O problema começa no texto constitucional, pois de acordo com seu art. 31, 4º:
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1 Curso/Disciplina: Lei de Responsabilidade Fiscal / 2017 Aula: Princípio do equilíbrio fiscal / Aula 02 Professor: Luiz Jungstedt Monitora: Kelly Silva Aula 02 Vamos completar a redação do 3º do art. 1º da LRF, que fecha em seu inciso III falando em quando houver, Tribunal de Contas dos Municípios e Tribunal de Contas do Município : Art. 1º [...] 3º Nas referências: [...] III - a Tribunais de Contas estão incluídos: Tribunal de Contas da União, Tribunal de Contas do Estado e, quando houver, Tribunal de Contas dos Municípios e Tribunal de Contas do Município. O problema começa no texto constitucional, pois de acordo com seu art. 31, 4º: Art. 31 [...] 4º É vedada a criação de Tribunais, Conselhos ou órgãos de Contas Municipais. Então, por força do 4º do art. 31 da Constituição, Município nenhum pode criar seu Tribunal de Contas. Contudo, antes de 1988 dois municípios brasileiros já tinham criado seus Tribunais de Contas (São Paulo e Rio de Janeiro). Entendeu-se que como a criação foi anterior à Constituição, os mesmos poderiam continuar existindo. Então, são os únicos municípios no Brasil que têm Tribunal de Contas. Esses dois são reputados na expressão final do 3º, inciso III, que diz Tribunal de Contas do Município. Então, o que é Tribunal de Contas dos Municípios? Se o resto todo dos municípios brasileiros não tem Tribunal de Contas, quem controla a conta desses municípios? De duas uma: (1) solução mais encontrada o Tribunal de Contas do Estado acumula função. Além de analisar as contas do Governador, vai analisar as contas de todos os prefeitos de todos os seus municípios. É o que acontece, por exemplo no Estado do Rio de Janeiro. (2) o Estado pode criar dois Tribunais de Contas um para o Estado (TCE) e outro para todos os seus municípios. Quatro estados brasileiros têm este último: Goiás, Bahia, Pará e Ceará. Página1 Assim, conclui-se a análise do art. 1º. No que tange ao art. 2º, na aula anterior foi adiantado o conceito de estatal dependente. Agora, passa-se à análise dos demais conceitos presentes no art. 2º.
2 Art. 2º Para os efeitos desta Lei Complementar, entende-se como: I - ente da Federação: a União, cada Estado, o Distrito Federal e cada Município; II - empresa controlada: sociedade cuja maioria do capital social com direito a voto pertença, direta ou indiretamente, a ente da Federação; O inciso IV fala em receita corrente líquida. Quando, mais à frente, entrarmos no capítulo III (da receita pública), voltaremos a esse conceito. Os parágrafos desse artigo também versam sobre receita corrente líquida e serão trabalhados mais à frente. Em uma visão inicial, o capítulo I foi concluído. No entanto, voltando ao art. 1º, podemos identificar uma trilogia de princípios que chamam a atenção e foram introduzidos pela LRF no Direito Financeiro. Então, vamos fechar os comentários sobre o capítulo I da LRF falando sobre esses três princípios: equilíbrio fiscal, prudência fiscal e transparência fiscal. De acordo com o 1º do art. 1º: Art. 1º [...] 1º A responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação planejada e transparente, em que se previnem riscos e corrigem desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas, mediante o cumprimento de metas de resultados entre receitas e despesas e a obediência a limites e condições no que tange a renúncia de receita, geração de despesas com pessoal, da seguridade social e outras, dívidas consolidada e mobiliária, operações de crédito, inclusive por antecipação de receita, concessão de garantia e inscrição em Restos a Pagar. Página2 Só não existe por extenso o princípio da prudência fiscal, mas quando o 1º fala em obediência a limites e condições, a prudência fiscal estaria aí. Por isso que a prudência fiscal é vista, especialmente, no limite de gasto com pessoal na LRF. Então, esse é o rol de princípios que estamos retirando do 1º do art. 1º. Princípio do Equilíbrio Fiscal:
3 Esse princípio, previsto no 1º do art. 1º da LRF, é muito bem exemplificado pelo contingenciamento de despesa ou limitação de empenho, este último termo é a denominação oficialmente adotada pela LRF. O nome de contingenciamento de despesa é dado também pela mídia. O art. 9º, que regula o contingenciamento, fala em limitação de empenho. É a mesma coisa. Esse artigo foi um dos fundamentos para o impeachment da Presidente Dilma, que ela teria burlado esse artigo em ano eleitoral para não parar os investimentos. De acordo com o art. 9º da LRF: Art. 9º Se verificado, ao final de um bimestre, que a realização da receita poderá não comportar o cumprimento das metas de resultado primário ou nominal estabelecidas no Anexo de Metas Fiscais, os Poderes e o Ministério Público promoverão, por ato próprio e nos montantes necessários, nos trinta dias subseqüentes, limitação de empenho e movimentação financeira, segundo os critérios fixados pela lei de diretrizes orçamentárias. O que está sendo dito é que se não foi arrecadado o esperado, não deve ser gasto o programado em uma verificação bimestral. Se o esperado não foi arrecadado, deve ser feita limitação de empenho para o gasto público. Por isso que a mídia chamou de contingenciamento. A lei preferiu limitação de empenho tendo em vista que a despesa pública está relacionada ao empenho, liquidação e pagamento, da lei nº 4.320/64, arts. 58 ao 70. O que a Presidente Dilma fez foi continuar gastando sem a arrecadação esperada. O nome dado foi pedalada fiscal. O artigo ferido foi o art. 36 da LRF: Página3 Art. 36. É proibida a operação de crédito entre uma instituição financeira estatal e o ente da Federação que a controle, na qualidade de beneficiário do empréstimo.
