VARIAÇÃO DIÁRIA DA PRESSÃO ATMOSFÉRICA EM BELÉM-PA EM UM ANO DE EL NIÑO(1997) Dimitrie Nechet (1); Vanda Maria Sales de Andrade
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1 VARIAÇÃO DIÁRIA DA PRESSÃO ATMOSFÉRICA EM BELÉM-PA EM UM ANO DE EL NIÑO() Dimitrie Nechet (); Vanda Maria Sales de Andrade () Departamento de Meteorologia da UFPa ABSTRACT This work describes diary variation of atmospheric pressure of Belém-Pará(Lat. o 2 S, Long. 48 o W, Alt. 6 m) during year(el Niño year) and during 6 year(no El Niño year) and compares with diary precipitation. KEYWORDS: Meteorology, Climatology, Atmospheric pressure, Precipitation INTRODUÇÃO O fenômeno EL NIÑO, um aquecimento anômalo no Pacifico Tropical está associado com os impactos climáticos e econômicos em todo o globo. Tem ocorrido em intervalos não regulares e é relatado desde, aparecendo nos relatórios de Francisco Pizarro. Inicialmente essa expressão não tinha o mesmo significado que possui hoje. Era relacionado a uma corrente quente que vai da área Equatorial para o Sul, substituindo a corrente fria do Peru, atingindo de o S a 2 o S, banhando as costas do Equador e Peru, trazendo chuvas abundantes, causando inundações, prejudicando a industria pesqueira e agrícola, daqueles países. Foi batizado com o nome de El Niño(o menino, em espanhol) por ocorrer próximo ao Natal, ligado, em termos religiosos, ao menino Jesus. Era relatado quando ocorria essa corrente quente. Com o advento dos satélites, das bóias automáticas, verificou-se que o fenômeno estava associado ao aquecimento de uma grande área oceânica do Pacífico, em torno do Equador e a expressão passou a significar o aquecimento do Pacífico Equatorial. Com a incorporação do estudo de Walker sobre a diferença de pressão entre os locais de Tahiti(Polinésia) e Darwin(Austrália), ocasionados pela diferença de temperatura oceânica, foi utilizada a expressão Oscilação Sul, por estar ligada ao fenômeno. A expressão atual EL NIÑO OSCILAÇÃO SUL(ENOS) significa aquecimento de uma grande área do Pacifico, criando oscilações na pressão, quando comparadas essas duas localidades. Os estudos desse fenômeno foram intensificados com o ENOS de 82/8, sendo considerado como um dos mais intensos. O ano de, também, foi considerado como no mesmo nível e em alguns períodos superior ao de 82/8, de acordo com o relato nos Climanálises(). O estudo da célula de Walker por KOUSKY et al(84), citado por CAVALCANTI, (6) mostra que o seu deslocamento para Este do Pacífico tem influência sobre o Nordeste Brasileiro e partes da Amazônia. MARENGO e UVO(6) afirmam que há um forte sinal do ENOS, na evidente variabilidade interanual no nordeste do Brasil e com certa limitação no oeste da Amazônia. Muitos trabalhos foram publicados, fazendo a relação do fenômeno com precipitações no Brasil(ASSIS, et al., GALVANI, et al. ), alguns estudos sobre a Amazônia(OLIVEIRA, 4; MARTORANO, et al. 2). O ramo descendente da célula de Walker poderá atuar sobre o Brasil(Amazônia e Nordeste), dependendo da posição da área mais aquecida. Se a área aquecida estiver próxima ao litoral da América do Sul, o ramo descendente pode chegar até o Nordeste, se mais afastado do litoral pode
2 atingir a Amazônia e se bem longe do litoral não atinge o Brasil. Esse ramo descendente sobre uma determinada área, em princípio deve aumentar a pressão e consequentemente diminuir a precipitação. Neste trabalho faz-se a comparação diária da pressão atmosférica, ao nível médio do mar, do ano de El Niño(), com o ano de não El Niño(6) em Belém-Pará, considerando um ponto na parte Este da Amazônia. Essa comparação de (precipitação anual abaixo da média: 2.44,6 ) foi feita com 6, por ter apresentado uma precipitação acima da Normal:.4,8, sendo a média anual normal de 86- de 2.4,4 (Tabela 2). O objetivo é verificar qual o comportamento da pressão no dia a dia, com esses anos extremos, e comparar com a precipitação. MATERIAIS E MÉTODOS Foram utilizados dados horários de pressão atmosférica, reduzida ao Nível Médio do Mar, da Estação Meteorológica do Aeroporto Internacional de Belém(Val-de-Cães), pertencente ao Serviço Regional de Proteção ao Vôo de Belém(SRPV-BE), que opera em horário contínuo, durante as 24 horas do dia. Os barômetros dos aeroportos são, rigorosamente, aferidos a cada 4 meses, em manutenção preventiva permanente, em vista da utilização pelas aeronaves, na indicação precisa da altitude em que voam, para efeito de segurança dentro do controle do tráfego aéreo. Foram calculados os dados diários dos anos de 6 e sendo, no entanto, apresentados os gráficos referentes aos meses de junho, julho, setembro e outubro(figuras e 2), quando ocorreram as menores precipitações no ano de (Ano de El Niño). O mês de agosto apresentou uma precipitação próximo à normal. (Tabela 2). ANÁLISE DOS RESULTADOS Fazendo a comparação diária entre as pressões de 6 e observa-se que a pressão atmosférica possui uma grande variação no dia a dia, havendo uma flutuação dos valores, mais ou menos a cada dias, ou seja em torno