EFEITOS COLATERAIS DA QUIMIOTERAPIA: OS SENTIMENTOS APRESENTADOS PELOS HOMENS EM TRATAMENTO
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1 1064 EFEITOS COLATERAIS DA QUIMIOTERAPIA: OS SENTIMENTOS APRESENTADOS PELOS HOMENS EM TRATAMENTO SIDE EFFECTS OF CHEMOTHERAPY: THE FEELINGS SUBMITTED BY MEN IN TREATMENT Bruna Nunes de Freitas Enfermeira. Graduada pelo Centro Universitário do Leste de Minas Gerais Unileste. Jussara Bôtto Neves Enfermeira. Mestre em Meio Ambiente e Sustentabilidade. Especialista em Obstetrícia, Saúde Pública, Administração Pública com Aprofundamento em Gestão Pública e em Formação Pedagógica em Educação na Área de Saúde. Docente do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais - Unileste. bottocola@yahoo.com.br RESUMO A quimioterapia é a associação de compostos químicos no combate ao câncer, sendo a principal medida para a remissão do tumor. Porém, junto aos benefícios do tratamento, aparecem sinais e sintomas que colocam em risco a qualidade de vida do paciente em uso de quimioterápicos. Os principais efeitos colaterais do tratamento são náuseas e vômito, alopécia e mucosite. O gênero masculino está intimamente associado à virilidade, força e invulnerabilidade. Características incompatíveis com a demonstração de fraqueza, medo e insegurança. Tendo em vista este contexto, o presente estudo visou identificar os sentimentos apresentados pelos homens, em tratamento contra o câncer, em relação aos efeitos colaterais advindos da quimioterapia. Foi realizado um estudo com abordagem qualitativa de caráter descritivo, com oito homens maiores de 18 anos, que passaram pela experiência da quimioterapia, utilizando um roteiro de entrevista semiestruturado. Destaca-se que sete participantes desconheciam as características do tratamento quimioterápico,no qual, um deles não tinha conhecimento dos eventos adversos causados pelos medicamentos. Os participantes também demonstraram sentimentos de esperança e tranquilidade quando questionados em relação à terapêutica. Constatou-se que perante todas as contradições em relação ao tratamento e ao gênero estudado, os sentimentos demonstrados foram mais otimistas do que se esperava de acordo com a escassa literatura já publicada. PALAVRAS-CHAVE: Quimioterapia. Saúde do Homem. Tratamento. ABSTRACT Chemotherapy is the combination of chemical compounds in fighting cancer, being the main measure for the remission of the tumor. However, with the benefits of the treatment, signs and symptoms that pose a risk to the patient's quality of life in use of chemotherapeutic. The main side effects of treatment are nausea and vomiting, alopecia, and mucositis. The male gender is closely associated with the virility, strength and invulnerability. Characteristics are incompatible with the demonstration of weakness, fear and insecurity. In view of this context, the present study aimed to identify the feelings displayed by men, in treatment against cancer, in relation to side-effects of chemotherapy. One study was conducted with a qualitative approach, with eight men over 18 years, who has had the experience of chemotherapy, using an interview guide semi-structured. It is important to point out that seven participants did not know of the characteristics of the chemotherapy treatment, in which, one of them had no knowledge of adverse events caused by the medication. The participants demonstrated feelings of hope and tranquility as well when questioned in relation to therapy. It was noted that before
