PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ CONSULTA DE PROCESSOS DE 1º GRAU SISTEMA LIBRA - INTERNET
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- Giovanni Carvalho Nunes
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1 DADOS DO PROCESSO Número do Processo: Processo Prevento: - Instância: 1º GRAU Comarca: SANTARÉM NOVO Situação: EM ANDAMENTO Área: CRIMINAL Data da Distribuição: 05/02/2014 Vara: VARA UNICA DE SAO JOAO DE PIRABAS - SANTAREM NOVO Gabinete: GABINETE DA VARA UNICA DE SAO JOAO DE PIRABAS - SANTAREM Secretaria: SECRETARIA DA VARA UNICA DE SAO JOAO DE PIRABAS - SANTAREM Magistrado: MARIA AUGUSTA FREITAS DA CUNHA Competência: JUIZO SINGULAR Classe: Ação Penal - Procedimento Ordinário Assunto: Liminar Instituição: - Número do Inquérito Policial: - Valor da Causa: $ 0.00 Data de Autuação: Segredo de Justiça: NÃO Volume: - Número de Páginas: - Prioridade: NÃO Gratuidade: NÃO Fundamentação Legal: - PARTES E ADVOGADOS LUIS CLAUDIO TEIXEIRA BARROSO MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DO PARA INVESTIGADO AUTOR DESPACHOS E DECISÕES Data: 10/02/2014 DECISÃO INTERLOCUTÓRIA LibreOffice Requerente: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARÁ Requeridos: LUIS CLAUDIO TEIXEIRA BARROSO, MARIANO FONSECA DA ROZA e M. J. L. REPRESENTAÇÕES, IMOBILIÁRIA, ASSESSORIA E PLANEJAMENTO CONTÁBIL LTDA 1
2 Vistos e etc. O Ministério Público do Estado do Pará, por intermédio da Promotora de Justiça que subscreve a inicial, propõe a presente Ação Cautelar, com pedido de liminar, em face de LUIS CLAUDIO TEIXEIRA BARROSO, MARIANO FONSECA DA ROZA e M. J. L. REPRESENTAÇÕES, IMOBILIÁRIA, ASSESSORIA E PLANEJAMENTO CONTÁBIL LTDA, qualificados na inicial, objetivando a medida cautelar de afastamento do cargo púbico dos dois primeiros demandados, a indisponibilidade de bens e a quebra de sigilo fiscal e bancário de todos os demandados. Relata que a ação tem como base os inquéritos civis nº 003/ PJSJP e nº 015/2013-PJSJP, instaurados pela Promotoria de Justiça de São João de Pirabas, bem como os documentos produzidos durante cumprimento do mandado de busca e apreensão, ocorrido em 22 de janeiro de 2014, na sede da Prefeitura Municipal de São João de Pirabas, que foram encaminhados e anexados nos autos do inquérito civil. Os mencionados inquéritos civis e a presente ação fundamentarão a propositura de ação por atos de improbidade administrativa. Essa busca e apreensão foi determinada em procedimento criminal instaurado pela 7ª Procuradoria de Justiça do Ministério Público Estadual para apurar graves irregularidades narradas no relatório da 1ª Controladoria do Tribunal de Contas dos Municípios (PA), processo nº ( ), que relatou diversos ilícitos penais praticados pelo mencionado Prefeito Municipal, na prestação de contas referentes aos exercícios financeiros dos anos de 2009 e Alega que Os inquéritos civis nº 003/2013-PJSJP e nº 014/2013-PJSJP têm como desiderato apurar atos de improbidade administrativa, como a não prestação de contas junto ao Tribunal de Contas, nos exercícios 2009, 2010, 2011 e 2012; o desvio de verbas públicas por meio de fraudes a licitações; corrupção de agentes públicos e utilização de máquina administrativa em propriedades particulares, por parte do primeiro demandado, o atual prefeito de São João de Pirabas, o Sr. LUIS CLÁUDIO TEXEIRA BARROSO. Segundo o Ministério Público Os fatos relatados pela Corte de Contas no relatório encaminhado à 7ª Procuradoria de Justiça, apontam gravíssimos ilícitos penais que denotam a possível montagem de certames licitatórios e que ultrapassam a simples falta de apresentação de documentos para prestação de contas, como: Utilização de documentos falsificados em licitações públicas;realização de contratos públicos sem prévia 2
