Texto e textualidade
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- Therezinha Ana Carolina de Lacerda
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1 Texto e textualidade Para um texto ou um discurso estar bem estruturado, fazer sentido e ter eficácia comunicativa, tem de estar assente em três princípios essenciais a progressão temática, a coerência e a coesão. 1. Progressão temática A progressão temática assegura-se através da introdução de informação nova ao longo do texto. Os novos dados que vão sendo introduzidos vêm na sequência da informação que o leitor/recetor já conhece e são suporte de elementos novos que irão ser adicionados até à conclusão do texto.
2 2. Coerência textual A coerência textual é a propriedade que confere sentido a um texto. Consiste na lógica das relações intratextuais entre as partes e a totalidade que conduzem à sua interpretação. A interpretação de um texto depende da capacidade interpretativa do leitor/recetor, por isso podemos afirmar que um texto é coerente quando há compatibilidade entre as ocorrências textuais e o nosso conhecimento do mundo (real ou ficcional).
3 2.1 Coerência lógico-conceptual A coerência lógico-conceptual depende do cumprimento de regras. RELEVÂNCIA As ocorrências textuais devem ser pertinentes. Por exemplo, não se deve fugir à temática do texto ou dar exemplos que não venham a propósito. NÃO CONTRADIÇÃO As ocorrências textuais não podem ser incompatíveis. Por exemplo, as informações, a pessoa ou os tempos verbais não se devem contradizer. As ocorrências textuais não se podem reiterar. NÃO REDUNDÂNCIA Por exemplo, não se devem repetir as mesmas ideias, devem retomar-se informações já conhecidas e introduzir-se dados novos (contribuindo para a progressão do texto).
4 2.2 Coerência pragmático-funcional Para ter eficácia comunicativa, o texto tem de ter certas características. EFICÁCIA COMUNICATIVA O texto deve: ser adequado ao contexto e à relação locutor/interlocutor; corresponder à intencionalidade do locutor e ao fim a que se destina. Por exemplo, através das formas de tratamento e do registo de língua que se usa. Nota: A pontuação contribui também para a coerência do texto.
5 3. Coesão textual A coesão textual contribui para a coerência do discurso. Através de mecanismos linguísticos, lexicais e gramaticais, assegura-se a progressão, a continuidade e o sentido do texto. A coesão textual processa-se a vários níveis da palavra, da oração, das frases e dos parágrafos.
6 3.1 Coesão lexical Definição Substituição Reiteração Exemplos Retoma por repetição do vocábulo ou expressão. «Matom o Meestre! matom o Meestre nos Paaços da Rainha! Acorree ao Meestre que matam!» Sinonímia Retoma por utilização de vocábulo ou expressão com significado equivalente. «[ ] homeès e moços esgravatando a terra; [ ] que achavom mortos homeès e cachopos [ ]» Antonímia Retoma por utilização de vocábulo ou expressão com significado oposto. «[ ] por lhe darem vida e escusar morte.» Hiperonímia/ Hiponímia Retoma por utilização de vocábulo ou expressão com significado mais geral (hiperónimo) ou mais particular (hipónimo). Holonímia/ Meronímia Retoma por utilização de vocábulo ou expressão que designa o todo (holónimo) ou parte constituinte (merónimo). «Os da cidade como ouviam o repico, leixavam o sono, e tomavom as armas e saía muita gente, e defendiam-nos aas bestas [ ]» «Os padres e madres viiam estalar de fame os filhos que muito amavom, rompiam as faces e peitos sobr eles [ ]»
7 3.2 Coesão gramatical Definição Exemplos Interfrásica Mecanismo de ligação de frases e parágrafos, através de: conectores; coordenação e subordinação (frases); pontuação. «Entom os do Meestre veendo tam grande alvoroço como este, e que cada vez se acendia mais [ ]» «[ ] leixae-a, ca [porque] ainda há mal d acabar por estas cousas que faz!» Frásica Mecanismo de ligação dos elementos da oração/frase simples, através de: concordância em género e em número; ordenação das palavras e das funções sintáticas. Mecanismo que permite uma correta identificação dos referentes pelo interlocutor ao longo do texto, através de: anáfora: um termo que aparece anteriormente no texto é retomado por um pronome, determinante ou advérbio. Mecanismo que permite a compreensão das relações temporais que o texto estabelece entre as várias situações apresentadas, através de: uso correlativo dos tempos verbais; uso de expressões adverbiais ou preposicionais com valor temporal. «Amigos, apacificae vos, ca eu vivo e são som a Deos graças.» Referencial Temporal «De cima nom minguava quem braadar que o Meestre era vivo [ ]: Pois se vivo é, mostrae-no-lo e vee-lo-emos.» «[ ] soou uù dia pela cidade que o Meestre mandava deitar fora todolos que nom tevessem pam que comer [ ]» Excertos retirados dos capítulos 11 e 148 da Crónica de D. João I (textos escolhidos), de Fernão Lopes, com apresentação crítica de Teresa Amado, Lisboa, Seara Nova/Comunicação, 1980.
8 CONSOLIDA 1. Explica, por palavras tuas, a incoerência de cada frase. a) O Conde Andeiro foi assassinado ontem à noite. O seu estado inspira cuidados. b) Todos os dias, temos aulas diariamente. c) Os dois guerreiros, D. João e D. Nuno Álvares Pereira, constituem um trio de heróis. d) D. Nuno Álvares Pereira, Mestre de Avis, lutava com bravura.
9 2. Atenta no seguinte excerto. 2.1 Identifica os princípios da coerência (relevância, não contradição, não redundância) que não foram respeitados. 2.2 Refere como se obtém a progressão temática no texto.
10 3. Restabelece a coerência nos enunciados apresentados. a) Professor, dá-me aí o livro que contém as crónicas de Fernão Lopes! b) Ministro, já leste a Crónica de D. João I?
11 4. Estabelece as correspondências corretas entre os exemplos textuais da coluna A, distinguindo os mecanismos de coesão acionados na coluna B. A a) O Paço da Rainha foi cercado, portas e janelas eram bem vigiadas. b) Álvaro Paes cavalgou pela cidade. A cidade estava em alvoroço. c) O mantimento escasseava em Lisboa: pão, fruta, carne e peixe, tudo faltava. d) Os habitantes de Lisboa estavam famintos, aliás os lisboetas nunca tinham passado tantas provações. e) Álvaro Paes e o pajem lutaram pelo Mestre. f) O povo receou pela vida do Mestre, no entanto, este encontrava-se de plena saúde. g) Leonor Teles era odiada, ela era repudiada por todos. B 1. Coesão lexical reiteração 2. Coesão lexical substituição (merónimo/holónimo) 3. Coesão lexical substituição (sinónimos) 4. Coesão gramatical referencial 5. Coesão gramatical interfrásica 6. Coesão lexical substituição (hiperónimo/ hipónimo) 7. Coesão gramatical frásica
12 5. Indica as anáforas presentes no enunciado e identifica os respetivos referentes. O pajem saltou da cama muito cedo porque o tinham acordado com gritos. Caiu de lá aos tropeções com toda a sua atarantação 5.1 Classifica as anáforas quanto à classe de palavras.
COESÃO COERÊNCIA. É um dos meios que garante a unidade semântica e a organização de um enunciado.
1. COESÃO 1.1. O que é? É um dos meios que garante a unidade semântica e a organização de um enunciado. Dito de forma mais simples: a coesão textual tem a ver com a maneira como se processa a ligação entre
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