2 1065 all the contradictions in relation to the treatment and the gender studied, the feelings demonstrated were more optimistic than expected according to the scanty literature already published. WORD KEYS: Drug Therapy. Men's Health. Therapeutics. INTRODUÇÃO O Instituto Nacional do Câncer (INCA, 2012) declara que a quimioterapia é a utilização de compostos químicos (medicamentos) administrados continuamente ou com intervalos que variam com cada esquema de tratamento. Quando aplicada ao câncer, é chamada de quimioterapia antineoplásica ou quimioterapia antiblástica. Esta terapêutica é o tratamento de escolha para os pacientes diagnosticados com câncer cujo objetivo é a remissão do tumor maligno e que também pode ser utilizada em combinação com a radioterapia a fim de potencializar seus efeitos antineoplásicos. Essas drogas interferem no crescimento e na divisão celular, destruindo assim as células tumorais, mas afetam também outras células sadias, com tecidos semelhantes. Para início da quimioterapia, são realizados exames para assegurar que o organismo do paciente se encontra em condições de superar os efeitos tóxicos, sendo repetidos periodicamente de acordo com as drogas utilizadas (ANJOS; ZAGO, 2006; BRASIL, 2008, 2010). Os efeitos colaterais mais comuns nos pacientes em uso de quimioterapia antiblástica são náuseas, vômitos, mucosite, diarreia, alopécia, dispneia e arritmias. Eles variam de acordo com o tempo de exposição, da concentração da droga no organismo e também do tipo de droga. Porém, mesmo em doses terapêuticas, as drogas podem ocasionar grandes toxicidades. Estes sintomas são tão nocivos que podem acarretar desde a interrupção do tratamento até a morte do paciente (BONASSA; SANTANA, 2005; SAWADA et al., 2008). O indivíduo diagnosticado com câncer passa por um processo que muda seu estilo de vida, devido ao impacto social, psicológico e familiar que a doença gera, juntamente com os efeitos colaterais da terapia, exigindo uma grande preparação física e psicológica do paciente e de seus familiares (ANJOS; ZAGO, 2006). A prática de enfermagem no cuidar do paciente com câncer implica em conhecer não só sobre a patologia, mas saber trabalhar com os sentimentos dos outros e apoiar o paciente e seus familiares durante uma variedade de crises físicas, emocionais, sociais, culturais e espirituais, como por exemplo lidar com as próprias emoções e conflitos pessoais perante a doença com ou sem possibilidade de cura. Essa especialidade tanto quanto complexa, exige sensatez uma vez que pelo simples significado da palavra, muitas vezes tem sido associada à dor, sofrimento e morte. Podendo então influenciar a opinião ou mesmo o comportamento de uma pessoa na situação de doente (RECCO; LUIZ; PINTO, 2005). Para Araújo (2006), o sofrimento do paciente oncológico em tratamento vai além do físico, psicológico, social e espiritual. O sofrimento psicológico é caracterizado por sintomas de humor depressivo, tristeza e culpa. A doença em seu estado avançado implica no comprometimento da realização das atividades laborais e sociais, afetando o desempenho do seu papel social e psicológico. O paciente então se vê financeiramente dependente de terceiros (familiares e amigos). A privação da rede de suporte social pode ainda levar o indivíduo a perder suas referências,
3 1066 gerando duvidas quanto a identidade, contribuindo para a sensação de abandono e exclusão social. É na faixa etária dos anos que incidem com maior frequência cânceres dos aparelhos digestivo, respiratório e urinário, além de uma alta frequência de óbitos, por diversas causas, especificamente no gênero masculino. A morbimortalidade de indivíduos homens, se tratando de câncer de pulmão e próstata, ressalta dois comportamentos específicos, culturalmente demarcados pelas distinções de gênero: o hábito de fumar, prevalente entre os homens, e a pouca procura dos serviços de detecção precoce do câncer de próstata, por exemplo, denotando a forma de se relacionar com as ações preventivas e o auto cuidado (BRASIL, 2008; SCHARAIBER et al., 2005). Em novembro de 2008, foi criado pelo Ministério da Saúde a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH). Ela evidencia fatores sociais que provocam a vulnerabilidade masculina, resultando em agravos à saúde. A partir de então, atua promovendo ações