A interiorização da capital brasileira: mudanças demográficas e socioespaciais.

Transcrição

1 A interiorização da capital brasileira: mudanças demográficas e socioespaciais. Eduardo de Araujo da Silva¹; Alexandre Carvalho de Andrade² ¹Graduando em Geografia - IFSULDEMINAS Campus Poços de Caldas, E- mail: eduardosilva081295@gmail.com ²Professor do IFSULDEMINAS Campus Poços de Caldas, alexandre.andrade@ifsuldeminas.edu.br RESUMO O presente trabalho aborda sobre as mudanças demográficas que impactaram a região Centro-Oeste após a mudança da capital brasileira para o Distrito Federal. Desde os meados da década de 1950, houve grandes deslocamentos populacionais para a região Centro-Oeste que geraram grandes mudanças socioespaciais. Dos espaços construídos, as regiões administrativas próximas ao plano piloto ficaram destinadas para as populações de maior renda, e outras regiões administrativas do DF ficaram para os mais pobres. Neste contexto, no período estudado ( ), o crescimento populacional inicialmente muito intenso no Distrito Federal, incidiu posteriormente também no Entorno de Brasília, região pertencente ao estado de Goiás, que apresenta diversos municípios conturbados com o Distrito Federal, tais como Luziânia, Valparaíso de Goiás, Novo Gama, Águas Lindas de Goiás, dentre outros. Tal situação elucida todo um processo de metropolização e dinâmicas socioespaciais que ocorreu nesta região.

2 INTRODUÇÃO A ideia de interiorização da capital brasileira já era antiga, com diversos interesses envolvidos. No Governo JK, os interesses na materialização da nova capital condiziam com as ideologias desenvolvimentistas do governo, dando um impulso ainda maior para a necessidade da implantação da cidade. Então a capital foi erguida em poucos anos (1957 a 1960, data da sua inauguração) onde o fluxo migratório para a região foi alto. Hoje pode se observar como que a implantação da capital no interior brasileiro foi relevante para o desenvolvimento da região Centro-Oeste. No que antes da implantação eram pequenas sedes municipais e fazendas, hoje pode afirmar que Brasília é uma das cidades mais populosas do país (IBGE, 2010). Os objetivos do presente trabalho são o de elucidar o processo de crescimento populacional no Distrito Federal, no período de 1956 até os dias atuais. E observar como a mudança da capital gerou mudanças socioespaciais na região. MÉTODOS A pesquisa tem como foco a análise demográfica de Brasília desde o ano de 1956 até os dias atuais, e avaliando como foi ritmo de crescimento populacional do Distrito Federal. Os métodos utilizados nessa pesquisa foram leituras relacionadas com o tema implantação de Brasília, demografia da região e impactos socioespaciais da capital. Também foram utilizadas a coleta e a interpretação de indicadores demográficos a partir do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE e da Companhia de Planejamento do Distrito Federal - CODEPLAN. IMPLANTAÇÃO DE BRASÍLIA E AS DINÂMICAS POPULACIONAIS REGIONAIS Gouvêa (1995) argumenta que o governo de Juscelino Kubitschek (JK) teve três grandes intenções para a implantação de Brasília: econômica, geopolítica e ideológica. A primeira das intenções deu ênfase ao desenvolvimento econômico do Brasil central; JK justificava que a interiorização da capital possibilitava a criação de novas estradas, dessa forma, poderia interiorizar a economia do Brasil central. A segunda ordem é a geopolítica, onde os argumentos eram para a proteção da capital, pois a interiorização da capital seria melhor para a segurança da sede. Em terceira e não menos importante das intenções fica a questão ideológica, pois a ideia de mudar a capital tinha também a ideia de modernização do interior.

3 O Distrito Federal se compôs do desmembramento de áreas de três municípios goianos: Planaltina, Luziânia e Formosa. Coube ao governo de Goiás escolher o quadrilátero do Distrito Federal e atuar na desapropriação da área, ou seja, acontecia com duas frentes, com a Comissão de Cooperação para a Mudança da Nova Capital vinculada ao estado de Goiás, juntamente com a Comissão de Mudança da Nova Capital com membros do governo federal. As desapropriações começaram a ser feitas em outubro de 1955 sendo parte delas indenizada pelo governo (OLIVEIRA, 2008). Em 1956, os órgãos públicos começaram a construir loteamentos destinados aos trabalhadores que, posteriormente, passaram a trabalhar na construção das quadras principais do plano piloto, núcleo central de Brasília. As quadras desenhadas e projetadas no plano piloto ficaram destinadas para os funcionários do governo, financiados pelas empreiteiras (GOUVÊA, 1995). Flávio Villaça (1998) argumenta que nas metrópoles brasileiras é mais marcante a segregação espacial, podendo ser visto nos bairros residenciais das diferentes classes sociais. Para o referido autor, a segregação é um processo necessário à dominação social, econômica e política por meio do espaço (VILLAÇA, 1998, p. 150). E tal situação, inclusive por intermédio da própria forma em que foi planejada e implantada, se reproduziu em Brasília, já que, enquanto no Plano Piloto e nas áreas ao redor do Lago Paranoá predominam moradores com alto poder aquisitivo, as cidades satélites e a região do Entorno de Brasília foram progressivamente ocupadas por populações com menores rendimentos e posses financeiras. A chegada de milhares de trabalhadores na região impactou suas dinâmicas socioespaciais, pois não havia meios de atender tantas famílias ao mesmo tempo, o que resultou na formação de aglomerados sem padronização urbana por todos os cantos do Distrito Federal. Alguns núcleos foram organizados durante o período, como: Candangolândia (1956), Taguatinga (1957), Cruzeiro (1959), e a Cidade Livre que posteriormente passa a se chamar núcleo Bandeirante (OLIVEIRA, 2008). Os chamados candangos, os que trabalhadores que foram para a cidade construir a capital, chegavam de todos os lugares, especialmente da região Nordeste e de algumas partes dos estados de Minas Gerais e Goiás (GOUVÊA, 1995). Até os dias atuais, a maior parte dos migrantes são provenientes destas áreas (IBGE, 2010).