3 licitação;licitações públicas sem a realização dos serviços contratados;diversas contratações por meio de inexigibilidade e dispensa de licitação sem atestado do fornecimento dos serviços;fracionamento, em vários convites, do objeto de licitação (em serviços de engenharia);não recolhimento das Contribuições Previdenciárias do Segurado e Patronal;Contratação de empresas e pessoas com parentesco do Prefeito Municipal;Entre outras irregularidades. Aduz que novas notícias de fato e representações, sejam apontando ilícitos criminais, sejam indicando condutas que configuraram atos de improbidade administrativa, continuaram sendo encaminhadas ao Parquet, todas confirmando que os ilícitos permaneciam ocorrendo na prefeitura municipal, inclusive aduzindo que o prefeito está `fabricando uma prestação de contas, com uma `força tarefa para burlar o rombo, já que existem dificuldades para obter documentos com data retroativa, ainda mais que hoje a grande maioria é obtida por meio eletrônica. Relata que Analisando os autos do procedimento licitatório encaminhado pela prefeitura de São João de Pirabas (PA) à Promotoria de Justiça, a assessora técnica do Ministério Público identificou irregularidades que evidenciam a evidente montagem dos autos do certame licitatório, conforme Nota Técnica nº 001/2014 (anexa). Conforme a inicial A análise técnica identificou as seguintes irregularidades: 1) a falta de mapa comparativo de preços; 2) ausência de planilhas de preços com a totalização dos valores; 3) pareceres jurídicos incompletos (sem a última folha com o nome, data e assinatura); 4) não foi encontrado a publicação do resultado do certame no diário oficial; 5) não foram encontradas as cópias dos contratos firmados e suas respectivas publicações. Afirma o Ministério Público que os autos denotam que foi realizado o empenho de pagamento à empresa licitante antes mesmo de haver o julgamento e a declaração de empresa vencedora do certame, o que demonstra a montagem do certame com datas retroativas, bem como o direcionamento do certame beneficiando a empresa (fraude a licitação). Informa que Diante destes gravosos atos, o Ministério Público Estadual requereu medida de busca e apreensão no próprio prédio da prefeitura municipal, tendo a diligência sido deferida pelo desembargador Milton Nobre e executada por este Órgão Ministerial no dia 22/01/2014, lavrando-se o devido auto circunstanciado de busca e apreensão e auto de apreensão de bens (anexo). Aduz que os termos de declarações colhidos após a diligência de busca e apreensão do Ministério Público também foram bastante elucidativos. Neste sentido, o próprio contador da Prefeitura Municipal MARIANO FONSECA DA ROZA, que figura nesta ação como segundo demandado e proprietário da terceira demandada, a M. J. L. Representação Imobiliária, Assessoria e Planejamento Contábil, confessou que realizava o empenho das despesas dos procedimentos licitatórios apenas com o documento fiscal, não analisando ou sequer recebendo os autos do processo licitatório: QUE, perguntado ao declarante se o processo licitatório do controle interno iria para o seu setor, disse que não, repetindo que para a contabilidade vai apenas o 3
4 documento fiscal da realização da despesa, para empenho e contabilização; QUE, reafirma que não recebe procedimento licitatório, apenas o documento fiscal para fazer o empenho para o financeiro fazer o pagamento. Sustenta que a documentação aprendida e os elementos de prova constantes nos autos dos inquéritos civis, revelaram que a empresa M. J. L. REPRESENTAÇÕES, IMOBILIÁRIA, ASSESSORIA E PLANEJAMENTO CONTÁBIL LTDA, de propriedade do segundo demandado MARIANO FONSECA ROZA, contador da prefeitura e quem era responsável pelo pagamento dos serviços, teve empenhado, através da modalidade de inexigibilidade de licitação, o montante de R$ ,00 (um milhão, trezentos e vinte cinco mil e novecentos reais), conforme