UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA FACULDADE DE ENGENHARIA QUÍMICA
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- Maria Júlia Cesário
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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA FACULDADE DE ENGENHARIA QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA ANÁLISE TERMODINÂMICA DAS REFORMAS DO METANO (OXIDATIVA E AUTOTÉRMICA), DO ETANOL E DA NAFTA CÍCERO NAVES DE ÁVILA NETO Uberlândia - MG 009
2 UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA FACULDADE DE ENGENHARIA QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA ANÁLISE TERMODINÂMICA DAS REFORMAS DO METANO (OXIDATIVA E AUTOTÉRMICA), DO ETANOL E DA NAFTA Autor: Cícero Naves de Ávila Neto Orientador: Prof. Dr. Adilson José de Assis Co-Orientadora: Prof a. Dr a. Carla Eponina Hori Dissertação submetida ao Programa de Pós- Graduação em Engenharia Química da Universidade Federal de Uberlândia como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Engenharia Química Uberlândia - MG 009
3 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) A958a Ávila Neto, Cícero Naves de, 198- Análise termodinâmica das reformas do metano (oxidativa e autotérmica), do etanol e da nafta / Cícero Naves de Ávila Neto f. : il. Orientador: Adilson José Assis. Co-orientadora: Carla Eponina Hori. Dissertação (mestrado) Universidade Federal de Uberlândia, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química. Inclui bibliografia. 1. Hidrogênio - Teses.. Metano - Teses. 3. Álcool - Teses. 4. Nafta - Teses. I. Assis, Adilson José. II. Hori, Carla Eponina. III. Universidade Federal de Uberlândia. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química. III. Título. CDU: Elaborada pelo Sistema de Bibliotecas da UFU / Setor de Catalogação e Classificação
4 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO SUBMETIDA AO PROGRAMA DE PÓS- GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ENGENHARIA QUÍMICA, EM 18 DE FEVEREIRO DE 009. BANCA EXAMINADORA: Prof. Dr. Adilson José de Assis Orientador (PPG-EQ/UFU) Prof a. Dr a. Carla Eponina Hori Co-Orientadora (PPG-EQ/UFU) Prof. Dr. Martín Aznar (PPG-EQ/UNICAMP) Prof a. Dr a. Lucienne Lobato Romanielo (PPG-EQ/UFU)
5 A todas as pessoas que se esforçaram para manter a minha paz de espírito neste momento de mudanças tão profundas. Obrigado mãe, pai, Flaviana e Fabrício.
6 ii AGRADECIMENTOS Agradeço com grande respeito toda a Faculdade de Engenharia Química da Universidade Federal de Uberlândia pela excelente formação profissional e orientação pessoal disponibilizada aos seus alunos. Agradeço, particularmente, os meus orientadores e amigos, Prof. Dr. Adilson José de Assis e Prof a. Dr a. Carla Eponina Hori, com todo o respeito, por suas atitudes, incentivos e disponibilidade para a realização deste trabalho. Acredito que os bons orientadores realmente se preocupam com seus alunos, e posso dizer que, nesses dois últimos anos, fui sempre recebido de braços abertos em todas as ocasiões em que precisei de ajuda. Obrigado Prof a. Dr a. Lucienne Lobato Romanielo pelos conselhos relativos ao desenvolvimento dos modelos matemáticos. Agradeço também os meus colegas de laboratório e amigos Fabiano de Almeida Silva e Sandra Cristina Dantas, pela amizade, pelas conversas, pelos conselhos profissionais, pessoais e, principalmente, pelo grande apoio que me forneceram neste último ano de trabalho. Serei eternamente grato a todas essas pessoas que acreditaram em meu potencial e me ajudaram a conquistar os meus objetivos. Gostaria de agradecer minha colega de graduação Karin Schmidt Godinho pela disponibilidade em me enviar os dados necessários para as simulações relativas à reforma da nafta, sem os quais os resultados não seriam representativos. Agradeço também minha amiga Alice Gussoni e meus amigos Vinício Coeli e Thiago Jacinto pelas conversas, conselhos, apoio e, principalmente, pela grande fidelidade e companheirismo que mantivemos durante a nossa amizade. Agradeço acima de tudo todos os integrantes de minha família. Minha irmã, Flaviana Franco Naves, por sua amizade, seus sorrisos sinceros, sua alta estima, e o grande apoio que me deu durante meus momentos de dificuldade. Meu irmão, Fabrício Franco Naves, que apesar de estar longe, continua a ser um grande amigo, uma boa influência, uma ótima pessoa na qual eu sempre me inspirei. Meu pai, Cícero Naves de Ávila Junior, pela paixão que ensinou a ter pela vida, por seus gostos, sua paciência com os filhos, por seu caráter e pela excelente formação que me proporcionou. Finalmente, minha mãe, Carmen Tereza de Oliveira Franco Naves, pelo carinho, apoio, incentivo, por sua amizade, nossas conversas, enfim, por sua forte e insubstituível presença em minha vida. Seria difícil enumerar individualmente todas as pessoas que contribuíram ao enriquecimento deste projeto, mas eu guardo de cada um a lembrança dos bons momentos que passamos juntos nesta fase de minha vida.