de saúde que contribuam significativamente com a compreensão da realidade masculina nos seus diversos contextos (BRASIL, 2008). Segundo Gomes et al. (2007), a primeira explicação referente a menor incidência de homens que procuram o serviço de saúde, em relação às mulheres, está relacionada à associação do cuidar no âmbito feminino. O homem seria então, associado à virilidade, força e invulnerabilidade. Características incompatíveis com a demonstração de sinais de fraqueza, medo e insegurança, evidenciados a partir da busca por estes serviços colocando em risco, a masculinidade do gênero. Tal característica decorre das variáveis culturais. Os estereótipos do gênero, enraizados há séculos na cultura patriarcal. Ainda coexiste uma carência de estudos científicos quanto à percepção do sexo masculino quanto aos efeitos colaterais que são ocasionados pelo tratamento quimioterápico. Diante disso, o estudo pretendeu discutir os efeitos colaterais mais comuns advindos da quimioterapia e suas implicações na vida do homem, demonstrando a realidade de quem a vivencia. Não obstante, o estudo almejou contribuir com a equipe multidisciplinar envolvida na assistência aos pacientes com câncer, principalmente a enfermagem, podendo nortear e impulsionar novos estudos na área, inclusive para a elaboração de novas estratégias de atuação, tendo como foco o gênero masculino. Pretendeu-se analisar os fatores facilitadores e dificultadores na percepção do homem na construção dos sentimentos em relação aos efeitos colaterais do tratamento quimioterápico, além de também identificar o conhecimento dos homens que realizam quimioterapia acerca dos efeitos colaterais durante o uso de quimioterápicos. Como objetivo geral, o estudo visou identificar os sentimentos apresentados pelos homens, em tratamento de câncer, em relação aos efeitos colaterais advindos da quimioterapia. METODOLOGIA Trata-se de um estudo do tipo descritivo, utilizado a abordagem qualitativa. Foi desenvolvido no município de Ipatinga MG, na Associação de Assistência às Pessoas com Câncer (AAPEC), uma organização não governamental independente,
4 1067 sem fins lucrativos, cujo empenho é contribuir com a melhoria da qualidade de vida dos pacientes oncológicos. Em setembro de 2011, A AAPEC contava com uma população de 3712 usuários, para os quais são fornecidos medicamentos, fraldas geriátricas, fornecimento de próteses mamárias e perucas, além de toda assistência multiprofissional a estes pacientes. O cadastro dos pacientes da AAPEC é armazenado num banco de dados informatizado e o sistema utilizado não classifica os usuários por sexo. Portanto não foi possível conhecer quantos homens estavam cadastrados no sistema. Participaram do estudo indivíduos do sexo masculino, acima de 18 anos que estavam esse em tratamento quimioterápico no momento da coleta dos dados. Os dados foram coletados no período de abril a maio de 2012, prazo considerado usual por se tratar de um Trabalho de Conclusão de Curso. A amostra foi obtida desta população por conveniência, totalizando oito participantes. Como instrumento para a coleta de dados foi utilizado um roteiro de entrevista. As entrevistas foram realizadas com alguns participantes na AAPEC e com outros na sua própria residência, tiveram duração média em torno de 10 minutos cada uma e foi utilizado um aparelho MP3 da marca Sony, para garantir que as palavras ditas pelos participantes fossem transcritas de forma fidedigna. Nas entrevistas realizadas na AAPEC, o participante foi convidado a entrar na sala reservada pela Diretora. As entrevistas que foram realizadas na residência do participante, aconteceram no horário escolhido, e agendadas de acordo com a sua disponibilidade. O ambiente da entrevista foi definido pelo entrevistado, onde o mesmo se sentia a vontade e confortável e que oferecesse privacidade para responder às perguntas. Foram descritos os objetivos da pesquisa