PARÂMETRO CURRICULAR E O LIVRO DIDÁTICO NO BRASIL: UM SABER NECESSÁRIO AO PROFESSOR
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- Victor Gabriel Carvalhal Alcaide
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1 PARÂMETRO CURRICULAR E O LIVRO DIDÁTICO NO BRASIL: UM SABER NECESSÁRIO AO PROFESSOR Suzanna Neves Ferreira Universidade Federal de Goiás UFG- Regional Jataí RESUMO O presente artigo apresenta os resultados preliminares alcançados durante a realização do trabalho de conclusão do curso de Pedagogia e tem por objetivo geral discutir a relação entre os Parâmetros Curriculares Nacionais e os livros didáticos. Para a realização deste estudo foi adotada como instrumento metodológico a pesquisa bibliográfica pautada nos autores: Apple (2001), Libâneo, Oliveira e Toschi (2003), Moreira e Candau (2007). Um olhar sobre o livro didático no Brasil aponta para a história do ensino no nosso país, as práticas escolares e as mudanças nos conteúdos - alterações estas que são explicadas pelas transformações políticas e sociais. O livro didático é instrumento de ensino mais antigo na cultura escolar, superando o giz e o quadro negro. Apesar de tantos avanços nas teorias e práticas educacionais o livro didático ainda em algumas circunstâncias é o único recurso que o professor dispõe em sala de aula. As transformações ao longo do tempo; as influências que cada momento histórico impactou as transformações dos programas oficiais, direcionando o livro didático; desvelando que a função do livro didático estivesse compatível com demandas econômicas, políticas e sociais, no limite, servido para um determinado direcionamento do currículo. Ressalta-se que os currículos ocultam a dimensão ideológica na maneira como são estruturados e organizados, razão pela qual é proposta uma reflexão sobre os Parâmetros Nacionais Curriculares e o Livro didático no Brasil. Qual a relação dos conteúdos, objetivos educacionais apresentados nos PCNs com os livros didáticos? Eles estão relacionados na elaboração na avaliação dos livros didáticos? Este texto é um convite à reflexão para análise dos currículos mínimos na educação básica. PALAVRAS-CHAVE: Currículo; Intencionalidade; PCN. UMA ABORDAGEM SOBRE O LIVRO DIDÁTICO E OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS O livro didático é considerado um instrumento pedagógico no processo de ensino-aprendizagem dentro do contexto escolar. Para compreender a relação entre a escola e o livro didático - e o porquê que ele é considerado um instrumento na construção do conhecimento sistematizado - é preciso primeiramente definir o objetivo da educação e o papel da escola. De acordo com Saviani (1984), o objetivo da educação é: Identificação dos elementos culturais que precisam ser assimilados pelos indivíduos da espécie humana para que eles se formem humanos e, de outro lado e concomitantemente, à descoberta das formas mais adequadas para atingir esse objetivo (SAVIANI, 1984, p. 2). Para o autor a educação é um trabalho não material, pois o produto não se sapara do ato de produção, assim como as ideias, os conceitos, os valores e os símbolos. O 9868
2 2 objetivo da educação dentro da escola é que os alunos possam assimilar estas informações que são exteriores ao homem e ao mesmo tempo, descobrir formas adequadas de alcançar este objetivo. Seguindo, a escola é uma instituição cujo papel consiste na socialização do saber sistematizado e para ter acesso a esse tipo de saber é necessário aprender a ler e escrever. O livro didático é um dos meios para assegurar aos alunos a aquisição do conhecimento sistematizado. Como aponta Soares (1996), antes do estabelecimento de programas e currículos, o livro didático estabeleceu-se historicamente como instrumento para assegurar a aquisição dos saberes indispensáveis às novas gerações na sociedade. Apesar de não ser o único instrumento no processo de ensino, o livro didático é fundamental, pois os livros didáticos cumprem o objetivo da escola na construção dos saberes sistematizados pelo alunos. Os livros didáticos são centrais na produção, circulação e apropriação de conhecimentos, sobretudo dos conhecimentos por cuja difusão a escola é responsável (LAJOLO, 1996, p.04). Nesse sentindo, o livro didático se tornou elemento fundamental da construção dos saberes da cultura escolar e das políticas públicas