7 iii Um dos requisitos fundamentais do verdadeiro cientista é a humildade. Ela se baseia na certeza de que as nossas mais sólidas convicções se diluirão em algum momento do futuro. (Flávio Gikovate, 007)
8 iv SUMÁRIO Lista de Figuras...vi Lista de Tabelas...viii Lista de Símbolos...ix Resumo...xii Abstract...xiii CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO...14 CAPÍTULO. ANÁLISE TERMODINÂMICA: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA INTRODUÇÃO MÉTODOS Método da avaliação das constantes de equilíbrio (Método ACE) Método dos multiplicadores de Lagrange (Método ML) CORRELAÇÕES A variação da energia de Gibbs padrão O coeficiente de fugacidade O segundo coeficiente do virial O parâmetro de interação binária, k ij...31 CAPÍTULO 3. ANÁLISE GERAL DAS REFORMAS DO METANO, DO ETANOL E DA NAFTA REFORMA DO METANO Reforma a Vapor do Metano (RVM) Reforma Seca ou Reforma com CO do Metano (RSM) Reforma Oxidativa do Metano (ROM) Reforma Autotérmica do Metano (ATM) REFORMA DO ETANOL REFORMA DA NAFTA...53 CAPÍTULO 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO REFORMA DO METANO Reforma Oxidativa do Metano (ROM) Reforma Autotérmica do Metano (ATM) REFORMA DO ETANOL Reforma a Vapor do Etanol (RVE) Reforma Seca ou com CO do Etanol (RSE) Reforma Oxidativa do Etanol (ROE) Reforma Autotérmica do Etanol (ATE) COMPARAÇÃO ENTRE A REFORMA DO METANO E A REFORMA DO ETANOL REFORMA DA NAFTA CAPÍTULO 5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS CONCLUSÕES SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS...108
9 v REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS APÊNDICE A. ESPÉCIES QUÍMICAS PRESENTES NAS REAÇÕES DE REFORMA DO METANO, DO ETANOL E DA NAFTA APÊNDICE B. TABELAS RELATIVAS ÀS VALIDAÇÕES DOS RESULTADOS DAS REAÇÕES DE REFORMA DO METANO...11 APÊNDICE C. TABELAS RELATIVAS ÀS VALIDAÇÕES DOS RESULTADOS DAS REAÇÕES DE REFORMA DO ETANOL...13 APÊNDICE D. TABELAS COM OS RESULTADOS DETALHADOS DAS SIMULAÇÕES PARA AS REFORMAS DO METANO...17 APÊNDICE E. TABELAS COM OS RESULTADOS DETALHADOS DAS SIMULAÇÕES PARA AS REFORMAS DO ETANOL APÊNDICE F. TABELAS COM OS RESULTADOS DETALHADOS DAS SIMULAÇÕES PARA A REFORMA DA NAFTA...148
10 vi LISTA DE FIGURAS Figura.1 Energia de Gibbs total em função da coordenada da reação Figura 3.1 Fluxograma simplificado de uma unidade de reforma a vapor do metano Figura 3. Perfil de temperatura típico de um reator de reforma autotérmica (Gudlavalleti et al., 007) Figura 3.3 Fluxograma simplificado de uma unidade de reforma catalítica de nafta Figura 4.1 Distribuição dos produtos da ROM em função da temperatura e da razão O /CH 4 na alimentação (1 atm): (a) O /CH 4 = 0; (b) O /CH 4 = 0,5; (c) O /CH 4 = 1; (d) O /CH 4 =. (... ) Conversão de CH Figura 4. Coordenadas das reações linearmente independentes que representam o sistema de reforma oxidativa do metano (O /CH 4 = 0,5, 1 atm) Figura 4.3 Parâmetros de desempenho da ROM em função da razão O /CH 4 na alimentação, temperatura e pressão: (a) Deposição de coque; (b) Rendimento de hidrogênio. (1) 673 K e 1 atm; () 173 K e 1 atm; (3) 673 K e 10 atm; (4) 173 K e 10 atm Figura 4.4 Distribuição dos produtos da ATM em função da temperatura e das razões O /CH 4 e H O/CH 4 na alimentação (1 atm): (a) H O:O :CH 4 = 1:0:1; (b) H O:O :CH 4 = :0:1; (c) H O:O :CH 4 = 1:0,5:1; (d) H O:O :CH 4 = :0,5:1. (... ) Conversão de CH Figura 4.5 Coordenadas das reações linearmente independentes que representam o sistema de reforma a vapor do metano (H O/CH 4 = 1, 1 atm) Figura 4.6 Coordenadas das reações linearmente independentes que representam o sistema de reforma autotérmica do metano (H O:O :CH 4 = 1:0,5:1, 1 atm) Figura 4.7 Parâmetros de desempenho da ATM em função da razão de alimentação O /CH 4, temperatura e pressão: (a) Deposição de coque; (b) Rendimento de hidrogênio. H O/CH 4 = : (1) 673 K, 1 atm; () 173 K, 1 atm; (3) 673 K, 10 atm; (4) 173 K, 10 atm. H O/CH 4 = 1: (5) 173 K, 1 atm Figura 4.8 Distribuição dos produtos da RVE em função da temperatura e da razão de alimentação H O/C H 5 OH (1 atm): (a) H O/C H 5 OH = 0; (b) H O/C H 5 OH = 1; (c) H O/C H 5 OH = 3; (d) H O/C H 5 OH = Figura 4.9 Coordenadas das reações linearmente independentes que representam o sistema de reforma a vapor do etanol (1 atm): (a) H O/C H 5 OH = 0; (b) H O/C H 5 OH = Figura 4.10 Distribuição dos produtos da RVE em função a razão de alimentação H O/C H 5 OH a 173 K e 1 atm... 8 Figura 4.11 Parâmetros de desempenho da RVE em função da temperatura, pressão e razão de alimentação H O/C H 5 OH: (a) Deposição de coque; (b) Rendimento de hidrogênio. (1) H O/C H 5 OH = 3, 1 atm; () H O/C H 5 OH = 6, 1 atm; (3) H O/C H 5 OH = 3, 10 atm; (4) H O/C H 5 OH = 6, 10 atm Figura 4.1 Distribuição dos produtos da RSE em função da temperatura e da razão de alimentação CO /C H 5 OH (1 atm): (a) CO /C H 5 OH = 1; (b) CO /C H 5 OH = Figura 4.13 Coordenadas das reações linearmente independentes que representam o sistema de reforma seca do etanol (1 atm): (a) CO /C H 5 OH = 1; (b) CO /C H 5 OH = Figura 4.14 Parâmetros de desempenho da RSE em função da temperatura, pressão e razão de alimentação CO /C H 5 OH: (a) Deposição de coque; (b) Rendimento de hidrogênio. (1) CO /C H 5 OH = 1, 1 atm; () CO /C H 5 OH = 4, 1 atm; (3) CO /C H 5 OH = 4, 10 atm; (4) CO /C H 5 OH = 4, 10 atm Figura 4.15 Distribuição dos produtos da ROE em função da temperatura e da razão de alimentação O /C H 5 OH (1 atm): (a) O /C H 5 OH = 0,5; (b) O /C H 5 OH = 1; (c) O /C H 5 OH = 1,5; (d) O /C H 5 OH = Figura 4.16 Coordenadas das reações linearmente independentes que representam o sistema de reforma oxidativa do etanol (1 atm): (a) O /C H 5 OH = 0,5; (b) O /C H 5 OH = Figura 4.17 Distribuição dos produtos da ROE em função da razão de alimentação O /C H 5 OH (173 K e 1 atm).... 9
