EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL. Palavras-chave: Educação. Relações étnico-raciais. Educação infantil.
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1 EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL Thabyta Lopes Rego Rede Municipal de Educação de Goiânia Daniela da Costa Britto Pereira Lima Universidade Federal de Goiás Resumo: Este trabalho foi desenvolvido com o objetivo de compreender e analisar as repercussões da implementação das leis n /03 e n /08 em ações pedagógicas desenvolvidas e registradas em instituições de Educação Infantil de uma Rede Municipal de Educação. Desse forma, realizou-se pesquisa qualitativa do tipo bibliográfica e documental sobre a educação das relações étnico-raciais na Educação Infantil. Com esta proposta, foi apresentado o percurso histórico percorrido por documentos e leis que legitimam o respeito à diversidade étnica e o estudo das relações étnico-raciais desde a primeira etapa da Educação Básica. A partir deste contexto, aforam analisados sistematizações de projetos institucionais, projetos de trabalho e relatórios mensais de instituições de Educação Infantil da Rede Municipal de Educação pesquisada que registraram práticas pedagógicas para a promoção da educação das relações étnico-raciais entre os anos de 2008 e Barbosa, Alves e Martins (2011), Ostetto (2008), Vasconcellos (2007), Vasconcellos e Sarmento (2007), Vigotski (2010), Constituição da República Federativa do Brasil (1988), Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996) e suas alterações com as leis n /03 e n /08, Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais (2004), Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2009), Estatuto da Igualdade Racial (2010), Plano Nacional de Promoção da Igualdade Racial (2006) compõem o quadro de autores, leis e documentos que fundamentam a pesquisa. Os dados analisados à luz do referencial teórico apresentaram que as instituições colaboradoras da pesquisa têm realizado avanços na promoção da educação das relações étnico-raciais, porém, sinalizam necessidade de formação para que os profissionais possam qualificar ainda mais as ações pedagógicas realizadas. Palavras-chave: Educação. Relações étnico-raciais. Educação infantil. O presente trabalho aborda a educação das relações étnico-raciais na Educação Infantil como uma das ações em prol da justiça social, da valorização da diversidade e da garantia dos direitos humanos. Desde 1988, com a Constituição da República Federativa do Brasil, o direito do respeito à diversidade étnica no Brasil tem sido marcado por diversas regulamentações e normatizações. A partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) nº 9.394/1996 e suas ampliações pelas leis nº /2003 e nº /2008, professores e instituições de educação têm sido envolvidos no movimento de propor ações pedagógicas que abordem a cultura africana, afro-brasileira e indígena nas escolas. Pretendeu-se com esta pesquisa analisar as repercussões dos referidos documentos nas 12518
2 2 práticas de Centros Municipais de Educação Infantil em uma Rede Municipal de Educação entre 2008 e O objetivo geral estabelecido para a pesquisa foi: Compreender e analisar as repercussões da implementação das leis /03 e /08 em ações afirmativas desenvolvidas e registradas em instituições de Educação Infantil em uma Rede Municipal de Educação. Os objetivos específicos foram: percorrer, descrever e analisar o histórico que defende o direito do respeito à diversidade étnica e conhecimento desta na experiência curricular das instituições de educação no país; identificar, descrever e analisar ações afirmativas sistematizadas em relatórios mensais, projetos e projetos de trabalho que promovam a educação das relações étnico-raciais em Centros Municipais de Educação Infantil (CMEI) da Rede pesquisada nos anos de 2008 a 2015; relacionar as ações afirmativas registradas com o que propõe a normatização educacional para a área. A pesquisa foi desenvolvida a partir da abordagem qualitativa com análise bibliográfica e documental. A partir desses, foi estudado o panorama histórico das proposições que leis e normatizações nacionais fazem sobre o que deve ser oportunizado para as crianças da Educação Infantil no que refere à temática