de educação. Assim o livro didático desempenha a função ideológica, já citada por Choppin (2004), não é neutro e desempenha sua função segundo os programas criados para sua produção e circulação. E, nesse caso, um olhar reflexivo deve ser direcionado para esta função que o livro didático cumpre. Apple (2001) afirma que a educação é constitutiva da política cultural. Segundo o mesmo, O currículo nunca é simplesmente uma montagem neutra de conhecimentos, que de alguma forma aparece nos livros e nas salas de aulas de um país (APPLE, 2001, p. 53). Isto nos induz a refletir sobre os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN): como eles surgiram? Como o PCN influencia nos conteúdos que são abordados nos livros didáticos? Uma abordagem sobre os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) é uma abordagem sobre políticas públicas, recordando como surgiram os PCNs? Com a introdução dos PCNs, em 1990, o Brasil participou da Conferência Mundial de Educação para Todos, na Tailândia e, desta conferência, nove países chegaram a um entendimento consensual de que havia a necessidade de tornar a educação fundamental universal. Com essa nova meta, o Ministério da Educação elaborou o Plano Decenal de Educação para Todos. Nota-se, no texto constitucional, o acréscimo dos encargos do poder público para com a educação de todos, priorizando o ensino fundamental, e atribuindo aos Estados e Municípios a participação com recursos financeiros. 9869
3 3 A norma contida na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), nº 9.394, aprovada em dezembro de 1996, estabelece a consolidação e ampliação o dever do poder público para com a educação em geral e em particular para com o ensino fundamental. No capítulo II da seção I, denominado de educação básica, fica estabelecido no art. 22 que a educação básica tem por finalidade desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores (LDB, 1996, p. 04). Incumbe ainda ao ensino fundamental a função de assegurar aos educandos os valores e os saberes necessários para o exercício da cidadania, assim como fornecer meios para eles progredirem, pois este é um trabalho contínuo. Os PCNs, fugindo do modelo curricular homogêneo, foram elaborados partindo da necessidade de renovar a proposta curricular, reelaborando assim o currículo com uma proposta flexível, possível de ser concretizada nas decisões regionais e locais, atribuindo autonomia aos professores para desenvolverem seu trabalho. Os autores Camacho e Almeida (2011) apontam para a necessidade de analisar os PCN, pois não se podem negar as influências das políticas públicas na formação do professor e dos alunos na educação básica, como aponta a própria definição no texto do PCN: Os Parâmetros Curriculares Nacionais constituem um referencial de qualidade para a educação no Ensino Fundamental em todo o País (BRASIL/SEF, 1997, p.13). Apontam também que é preciso voltar um olhar crítico para a função do PCN que vai muito além de orientar o sistema educacional, lembrando que os PCNs são parâmetros, desta forma, por mais flexível que apresente sua estrutura curricular, como parâmetros são idealizados propostas únicas desconsiderando as diferenças regionais, as peculiaridades de cada lugar, as singularidades de cada sala de aula. definem: O currículo não são apenas os PCNs. Libâneo, Oliveira e Toschi (2003) assim o Há muitas definições de currículo: conjunto de disciplinas, resultados de aprendizagem pretendidos, experiências que devem ser proporcionadas aos estudantes, princípios orientadores da prática, seleção e organização da cultura. No geral, compreende-se o currículo como um modo de seleção da cultura produzida pela sociedade, para a formação dos alunos; é tudo o que se espera seja aprendido e ensinado na escola (LIBÂNEO, OLIVEIRA, TOSCHI, 2003, p. 362). Esta definição aponta que não somente os conteúdos fazem parte do currículo. O que é então o currículo? É tudo que acontece intencionalmente de forma sistematizada 9870