e os participantes avisados quanto à necessidade da gravação de suas respostas. Depois de informados, para aqueles que concordaram em participar, foi apresentado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), que depois de lido foi assinado pelo participante e pela pesquisadora em duas vias, ficando uma cópia com o pesquisado e a outra com a pesquisadora. Os dados coletados foram transcritos de forma fidedigna. Posteriormente os relatos foram codificados de maneira a preservar o nome dos entrevistados, que foram apresentados como nome de pássaros, por exemplo, Flamingo, Tucano e Martim. Para a análise dos dados os relatos dos participantes foram agrupados de acordo com as questões das entrevistas, consistindo em descobrir os núcleos de sentido de cada uma. Logo em seguida, as informações foram separadas em grupos temáticos visando à compreensão dos resultados obtidos e assim, interpretadas. O estudo atendeu a todos os princípios éticos e legais. Foi analisado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais Unileste e enquadrado na categoria aprovado de acordo com o protocolo em 2 de abril de Aos sujeitos foi garantido o anonimato de sua participação do estudo, conforme prevê a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), que regulamenta as pesquisas com seres humanos (BRASIL, 1996). RESULTADOS E DISCUSSÃO
5 1068 Todos os participantes eram do sexo masculino, com idade entre 37 a 56 anos, residentes na cidade de Ipatinga-MG, onde realizam o tratamento quimioterápico. Dentre os participantes dois eram solteiros e nenhum havia completado o Ensino Médio. Quando questionados como descobriram que tinham câncer, foi evidenciado que todos os participantes somente recorreram ao serviço médico, mediante a algum sinal e sintoma da doença. Dentre eles perda de peso, nódulo, tosse e até mesmo lesão. Contudo, o que mais se observou, foi o relato das dores que sentiam referente à localização do tumor, conforme os relatos abaixo: Eu sentia muita dor na urina, então pra ter relação eu quase não aguentava de tanta dor. (Canário) Eu senti perda de peso. Aí numa viagem eu passei ter muita dor, cólica (...). (Falcão) Sentia muita dor na garganta e começou a aparecer um caroço e eu fui no médico e constataram que era câncer. (Flamingo) Ai me deu uma irritação na garganta que eu não estava nem aguentando engolir nada nem a saliva ai eu procurei um médico. (João de Barro) A dificuldade de procurar ajuda ou cuidados médicos são capazes de resultar em descuidos com o próprio corpo. O silêncio diante desses acontecimentos implica em sustentar um ideal heróico de um ser forte, protetor, corajoso e invulnerável, impedindo assim em costumes autoconservadores (BRAZ, 2005). Ferrel (2006) relata que a dor interrompe o bem-estar físico e está relacionada a outros sintomas físicos (como fadiga e náuseas) e psicológicos, gerando ansiedade e depressão. É um sintoma complexo e angustiante, que impacta o paciente afetando a sua qualidade de vida. Em 1986 a dor foi identificada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como prioridade. Quanto indagados a respeito do conhecimento sobre o tratamento quimioterápico, somente um entrevistado se aproximou dos conceitos postulados na literatura. Os outros 7 participantes desconheciam o procedimento ao qual foram submetidos, como demonstrados nos relatos abaixo. Não, consciência plena, eu não tenho. (Tucano) Muito pouco. Sei que é uma droga pesada. (Falcão) A quimio menina, eu não sei te falar nada a respeito da quimioterapia. (Sabiá) Ah eu não sei explicar isso não. (Faisão) Barbosa e Telles Filho (2008) ressaltam que todo paciente tem a necessidade da informação sobre o tratamento que está realizando, de acordo com sua capacidade de compreensão. Deve conter nestas informações, dados a respeito do tratamento, ações e reações medicamentosas, visando uma melhora na qualidade da terapêutica deste paciente.
