Produção de briquetes de resíduos celulósicos para substituição de madeira e forno solar para cozimento de alimentos.
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- Thereza Benevides Martinho
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1 Produção de briquetes de resíduos celulósicos para substituição de madeira e forno solar para cozimento de alimentos Identificação Paulo Bernardi Junior, Dr. em Energias Renováveis IPEN-USP, gestor ambiental FSP-USP e biólogo; Janaina da Silva Augusto, Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e professora de história e geografia. Modalidade Relato de experiência Resumo Em função dos objetivos da UNESCO para o ano de 2012, que englobavam as energias renováveis, o problema levantado junto aos alunos foi como melhorar as condições de vida das pessoas que em função de problemas econômicos ou ambientais eram obrigadas a destruir o ambiente para ter um mínimo de material energético para uso principalmente no preparo de alimentos. Diante disso, foram apresentadas alternativas de sistemas já utilizados em outros países de aproveitamento de papel e outros resíduos celulósicos na produção de briquetes e da energia solar. O maior problema encontrado foi à utilização de sistemas de baixo custo e fácil manuseio. Os sistemas de briqueteira e forno solar utilizados pela ONG WWF em países da África e em locais onde ocorreram grandes catástrofes foram os sistemas escolhidos em função do baixo custo e da facilidade de construção e utilização por qualquer pessoa, sem a necessidade de treinamento especializado. A observação e análise da problemática energética atual foram observadas e contextualizadas pelos alunos envolvidos no projeto, durante os processos de estudo de meio. Palavras Chaves: Energias renováveis, briquetes, forno solar. Os problemas ambientais causados pela extração sem controle da flora, para o uso energético na geração de calor na forma de queima em fornos domésticos e caldeiras, vêm causando uma grande destruição dessa flora e consequentemente da fauna a ela associada, principalmente em países onde a pobreza é endêmica ou onde ocorreram desastres naturais que levaram ao colapso do abastecimento de energéticos para o cozimento de alimentos e outros fins. Normalmente em locais como os descritos acima, a obtenção de derivados de petróleo (óleo combustível, diesel ou gás) é limitada principalmente por fatores econômicos e, o carvão nem sempre é disponível em determinadas regiões do planeta. Cabe evidenciar, que a utilização e queima dos combustíveis fósseis são responsáveis por danos ambientais irreversíveis.
2 Segundo o Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial (2000/2001), a enorme dependência de fontes não renováveis de energia tem acarretado, além da preocupação permanente com o esgotamento destas fontes, a emissão de grandes quantidades de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera. Como consequência dessa utilização desmedida, o teor de dióxido de carbono na atmosfera tem aumentado progressivamente, levando muitos especialistas a acreditarem que o aumento da temperatura na Terra é uma perigosa realidade vigente. Pensando nisso, várias instituições sem fins lucrativos (ONG s), tomam iniciativas que acabam por levar uma grande ajuda emergencial para populações que são afetadas pela escassez de recursos energéticos, sem se falar na importante mudança de mentalidade ambiental que essas iniciativas acabam causando. As ações alternativas e sustentáveis propostas por essas organizações são de suma importância para o desenvolvimento de práticas econômicas que sejam viáveis ambientalmente. Diante das reflexões propostas pelo tema da UNESCO sobre a necessidade da implantação de meios alternativos e sustentáveis de produção energética na sociedade contemporânea, é que a equipe multidisciplinar de professores do Colégio Notre Dame, junto aos alunos do quarto ano e do sétimo ano, propôs colocação do tema problema: Como cozinhar em dois ambientes com condições ambientais diferentes? O primeiro com grande incidência de luz solar, mas sem vegetação que pudesse ser explorada e o segundo com disponibilidade de resíduos celulósicos como papel aparas de madeira, restos de agroindústria e outros. Dentro dos parâmetros dessa discussão, foi realizada a atividade de estudo do meio em Ubatuba com os alunos do sétimo ano e Salesópolis com a sala do quarto ano do ensino fundamental I. Esses estudos do meio tiveram o objetivo de reconhecer os impactos ambientais relacionados com a exploração dos recursos florestais e hídricos. Além da observação e análise