4 4 no contexto escolar. Os autores definem três tipos de currículos - o formal, o real e o oculto. Para estes autores, os currículos formais são os estabelecidos pelos sistemas de ensino como os PCNs, as diretrizes curriculares; o currículo real é o que acontece na sala de aula, efeito do projeto pedagógico e dos planos de aulas, já o currículo oculto é chamado de oculto, pois não se manifesta claramente, esse currículo representa tudo o que os alunos aprendem pela convivência espontânea com as várias práticas, atitudes, comportamentos, gestos e percepções em vigor no meio social e escolar (LIBÂNEO, OLIVEIRA, TOSCHI, 2003, p. 363). À palavra currículo de acordo com Moreira e Candau (2007) associam-se distintas concepções, decorrentes dos diferentes modos de idealização da educação historicamente. Assim, segundo estes autores, o currículo vem sendo entendido como os conteúdos a serem ensinados e assimilados pelos alunos, as experiências de aprendizagem escolares, os planos pedagógicos, os objetivos educacionais, os processos de avaliação e os procedimentos selecionados nos diferentes graus da escolarização. Sendo os PCNs o parâmetro mínimo que estabelece conteúdos, objetivos educacionais, eles estão relacionados diretamente à elaboração e à avaliação dos livros didáticos. Os conteúdos são selecionados e organizados considerando-se as recomendações expressas por parâmetros, diretrizes e orientações curriculares oficiais. De acordo com o Edital de Convocação 02/2014 CGPLI, os livros didáticos que não obedecerem aos estatutos, às diretrizes e às normas oficiais que regulamentam o ensino fundamental serão excluídos. Qual a pertinência deste debate para o exercício docente? O papel do educador no processo curricular é, assim, fundamental. Ele é um dos grandes artífices, queira ou não, da construção dos currículos que se materializam nas escolas e nas salas de aula. Daí a necessidade de constantes discussões e reflexões, na escola, sobre o currículo, tanto o currículo formalmente planejado e desenvolvido quanto o currículo oculto. Daí nossa obrigação, como profissionais da educação, de participar crítica e criativamente na elaboração de currículos mais atraentes, mais democráticos, mais fecundos (MOREIRA e CANDAU, 2007, p. 19, grifos da autor). Abordar o currículo mínimo na educação básica, os PCNs, refletir também sobre o ofício docente e estar ciente das relações entre os currículos, os programas, permitem ao professor desenvolver um trabalho mais autônomo e consciente. 9871
5 5 Assim, conclui-se que o livro didático é um instrumento ideológico, fruto de programas governamentais e, como tal, tem uma finalidade que não pode ser deixada no esquecimento. O livro didático passa por diversas etapas desde os editais, avaliação das obras, a escolha pelos professores e a grande parte deste processo é alheio aos professores, ocorre sem a sua participação, o que não deveria ocorrer, uma vez que é o professor que fará uso deste instrumento, deveria ser, portanto, o sujeito mais ativo neste processo. REFERÊNCIAS APPLE, M. A política do conhecimento oficial: faz sentido a idéia de um currículo nacional? In: MOREIRA, A.F.; SILVA, T.T. (Org.). Currículo, cultura e sociedade. 3ª ed. São Paulo: Cortez, BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394/96, de 20 de dezembro de Disponível em :< Acesso em 20 de fevereiro de SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Parâmetros Curriculares Nacionais: introdução aos parâmetros curriculares nacionais. Secretaria de Educação Fundamental Brasília: MEC/SEF, CAMACHO, Rodrigo Simão; ALMEIDA, Rosemeire Aparecida de. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) do ensino fundamental em debate. Formação (Online), v. 1, n. 15, p.36-60, CHOPPIN, Alain. História dos livros e das edições didáticas: sobre o estado da arte. [online] Revista Educação e Pesquisa, São Paulo, v, 30, n.3, p , set/ dez LAJOLO, Marisa. Livro didático: um (quase) manual de usuário: In: Em aberto livro didático e qualidade de ensino. Brasília, ano 16, n LIBÂNEO, José Carlos. OLIVEIRA, João Ferreira de; TOSCHI, Mirza Seabra. As áreas de atuação da organização e da gestão escolar para melhor aprendizagem dos alunos. In: Educação escolar: políticas, estrutura e organização São Paulo: Cortez, p MOREIRA, Antônio Flávio Barbosa; CANDAU, Vera Maria. Currículo, conhecimento e cultura. Indagações sobre currículo, p , SAVIANI, Dermeval. Sobre a natureza e especificidade da educação. Em aberto, Brasília, v. 3, n. 22, p. 1-6, jul./ago SOARES, Magda Becker. Um olhar sobre o livro didático. Presença Pedagógica. Belo Horizonte, v. 2, n. 12, p , nov./dez
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