MACROECONOMIA I. Licenciatura em Economia 2005/2006 TÓPICOS DE RESOLUÇÃO Exame - 11 Janeiro Normas e Indicações:

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1 MACROECONOMIA I LEC201 Licenciatura em Economia 2005/2006 TÓPICOS DE RESOLUÇÃO Exame - 11 Janeiro 2006 Normas e Indicações: A prova tem a duração de 2 horas e 30 minutos, antecedidos de 15 minutos para leitura do enunciado. Não é permitida a consulta de elementos de estudo, colegas ou professores. A prova é constituída por 6 páginas escritas, incluindo esta, e termina com a palavra FIM. A prova é constituída por 4 grupos de questões, com as seguintes cotações e tempos de resposta indicativos: Grupo I - 3 valores, 22 minutos; Grupo II valores, 35 minutos; Grupo III - 6 valores, 45 minutos; Grupo IV valores, 48 minutos. Responda a cada grupo em folhas separadas. Seja objectivo, claro e conciso nas respostas. Não é permitida a saída da sala nos 15 minutos finais da prova. Nos 5 minutos finais da prova certifique-se que colocou a sua identificação em todas as folhas de resposta. No final do tempo da prova pare de escrever e mantenha-se sentado no seu lugar, até todos os testes estarem recolhidos e os docentes darem autorização de saída. Bom trabalho! 1

2 Grupo I (3 valores, 22 minutos) 1. (1.5 valores) O PIB nominal corresponde à soma do valor de todos os bens e serviços produzidos e vendidos no mercado num determinado período de tempo, avaliados em unidades monetárias e preços correntes. O PIB real natural corresponde ao PIB real - ou seja, o PIB nominal corrigido da variação de preços, ie a soma dos valores dos bens e serviços vendidos, a preços de um determinado ano base - que permite manter a taxa de inflação constante. 2. (1.5 valores) Sabe-se que o deflator implícito do PIB é por definição igual ao quociente entre o PIB nominal e o PIB real: Deflator implícitodo PIB i i pt qt PIBnominalem t i= = PIBreal(actual)em t i i p q = n Assim, com base na informação disponível o PIB real (actual) em t foi de 1000 u.m. o que é inferior ao PIB real natural, que teria sido de 1025 u.m.. Donde, em t, a taxa de inflação terá descido e a taxa de desemprego actual terá sido superior à taxa de desemprego natural. n i= 1 0 t Grupo II (4.5 valores, 35 minutos) 1. (1.5 valores) Note-se, primeiro, que RI = PIL cf = PIB cf Depreciações. Como PIBcf = Remunerações + EBE = = m.e., ficamos com: RI = = m.e. 2

3 O Rendimento Interno (RI) representa o valor dos rendimentos devidos pela utilização dos factores produtivos na actividade económica interna durante um certo período (neste caso, o ano de 2003) e que foram efectivamente distribuídos pelos factores produtivos (deduz-se o valor das depreciações). 2. (1.5 valores) De acordo com a identidade fundamental da Contabilidade Nacional, temos: S = I p SBN + S ext = FBC (SBN FBC) = - S ext Então: - S ext = Balança Corrente = SBN FBC = ( ) = Por outro lado, Bal. Corrente = (X - Q) + (Rend. rec. do RM - Rend. pagos ao RM) + (Transf. Corr. rec do RM - Transf. Corr. pagas ao RM) = ( ) + Bal. Rendimentos + ( ) Bal. Rendimentos = m.e. O Saldo da Balança de Rendimentos (ou Rendimentos Primários Líquidos do Exterior) consiste na diferença entre os rendimentos de propriedade (i.e., rendas juros e lucros) e remunerações do trabalho recebidos do Resto do Mundo e os rendimentos de propriedade e remunerações do trabalho pagos ao Resto do Mundo. 3. (1.5 valores) Segundo as operações apresentadas, temos: Saldo da Balança Financeira (2004) = = 3150 m.e. Uma vez que, por definição: Bal. Pagamentos = 0 Bal. Corrente + Bal. Capital = -Bal. Financeira, então fica: Bal. Corrente + Bal. Capital = m.e. 3