em questão. Em seguida foram escolhidos três documentos que possibilitassem análise de sistematizações das práticas pedagógicas relacionadas à educação das relações étnicoraciais. São eles: propostas Político Pedagógicas das instituições (PPPs); projetos de trabalho; Relatórios Mensais das Situações de Aprendizagens e Desenvolvimento dos agrupamentos. Os seis CMEIs que aceitaram participar foram indicados por uma das Coordenadorias Regionais de Educação da Rede Municipal de Educação pesquisada e foram enumerados de acordo com a ordem de coleta de dados, como forma de identificação na pesquisa e preservação da identidade dos mesmos. DISCUSSÃO E RESULTADOS Ao percorrer o histórico que defende o direito do respeito à diversidade étnica e conhecimento desta na experiência curricular das instituições de educação infantil no país, constatamos as seguintes orientações: Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 05 de outubro de 1988; Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 que prevê que as crianças não sofram discriminação, crueldade ou opressão; LDB nº 9.394/1996 que considera a diversidade étnico-racial como um dos princípios da Educação, complementada pelas leis nº 12519
3 /2003 e /2008, que tornam obrigatório o ensino de História e Cultura Afrobrasileira, Africana e Indígena na Educação Básica; Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, Resolução nº 1, de 17 de junho de 2004; Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI), Resolução do Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação Básica (CNE/CEB), n º 5, de 17 de dezembro de 2009; e o documento orientador da Rede pesquisada. Para a análise das práticas pedagógicas desenvolvidas foram utilizadas algumas lentes teóricas para compreensão dos dados coletados, com destaque para as que: tratam da aprendizagem e do desenvolvimento baseadas em Vigotski (2010), principalmente o que aponta sobre o desenvolvimento da zona proximal ou iminente pelas crianças; sobre o papel da instituição de educação infantil e a natureza do trabalho pedagógico baseado em Barbosa, Alves e Martins (2011); o papel do planejamento, dos projetos de trabalho e dos registros baseados em Vasconcellos (2007) e Ostetto (2012). Com relação aos dados coletados, foi possível localizar as atividades mais frequentes pelos seis (6) CMEIs que participaram da pesquisa: as obras literárias que socializam histórias africanas foram as mais exploradas se comparadas ao conjunto de atividades analisadas. Elementos culturais e produções artísticas compõem o segundo lugar na ordem de frequência de abordagem da educação das relações étnico-raciais. Exploração de filmes e vídeos foram a terceira e o estudo sobre os animais africanos e sobre os mapas foram a quarta opção. Já os estudos sobre preconceito, elementos da cultura indígena, racismo, povoamento de Goiás, cultura de Goiás e de Goiânia, história da África, escravidão, miscigenação no Brasil, discriminação e genealogia foram mencionados, porém em menor frequência. Nota-se, portanto, que os processos de socialização, transmissão, divulgação e apropriação de aspectos da cultura e modos de vida africana têm sido explorados de maneira mais ampla nas instituições pesquisadas. Porém, os conhecimentos da história da África, chegada dos africanos no Brasil, escravidão, libertação, preconceito, discriminação e racismo foram pouco explorados se relacionados aos demais elementos estudados. Um fato não pode deixar de ser mencionado: a história e cultura indígena apareceu em apenas três dos cinquenta e cinco relatórios analisados, não tendo sido registrado nada sobre o assunto nos PPPs e nem nos portfólios analisados. Verificou-se problemas nos planejamentos das atividades, pois, os materiais analisados para pesquisa revelaram que, dos cinquenta e cinco relatórios analisados, 12520