11 vii Figura 4.18 Parâmetros de desempenho da ROE em função da razão de alimentação O /C H 5 OH, temperatura e pressão: (a) Deposição de coque; (b) Rendimento de hidrogênio. (1) 673 K, 1 atm; () 173 K, 1 atm; (3) 673 K, 10 atm; (4) 173 K, 10 atm Figura 4.19 Distribuição dos produtos da ATE em função da temperatura e da razão H O/C H 5 OH na alimentação (O /C H 5 OH = 0,5 e 1 atm): (a) H O/C H 5 OH = 3; (b) H O/C H 5 OH = Figura 4.0 Coordenadas das reações linearmente independentes que representam o sistema de reforma autotérmica do etanol (O /C H 5 OH = 0,5 e 1 atm): (a) H O/C H 5 OH = 3; (b) H O/C H 5 OH = Figura 4.1 Parâmetros de desempenho da ATE em função da razão de alimentação O /C H 5 OH, temperatura e pressão: (a) Deposição de coque; (b) Rendimento de hidrogênio. H O/C H 5 OH = 3: (1) 673 K, 1 atm; () 173 K, 1 atm; (3) 673 K, 10 atm; (4) 173 K, 10 atm. (5) 173 K, 1 atm e H O/C H 5 OH = Figura 4. Comparação entre os rendimentos de H das reformas do metano e do etanol Figura 4.3 Comparação entre os fatores de desempenho das reformas do metano e do etanol. (a) deposição de coque e (b) seletividade H /CO Figura 4.4 Fração molar de H e dos gases de craqueamento (GC) na reforma da nafta. (a) Função da temperatura e pressão (H /Nafta = 6): (1) 1 atm, () 1,5 atm e (3) 5 atm. (b) Função da razão H /Nafta (793 K e 1,5 atm). () H, (... ) GC Figura 4.5 Deposição de coque para a reforma da nafta. (a) Função da temperatura e da pressão (H /Nafta = 6): (1) 1 atm, () 1,5 atm e (3) 5 atm. (b) Função da razão H /Nafta (793 K e 1,5 atm) Figura 4.6 Seletividade dos aromáticos leves sobre o reformado leve na reforma da nafta. (a) Função da temperatura e da pressão (H /Nafta = 6): (1) 1 atm, () 1,5 atm e (3) 5 atm. (b) Função da razão H /Nafta (793 K e 1,5 atm) Figura 4.7 Seletividade dos aromáticos pesados sobre os aromáticos leves na reforma da nafta. (a) Função da temperatura e da pressão (H /Nafta = 6). (1) 1 atm, () 1,5 atm e (3) 5 atm. (b) Função da razão H /Nafta (793 K e 1,5 atm)
12 viii LISTA DE TABELAS Tabela 1 Lista expandida das possíveis espécies envolvidas no equilíbrio termodinâmico das reações de reforma do etanol (Rabenstein e Hacker, 008) Tabela Reações predominantes na reforma catalítica da nafta Tabela 3 Reações linearmente independentes que representam o equilíbrio termodinâmico do sistema de reforma oxidativa do metano Tabela 4 Tabela estequiométrica das reações envolvidas na reforma a vapor do etanol para temperaturas mais altas Tabela 5 Reações linearmente independentes que representam o equilíbrio termodinâmico do sistema de reforma autotérmica do metano Tabela 6 Reações linearmente independentes que representam o equilíbrio termodinâmico do sistema de reforma a vapor do etanol Tabela 7 Reações linearmente independentes que representam o equilíbrio termodinâmico do sistema de reforma seca do etanol Tabela 8 Reações linearmente independentes que representam o equilíbrio termodinâmico do sistema de reforma oxidativa do etanol Tabela 9 Reações linearmente independentes que representam o equilíbrio termodinâmico do sistema de reforma autotérmica do etanol Tabela 10 Valores das variáveis operacionais que, dentro das condições estudadas neste trabalho, aprimoram os fatores de desempenho das reformas oxidativa e autotérmica do metano e do etanol Tabela 11 Valores das variáveis operacionais que, dentro das condições estudadas neste trabalho, aprimoram os fatores de desempenho das reformas a vapor e seca do metano e do etanol... 98
13 ix LISTA DE SÍMBOLOS o A 1º coeficiente da equação de CP adimensional a Coeficiente relacionado ao momento de dipolo de uma molécula adimensional ACE a ik Método da Avaliação das Constantes de Equilíbrio Número de átomos do k-ésimo elemento presente em cada molécula da espécie química i adimensional aˆi Atividade da espécie i na mistura reacional adimensional A k Número total de massas atômicas do k-ésimo elemento adimensional AL AP ATE ATM Aromáticos Leves Aromáticos Pesados Reforma Autotérmica do Etanol Reforma Autotérmica do Metano B Segundo coeficiente do virial adimensional b Coeficiente de moléculas associadas adimensional o B ii º coeficiente da equação da equação de CP adimensional B ij Segundo coeficiente do virial cruzado adimensional o C 3º coeficiente da equação da equação de CP adimensional o CP Capacidade calorífica padrão de reação M 0 L T - -1 o D 4º coeficiente da equação da equação de CP o E 5º coeficiente da equação da equação de CP adimensional adimensional f (0) Termo esférico da equação de B ij adimensional f (1) Termo apolar da equação de B ij adimensional f () Termo polar, associado ou quântico da equação de B ij adimensional fˆi Fugacidade da espécie i na mistura reacional M 1 L 1 T - 0 o fi Fugacidade da espécie i no estado padrão. M 1 L 1 T - 0 GC Gases de craqueamento G t Energia livre de Gibbs total M 1 L T - 0 o Gi Energia de Gibbs padrão da espécie i M 1 L T - 0 GRM Gases ricos em metano h Constante de Planck M 1 L T -1 0 H /CO Seletividade de hidrogênio em relação ao monóxido de carbono mol 1 mol -1 H O/CH 4 Razão de água em relação ao metano na alimentação mol 1 mol -1 H O/C H 5 OH Razão de água em relação ao etanol na alimentação mol 1 mol -1 H /Nafta Razão de hidrogênio em relação à carga de nafta na alimentação mol 1 mol -1 I i Potencial de ionização da espécie i M 1 L T - 0 K j Constante de equilíbrio da reação j adimensional k ij Parâmetro de interação binária adimensional
14 x ML Método dos Multiplicadores de Lagrange m Massa molecular da molécula M 1 L 0 T 0 0 m p Parâmetro sem significado físico adimensional n ci Quantidade de carbono presente na espécie i adimensional n i Número de moles da espécie i mol n o,i Número de moles inicial da espécie i mol n T Número de moles total presente em um sistema mol O /CH 4 Razão de oxigênio em relação ao metano na alimentação mol 1 mol -1 O /C H 5 OH Razão de oxigênio em relação ao etanol na alimentação mol 1 mol -1 P Pressão M 1 L 1 T - 0 P o Pressão do estado padrão M 1 L 1 T - 0 P ci Pressão crítica da espécie i M 1 L 1 T - 0 P cij Pressão crítica cruzada M 1 L 1 T - 0 R Constante universal dos gases adimensional RL RP ROE ROM RSE RSM RVM RVE H, CH 4 Reformado Leve Reformado Pesado Reforma Oxidativa do Etanol Reforma Oxidativa do Metano Reforma Seca do Etanol Reforma Seca do Metano Reforma a Vapor do Metano Reforma a Vapor do Etanol R Rendimento de hidrogênio para as reações de reforma do metano % R Rendimento de hidrogênio para as reações de reforma do etanol % H, Et R x,y H CO y-ésima reação linearmente independente que representa o sistema de reforma x S Seletividade do hidrogênio em relação ao monóxido de carbono mol 1 mol -1 T Temperatura M 0 L 0 T 0 1 T 0 Temperatura de referência M 0 L 0 T 0 1 T ci Temperatura crítica da espécie i M 0 L 0 T 0 1 T cij Temperatura crítica cruzada M 0 L 0 T 0 1 T r Temperatura relativa M 0 L 0 T 0 1 T ri Temperatura relativa da espécie i M 0 L 0 T 0 1 T rij Temperatura relativa cruzada M 0 L 0 T 0 1 X CH 4 Conversão de metano % X Et Conversão de etanol % y i Fração molar da espécie i % Z i Fator de compressibilidade da espécie i adimensional Z ij Fator de compressibilidade cruzado adimensional