de dias subindo, depois em torno de dias baixando e em alguns períodos ciclos mais longos. Isso nos dois anos estudados. Também a pressão apresenta valores diários maiores em junho, julho e agosto e valores menores em novembro, dezembro e janeiro, nos dois anos estudados. As maiores pressões absolutas ocorreram em julho de 6(,2 ) e abril de (, ) e as menores pressões absolutas ocorreram em janeiro de 6(4, ) e janeiro de ( ). Com relação à precipitação, em, apenas 4 meses apresentaram precipitação, maiores do que 6(Jan, Fev, Mar e Nov). O interessante é que, diferente do que se esperava, alguns períodos contínuos de pressão maior em, apresentaram precipitação maior(tabela ), o que mostra que o comportamento da pressão, não nos dá uma informação segura, de relacionamento com a precipitação, como ocorre nas latitudes médias. Na época chuvosa, o ano de apresentou valores maiores em precipitação, em termos mensais. No entanto na época seca, os valores mensais de precipitação foram menores e as pressões atmosféricas maiores(fig. e 2 e Tabela 2) Dias 2 2 junho
3 PRP(6) PRP() (6) () 2 2 Dias (a) julho Fig. - Variação diária da pressão atmosférica(nmm) e da precipitação em Belém-Pará Dias 2 2 setembro PRP(6) PRP() Dias (d) (6) () outubro Fig. 2 - Variação diária da pressão atmosférica(nmm) e da precipitação em Belém-Pa TABELA - Total de precipitação() nos anos de 6 e, nos períodos em que a pressão atmosférica esteve maior durante o ano de, em relação ao ano de 6. Período Precipitação Período Precipitação 6 6 Jan a Jan 24, 26,8 24 Ago a 28 Ago 2,, Mar a 6 Abr,,4 Set a 28 Set,, Abr a 6 Mai 226,6 24,6 Nov a Nov 6,2 26, Jun a Jun,, 6 Nov a 2 Nov 2, 6,6 6 Ago a Ago 6, 2, 4 Dez a Dez 6,, Fonte dos dados brutos: SRPV-BE(8) TABELA 2 - Valores mensais de precipitação() para Belém-PA Meses 6 Normal(86-) Janeiro,4 426, 4,2 Fevereiro,,, Março 6, 42, 422,
4 Abril 428, 4,4 6, Maio 266, 8, 8,6 Junho,4 2,4 6, Julho, 2, 8, Agosto 64,8 2,8 24, Setembro 2, 8,8 2, Outubro 42,,, Novembro 2, 4,2,4 Dezembro 4,2 28,,8 Total.4,8 2.44,6 2.4,4 Fonte dos dados: SRPV-BE(8), Nechet() CONCLUSÃO Pela análise dos resultados e, levando em consideração somente a pressão atmosférica e a precipitação, verifica-se que em Belém, apesar de alguns meses apresentarem durante o ano de (ano de El Niño) valores de precipitação bem abaixo da normal e em termos absolutos os mais baixos, desde que se tem dados de precipitação, Jun(desde 86), Jul(desde 4), Set(desde ) e Out(desde ), a precipitação em alguns períodos foi maior do que em 6(Tabela ). A precipitação na época chuvosa, em foi maior de janeiro a março, abril maior que a normal e maio próximo à normal. Na época menos chuvosa, somente os meses de junho, julho, setembro e outubro mostraram valores muito abaixo do ano de 6 e da normal. A pressão média mensal do ano de apresentou valores maiores em jan(+,2), Fev(+,), Abr(+,8), Jun(+,), Ago(+,8), Nov(+,) e Dez(+,8) e o ano de 6 apresentou valores maiores em Mar(+,4), Jun(+,6), Jul(+,), Set(+,) e Out(+,). Chega-se a conclusão que em um ponto só é difícil caracterizar o ramo descendente da célula de Walker, levando em consideração somente a pressão. A relação entre pressão e precipitação na região equatorial, não é idêntica da latitude média. Esperava-se que o ramo descendente traria maior pressão e consequentemente menor precipitação. Pode-se, também, chegar a conclusão, que além da pressão outros fatores devem ter influído para alguns meses apresentarem precipitação muito baixa, sendo que neste trabalho não foram investigados outros elementos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSIS, F.N. et al. Anomalias Pluviométricas Associadas à Ocorrência de El Niño e de La Niña no Rio Grande do Sul, Anais do X Congresso Brasileiro de Agrometeorologia, Piraciacaba-SP, Out/ CAVALCANTI, I.F.A. Episódios El Niño/Oscilação Sul durante a década de 86 a 6 e sua influência sobre o Brasil, Climanálise Especial Comemorativa de anos, CPTEC, Out 6. ENFIELD, D.B. El Niño, Past and Present, Reviews of Geophysics,,/February 8 GALVANI, E. ; PEREIRA, A.R. El Niño-Oscilação Sul(ENOS), Quantificação e Classificação da Intensidade do Fenômeno, Anais do X Congresso Brasileiro de Agrometeorologia, Piracicaba-SP, Jul/ INPE/CPTEC, Climanálise, Vol. e 2, números a 2, 6 e MARTORANO, L.G. et al. Variabilidade da Precipitação pluviométrica em Belém-Pará Associada ao Fenômeno EL NIÑO, Anais do VII Congresso Brasileiro de Meteorologia, São Paulo, 2. NECHET, D. Análise da Precipitação em Belém, de 86 a, Rio Claro-SP, Boletim de Geografia Teorética, Vol. 2(4-46): 44-4,. OLIVEIRA, M.C.F. Variabilidade Interanual da Precipitação associada ao Fenômeno de
5 El Niño em Belém-Pará, Anais do VIII Congresso Brasileiro de Meteorologia, Belo Horizonte, 4. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao Serviço Regional de Proteção ao Vôo de Belém(SRPV-BE), pelo fornecimento dos dados horários de pressão atmosférica e de precipitação, no período de 2 anos(6 e ).
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