dos impactos presentes nos ecossistemas vivenciados relacionados às questões energéticas, os alunos foram motivados a refletir sobre formas alternativas e sustentáveis de produção de energia visando atenuar os problemas ambientais vigentes e proporcionar qualidade de vida para as comunidades locais. Os alunos envolvidos no projeto foram orientados a procurar trabalhos nessa área e especificar quais deveriam ser as soluções que seguissem as coordenadas já citadas. Chegou-se à solução sugerida pela ONG WWF- "World Wide Fund For Nature" ou Fundo Mundial para a Natureza, para a construção de uma briqueteira de resíduos e forno solar de papelão, pois foi reconhecida a importância desses mecanismos na produção de energia e geração calor de forma limpa, eficiente e economicamente viável. Após a fundamentação teórica sobre os processos desenvolvidos pela WWF, as turmas realizaram um trabalho que fizesse aumentar o conhecimento em relação ao tema e, que relacionasse as questões ambientais com as formas alternativas de produção de calor e energia como a briqueteira e o forno solar, além de desenvolver pesquisas temáticas sobre as dificuldades vividas por populações em diversas partes do mundo em relação a ambientes devastados pelo homem ou que áridos naturalmente. Já os alunos do quarto ano foram conduzidos a verificar a dificuldade de obtenção de água para os processos de
3 utilização de outros tipos de recursos energéticos, como no caso da energia hidrelétrica. A- Briqueteira A briqueteira 1 (fig. 1) consiste de uma prensa feita de madeira reutilizada e que vai permitir prensar os resíduos celulósicos (principalmente papel usado) em briquetes que depois de secos poderão ser utilizados como substitutos da madeira e ou carvão em fornos. Figura 1: Briqueteira de alavanca, produzida com madeira. Fonte: Briquette presses for alternate fuel use. Jason Dahlman and Charlie Forst. EUA, 2000 O resíduo celulósico recolhido (no caso desse trabalho, pedaços de papel produzidos no ambiente escolar), foi picado pelos alunos (fig.2) e deixado de molho em água por três dias e depois prensado para a formação dos briquetes. Os briquetes tinham forma arredondada em função do tubo de PVC que foi usado como molde. Após esse procedimento, o material produzido foi deixado para secar ao sol por pelo menos uma semana (fig. 3). Para o preenchimento do tubo de PVC para formação dos briquetes foram utilizados discos de madeira que delimitavam um briquete do outro e também permitiam que fossem separados com facilidade. Os alunos preenchiam o tubo de PVC com quantidades aproximadamente iguais de massa e intercalavam essa massa com os discos de madeira, depois o tubo de PVC preenchido era colocado na prensa e prensado até que quase toda a água fosse retirada. Logo após, os briquetes produzidos eram colocados sobre papelão ao sol para a secagem. Figura 2: Alunos do sétimo do colégio Notre Dame reutilizando papel do ambiente escolar que serviu de matéria prima para a produção dos briquetes. Fonte: Arquivo pessoal, outubro de 2012.
4 Figura 3: Utilização da briqueteira e produção de briquetes realizados pelos alunos do colégio Notre Dame. Fonte: Arquivo pessoal, outubro de Os briquetes produzidos pelos alunos constituíram uma forma de produção de calor eficiente e menos poluente do que o carvão. Tal fato pode ser justificado pela fonte de material celulósico utilizado, indo de encontro com a proposta ambiental do projeto. B- Forno solar. O forno solar 2 (fig. 4) consiste de um pedaço de papelão ou papel acartonado que foi cortado segundo os moldes fornecidos pelo manual do WWF 2 e, depois forrado com folha de alumínio (usada para cobrir alimentos), com a ajuda de cola branca dissolvida em água na proporção de 1:1 e espalhada no papelão com rolo pequeno de espuma. Figura 4: Forno solar produzido com papel cartão. Fonte: Solar Coockers. How to make, use and enjoy. Manual WWF10 th Edition, EUA, Após a colagem do papel alumínio, o material foi deixado para secar por vinte e quatro horas para depois serem feitos os cortes que auxiliaram a montagem e a dobradura que daria a forma que permitisse que os raios solares focassem na panela colocada ao centro do sistema. Visando um melhor aquecimento dos alimentos, foi utilizado um suporte de madeira para que a panela ficasse bem centrada no ponto focal do forno. Além disso, foi necessária a utilização de uma panela de ferro preto, e para que a temperatura de cozimento fosse alcançada com mais facilidade, essa panela tampada foi envolta por celofane especialmente utilizado para cozimento de alimentos em fornos (fig.5).
