RESGATANDO O VESTUÁRIO DA ENFERMEIRA BRASILEIRA: RELATO DE EXPERIÊNCIA RESUMO

Transcrição

1 RESGATANDO O VESTUÁRIO DA ENFERMEIRA BRASILEIRA: RELATO DE EXPERIÊNCIA RESUMO INTRODUÇÃO: Elaborar novos trajes para diferenciar-se na aparência e na hierarquia, sempre foi o pensamento dominante na sociedade. Este artigo é um relato de experiência de docentes do curso de enfermagem do Centro Universitário de João Pessoa (UNIPÊ) referente à evolução histórico social do vestuário da enfermeira brasileira. OBJETIVO: relatar a experiência de um trabalho Integrador sobre o vestuário da enfermeira brasileira ao longo dos tempos. METODOLOGIA: O recorte temporal compreendeu o período de 1923 quando foi criada a 1ª escola de enfermagem nos moldes americanos até os dias atuais. Incialmente os alunos fizeram visita à uma unidade de saúde da família, acompanhadas de um docente e fizeram leituras em fontes secundárias da revista da Escola Anna Nery e de outras revistas científicas que publicaram sobre o tema. A seguir as alunas detectaram os tipos de tecidos e cores utilizadas em cada época e procuraram um estilista na própria loja que vende tecidos e solicitaram o desenho em croquis para então, serem levados à uma costureira. As alunas tiveram trinta dias para a exposição oral do estudo. RESULTADOS: Neste relato de experiência durante a apresentação no Congresso as alunas se apresentarão vestidas com os vários modelos que compuseram o vestuário da enfermeira brasileira. Observou-se que o trabalho possibilitou reflexões por parte dos alunos sobre os vestuários atuais quando muitas vezes se apresentam totalmente fora dos padrões recomendados pelas Normas Regulamentadoras 32 do Ministério do Trabalho e Emprego e até mesmo o estético. CONCLUSÃO: Atividades como estas facilitam um aprendizado ímpar para o acadêmico. PALAVRAS CHAV E: História da enfermagem. Emblemas e Insígnias. Vestuário.

2 1 INTRODUÇÃO À luz da modernidade, os vários tipos de vestuários usados pelas alunas e docentes da primeira escola de Enfermagem brasileira, a Anna Nery (EEAN), sinalizavam uma formação profissional, moral e religiosa rígida, em busca do reconhecimento e visibilidade da enfermeira diplomada pela referida Escola (PERES; BARREIRA, 2003). Desde o início da Escola de Enfermagem Anna Nery, em 1923, primeira escola brasileira nos moldes Nightingaleano e mesmo após sua inserção, em 1937, na Universidade do Brasil, atualmente, Universidade Federal do Rio de Janeiro, que seus emblemas e rituais foram incorporados em outras escolas, colocando a Escola Ana Nery na condição de centro difusor de tradições inventadas. É oportuno mencionar que Florence Nightingale foi considerada o modelo de enfermeira a ser seguido para a criação dos primeiros cursos de enfermagem nos países que adotaram o sistema Nightingaleano, As alunas do curso de enfermagem eram consideradas enfermeiras padrão. (PADILHA et al, 2009, p. 668, grifo do autor). Os rituais e emblemas se constituíram em instrumentos simbólicos importantes, pelo fato de proporcionarem a visibilidade da imagem da enfermeira diplomada (TOLEDO, et al, 2008). A literatura pertinente sobre a temática evidencia os vários emblemas instituídos pela EEAN, dentre eles o vestuário, que passaram a fazer parte do dia a dia das instituições de Enfermagem, ao longo da trajetória da História da Enfermagem brasileira. A motivação em elaborarmos este relato, mais especificamente sobre o vestuário dos enfermeiros, surgiu após a apresentação do Trabalho Integrador de alunas do primeiro período do curso de Enfermagem, do componente curricular Enfermagem: história, profissão e prática social do Centro universitário de João Pessoa, um requisito parcial da terceira avaliação do semestre sob a orientação de uma professora integradora de todas as disciplinas do período e uma banca examinadora composta por três docentes das várias áreas do conhecimento para avaliar cada exposição oral. A outra motivação para por em prática este estudo deve-se à nossa inserção como docentes dos componentes curriculares do primeiro período.

