral, face às injustificáveis e absurdas agressões praticadas pelos réus, que dispensaram tratamento desumano e covarde ao autor, sem qualquer razão aparente. 4. Passa-se, então, à verificação e à quantificação dos danos. 4.1 O dano material resulta, no caso, das despesas comprovadamente efetuadas com o restabelecimento da saúde do autor, nitidamente relacionadas ao evento danoso, como as de curativos, honorários de anestesista, remédios, incluídos ademais, os óculos, danificados que ficaram em virtude do espancamento (índices 5

6 eletrônicos 72/92) conforme depoimento pessoal do apelado e que serão corrigidas monetariamente e acrescidas de juros de mora desde o respectivo desembolso, pormenor em que fica alterado o julgado recorrido Súmula 161 do TJRJ -, desnecessária que se exibe a remessa do tema à liquidação por arbitramento. 4.2 O dano de índole moral é absolutamente indiscutível e resulta não só própria lesão à integridade física da vítima demandando internação hospitalar para submissão a procedimento cirúrgico de cauterização de safena -, mas também da pública humilhação dessa, sujeitada à força por seus covardes algozes, mediante chutes e socos ininterruptos até o respectivo socorro pela ambulância do Corpo de Bombeiros, desfalecida que ficara na esquina da clínica veterinária. O dano, portanto, decorre, no caso, in re ipsa cumprindo aos réus a prova em contrário, qual a de que, contrariamente ao quod plerumque accidit o autor até que teria saído muito feliz e contente do episódio, não é mesmo? 4.3 Daí porque a verba de R$ ,00 (quinze mil reais) exibe-se proporcional e suficiente à composição do dano experimentado, cobrando o julgado pequeno reparo a que ora se procede nos exatos termos da Súmula 161 do TJRJ no tocante ao termo a quo dos juros da mora que devem fluir desde o evento, nos termos da Súmula 54 STJ, extracontratual que se exibe o episódio, não assim a correção monetária que se submete aos encerros da Súmula 362 STJ. 6

7 4.4 O dano estético resulta, no caso, da lesão do membro inferior esquerdo apontada pelo laudo pericial índice eletrônico que revelara cicatriz longitudinal anterior, medindo 4,5 cm de extensão, com sinais evidentes de cicatrização irregular por esgarçamento da sutura. Presença de varizes essenciais no terço inferior e insuficiência venosa crônica. Movimentação ativa de todos os segmentos, musculatura trófica e arcos de movimentos mantidos. Daí a monta modesta em que fixada a verba correspondente, de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) e que deverá ser corrigida desde a data da sentença, acrescido dos juros de mora da data do evento -- Súmulas 54 do STJ e 161 desta Corte de Justiça - e que não cobra achegas quaisquer, seja para reduzi-la, seja para majorá-la, eis que o laudo pericial é enfático ao afirmar que a sequela na perna é em grau mínimo (índice eletrônico 217), mas nem por isso menos indenizável. Neminem laedere, é a regra da vida em comum e da qual nem mesmo os animais se esquecem Sem outras considerações, por desnecessárias, nega-se provimento ao recurso, alterados ex officio o termo inicial dos juros do dano moral/estético e os da correção monetária e dos juros de mora dos danos materiais. Rio de Janeiro, 05 de novembro de Desembargador Mauricio Caldas Lopes Relator 7