15 xi ik Letras gregas Termo da equação para o cálculo de ˆi φ o C P Variação da capacidade calorífica padrão de reação M 0 L T - -1 o H Entalpia de reação padrão M 1 L T - 0 H Calor de reação padrão na temperatura de referência T 0 M 1 L T - 0 o 0 o G Energia de Gibbs de reação padrão M 1 L T - 0 G Energia de Gibbs de reação padrão na temperatura de referência T 0 M 1 L T - 0 o 0 o G fi Variação da energia de Gibbs padrão de formação para a espécie i M 1 L -1 T -1 0 Energia característica M 1 L T - 0 Λ Comprimento de onda reduzido de de Broglie adimensional k Multiplicador de Lagrange do k-ésimo elemento r Momento de dipolo reduzido Debye i Coeficiente estequiométrico da espécie i adimensional Somatório dos coeficientes estequiométricos das espécies de uma reação j Coordenada da reação j mol adimensional Diâmetro da esférica com mesmo diâmetro da molécula M 0 L 1 T 0 0 τ Razão de temperaturas: T T0 adimensional ci Volume crítico da espécie i M 0 L 3 T 0 0 cij Volume crítico cruzado M 0 L 3 T 0 0 ˆi φ Coeficiente de fugacidade da espécie i na mistura adimensional i Fator acêntrico da espécie i adimensional ij Fator acêntrico cruzado adimensional Subscritos c Propriedade crítica f Propriedade na condição de formação G Fase gasosa i Espécie i na mistura j Espécie j na mistura k Espécie k na mistura L Fase líquida o Propriedade na condição inicial 0 Estado de referência c Propriedade crítica S Fase gasosa o Sobrescritos Propriedade na condição padrão
16 xii RESUMO A reforma catalítica de hidrocarbonetos ou de outras substâncias orgânicas é uma tecnologia frequentemente utilizada no aprimoramento das fontes de energia tradicionais ou na produção de fontes de energia alternativas. Dentre as tecnologias utilizadas para o aprimoramento das fontes de energia tradicionais está a reforma catalítica da nafta petroquímica. Apesar de poder ser utilizada para produzir hidrogênio, o objetivo principal desta reforma é transformar compostos naftênicos e parafinas em isoparafinas de cadeia ramificada e compostos aromáticos, utilizados para produzir polímeros e aumentar a octanagem da gasolina. No caso em que os processos de reforma são aplicados à produção de fontes de energia alternativa, tem-se dirigido bastante atenção à produção de hidrogênio. A maior parte do hidrogênio é atualmente produzida a partir de combustíveis fósseis, particularmente pela reforma catalítica a vapor do metano, principal componente do gás natural, e em refinarias, pela reforma oxidativa de hidrocarbonetos mais pesados. Mais recentemente, tem-se estudado a produção de hidrogênio a partir da reforma catalítica do etanol. Esta última apresenta a vantagem da diminuição das emissões de dióxido de carbono, além de facilidade de armazenamento e distribuição do etanol e um rendimento maior para o hidrogênio produzido. A composição do reformado é extremamente dependente das variáveis envolvidas no processo, tais como temperatura, pressão e razão de alimentação dos reagentes. Os efeitos destas variáveis podem então ser estudados a partir da definição e análise de parâmetros de desempenho, tais como a conversão, rendimento, seletividade, deposição de carbono na forma de coque, entre outros. Usualmente, a primeira etapa deste tipo de investigação é a realização de uma análise termodinâmica através de métodos de minimização da energia livre de Gibbs. Estes métodos resultam em sistemas de equações algébricas nãolineares, resolvidos numericamente em softwares apropriados. Neste trabalho, são conduzidas análises termodinâmicas das reações de reforma oxidativa e autotérmica do metano, das reformas a vapor, seca, oxidativa e autotérmica do etanol, e da reforma da nafta, baseadas no método dos Multiplicadores de Lagrange. Têm-se como objetivos principais a determinação das reações linearmente independentes que representam o equilíbrio termodinâmico de cada reforma e prever as melhores condições nas quais cada sistema reacional deve ser operado para alcançar objetivos específicos. Para a validação, os resultados são comparados com dados experimentais e/ou de simulação, específicos de equilíbrio termodinâmico, publicados na literatura. O conjunto de reações linearmente independentes referentes a cada sistema foi determinado e validado através de balanços molares para as espécies. Os sistemas de reforma do etanol apresentaram rendimentos para o hidrogênio superiores aos sistemas de reforma do metano. Entre as reformas do metano, a reforma oxidativa apresentou o maior rendimento, com um valor de 00%, para uma temperatura de 173 K, pressão de 1 atm, sem haver alimentação de oxigênio. Entre as reformas do etanol, o máximo rendimento para o hidrogênio, no valor de 479%, foi obtido para a reforma a vapor em uma temperatura de 1110 K, pressão de 1 atm e razão H O/C H 5 OH igual a 6. Entre as reformas do metano, a reforma autotérmica apresentou a menor deposição de carbono, ou seja, 0,03 mols. Entre as reformas do etanol, a reforma autotérmica também apresentou a menor deposição de carbono, no valor de 0,0 mols. Para a reforma da nafta, verificou-se que as espécies formadas em maior quantidade são o hidrogênio e o metano. A deposição de carbono aumentou bastante com o aumento da temperatura, mas foi possível diminuí-la na mesma magnitude com o aumento da pressão e da razão H /Nafta na alimentação. Para aumentar o rendimento dos aromáticos, foi preciso aumentar tanto a temperatura quanto a pressão. A resolução do sistema de equações não-lineares foi feita no software livre Scilab.