3 Neste trabalho será abordada a ferramenta pedagógica denominada Projeto Integrador desenvolvido no curso de enfermagem para que os discentes, ao final do semestre, demonstrem de forma inovadora, de que perceberam a interdisciplinaridade dos componentes curriculares do período. 1.1 A LINGUAGEM DAS ROUPAS As vestimentas sempre traduziram um estilo de vida e/ou uma necessidade de diferenciação, este pensamento perdurou durante toda a história da sociedade humana. Elaborar novos trajes para diferenciar-se na aparência e na hierarquia, sempre foi o pensamento dominante na sociedade. No século XXI, a roupa continua servindo de recurso ora para ostentar riquezas, ora para diferenciar determinadas profissões, o que com o desenvolvimento da indústria se convencionou chama de fardas, onde poderíamos distinguir através das mesmas os espaços ocupacionais dos indivíduos. Acreditamos que ainda é uma das formas que o ser humano encontra para se manifestar por meio das roupas e acessórios o pertencimento a uma determinada classe social que o diferencia e individualiza. Entender a importância do vestuário nas relações sociais, e o poder que a roupa farda exerce sobre os indivíduos, nos faz entender como determinados tipos de vestimenta na sociedade contemporânea serve para que possamos identificar os espaços ocupados pelos indivíduos na sociedade, como também desconstruir alguns estereótipos sobre o vestuário apresentado pelo homem socialmente. Determinadas vestimentas têm sua importância no sentido da praticidade e da necessidade do indivíduo. Neste sentido o entendimento das vestimentas utilizadas pelos profissionais da enfermagem ao longo da trajetória desses profissionais nos permite entender a trajetória temporal e espacial desses profissionais. Cerejeira (2012 p. 2) ao analisar o processo evolutivo da moda e suas novas tendências, nos mostra que as identidades comportamentais de um povo, é fundamental para entender como o ser humano se relaciona com o corpo, e como se comunica com os outros indivíduos nos diversos grupos sociais(...). Alguns estudos realizados a luz da antropologia, evidenciam que as vestimentas não são simplesmente as roupas, os artefatos, os utensílios, os adereços, mas um sinal

4 de que a trajetória humana não se resume à sobrevivência, à luta pela vida, mas transcende o cotidiano e nos remete a um animal situado também no plano simbólico, na esfera dos significados. A vestimenta sempre será nossa principal referência a através delas podemos entender como padrões e de comportamento são adotados temporariamente por uma sociedade. 1.2 O VESTUÁRIO DA PRIMEIRA ESCOLA DE ENFERMAGEM BRASILEIRA O modo de vestir dos sujeitos, está representado não apenas pelas mudanças na forma de pensar dos grupos, dos indivíduos e dos costumes de cada época, como também nas tendências políticas, sociais e culturais. Laurie, citada por Peres; Barreira (2014) assegura que roupa evidencia atributos e características dos seus usuários, assim como o tempo em que ela está inserida. As roupas têm uma linguagem peculiar e comunicam sobre o sexo, a idade e a classe social de quem as usa, fornecendo informações importantes quanto ao trabalho, origem, personalidade, gostos e humor da pessoa naquele momento. No Brasil, a Escola de Enfermagem Anna Nery desempenhou um papel importante na efetivação de identidade da profissão, implantando o Curso de Enfermagem no modelo idealizado por Florence Nightingale, inventando tradições relacionadas aos símbolos da profissão (broches, braçadeiras, lâmpada, touca, uniformes, hino e culto a personalidades). A inspiração religiosa e militar, inicialmente adaptados de escolas americanas, era utilizada como modo de internalizar a hierarquia e a disciplina, contribuindo para a formação da identidade da profissão (SANTOS, 2004). Os uniformes foram se adequando as necessidades da época, até porque se constituíam em um elemento de ordem e hierarquia. Pesquisa realizada por Peres e Padilha (2014), mostra o uniforme como signo de uma nova identidade da enfermeira no Brasil, através de levantamento fotográfico em fontes primárias da Escola de Enfermagem Anna Nery. As referidas fotografias, na