documentos anexos. Assim, o próprio contador da Prefeitura, o Sr. MARIANO FONSECA, empenhava despesas em benefício de empresa de sua propriedade. Por fim, alega que as robustas provas já colhidas nos inquéritos civis mencionados e no procedimento administrativo investigatório, aliado a necessidade cabal de se proteger o patrimônio público e a eficácia da investigação/instrução penal, tornam cogentes as medidas cautelares ora pleiteadas. E, ainda, que No caso, está devidamente comprovado que o Prefeito Municipal, LUIS CLAUDIO TEIXEIRA BARROSO, e o contador da Prefeitura Municipal, MARIANO DA ROZA, utilizaram-se da máquina pública para fraudar os certames licitatórios da administração pública municipal de São João de Pirabas (PA), havendo o justo receio da continuidade dos atos ilícitos e ímprobos. Sustenta que A medida revela-se ainda necessária porque, durante a investigação, ficou evidente o desvio de caráter e de conduta dos acusados, o que é moralmente incompatível com qualquer função pública. A revelação das fraudes e da sua extensão causou grande comoção na população local, temerária pela continuidade da gestão imprudente e perigosa dos recursos municipais, Assim, estão presentes todos os requisitos da medida cautelar, o fumus boni iuris e o periculum in mora. Pede que seja decretado o AFASTAMENTO CAUTELAR, em inaudita altera parte, de LUIS CLAUDIO TEIXEIRA BARROSO do cargo de Prefeito Municipal e de MARIANO FONSECA DA ROZA do cargo de contador, tudo com fulcro no artigo 20, parágrafo único, da Lei nº 8.429/92 e com base no Poder Geral de Cautela de que dispõe o juiz. Destaca, que a terceira demandada, a empresa MJL Representação Imobiliária, Assessoria, e Planejamento Contábil, de propriedade do segundo demandado, só no ano de 2013 foi beneficiada com o empenho, este feito por seu próprio proprietário (o contador da prefeitura MARIANO FONSECA ROZA), das importâncias de R$ ,00 (vinte e quatro mil), R$ ,00 (treze mil e duzentos reais), R$ ,00 (oitenta e quatro mil e oitocentos reais), conforme pesquisa realizada no e-contas TCM-PA (anexo). Por outro lado, sustenta que também faz-se necessário, em razão dos mesmos requisitos do fumus boni iuris e periculum in mora já demonstrados, a medida cautelar de indisponibilidade dos seus bens, já que há o justo receio (risco) de que os investigados, durante a investigação e processo, se desfaçam dos bens adquiridos em razão dos haveres criminosos e atos ímprobos, tornando difícil a reparação do dano (fraudando a própria tutela 4
5 jurisdicional). Além disso, alegou a necessidade de afastar o sigilo fiscal e bancário dos investigados de forma a possibilitar uma investigação sobre toda a extensão dos danos casados à administração pública municipal, principalmente como neste caso que trata da montagem e desvio de grandes valores públicos, quando há natural dificuldade em apurar os desvios financeiros. Juntou documentos. É o relatório. Decido. A presente ação cautelar visa garantir a futura propositura de ação civil por ato de improbidade administrativa e tem como fundamento os atos supostamente praticados pelos demandados, como a não prestação de contas junto ao Tribunal de Contas, nos exercícios 2009, 2010, 2011 e 2012; o desvio de verbas públicas por meio de fraudes a licitações; corrupção de agentes públicos e utilização de máquina administrativa em propriedades particulares, por parte do primeiro demandado, o atual prefeito de São João de Pirabas, o Sr. LUIS CLÁUDIO TEXEIRA BARROSO e favorecimento, em processos licitatórios, da terceira demandada M. J. L. REPRESENTAÇÕES, IMOBILIÁRIA, ASSESSORIA E PLANEJAMENTO CONTÁBIL LTDA, de propriedade do segundo demandado MARIANO FONSECA DA ROZA. Conforme a inicial os fatos foram apurados nos inquéritos civis nº03/2013- PJSJP e nº 015/2013-PJSJP, instaurados pela Promotoria de Justiça de São João