4 Se é atrasado o pagamento à instituição financeira, isso é um empréstimo disfarçado e não pode. Na hora de contingenciar, a LRF elenca no art. 9º algumas despesas que não podem ser contingenciadas, em que se destacam as obrigações constitucionais e o serviço da dívida. De acordo com o 2º do art. 9º: Art. 9º [...] 2º Não serão objeto de limitação as despesas que constituam obrigações constitucionais e legais do ente, inclusive aquelas destinadas ao pagamento do serviço da dívida, e as ressalvadas pela lei de diretrizes orçamentárias. Então, por exemplo, não se pode parar o pagamento de precatório porque está no art. 100 da Constituição e é obrigação constitucional. Também não se pode parar de pagar dívida pública porque está na LRF e não pode contingenciar pagamento da dívida. Assim, o que começa a ser contingenciado são os programas sociais do Governo, o que merece uma crítica aprofundada. Fique alerta, na União, o orçamento impositivo já existia nas suas leis de diretrizes orçamentárias (LDOs). Na União, desde 2013, quando foi feito o orçamento de 2014 e desde 2014, quando foi feito o orçamento de 2015, a LDO já trazia a figura do orçamento impositivo. Do 9º ao 18 do art. 166 foi acrescentado pela EC nº 86/15 e que torna o orçamento impositivo obrigatório para todos os entes da federação. Página4 O orçamento impositivo não faz com que a previsão orçamentária seja obrigatória de ser gasta. Não é porque está na lei orçamentária que é obrigatório gastar. O orçamento impositivo é mais localizado do que você possa imaginar. O orçamento impositivo está somente para as emendas parlamentares da oposição e mais nada. Então, atenção, você já ouviu a história de que a lei orçamentária não tem densidade normativa, que a lei orçamentária, na verdade, nada mais é do que um ato administrativo com roupa de lei
5 (previsão de receita e de despesa). É uma lei formal e não gera direito subjetivo. Então, o Governo vem e contingencia o que quer. Cansada disso, a oposição cria o orçamento impositivo, dizendo que é obrigatório que o Governo libere a emenda da oposição. Isso está expresso em dois parágrafos. O 9º do art. 166, traz, inclusive, previsão de limites para a provação das emendas parlamentares. Assim, já existe porcentagem do orçamento para as emendas parlamentares, conforme se vê: Art. 166 [...] 9º As emendas individuais ao projeto de lei orçamentária serão aprovadas no limite de 1,2% (um inteiro e dois décimos por cento) da receita corrente líquida prevista no projeto encaminhado pelo Poder Executivo, sendo que a metade deste percentual será destinada a ações e serviços públicos de saúde. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 86, de 2015) O mais importante está no 17 do art. 166 da Constituição. Se o previsto não foi arrecadado, então o gasto deve ser contingenciado, mas não apenas a emenda da oposição. Vai ter que ter um corte equitativo (metade do Governo e metade da oposição). Página5 Art. 166 [...] 17. Se for verificado que a reestimativa da receita e da despesa poderá resultar no não cumprimento da meta de resultado fiscal estabelecida na lei de diretrizes orçamentárias, o montante previsto no 11 deste artigo poderá ser reduzido em até a mesma proporção da
6 limitação incidente sobre o conjunto das despesas discricionárias. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 86, de 2015) Então, deve haver uma redução na mesma proporção da limitação incidente sobre o conjunto das despesas de governo. Orçamento impositivo é apenas em relação à aprovação e liberação de verbas de emenda da oposição, não muda o contexto do orçamento que é uma lei formal e que não gera direito subjetivo a ninguém e disciplina esse contingenciamento de despesa. Está aí o primeiro princípio que a LRF introduz, o equilíbrio fiscal, que é muito enxergado no contingenciamento de despesa. Entrou, saiu o programado. Não entrou o dinheiro programado, não saiu o programado. É o equilíbrio das contas públicas. Corta, limita o empenho, contingencia despesa entre projetos do Governo e a emenda da oposição, de forma proporcional. Na próxima aula serão estudados os dois outros princípios. Página6
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