4 Grupo III (6 valores, 45 minutos) 1. (1.5 valores) Equilíbrio: Y = E p Y = ( *(1-0.2)*Y) *Y Y = *Y Y = 1.66(6) * 1200 Variação do rendimento de equilíbrio associada a uma variação unitária da procura autónoma de bens e serviços: Y/ Α = 1.66(6) Este multiplicador - o multiplicador keynesiano - é maior do que 1 porque a procura planeada de bens e serviços depende positivamente do produto (rendimento) - neste caso (o mais simples possível) no consumo privado. Quando a procura de bens aumenta exógenamente, o consequente aumento das vendas por algumas empresas significa que se vai distribuir mais rendimento pela nossa economia; parte desse rendimento adicional é gasto na compra adicional de bens e serviços (neste caso, e considerando as fugas de 0.2 para compras de bens importados, ter-se-á 0.75*(1-0.2) = 0.4); assim, a procura de bens e serviços (e portanto o rendimento) aumenta mais do que havia aumentado exogenamente, porque à procura autónoma se soma uma procura induzida; portanto, o multiplicador é maior do que (1.5 valores) Equilíbrio: (1) Y = E p e (2) M/P = L (1) Y = ( *(1-0.2)*Y) *i *Y (1) Y = *Y - 10*i (1) Y = 1.66(6) * (6) * 10*i (2) 1000/1 = *Y - 10*i (2) i = 0.04*Y + 0.1*( ) 4

5 Variação do rendimento de equilíbrio gerada por uma variação unitária da quantidade de moeda oferecida à economia: (1) Y = (6) * 10* i (2) i = 0.04* Y + 0.1*( - M/1) Y = (6) * 10*[0.04* Y + 0.1*( - M/1)] 1.66(6)* Y = 1.66(6)*( M/1) Y/ M = 1 Este multiplicador é superior a 0 porque a procura de bens e serviços (neste caso simples, o investimento) depende negativamente da taxa de juro. Quando a quantidade de moeda oferecida à economia aumenta, os agentes sentem as suas carteiras de activos desequilibradas e tentam comprar activos não líquidos (títulos), o que faz aumentar a sua cotação no mercado e, portanto, baixar a taxa de juro implícita. A descida da taxa de juro faz aumentar a procura de bens e, portanto, aumentar o produto e o rendimento. Assim, aumentos de M resultam em aumentos de Y a) (1.5 valores) Equilíbrio inicial: (IS) Y = (50+0.6*Y) *i *e *Y - 5*e Y = *Y - 15*e - 10*i (LM) i = *Y (BP=0) Há mobilidade internacional dos capitais perfeita (dk/di = ) logo necessariamente i = i f = 10 e, desde que a economia pague essa remuneração ao capital financeiro, terá sempre equilíbrio da balança de pagamentos não monetários. Substituindo i = 10 na (LM): 10 = *Y <=> Y = 2000 Então, o objectivo é Y = 0.1* 2000 = 200 [substituindo na (IS) i =10 e Y = 2000, obter-se-ia a taxa de câmbio real efectiva neste equilíbrio: 2000 = * *e - 10*10 <=> e = 10] 5

6 Se a taxa de câmbio pode flutuar livremente e há perfeita mobilidade internacional dos capitais financeiros então apenas a política monetária pode ter impacto sobre o produto real. O problema é, então, composto pelas quatro seguintes restrições: (1) Y = *Y - 15*e - 10*I (IS) (2) i = 0.1*(300-M) *Y (LM, admitindo política monetária) (3) i = 10 (BP=0) (4) Y = 2200 (objectivo) (1), (3), (4): * *10 = -15*e e = 2 (2), (3), (4): 10 = 0.04* * M M = b) (1.5 valores) Há armadilha da liquidez quando a procura de moeda é infinitamente elástica face à taxa de juro, ie há preferência absoluta por liquidez. Qualquer quantidade de moeda que seja injectada na economia é absorvida pelos agentes, porque estes consideram que a taxa de juro está extremamente baixa e as cotações dos títulos estão extremamente altas, ou seja, antecipam que a taxa de juro só pode vir a subir e as cotações a descer. Por isso, não estão dispostos a comprar títulos e acham que o custo de oportunidade de deterem liquidez não poderia ser mais baixo e portanto conservam toda a liquidez disponível. Assim, havendo uma armadilha da liquidez a política monetária não é eficaz, porque qualquer que seja M a taxa de juro não se altera. No caso desta economia, como se está em câmbios flexíveis, poder-se-ia pensar que, como na alínea anterior, apenas a política monetária poderia ser utilizada. Então pareceria que existe aqui um problema sem solução. No entanto, sob armadilha da liquidez as condições não são idênticas às da alínea anterior. Nesta eventualidade, um aumento do défice orçamental não faria aumentar a taxa de juro, e portanto não induziria uma apreciação da moeda nacional e não geraria qualquer crowding-out externo. 6