de Pirabas e documentos produzidos durante cumprimento do mandado de busca e apreensão, ocorrido em 22 de janeiro de 2014, na sede da Prefeitura Municipal de São João de Pirabas, que foram encaminhados e anexados nos autos do inquérito civil. Essa busca e apreensão foi determinada em procedimento criminal instaurado pela 7ª Procuradoria de Justiça do Ministério Público Estadual para apurar graves irregularidades narradas no relatório da 1ª Controladoria do Tribunal de Contas dos Municípios (PA), processo nº ( ), que relatou diversos ilícitos penais supostamente praticados pelo mencionado Prefeito Municipal, na prestação de contas referentes aos exercícios financeiros dos anos de 2009 e É de se notar que, o Ministério Público por meio de seu petitório, observando a existência de indícios de ato de improbidade administrativa e o prejuízo ao erário, requer medidas cautelares com pedido de liminar, com o fito de prevenir, conservar, defender e assegurar a eficácia da reparação causada por meio da improbidade administrativa desenhada na inicial. Não há que se discutir sobre a legitimidade do Ministério Público para a propositura da presente ação e da inaplicabilidade do art. 2º da Lei 8.347/92 ao presente caso, vez que tal regra está prevista para o caso de ser 5
6 ré na ação civil pública pessoa jurídica de direito público, em razão do que foi estabelecida a prerrogativa, de modo a melhor preservar o interesse público. Passo a decidir a liminar pleiteada. Analisando detidamente os autos, observo por meio do farto conjunto probatório que restou demonstrado, os dois requisitos chaves para a concessão de medida liminar, ou seja, o fumus boni iuris e o periculum in mora. Os indícios dos fatos relatados pelo Ministério Público estão consubstanciados nos documentos anexados aos autos, constituindo-se no fumus boni juris da medida pleiteada. A ausência de prestação de contas junto ao Tribunal de Contas, nos exercícios 2009 e 2010 e os indícios de outras irregularidades nas contratações e nos processos de licitação, estão presentes no Relatório da 1ª Controladoria do Tribunal de Contas dos Municípios (PA), processo nº ( ), juntados aos autos às fls. 33/74, tendo a Controladoria opinado, ao final, pela procedência da denúncia dos Vereadores de São João de Pirabas Gilberto Sidney Santa Brígida Ferreira, Edinaldo Oliveira Reis e Janilson Matos da Silva contra o Prefeito Municipal LUIZ CLAUDIO TEIXEIRA BARROSO. Os indícios das irregularidades nos processos licitatórios também foram demonstrados no depoimento testemunha ADSON ANTÔNIO TEIXEIRA REIS às fls. 101/103, que afirmou ter assinado diversos procedimentos licitatórios a mando do Prefeito LUIZ CLAUDIO BARROSO, não sabendo afirmar se houve o julgamento das propostas, embora fosse o presidente da comissão. Outros indícios também estão presente nos documentos apreendidos pelo Ministério Público durante cumprimento do mandado de busca e apreensão, ocorrido em 22 de janeiro de 2014, na sede da Prefeitura Municipal de São João de Pirabas,cujos os registros fotográficos ilustram a inicial. Conforme o Ministério Público os originais foram encaminhados ao Tribunal de Contas dos Municípios (TCM/PA), para a realização da fiscalização, e ao CPC Renato Chaves para realização de perícia técnica nas mídias digitais apreendidas. Conforme, ainda, os documentos juntados (fls. 75/84) a M. J. L. REPRESENTAÇÕES, IMOBILIÁRIA, ASSESSORIA E PLANEJAMENTO CONTÁBIL LTDA, de propriedade do segundo demandado MARIANO FONSECA ROZA, teve empenhado, através da modalidade de inexigibilidade de licitação, o montante de R$ ,00 (UM MILHÃO, TREZENTOS E VINTE E CINCO MIL E NOVECENTOS REAIStrezentos e vinte cinco mil e novecentos reais). Assim, o segundo demanda MARIANO FONSECA, Contador da Prefeitura Municipal de São João de Pirabas, empenhava despesas em benefício de empresa de sua propriedade. 6