5 Figura 5: Forno solar produzido pelos alunos do colégio Notre Dame. Fonte: Arquivo pessoal. Outubro, Esse sistema de cozimento de alimentos embora seja totalmente dependente das condições climáticas do dia em que se pretende utilizá-lo é de grande eficiência, pois com a variação do tempo de exposição pode-se controlar o cozimento dos alimentos desejados. Não existe limitação para tipo de alimento que pode ser cozido nesse tipo de forno solar, desde que sejam respeitadas as quantidades e o tempo de exposição. Visando a verificação prática da funcionalidade do experimento, os alunos fizeram uma massa de pão (fig.6) que foi assada integralmente no forno solar, comprovando a eficiência do método desenvolvido. C- Resultado final Figura 6: Massa de pão assada no forno solar. Fonte: Arquivo pessoal. Outubro, O tema norteador da feira do conhecimento realizada pelo colégio Notre Dame, foi pautada nas propostas direcionadas pela UNESCO energias renováveis e cooperativismo. Nesse sentido, os alunos do quarto e sétimo anos tiveram a oportunidade de expor o percurso do projeto estudo do meio, pesquisas temáticas e experimentos científicos da briqueteira e do forno solar. Esses experimentos permitiram a compreensão sobre o manejo sustentável de recursos energéticos alternativos, assim como, na participação cidadã de ações que permitam o reconhecimento da real definição do termo sustentabilidade, onde desenvolvimento econômico das comunidades contemporâneas não deixou de ser associados com a preservação recursos ambientais (LEFF, 2001). A conclusão que os alunos chegaram sobre o sistema da briqueteira foi que esse método de produção de energia alternativa é de fácil confecção e manejo, além de apresentar um custo baixo para sua implantação, alto poder calorífico e de menor emissão de gases poluentes, sendo um substituto viável
6 para fontes energéticas não renováveis. Além disso, a produção de briquetes também pode ser feita com a matéria prima disponível, como jornais rasgados, pequenas aparas (cavacos) de madeira, serradura e restos de plantas, tornandose compatível com a realidade econômica de várias localidades no Brasil. Os alunos também compreenderam que em países de clima tropical, ou com incidência de raios solares suficientes, o forno solar pode ser considerado como um sistema de cozimento muito eficiente, sendo seu custo restrito ao material utilizado, não produzindo nenhum tipo de impacto ao meio ambiente. Nesse sentido, esse sistema alternativo de cozimento torna-se ideal para comunidades com recursos econômicos limitados. As produções realizadas dentro desse projeto tiveram como objetivo propor a discussão sobre o sentido da sustentabilidade ambiental através do enfoque da produção energética. Os sistemas escolhidos como forma alternativa de produção de calor e cozimento, briqueteira e forno solar, são de fácil execução, baixo custo, mínimo impacto e, alcançaram a funcionalidade desejada, contemplando de forma efetiva os objetivos pedagógicos propostos pela UNESCO. Além da apresentação expositiva e temática desenvolvida durante a feira cultural, o projeto também contemplou o caráter social, pois toda a sistematização tecnológica, além do material experimental produzido pelos alunos, foi destinada a associação Mandacaru, entidade privada, qualificada como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), fundada desde 2005, com sede em Salvador, tem âmbito de atuação em todo o território nacional, sua missão é contribuir para a facilitação do desenvolvimento econômico-social sustentável através de ações que visem à melhoria da qualidade de vida de comunidades e indivíduos que trabalhem em atividades agropecuárias ou tenham potencial para desenvolvê-las, aliada a produtividade econômica e ao equilíbrio ambiental, através da utilização de metodologias e técnicas de desenvolvimento (ASSOCIAÇÃO MANDACARU, 2013). Nesse sentido, o projeto desenvolvido pelo corpo docente e discente do Colégio Notre Dame foi marcado pela pluralidade de seus princípios, destacando o viés ambientalmente sustentável, a prática científica e a formação participativa e crítica para a cidadania. Referências ASSOCIAÇÃO de Apoio ao Desenvolvimento Social para o Agronegócio Mandacaru. Disponível em < Acesso em 20 de fevereiro de DAHLMAN, Jason; FORST, Charlie. Briquette presses for alternate fuel use. California, LEFF, Enrique. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Rio de Janeiro: Vozes, Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial 2000/2001. Banco Mundial, 2001, págs. 302/303.
7 SOLAR Cookers International. Solar cookers how to make, use and enjoy. 10 th Edition,California, Solar Thermal Power exploiting the heat from the sun to combat climate change. European Solar Thermal Power Industry Association (ESTIA) and Greenpeace International.
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