6 1069 Para Ventafridda et al. (2006) o conhecimento amplo de sua doença, assim como seu estágio e o tratamento, é um aspecto relevante na qualidade de vida deste paciente. Os relatos acima destacam a necessidade desta interferência, a fim de educar para garantir maior adesão e aceitação do tratamento e suas adversidades. Ao solicitar que os participantes descrevessem quais foram os efeitos colaterais que lhe ocorreram em virtude do tratamento, o resultado foi bastante heterogêneo. Dois participantes não expuseram nenhuma alteração em seu estado de saúde, conforme as respostas: Comigo não, Graças a Deus ate o momento não. (João de Barro) Não notei não. (Canário) Neste contexto coexistem possibilidades da não verbalização destes sentimentos de dor ou mal estar. Tal fato e justificado pela necessidade de não acabar ferindo sua masculinidade. O homem se considera invulnerável o que faz com que cuide menos de si mesmo, se expondo mais a situações de risco. Quando descobrem que algo vai mal com sua saúde pode colocar em risco sua invulnerabilidade (BRASIL, 2008). Aos que foram afetados pelo tratamento, o sintoma mais incidente foi a fadiga, seguido pelas náuseas e vômitos, alopécia e diarréia. Contudo, a média de sintomas em toda amostra foi de três eventos adversos para cada paciente. As evidências foram representadas pelas seguintes narrativas: Ele provoca dor na barriga toda, tudo. Da diarreia, dá, fica fraco demais... Tudo isso dá. (Martim) Já tive problema de diarreia, já me estourou a boca toda, deu canseira. (...) Você, às vezes você solta urina, às vezes você tem diarréia, dor de cabeça, dor na coluna. (Falcão) Perdi peso e cabelo. O que aconteceu foi que fiquei muito fraco. (...) até hoje eu to de cama ainda, eu num guento, fraqueza, agora que eu to começando a alimentar. Cabelo ta caindo. (Flamingo) Os dados acima, corroboram com os estudos de Massarenti et al. (2009) que descrevem que a evolução tecnológica dos agentes quimioterápicos ocasionou uma redução nos efeitos colaterais, contribuindo para uma melhor eficácia no tratamento da doença e com relação direta em uma menor vinculação do paciente aos transtornos gerados pelo tratamento. Bonassa e Santana (2005) descrevem 12 efeitos colaterais comumente apresentados por pacientes em uso de quimioterápicos. São eles: toxicidade hematológica, gastrintestinal, pulmonar, dermatológica, visceral e renal, cardiotoxicidade, hepatotoxicidade, neurotoxicidade, disfunção reprodutiva, alterações metabólicas, reações alérgicas e anafiláticas, e fadiga. Segundo Albano (2010) o enfermeiro como profissional que atua na educação para a saúde pode desenvolver um papel importante nesse contexto através de ações educativas de promoção da saúde e prevenção de doenças, esclarecendo dúvidas e incentivando a população masculina a se cuidar, assim como é
7 1070 desenvolvido com crianças, mulheres e idosos através de programas e outras atividades. Ao tratar dos sentimentos construídos durante o tratamento quimioterápico, alguns se mostraram serenos. Houve até mesmo demonstrações de humor. Foi identificada também em um entrevistado a surpresa, a se ver debilitado pelo medicamento, pois não sabia todos os detalhes do tratamento. Tais foram as respostas: Medo a gente sente, mas eu me senti confiante. (Flamingo) (...) eu não sou de esquentar a cabeça, assim de colocar obstáculos em nada. (...) Portanto ali quando eu to fazendo quimioterapia, eu viro pro doutor e falo: o doutor o senhor podia pendurar ai um litro de Skol bem geladinha (...). (João de Barro) Pra mim era como se fosse um soro normal, só que ai vem a sequela depois. (Sabiá) Aliados a estes sentimentos, alguns dos entrevistados buscavam motivos para continuar o tratamento sem necessariamente abandonar sua rotina. As demonstrações de afeto e laços familiares, além de práticas que lhe propiciam prazer, como a pescaria. Fazia quimioterapia, pegava minhas coisas de pescar, porque eu gosto muito de pescar né? Ia