7 O periculum in mora (perigo da demora na prestação jurisdicional, se concedida apenas ao final do processo) consiste na possibilidade de os agentes públicos, no exercício de suas funções apagarem os vestígios das irregularidades apontadas. Por outro lado, o erário público poderá não vir a ser ressarcido, na hipótese de condenação dos requeridos, se medidas urgentes não forem tomadas desde logo. Feitas tais considerações, passo a decidir especificamente cada pedido liminar. MEDIDA CAUTELAR DE AFASTAMENTO DE CARGO PÚBLICO : As provas carreadas aos autos apontam para a ocorrência de irregularidades como, por exemplo, a utilização de documentos falsificados em licitações públicas; realização de contratos públicos sem prévia licitação;licitações públicas sem a realização dos serviços contratados;diversas contratações por meio de inexigibilidade e dispensa de licitação sem atestado do fornecimento dos serviços;fracionamento, em vários convites, do objeto de licitação (em serviços de engenharia);não recolhimento das contribuições previdenciárias do segurado e patronal;contratação de empresas e pessoas com parentesco do Prefeito Municipal, entre outras irregularidades. Diante de todo o quadro apontado, vislumbra-se a coordenação de ações dos demandados na concatenação dos atos destinados a burlar as finalidades dos processos licitatórios, estando claro o perigo para a instrução, com a criação de documentos ou sua destruição pelos demandados. Assim, a permanência dos demandados nas mesmas funções e cargos, neste momento, acarreta risco para investigações e instrução processual, face a possibilidade de dificultar a obtenção de provas, além da influência à testemunhas, autorizando a medida excepcional. Conforme os autos, o Ministério Público recebeu denúncia de que o prefeito está `fabricando uma prestação de contas, com uma `força tarefa para burlar o rombo, já que existem dificuldades para obter documentos com data retroativa, ainda mais que hoje a grande maioria é obtida por meio eletrônica. Resta claro, o perigo, para a investigação e instrução, com a criação de documentos ou sua destruição pelos demandados, especialmente porque em tais casos a prova é essencialmente documental. Assim, entendo que o pedido de afastamento do Ministério Público deva ser atendido, tanto quanto ao gestor municipal LUIZ CLAUDIO TEIXEIRA BARROSO, quanto ao demandado MARIANO FONSECA DA ROZA. Neste sentido, veja-se o que já decidiu o STJ: 7
8 PEDIDO DE SUSPENSÃO DE MEDIDA LIMINAR. AFASTAMENTO DOS CARGOS DE PREFEITO E VICE- PREFEITO. LESÃO A ORDEM PÚBLICA. A norma do art. 20, Parágrafo Único, da Lei de 1992, que prevê o afastamento cautelar do agente público durante a apuração dos atos de improbidade administrativa, só pode ser aplicada em situação excepcional. Hipótese em que a medida foi fundamentada em elementos concretos a evidenciar que a permanência nos cargos representa risco efetivo à instrução processual. Pedido de suspensão deferido em parte para limitar o afastamento dos cargos ao prazo de 180 dias. MEDIDA CAUTELAR DE INDISPONIBILIDADE DE BENS Demonstrados os indícios da ocorrência de burla aos regramentos licitatórios e malversação de verba pública, presente o fumus boni iuris. O periculum in mora, por sua vez, mostra-se presente ante a franca possibilidade de dissipação do patrimônio dos requeridos, quanto ao ressarcimento dos elevados valores envolvidos nos atos de improbidade administrativa supostamente praticados pelos demandados. Ademais é de suma importância que se resguarde o ressarcimento do dano ao patrimônio público, para que o deslinde da ação principal não seja em vão. Outrossim, o art. 7º da lei 8.429/92 é claramente permissivo deste tipo de medida, não condicionando, de forma alguma, à demonstração de dissipação do patrimônio por meio dos réus. Ao