17 xiii ABSTRACT Catalytic reforming of hydrocarbons or other organic species is a technology usually employed in either improving traditional energy sources or producing alternative energy sources. Amongst the technologies employed in improving traditional energy sources, one can include catalytic reforming of petrochemical naphtha. Although being also employed to produce hydrogen, the main goal of this reforming is to transform naphthenic compounds and paraffins in branched-chain isoparaffins and aromatic compounds, used to produce polymers and to increase gasoline octane rating. When the reforming processes are applied to produce alternative energy sources, attention has mostly been given to hydrogen production. Hydrogen is mainly produced from non-renewable fossil fuels, especially by means of steam catalytic reforming of methane, main component of natural gas, and in refineries, through oxidative reforming of higher hydrocarbons. More recently, hydrogen production from catalytic reforming of ethanol has also been studied. It has the advantage of reduced carbon dioxide emission, easiness of storage and distribution of ethanol and a higher yield of hydrogen. The composition of the reformate is very dependent on the variables involved in the process, such as pressure, temperature and reactant feed ratios. The effect of these variables can be studied by means of definition and analysis of some performance parameters such as conversion, yield, selectivity, coke deposition and others. Usually, the first step for this type of investigation is the accomplishment of a thermodynamic analysis for each process through methods of Gibbs free energy minimization. These methods result in non-linear algebraic equation systems, solved numerically with the aid of appropriated software. In this work, a Lagrange Multipliers method based thermodynamic analysis is conducted for the oxidative and autothermal reforming of methane; steam, dry, oxidative and autothermal reforming of ethanol; and naphtha reforming. The main goals of this work are to determine the linearly independent reactions which represent the chemical equilibrium of each reforming system and to foresee the best conditions in which each reaction system should be operated to reach specific goals. To validate the simulations, the results are compared with experimental and simulation data specific of chemical equilibrium. The set of linearly independent reactions of each reforming system was determined and validated through mole balances for each species involved in the process. Ethanol reforming systems showed higher hydrogen yields compared to those of methane reforming. Among all methane reforming systems, oxidative reforming showed the higher yield, with a value of 00%, for a temperature of 173 K, atmospheric pressure, without feeding oxygen. For ethanol reforming systems, the higher hydrogen yield, with a value of 479%, was obtained for steam reforming in a temperature of 1110 K, 1 atm of pressure and H O/C H 5 OH feed ratio equal to 6. Among the methane reforming systems, autothermal reforming deposited the lesser amount of coke (0,03 moles). Concerning the ethanol reforming systems, autothermal reforming also deposited the lesser amount of coke, with a value of 0,0 moles. For naphtha reforming, it was verified that hydrogen and methane are the most abundant species constituting the reformate. Carbon formation increased a lot when increasing the operational temperature, but it was possible to decrease it in the same magnitude increasing the operational pressure and the H /Naphtha feed ratio. To increase the aromatics yield, it was necessary to raise both the temperature and the pressure. The resolution of the non-linear algebraic equation systems was carried out with the open-source software Scilab.
18 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO Nos últimos anos, os problemas ambientais derivados da geração de energia através do processamento de combustíveis fósseis e da conseqüente diminuição das reservas mundiais desses combustíveis, levaram a um constante aprimoramento e desenvolvimento de novas tecnologias para a produção de energia. A reforma catalítica de hidrocarbonetos ou de outras substâncias orgânicas, na qual a estrutura molecular dos reagentes é modificada para alterar suas propriedades, é uma tecnologia frequentemente utilizada no aprimoramento das fontes de energia tradicionais ou na produção de fontes de energia alternativas. Desta forma, a escolha do tipo de reagente mais apropriado para ser alimentado a um reator de reforma depende da aplicação final que será dada aos produtos reformados, o que determinará a composição do gás reformado e a escala de produção (Melo e Morlanés, 005). Dentro das tecnologias utilizadas para o aprimoramento das fontes de energia tradicionais está a reforma catalítica da nafta petroquímica. Este é um dos mais importantes processos aplicados às indústrias de refino do petróleo e de produção de petroquímicos (Mazzieri et al., 008). Apesar de poder ser utilizada para produzir hidrogênio (Hou et al., 006), o objetivo principal desta reforma é transformar compostos naftênicos e parafinas em isoparafinas de cadeia ramificada e compostos aromáticos. Este reformado é utilizado para aumentar a octanagem da gasolina e fornecer aromáticos de cadeia carbônica entre seis e oito carbonos (C 6 -C 8 ) como matéria-prima para a produção de polímeros (Mazzieri et al., 008). As reações de hidrogenólise e craqueamento de parafinas são indesejáveis, pois produzem gases leves de baixo valor comercial e diminuem o rendimento de hidrocarbonetos com cadeia carbônica maior que cinco (C 5+ ) (Boutzeloit et al., 006). Desta forma, é de fundamental importância determinar meios para maximizar a produção de isoparafinas e aromáticos e minimizar a ocorrência de reações paralelas. No caso em que os processos de reforma são aplicados à produção de fontes de energia alternativa, tem-se dirigido bastante atenção ao desenvolvimento e aperfeiçoamento das tecnologias de produção de hidrogênio. Além de possibilitar a armazenagem e transporte de energia para aplicações potenciais em células combustíveis para produção de eletricidade (Pistonesi et al., 007), este vetor energético é usado como matéria-prima ou intermediário em uma variedade de processos químicos, petroquímicos e metalúrgicos, incluindo processos de hidrogenação de combustíveis, redução de minerais e produção de amônia (Li et al., 008). Além disso, o hidrogênio não é tóxico e sua oxidação não gera gases que contribuem para o