pra lagoa, ficava duas noites pescando. (Martim) Vou pra churrasco, vou pra festa, vou pra tudo quanto é lugar com a família. Viajo pra sítio, nunca me entreguei não. (Falcão) (...) eu levo tudo na brincadeira o negócio e se divertir porque eu não vou ficar preocupado com esse negócio que não tem cura, e isso aquilo outro, não sei quantos anos de vida eu vou ter, morrer eu sei que eu vou morrer (...). (João de Barro) Os fatos acima discordam dos estudos de Salimena (2010), que relatam que a quimioterapia torna o paciente mais vulnerável, principalmente quando este indivíduo tem dificuldades em enfrentar o seu diagnóstico. Ao tratamento que propicia a cura traz consigo seus eventos adversos que ocasionam sentimentos de dor, desespero, sofrimento, levando o paciente a sentir-se impotente para reagir e lutar por sua sobrevivência. Para Araújo (2006), a família fornece proteção psicossocial ao paciente, consistindo em seu principal apoio durante o processo de adoecimento e hospitalização, sendo impossível o cuidar excluindo o contexto de relacionamento familiar do paciente. Grande parte da amostra encarou o tratamento com realismo e confiança, esperando na quimioterapia a sua chance de se ver curado do câncer. Além disso, demonstrações de afeto aliadas às práticas que lhe proporcionassem bem-estar contribuíram para a aceitação do tratamento e assim, afrontar os eventos adversos com mais naturalidade. Neste sentido, houve grande dificuldade de encontrar
8 1071 referências bibliográficas que corroborassem com os achados das entrevistas relatadas acima. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados evidenciaram que os sentimentos que cercam o gênero masculino em tratamento quimioterápico podem ser menos complexos que os já demonstrados nas literaturas existentes. Mesmo com todos os contratempos ocasionados pela terapêutica, há aqueles que acreditam no tratamento e de alguma forma, mantém forças para continuar a lutar pela sua vida, como a amostra da pesquisa. Contudo, a forma de encarar a doença, e principalmente o ônus causado por ela, se fez crucial na determinação dos sentimentos construídos por estes homens. Do mesmo modo, a falta de informação sobre a quimioterapia e seus efeitos colaterais criou um contexto sombrio e desconhecido para o paciente em tratamento. Em geral, eles sabem o quanto é desgastante e sofrido, porém, não reconhecer verdadeiramente a relação risco versus benefício torna-se também um fator que dificulta na percepção destes pacientes, em relação aos eventos adversos. No entanto, ainda existem paradigmas de um ser forte, invulnerável e provedor, vinculados ao gênero que impedem melhor aprofundamento e entendimento desta totalidade em que o homem, com sua imposição de virilidade, se colocam frente às fragilidades que lhes são acometidos. A escassez de estudos neste âmbito é uma grande limitação para um melhor entendimento deste tema, e também um norteador para profissionais enfermeiros na elaboração de protocolos assistenciais ao paciente oncológico em uso de quimioterápicos. REFERÊNCIAS ALBANO, B. R.; BASÍLIO, M. C.; NEVES, J. B. Desafios para a inclusão dos homens nos serviços de atenção primária à saúde. Revista Enfermagem Integrada, Ipatinga, v. 3, n. 2, nov./dez., ANJOS, A. C. Y.; ZAGO, M. M. F. A experiência da terapêutica quimioterápica oncológica na visão do paciente. Revista Latino Americana de Enfermagem, v. 14, n. 1, p , jan./fev ARAÚJO, M. M. T. Quando uma palavra de carinho conforta mais que um medicamento : necessidades e expectativas de pacientes sob cuidados paliativos p.. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo BARBOSA, L. G.; TELLES FILHO, P. C. P. Conhecimento de pacientes oncológicos sobre a quimioterapia. Ciência Cuidado e Saúde, v. 7, n. 3, p , jul./set., BONASSA, E. M. A.; SANTANA, T. R. Enfermagem em terapêutica oncológica. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2005.
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