contrário, o dispositivo determina que seja requerida a indisponibilidade dos bens quando o ato de improbidade causar lesão ao patrimônio público ou ensejar enriquecimento ilícito, sendo suficiente a existência de fundados indícios de responsabilidade, nos moldes do art. 16 da mesma lei. Vejamos: Art. 7º Quando o ato de improbidade causar lesão ao patrimônio público ou ensejar enriquecimento ilícito, caberá a autoridade administrativa responsável pelo inquérito representar ao Ministério Público, para a indisponibilidade dos bens do indiciado. Parágrafo Único. A indisponibilidade a que refere o caput deste artigo recairá sobre bens que assegurem o integral ressarcimento do dano, ou sobre o acréscimo patrimonial resultante do enriquecimento ilícito. Art. 16. Havendo fundados indícios de responsabilidade, a comissão representará o Ministério Público ou a procuradoria do órgão para que requeira ao juízo competente a decretação do sequestro dos bens do agente ou terceiro que tenha enriquecido ilicitamente ou causado dano ao patrimônio público. 8
9 Neste sentido já decidiu o STJ: 5.A decretação da indisponibilidade, que não se confunde com o sequestro, prescinde de individualização dos bens pelo Parquet. A exegese do art. 7º da lei 8.429/1992, conferida pela jurisprudência do STJ, é de que a indisponibilidade pode alcançar tantos bens quantos forem necessários a garantir as consequências financeiras da prática de improbidade, mesmo os adquiridos anteriormente a conduta ilícita. 6.Desarrazoado aguardar a realização de atos concretos tendentes à dilapidação do patrimônio, sob pena de esvaziar o escopo da medida.precedentes do STJ. 7.Admite-se a indisponibilidade dos bens em caso de forte prova indiciária de responsabilidade dos réus na consecução do ato ímprobo que cause enriquecimento ilícito ou dano ao erário, estando o periculum in mora implícito no próprio comando legal. Precedentes do STJ. 8.Hipótese em que, considerando a natureza gravíssima dos atos de improbidade administrativa imputados aos réus e os elevados valores financeiros envolvidos, a indisponibilidade dos bens deve ser declarada de imediato pelo STJ Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte, parcialmente provido para determinar a indisponibilidade dos bens dos recorridos. (STJ-2ª.T., REsp , MINISTRO HERNAM BENJAMIN,DJ ) QUEBRA DO SIGILO BANCÁRIO E FISCAL Quanto à quebra do sigilo bancário e fiscal dos requeridos, acautelo-me pelo indeferimento da mesma por hora, uma vez que, embora tenha havido indícios da ocorrência de lesão ao Erário, consoante assinalado acima, não restou demonstrada a necessidade, tampouco a utilidade e a imprescindibilidade, de excepcionar os sigilos fiscal e bancário dos demandados, pois existem outros meios iniciais plausíveis para se comprovar a suposta malversação de verbas públicas. Neste diapasão assenta-se a jurisprudência do STJ. 9
10 Ementa: PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL. SINDICÂNCIA. QUEBRA DO SIGILO BANCÁRIOS E FISCAIS. NECESSIDADE E IMPRESCINDIBILIDADE NÃO DEMONSTRADA. RECURSO DESPROVIDO.1.A quebra dos sigilos bancário e fiscal é sempre medida excepcional, que deverá ser utilizada em último caso, somente quando o pedido vier lastreado em argumentos convincentes que demonstrem não ser possível a comprovação da suposta prática delitiva por outros meios.1. In casu, o Ministério Público Federal não demonstrou a justa causa para a medida excepcional, motivo pelo qual é de se manter o indeferimento.3.agravo regimental não provido. (Processo: AgRg na Sd 179/RS AGRAVO REGIMENTAL NA SINDICÂNCIA 2008/ Relator Ministro CASTRO MEIRA. Órgão Julgador CE-CORTE ESPECIAL. Data do Julgamento: Data da Publicação:DJe de ). Ante o exposto, demonstrado o risco para a permanência dos demandados em seus cargos, mas ciente de sua excepcionalidade DEFIRO o pedido liminar de afastamento dos demandados LUIZ CLAUDIO TEIXEIRA BARROSO e MARIANO FONSECA DA ROZA, pelo prazo de 90(NOVENTA) dias, sem prejuízo de seus vencimentos, prazo que entendo suficiente à conclusão das investigações e instrução processual. Decreto, ainda, a indisponibilidade de bens dos requeridos LUIZ CLAUDIO TEIXEIRA BARROSO, MARIANO FONSECA DA ROZA e M.J..L.