4 4 trinta não contemplavam objetivos propostos para o trabalho mensal e apenas vinte e cinco contemplavam a intencionalidade do trabalho realizado, sendo que nove (9) dentre esses não apresentavam ou os objetivos não se relacionavam com as atividades propostas. Os PPPs e o portfólios analisados, porém, conseguiram apresentar intencionalidade e avaliação do trabalho desenvolvido de forma a evidenciar o processo reflexivo no qual foram desenvolvidos e a provocar reflexão também nos leitores. A metodologia mais utilizadas foram as rodas de conversa. Com relação ao uso das brincadeiras, somente foram registrados em dezesseis (16) dos cinquenta e cinco relatórios analisados. As brincadeiras também não aparecem no portfólio e nos PPPs. Observa-se, portanto, que menos da metade dos registros analisados apresentam as brincadeiras como metodologias para a construção do conhecimento científico e para o desenvolvimento das capacidades das crianças. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do processo investigativo desenvolvido na pesquisa, foi possível notar a dificuldade em efetuar pesquisas com recortes históricos amplos em função do não arquivamento dos registros nas instituições. Desta forma, não encontramos registros anteriores a 2013, apesar de o recorte histórico considerar de 2008 a As dificuldades em revelar a intencionalidade das práticas pedagógicas apresentadas nos registros sinalizam também a necessidade de formação no que refere ao processo de planejamento, registro e construção da documentação pedagógica com vistas à garantir a evidência do processo reflexivo e do sentido das ações planejadas para atender às especificidades dos grupos. Acerca da garantia das especificidades das crianças, a partir dos registros analisados, foi possível compreendê-la como um movimento que tem se consolidado, pois foram muitas e variadas metodologias que apontavam a intenção de dialogar com as crianças e discutir seus interesses, necessidades e curiosidades. Todavia, sugere-se que sejam ainda mais refletidas e planejadas as formas de envolvimento da comunidade nas pesquisas realizadas junto às crianças. Os dados revelaram, também, maior exploração da história e cultura afrobrasileira e africana e menor exploração da história e cultura indígena. Observa-se, contudo, a necessidade de atentar o olhar para o cumprimento dessa lei, que amplia aquela promulgada em 2003 e possibilita que não seja valorizada uma história e cultura em detrimento de outra
5 5 Diante das reflexões apresentadas, conclui-se que os CMEIs pertencentes à Rede Municipal de Educação pesquisada e que colaboraram com a pesquisa têm realizado progressos significativos na promoção da educação das relações étnico-raciais, porém, sinalizam necessidade de formação para que os profissionais possam qualificar ainda mais as ações pedagógicas realizadas junto às crianças, de maneira a possibilitar maior apropriação de conhecimentos científicos de maneira intencional, por meio de atividades lúdicas e para que consigam evidenciar a riqueza do trabalho desenvolvido na documentação pedagógica produzida baseados nas Leis que regulamentam essas relações. REFERÊNCIAS BARBOSA, Ivone Garcia; ALVES, Nancy Nonato de Lima Alves; MARTINS, Telma Aparecida Teles Martins. O professor e o trabalho pedagógico na educação infantil. In: LIBÂNEO, José Carlos; SUANNO, Marilza Vanessa R.; LIMONTA, Sandra Valéria. Didáticas e práticas de ensino: texto e contexto em diferentes áreas do conhecimento. Goiânia: CEPED/Editora PUC Goiás, BRASIL. Lei nº 9.394/1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília: Diário Oficial da União, Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Lei nº 10639, de 09 de janeiro de Altera a LDB e inclui no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-Brasileira. Brasília: Diário Oficial da União, Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Lei nº 11645, de 10 de março de Altera a LDB e inclui no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena. Brasília: Diário Oficial da União, OSTETTO, Luciana. Observação, registro, documentação: nomear e significar as experiências. In: OSTETTO, Luciana (Org.). Educação infantil: saberes e fazeres da formação de professores. Campinas: Papirus, VASCONCELLOS, Celso dos S. Projeto de Ensino-Aprendizagem. In:. Planejamento: projeto de ensino-aprendizagem e projeto político-pedagógico. 17 ed. São Paulo SP: Libertad Editora, VASCONCELLOS, Vera Maria Ramos de; SARMENTO, Manuel Jacinto. Infância (in) visível. Araraquara: Junqueira e Marin, VIGOTSKI, Lev Semenovich. Linguagem, Desenvolvimento e Aprendizagem. 11. ed. São Paulo: Ícone,
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