19 Capítulo 1. Introdução 15 efeito estufa (Barbir, 008). A produção desta substância pode ser feita a partir de uma grande variedade de recursos naturais renováveis, como a biomassa, energia solar, eólica, hidráulica, entre outras, e de recursos não-renováveis, como os combustíveis fósseis. A maior parte do hidrogênio é atualmente produzida a partir de combustíveis fósseis, particularmente pela reforma catalítica a vapor do metano, principal constituinte do gás natural, e em refinarias, pela oxidação parcial de hidrocarbonetos mais pesados (Barbir, 008). A reforma catalítica a vapor do metano (RVM) é um sistema envolvendo duas reações independentes. A reação de reforma a vapor, altamente endotérmica, produz monóxido de carbono e hidrogênio, enquanto que a reação de deslocamento gás-água (water-gas shift) consome o monóxido de carbono gerado na primeira reação para produzir dióxido de carbono e mais hidrogênio. Outras reações secundárias também estão envolvidas, sendo que algumas delas levam à deposição de carbono na forma de coque (De Falco et al., 007). Existem, no entanto, outras formas de produzir hidrogênio a partir do metano. A reforma seca ou com CO deste gás (RSM) tem a vantagem de processar os dois gases que mais contribuem para o efeito estufa (metano e dióxido de carbono), produzindo hidrogênio e monóxido de carbono em proporções adequadas para a produção de metanol, utilização na síntese de Fischer-Tropsch e em reações de hidroformilação (Chang et al., 006; Djaidja et al., 006; O Connor et al., 006). A reforma seca pode também ser aplicada a gases provenientes da decomposição da biomassa, como o biogás, que apresenta metano e dióxido de carbono em proporções adequadas para a reação. Esse processo é de um interesse particular, pois possibilita tirar vantagem do dióxido de carbono presente no biogás como oxidante da reação, diminuindo os custos de concentração de dióxido de carbono (Benito et al., 007). Alternativamente, a reforma oxidativa do metano (ROM), um sistema de reações exotérmico, atinge conversões próximas a 100% e rendimentos para o hidrogênio maiores que 90%, e requer tempos de contanto extremamente pequenos (frações de segundos) entre os reagentes para a reação ser completamente processada. Quando este sistema é alimentado com baixas razões de oxigênio em relação ao metano (O /CH 4 ), evita-se a oxidação total e, consequentemente, a formação de dióxido de carbono e vapor de água, e privilegia-se a formação de monóxido de carbono e hidrogênio (Corbo e Migliardini, 007). Como mencionado anteriormente, a reforma a vapor do metano é um processo endotérmico e necessita de um fornecimento de energia externa para ocorrer de forma viável. Geralmente, o aquecimento interno é mais eficiente que o aquecimento externo, e a inserção
20 Capítulo 1. Introdução 16 de uma reação que libere energia no leito catalítico pode tornar o processo de produção de gás de síntese mais econômico energeticamente (Li et al., 004). A reforma a vapor do metano é então considerada ocorrer em condições autotérmicas (ATM), quando é realizada adiabaticamente juntamente às reações de oxidação parcial e total do metano, visando produzir uma razão H /CO viável com a diminuição do consumo externo de energia (Dias e Assaf, 004). Apesar de todo o estudo realizado envolvendo a produção de hidrogênio a partir do metano proveniente do gás natural, a utilização de fontes não-renováveis não resolveria os problemas relacionados à emissão de gases poluentes na atmosfera. Além disso, o hidrogênio produzido desta maneira para ser utilizado como combustível, não conseguiria competir economicamente com os combustíveis tradicionais. Desta forma, o hidrogênio proveniente do gás natural faria sentido apenas em um período de transição, de forma a estabelecer uma infra-estrutura de fornecimento e ajudar a comercializar utilidades relacionadas à tecnologia, como as células combustíveis (Barbir, 008). Neste sentido, outra fonte renovável que pode ser utilizada como matéria-prima para a produção de hidrogênio é o bio-etanol, produzido principalmente a partir da cana-de-açúcar no Brasil. Sua participação na produção brasileira de combustíveis aumentou de 14,6 bilhões de litros/ano na safra 003/004 para, bilhões de litros/ano na safra 007/008, o que representa aproximadamente % da produção anual de petróleo no Brasil (Anuário Estatístico Brasileiro do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, 008; Estatísticas da Produção de Etanol do Brasil, 008). A produção total de dióxido de carbono no ciclo de vida do bio-etanol é quase nula, exceto nos casos em que o processamento, transporte ou produção de fertilizantes envolve combustíveis fósseis. Assim, o bio-etanol pode ser considerado neutro em relação à emissão de carbono e, desta forma, não contribui para o agravamento do efeito estufa (Hotza e Da Costa, 008). Apesar de a maioria dos estudos sobre a produção de hidrogênio a partir deste combustível estar direcionada à reforma a vapor, existem algumas publicações envolvendo reforma autotérmica e reforma oxidativa (Cai et al., 008; Huang et al., 008; Kugai et al., 006; Youn et al., 008; Youn et al., 009). A procura por novos catalisadores que apresentem melhores desempenhos e possam ser operados em melhores condições que os tradicionais é uma das maneiras mais plausíveis de maximizar a produção de hidrogênio, no caso das reformas do metano e do etanol (Rossi et al., 008), e a produção de isoparafinas e aromáticos, no caso da reforma da nafta (Mazzieri et al., 008). No entanto, a seletividade das reações que geram estas espécies sobre as demais
21 Capítulo 1. Introdução 17 reações possíveis de um conjunto reacional, assim como a conversão do reagente principal e o rendimento dos produtos desejados, depende também das variáveis envolvidas no processo tais como a temperatura, pressão, razão de alimentação dos reagentes, entre outras. Assim, este trabalho tem como objetivos principais, (i) realizar uma análise termodinâmica detalhada das reações de reforma do metano, do etanol e da nafta com o intuito de verificar o impacto das variáveis relativas às condições operacionais na composição final do produto reformado; e (ii) determinar as reações linearmente independentes que descrevam de modo satisfatório a composição do produto reformado de cada sistema. O resultado possibilitará prever as melhores condições nas quais cada sistema de reações deverá ser operado para alcançar objetivos específicos. A validação dos resultados é feita através da comparação com dados experimentais e/ou de simulação, específicos de equilíbrio químico, publicados na literatura. O estudo termodinâmico do equilíbrio químico é realizado pela técnica da minimização da energia de Gibbs total de um sistema hipoteticamente fechado. Neste trabalho, é utilizado o método dos Multiplicadores Indeterminados de Lagrange (método ML) relativos a cada espécie presente no sistema reacional. Para que este método possa ser utilizado, é preciso estipular com exatidão o conjunto de espécies que fazem parte do sistema, pois este conjunto é equivalente à escolha do número de reações independentes entre as espécies. Apesar de o método da Avaliação das Constantes de Equilíbrio (método ACE) não ter sido utilizado neste trabalho, as reações linearmente independentes para cada tipo de reforma foram determinadas pelo método de Denbigh (Denbigh, 1981) e então validadas através da realização de um balanço molar para as espécies. A aplicação do método dos Multiplicadores de Lagrange aos sistemas de reforma do metano, do etanol e da nafta resulta em sistemas de equações nãolineares que, neste trabalho, foram resolvidos numericamente com a utilização do software livre Scilab INRIA-ENPC, através do método híbrido de Powell, presente na função fsolve.