4 Em novembro de 1956 data de inauguração do Distrito Federal, a população da região não superava os seis mil habitantes. Em julho de 1957 o IBGE contabiliza habitantes. Neste período a população da região cresceu em torno de 104,71%. O ritmo de crescimento acelerado foi pelo afluxo de migrantes na região em busca de empregos na construção civil. Em março de 1958, o IBGE contabilizou habitantes e em maio de 1959 a região recebeu uma contagem experimental, contabilizando habitantes. O IBGE realizou o primeiro Censo Oficial do Distrito Federal em setembro de Foram contabilizadas pessoas, distribuída em: 62,2% homens e 37,8% mulheres (CODEPLAN, 2013). Na década de 1970 a economia da região desenvolveu conforme o perfil dos imigrantes. Houve diminuição do ritmo de crescimento para 14,4% ao ano, alcançando mais de 540 mil habitantes em Na década de 80, houve mais uma desaceleração no ritmo de crescimento relativo, que foi de 8,15% ao ano, sendo que a população superou os 1.2 milhões de habitantes em 1991 (CODEPLAN, 2013). É neste período que começa, também, um rápido crescimento populacional nos municípios goianos do Entorno de Brasília, sendo este processo consequência do processo de expansão urbana e segregação socioespacial do Distrito Federal e áreas vizinhas. Nos anos 2010, 30 anos depois, o Distrito Federal atinge a casa habitantes. Desses, 45,8% são migrantes brasileiros em especial provenientes de Minas Gerais, Goiás e estados do Nordeste, e 0,4% são estrangeiros naturalizados ou não (IBGE, 2010). Se somado o Entorno de Brasília, a população regional atinge 3,7 milhões de habitantes, consolidando a formação da Região Integrada de Desenvolvimento de Brasília - RIDE Brasília, que também abrange municípios mineiros, mas que não apresentam processos de conurbação com a capital federal, como ocorrem com as cidades goianas de Luziânia, Novo Gama, Valparaíso de Goiás, dentre outras. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES De acordo com Oliveira (2008), a força econômica da região Centro-Oeste hoje não prescinde da capital, mas ela é um componente elementar para explicar o aumento da participação econômica da região e de seu aumento populacional. A materialização de Brasília no centro do país mudou a dinâmica econômica, social e

5 política da região, sendo que houve grandes deslocamentos populacionais para a região, em especial para o Distrito Federal e o Entorno de Brasília. A fase de construção da capital foi o período onde mais cresceu a população em números relativos, atingindo mais de 100% ao ano, passando de 6 mil habitantes em 1956 para aproximadamente 140 mil em Essa fase foi impulsionada pela grande migração de trabalhadores para a área em busca de emprego na construção civil. E, mesmo que houvesse uma contínua redução do ritmo de crescimento populacional, que apresenta significativa relação com a diminuição da taxa de fecundidade que ocorreu no território nacional, mas também com a certa estabilização dos processos migratórios, Brasília e seu entorno constituiu uma das áreas com maior crescimento populacional na segunda metade do século XX. Neste contexto, no período estudado ( ), o crescimento populacional inicialmente muito intenso no Distrito Federal, incidiu posteriormente também no Entorno de Brasília, região pertencente ao estado de Goiás, que apresenta diversos municípios conturbados com o Distrito Federal, tais como Luziânia, Valparaíso de Goiás, Novo Gama, Águas Lindas de Goiás, dentre outros. Tal situação elucida todo um processo de metropolização e dinâmicas socioespaciais que ocorreu nesta região. REFERÊNCIAS CODEPLAN. Demografia em Foco 7, Evolução dos Movimentos Migratórios para o Distrito Federal: GOUVÊA, L. A. C. Brasília: a capital da segregação e do controle social: uma avaliação da ação governamental na área da habitação. São Paulo: Annablume, IBGE. Censo demográfico de Disponível em: < ibge. gov. br>. Acesso em: 2 jan OLIVEIRA, R. A. Brasília e o paradigma modernista: planejamento urbano do moderno atraso f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) Universidade de São Paulo, São Paulo. VILLAÇA, F. Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel, 1998.