7 Havendo armadilha da liquidez, alterações exógenas da procura agregada de bens e serviços (deslocações da IS) não alterariam a taxa de juro (porque a LM é horizontal) e portanto teriam impacto sobre o produto real (máximo, porque nenhum crowding-out existe). Tudo isto seria facilmente visto num gráfico adequado, com a IS tradicional e LM e BP=0 ambas horizontais. Quantificando: Y = 2200; i = 10; e = 10; Y = G + 0.4*Y - 15*e - 10*i 2200 = G + 0.4* *10-10*10 G = 120 Grupo IV (6.5 valores, 48 minutos) a) (1.5 valores) Utilizando as equações das linhas SP e DG, vem: e SP : π = π + aŷ + z DG : Ŷ = Ŷ-1 + xˆ π π = 7,5 + 0,5Ŷ Ŷ = π π = 6 Ŷ = 3 Y = e -0,03 *100 = 97,04 1. b) (1.5 valores) A afirmação está correcta: a economia não se encontra em situação de equilíbrio de longo prazo, uma vez que o produto real efectivo é diferente do produto real potencial (Y<Y N ) e as expectativas quanto à taxa de inflação não estão correctas (π<π e ). 7

8 No longo prazo, voltará a ter-se Y=Y N e π=π e, facilmente se comprovando que tal sucede para uma taxa de inflação idêntica à taxa de crescimento da procura agregada nominal: e e π = π + 0,5Ŷ π = π Ŷ = π 0 = π π = 3 No médio prazo, observar-se-á um processo de ajustamento que conduzirá a economia da actual combinação de produto real e taxa de inflação para o ponto de equilíbrio de longo prazo. Na situação descrita (E0), verifica-se Y<Y N e π<π e. No período seguinte, os agentes económicos reajustam as suas expectativas quanto à taxa de inflação: como se admite que tal se verifica de acordo com o modelo das expectativas adaptativas, com λ=1, tal significa que π e passa a ser 6. Neste contexto (representação gráfica facultativa), a curva SP sofre uma deslocação para baixo (passa de SP0 para SP1) e, mantendo-se as condições da procura, observa-se um novo ponto de equilíbrio de curto prazo (E1), a seguir quantificado: π LP 7, E 0 E 1 E f SP 0 (π e =7,5) SP 1 (π e =6) SP f (π e =3) Y π = 6 + 0,5Ŷ Ŷ = π π = 4 Ŷ = 4 Y = e -0,04 *100 = 96,08 Em E1, volta a observar-se Y<Y N e π<π e, pelo que se repete o processo acima descrito: para o período seguinte, verifica-se um ajustamento das 8

9 expectativas quanto à taxa de inflação, com π e a reduzir-se (para 4) e a curva SP a deslocar-se novamente para baixo. O processo de ajustamento prossegue, em moldes idênticos, até se atingir o ponto de equilíbrio de longo prazo (Ef). O padrão de ajustamento é evidenciado na figura seguinte (representação gráfica facultativa), sendo possível notar, adicionalmente, que, antes de atingir tal ponto, se observam períodos de sobre-reacção (neste caso, undershooting ) da inflação face ao valor de equilíbrio de longo prazo. 7,00 6,00 5,00 4,00 Infl 3,00 2,00 1,00 0,00 95,00 96,00 97,00 98,00 99,00 100,00 101,00 102,00 Y 1. c) (1.5 valores) Para evitar a ocorrência do processo de ajustamento descrito na alínea anterior e os custos reais associados, o governo deverá actuar da seguinte forma: Numa primeira fase, usar uma política expansionista, de forma a fazer elevar a taxa de crescimento da procura agregada nominal e promover o regresso do produto real ao nível do pleno-emprego. Conforme se observa a seguir, a taxa de crescimento da procura nominal deve passar para 9%, fazendo com que Y = 100 e π = 6: π = 6 + 0,5Ŷ 0 = xˆ π π = 6 xˆ = 9 9