22 CAPÍTULO. ANÁLISE TERMODINÂMICA: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.1. Introdução Em termodinâmica, o estado de equilíbrio de um sistema fechado é aquele estado no qual a energia de Gibbs total, G t, é um mínimo em relação a todas as possíveis mudanças na temperatura e na pressão do sistema. Isto quer dizer que, neste estado de equilíbrio, t ( ) 0, dg = (.1) T P Desta forma, tomando-se uma mistura de espécies químicas que não está em estado de equilíbrio termodinâmico, qualquer reação que ocorra a temperatura, T, e pressão, P, constantes deve levar a uma diminuição da energia de Gibbs total deste sistema. A Figura.1 demonstra o significado deste fenômeno aplicado a uma reação química j com coordenada de reação j. Como esta variável caracteriza o progresso da reação e, consequentemente, a composição do sistema em um dado momento, então ela definirá também a energia de Gibbs total do sistema. No equilíbrio, (G t ) T,P será mínima e, desta forma, a reação estará em equilíbrio termodinâmico no ponto de mínimo da curva (Smith et al., 000). ( dg t ) = 0, T P ξ e Figura.1 Energia de Gibbs total em função da coordenada da reação. Quando T e P são fornecidas, a figura anterior apresenta duas características distintas que permitem determinar o sistema no estado de equilíbrio: a energia de Gibbs total G t é um mínimo e sua diferencial é zero. De acordo com Smith et al. (000), o critério de equilíbrio
23 Capítulo. Análise Termodinâmica: Revisão Bibliográfica 19 mais utilizado é escrever uma expressão para G t em função da coordenada de reação,, diferenciá-la, igualá-la a zero e resolvê-la para achar a coordenada da reação em equilíbrio terodinâmico, e. Este procedimento dá origem ao método da Avaliação das Constantes de Equilíbrio (ACE). No entanto, quando é estendido a um sistema multi-reacional, a minimização direta de G t é mais conveniente. Este último procedimento dá origem ao método dos Multiplicadores Indeterminados de Lagrange (ML), detalhado a seguir. Como os sistemas reacionais analisados neste trabalho contêm um grande número de espécies envolvidas, apenas este último método foi utilizado para a realização dos cálculos termodinâmicos. No entanto, como o método ACE é de grande importância no estudo da dinâmica das reações com a temperatura, pressão e razão de alimentação dos reagentes, ele também será explicado na próxima seção... Métodos O equilíbrio termodinâmico em um reator de reforma pode ser calculado de duas maneiras distintas: (i) avaliando-se as constantes de equilíbrio de cada reação independente (método ACE), e (ii) utilizando-se o método dos multiplicadores de Lagrange, sumarizados a seguir...1. Método da avaliação das constantes de equilíbrio (Método ACE) Para sistemas com múltiplas reações químicas independentes, cada reação está associada a uma coordenada de reação,, e a uma constante de equilíbrio distinta, K j. A constante de equilíbrio para cada reação j é descrita por Smith et al. (000) através da seguinte expressão: K j o ν ig i i = exp = RT νi ( aˆ i ) (.) i na qual i é o coeficiente estequiométrico da espécie i, R é a constante universal dos gases perfeitos e a ˆi é a atividade da espécie i na mistura reacional. De acordo com Smith et al. (000), como o G i é uma propriedade da espécie pura i no seu estado padrão a uma pressão fixa, ela depende somente da temperatura. Desta forma,
24 Capítulo. Análise Termodinâmica: Revisão Bibliográfica 0 manipulando-se apenas os dois primeiros termos da Equação., pode-se prever o comportamento de K j com a variação da temperatura do sistema reacional, ou seja, o o RT ln K j = ν igi G (.3) i Na Equação.3, a variação da energia de Gibbs padrão da reação j, o G, é a forma convencional de se representar a grandeza o ν i igi (Smith et al., 000). O terceiro termo da Equação. representa o produto sobre as atividades, a ˆi,de todas as espécies na mistura. Elas fornecem a conexão entre o estado de equilíbrio de interesse e os estados padrões das espécies individuais e são, por definição, relacionadas às fugacidades de cada espécie na mistura, f ˆi, por: aˆ i fˆ i (.4) o f i sendo que o f i é a fugacidade da espécie i no seu estado padrão. As reações de reforma ocorrem, geralmente, em estado gasoso e, consequentemente, a fugacidade da espécie i neste tipo de sistema reacional será a fugacidade da espécie i em estado gasoso na mistura. De acordo com Smith et al. (000), o estado padrão para um gás é o estado de gás ideal do gás puro na pressão do estado padrão P o de 1 bar. Desta forma, para reações ocorrendo em fase gasosa, como a fugacidade de um gás ideal é igual à sua pressão, então o o fi = P para cada espécie i. A fugacidade ˆi f reflete, por sua vez, as não-idealidades da mistura em equilíbrio e é função da temperatura, da pressão e da composição. Para espécies em fase gasosa, ela está relacionada ao coeficiente de fugacidade da espécie i na mistura, ˆi φ, e à fração molar da espécie i, y i, pela expressão: fˆ = ˆ φ y P (.5) i i i Assim, substituindo-se as Equações.4 e.5 na Equação., chega-se a uma expressão para o equilíbrio termodinâmico envolvendo a pressão e a composição: ( y ˆ φ ) ν ν i P i i = K o (.6) j i P
25 Capítulo. Análise Termodinâmica: Revisão Bibliográfica 1 sendo que ν ν. Os valores das frações molares de cada espécie i, y i, podem ser i i substituídos pelos valores correspondentes das coordenadas de cada reação, j, através de um balanço estequiométrico. No entanto, a resolução de um sistema de equações deste tipo pode se complicar devido à dependência de ˆi φ com a composição e, consequentemente, com os valores das coordenadas das reações envolvidas. Na verdade, esta é a etapa limitante de um sistema com comportamento não ideal, e deve ser tratada com grande atenção. No método da avaliação das constantes de equilíbrio, é preciso estipular o sistema de reações em que se deseja estimar o equilíbrio termodinâmico. Um sistema com muitas espécies apresenta, geralmente, várias reações ocorrendo paralelamente ou em série, e a consideração das reações independentes mais importantes é de extrema importância para se conseguir resultados representativos. Um dos métodos bastante utilizados para a determinação destas reações independentes foi proposto por Denbigh (1981). Portanto, as reações independentes analisadas neste trabalho foram determinadas a partir deste método.... Método dos multiplicadores de Lagrange (Método ML) Embora as equações deduzidas pelo método da avaliação das constantes de equilíbrio