-REPRESENTAÇÕES, IMOBILIÁRIA, ASSESSORIA E PLANEJAMENTO CONTÁBIL LTDA, com fulcro no art. 7º Caput e seu parágrafo único e art. 16 e seus parágrafos, todos da Lei 8.429/1992. Por outro lado, indefiro o pedido liminar de quebra dos sigilos fiscal e bancário dos demandados, pois não vislumbro, neste momento processual, a razoabilidade jurídica da pretensão liminar acautelatória, para que seja decreta tal medida, sem prejuízo de nova apreciação, em outro tempo, do referido pedido. Com intuito de dar efetividade a esta decisão, determino: 1-Requisite-se, via BACENJUD, informações sobre a existência ou não de ativos bancários/financeiros em nome dos demandados, e, em caso de existência de tais ativos, desde logo, indisponibilize-se os valores encerrados nos referidos ativos até a quantia de ,00( Um milhão, trezentos e vinte e cinco mil e novecentos reais), excetuando-se as verbas de caráter alimentar (vencimentos, salários, honorários e proventos); 2-Oficie-se aos Cartórios de Registro de Imóveis de Capanema e Igarapé-Açu e da Capital do Estado para que procedam à averbação da indisponibilidade, nos respectivos registros de imóveis porventura existentes em nome de LUIZ CLAUDIO TEIXEIRA BARROSO, MARIANO FONSECA DA ROZA e M.J..L.- REPRESENTAÇÕES, IMOBILIÁRIA, ASSESSORIA E PLANEJAMENTO CONTÁBIL LTDA, e para que informem a este juízo, que por força desta decisão judicial os mesmos se encontram indisponíveis; 3-Oficie-se a Presidência do Tribunal de Justiça do Estado do Pará para a devida publicidade desta decisão, 10
11 evitando a homologação de acordos e transações que gerem redução patrimonial dos requeridos e ciência às Serventias Judiciais e Extrajudiciais do Estado; 4-Oficie-se à JUCEPA, comunicando-se a indisponibilidade das cotas da 3ª demandada M.J..L.- REPRESENTAÇÕES, IMOBILIÁRIA, ASSESSORIA E PLANEJAMENTO CONTÁBIL LTDA; 5-Determino a restrição judicial no Sistema RENAJUD, para a alienação dos veículos por ventura encontrados em nome dos requeridos LUIZ CLAUDIO TEIXEIRA BARROSO, MARIANO FONSECA DA ROZA e M.J..L.- REPRESENTAÇÕES, IMOBILIÁRIA, ASSESSORIA E PLANEJAMENTO CONTÁBIL LTDA; 6-Considerando que a determinação de afastamento não depende, para sua eficácia, da ciência dos demandados, mas sim da comunicação ao ente público de onde se encontram afastados, determino a comunicação da presente decisão ao Município de São João de Pirabas, na pessoa de seu representante legal, de acordo com a ordem de substituição, portanto, na pessoa do VICE-PREFEITO; 7- Após, intimem-se e citem-se os requeridos para contestarem a ação no prazo de 05(cinco) dias, indicando as provas que pretendem produzir sob pena de confissão e revelia. Intimem-se o Ministério Público. Decorrido o prazo da contestação, conclusos. Cumpra-se, servindo a presente como mandado. Santarém Novo/PA, 10 de fevereiro de MARIA AUGUSTA FREITAS DA CUNHA Juíza de Direito TRAMITAÇÕES 11
12 Documento Data Origem Destino Data Baixa /02/2014 GABINETE DA VARA UNICA DE SAO JOAO DE PIRABAS - SANTAREM NOVO SECRETARIA DA VARA UNICA DE SAO JOAO DE PIRABAS - SANTAREM NOVO Documento Data Origem Destino Data Baixa /02/2014 SECRETARIA DA VARA UNICA DE SAO JOAO DE PIRABAS - SANTAREM NOVO SECRETARIA DA VARA UNICA DE SAO JOAO DE PIRABAS - SANTAREM NOVO MANDADOS Não há mandados cadastrados para este processo. PROTOCOLOS Documento Data Situação /02/2014 JUNTADO /02/2014 JUNTADO CUSTAS Não há custas cadastradas para este processo. 12
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