10 Nos períodos seguintes, o governo assegura uma taxa de crescimento da procura nominal de 6%, mantendo a economia com os mesmos níveis de produto real e taxa de inflação. π = 6 + 0,5Ŷ 0 = 0 + xˆ π π = 6 xˆ = 6 Tal significa que a intervenção do governo, impedindo a verificação do processo de ajustamento, permitirá um regresso mais rápido ao plenoemprego, embora com uma taxa de inflação superior (6% em lugar de 3%). Graficamente (facultativo): π LP 7, E 0 E 1 = E f SP 0 (π e =7,5) SP 1 = SP f (π e =6) Y 2. (2.0 valores) Suponha-se que inicialmente a economia da União Europeia se encontra em equilíbrio de longo prazo, com Y = Y 0 = Y N, P = P 0 e w = w 0 (com w 0 /P 0 a corresponder ao salário real de equilíbrio). A consideração das ameaças referidas no texto como credíveis significa uma diminuição do nível de confiança dos agentes económicos, levando à deterioração das suas expectativas quanto ao andamento da economia no futuro. Tal levará a uma redução de despesas em consumo e, particularmente, em investimento, ou seja, a uma redução na procura agregada de bens e serviços a qualquer nível de preços. 10

11 Graficamente, tal é visível na deslocação da curva AD, de AD 0 para AD 1, determinando-se um novo ponto de equilíbrio da economia europeia (E 1 ), com uma redução do nível de produto real (Y 1 ) e do nível geral de preços (P 1 ). Após este choque negativo na procura, verifica-se desemprego (Y 1 <Y N ) e uma subida do salário real, que fica superior ao valor de equilíbrio no mercado de trabalho (w 0 /P 1 > w 0 /P 0 ). Nestas circunstâncias, as empresas pressionarão, na ronda de negociações seguinte, para a descida do salário nominal, de modo a colocar o salário real no seu valor de equilíbrio (isto é, w 1 /P 1 = w 0 /P 0 ). Desta forma, torna-se-lhes possível aumentar o nível de produção para cada nível anterior de preços, procurando mais trabalho: graficamente, observa-se uma deslocação da curva AS CP para baixo. Como consequência, verifica-se um aumento do produto real (Y 2 ) e uma diminuição do nível de preços (P 2 ), atingindo-se um novo ponto de equilíbrio (E 2 ). Neste ponto, volta a verificar-se Y<Y N e w/p superior ao valor de equilíbrio, pelo que ocorre um ajustamento semelhante ao atrás descrito, o qual se repete até que Y=Y N e w f /P f = w 0 /P 0. Graficamente: P AS LP AS 0 (w 0 ) AS 1 (w 1 ) AS f (w f /P f =w 0 /P 0 ) P 0 E 0 P 1 E 1 E2 P f E f AD 0 AD 1 Y 1 Y 0 =Y N Y Nota: por simplificação, AD e AS são representadas por linhas rectas, quando são curvas. Caso as autoridades de política económica pretendam recolocar a economia na situação de pleno-emprego, evitando o processo de ajustamento referido, deverão adoptar uma política expansionista, orçamental (por exemplo, 11

12 aumentando os gastos públicos em bens e serviços) ou monetária (aumentando a oferta nominal de moeda). Em ambas as hipóteses, verificar-se-á uma expansão da procura agregada a cada nível de preços, a qual produzirá o regresso ao pleno-emprego, desde que a curva AD retome a sua situação inicial, através de uma combinação de subida do produto real e do nível geral de preços. A diferença mais substancial em termos do tipo de política escolhido centrarse-á nos efeitos sobre a taxa de juro e, portanto, sobre o nível de investimento. No caso de uma política orçamental expansionista, a taxa de juro subirá, o que agravará a situação de contracção do investimento já determinada anteriormente pela deterioração dos níveis de confiança dos investidores. No caso de uma política monetária expansionista, a taxa de juro descerá, permitindo uma recuperação do nível de investimento. FIM 12