sejam facilmente resolvidas para sistemas com poucas reações, o método fica inviável para sistemas maiores. O fato é que, quando se tenta minimizar um conjunto de reações endotérmicas e exotérmicas com uma grande diferença entre suas entalpias de reação padrão, o H, torna-se complicado e, às vezes, até mesmo impossível determinar um conjunto de coordenadas de reação que as satisfaçam. Além disso, de acordo com Smith et al. (000), este método não permite a si próprio uma padronização de modo a possibilitar que um programa geral seja escrito para solução em computador. De acordo com a Equação.7, a energia de Gibbs total de um sistema é função da temperatura, pressão e da soma do número de mols de cada molécula presente no sistema. t ( G ) g ( n1, n, n3,, nn ) T, P = (.7) Neste caso, o problema é resolvido encontrando-se um conjunto de n i s que minimize G t com T e P especificadas, sujeito às restrições do balanço de massa. Este tipo de procedimento está baseado no método dos multiplicadores indeterminados de Lagrange, deduzido por Smith et al. (000). O sistema de equações a ser minimizado é composto por N equações de
26 Capítulo. Análise Termodinâmica: Revisão Bibliográfica equilíbrio (Equação.8), sendo uma para cada molécula presente, w equações de balanço de massa (Equação.9), uma para cada elemento, e duas equações de restrição (Equações.10 e.11), representando o balanço de massa para a fase gasosa e o balanço de massa global do sistema, totalizando um conjunto de N + w + equações. As incógnitas destas equações são o número de mols total de cada componente, n i s, somando um total de N componentes, o número de mols total da fase gasosa, n G, o número de mols total do sistema, n T, e os multiplicadores de Lagrange, k s, em um total de w. É preciso enfatizar que o sistema será minimizado somente quando as variáveis satisfizerem, além das duas primeiras equações, a equação de restrição. o G ln ( ˆ fi + RT ai ) + λkaik = 0 ; ( i = 1,,..., N ) (.8) k niaik = Ak ; ( k = 1,,..., w) (.9) i ni = ng ; ( i = 1,,..., N 1) (.10) i ni = nt ; ( i = 1,,..., N ) (.11) i Nas Equações.8 e.9, os subscritos i e k representam a espécie química i e o elemento k, respectivamente. Desta forma, A k é definido como o número total de massas atômicas do k- ésimo elemento no sistema e a ik será o número de átomos do k-ésimo elemento presente em cada molécula da espécie química i. A Equação.8 é válida tanto para espécies no estado gasoso quanto para espécies no estado líquido ou sólido. As reações de reforma são sistemas heterogêneos nos quais o reformado é constituído de uma fase gasosa e uma fase sólida, constituída, majoritariamente, por carbono. Como já foi visto, a atividade de uma determinada espécie i no estado gasoso é dada pelas Equações.4 e.5. Por outro lado, a pressão de vapor do carbono é praticamente nula nas condições de operação das reações estudadas 1, e a tendência é que ele seja formado e precipite logo em seguida, permanecendo no estado sólido até que o sistema atinja o equilíbrio. Na Equação.4, o coeficiente de atividade do carbono na mistura, f ˆC, é igual ao coeficiente de atividade do carbono puro, f C, pois este é considerado estar isolado na fase 1 Faixa de temperatura: 73,15 T 1373,15 K; faixa de pressão: 1 P 0 atm.
27 Capítulo. Análise Termodinâmica: Revisão Bibliográfica 3 sólida. Como o efeito da pressão nas condições de operação das reações de reforma é muito pequeno para um sólido, um erro desprezível é introduzido pela hipótese de que a razão f f é unitária. Assim, no caso do carbono sólido, a Equação.8 é reescrita da seguinte C o C maneira para todas as reformas: G + = (.1) o 0 f, C λ ( S ) C( S ) Diferente do método da avaliação das constantes de equilíbrio, o método dos multiplicadores de Lagrange não exige a determinação das reações envolvidas. Entretanto, a escolha de um conjunto de moléculas que representem o sistema é equivalente à escolha do número de reações independentes entre as espécies..3. Correlações.3.1. A variação da energia de Gibbs padrão Como a temperatura do estado padrão é aquela da mistura em equilíbrio, as variações das propriedades padrões da reação, como o G e o H, variam com a temperatura de equilíbrio (Smith et al., 000). De acordo com os autores, a dependência de à temperatura é dada pela expressão abaixo: o ( ) o G em relação d G RT o H = (.13) dt RT Desta forma, no caso da utilização do método ACE, a Equação.3 mostra que o G RT = ln K. Substituindo esta expressão na Equação.13, tem-se: o d ln K j H = (.14) dt RT Considerando-se, então, a variação da entalpia padrão da reação como uma função independente da temperatura, a integração da Equação.14 de uma temperatura particular T 1 até uma temperatura arbitrária T, levaria à seguinte expressão:
28 Capítulo. Análise Termodinâmica: Revisão Bibliográfica 4 o K H 1 1 ln = K1 R T T1 (.15) No entanto, as reações de reforma apresentam uma grande dependência em relação à temperatura do sistema, e, neste caso, a interpolação ou extrapolação de dados da constante de equilíbrio pela utilização da Equação.15 deve ser evitada (Franco et al., 008). A dedução rigorosa do efeito da temperatura sobre a constante de equilíbrio é feita por Smith et al. (000). A expressão geral resultante desta dedução é apresentada na Equação.16. o G o o o 0 H 0 H0 1 T C o T o P CP G dt = + + dt RT RT RT T R R T 0 (.16) T0 T0 A variação da capacidade calorífica dos gases em seu estado padrão, C o P, é dependente da temperatura e geralmente expressa como uma função empírica para cada molécula que se deseja representar. Smith et al. (000) propõem correlações empíricas para o cálculo de C o P relativo a diversas moléculas. Todavia, os autores não disponibilizam dados para as moléculas mais complexas presentes no equilíbrio termodinâmico das reformas do etanol e da nafta. A página de internet do Korea thermophysical properties Data Bank (KDB), por sua vez, contém um banco de dados físico-químicos que abrange todas as moléculas consideradas neste trabalho, inclusive uma expressão para o cálculo de C o P, dada pela Equação.17. Portanto, a primeira e segunda integrais do lado direito da Equação.16, quando C o P é representada pela Equação.17, são dadas pelas equações.18 e.19. C A BT CT DT ET o P 3 4 = (.17) T T0 o B C 3 3 CPdT = AT0 ( τ 1) + T0 ( τ 1) + T0 ( τ 1) + 3 T T0 D 4 4 E T ( τ 1) T ( τ 1) o dt C CP = Aln ( τ ) + BT0 ( τ 1) + T0 ( τ 1) + T D 3 3 E T ( τ 1) T ( τ 1) (.18) (.19)
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