5 condição de fonte secundária serviu para subsidiar este estudo, conforme apresentadas a seguir: Fonte: Escola de enfermagem Revista Anna Nery v.18, n Analisando a fotografia acima apresentada, constatamos o quanto as estudantes da Escola de Enfermagem Anna Nery incorporaram a questão do uniforme em suas identidades pessoais, denotada pela postura assumida no que se refere ao sentar-se. Fonte: Escola de enfermagem Revista Anna Nery v.18, n Na análise da fotografia acima apresentada, percebemos o quanto o uniforme representa um símbolo identificador de uma hierarquia. No centro encontra-se a docente que se apresenta com um uniforme de mangas compridas e gola, além da touca sem

6 ponta e um viés discreto, caracterizando uma posição superior à das alunas que se apresentam com touca pontiaguda e com abas, sem listra. A vestimenta é com gola e manga curtas com punho largos e por cima um avental com a parte superior arredondada. Vale ressaltar a postura no sentar e o quanto o vestuário de todas era impecável. Fonte: Escola de enfermagem Revista Anna Nery v.18, n A fotografia acima trata de uma visita de enfermeiras Américas de um Hospital da Philadelphia. Percebemos mais uma vez as semelhanças dos uniformes usados por elas e os adotados pela Escola de Enfermagem Anna Nery, denotando a identidade profissional. Fonte: Escola de enfermagem Revista Anna Nery v.18, n

7 As fotografias acima registram a solenidade de recebimento da touca das alunas da Escola Anna Nery, em uma solenidade festiva, motivo de orgulho tanto para quem impunha a touca, quanto para quem a recebia. 1.3 A NORMA REGULAMENTADORA 32 Na atualidade as enfermeiras não vestes mais um modelo único como foi possível perceber nesse estudo e as escolas de enfermagem também não tem uniforme padronizado, no máximo uma bata com a logomarca da instituição. Acreditamos que essa postura adotada na contemporaneidade pelas escolas de enfermagem leva a sociedade em geral a não saber quem é o profissional enfermeiro confundindo ele muitas vezes com profissionais de outras áreas do conhecimento, ou até mesmo desconhecendo o profissional. Entretanto, existe uma Norma Regulamentadora 32, conhecida como NR-32, criada pelo Ministério do Trabalho e Emprego que estabelece as diretrizes básicas para a implementação de medidas de proteção à segurança e à saúde dos trabalhadores que atuam em qualquer tipo de edificação destinada a prestar assistência à saúde da população. Contempla os Trabalhadores da Saúde inclusive os que atuam no Ensino e Pesquisa, e não apenas os da área hospitalar. Assim, a NR-32 abrange as situações de exposição aos riscos biológicos; riscos químicos e riscos da radiação ionizante. A NR-32 faz referência à vestimenta daqueles profissionais, determinando em seus artigos normatizadores que A vestimenta deve ser fornecida sem ônus para o empregado (art ); os trabalhadores não devem deixar o local de trabalho com os equipamentos de proteção individual e as vestimentas utilizadas em suas atividades laborais (art ); o empregador deve providenciar locais apropriados para fornecimento de vestimentas limpas e para deposição das usadas (art ). A higienização das vestimentas utilizadas nos centros cirúrgicos e obstétricos, serviços de tratamento intensivo, unidades de pacientes com doenças infectocontagiosas e quando houver contato direto da vestimenta com material orgânico, deve ser de responsabilidade do empregador (art ); Na NR 32 também constam proibições, dentre elas, o uso de adornos pelos trabalhadores da saúde, principalmente aqueles que mantêm contato com agentes

8 biológicos. O artigo , letra "b" elenca os adornos: alianças, anéis, pulseiras, relógios de uso pessoal, colares, brincos, broches, piercings expostos, gravatas e crachás pendurados com cordão. Comparando essas iniciativas com as do início da atuação do pessoal de enfermagem, na década de 1923, é possível perceber que houve uma mudança muito grande onde a preocupação daquela época não era voltada para a questão do profissional. Também podemos inferir que muitos trabalhadores da saúde desconhecem essas proibições uma vez que é comum ver profissionais da saúde, e aqui vamos nos referir ao enfermeiro/a que, por exemplo, circula pelo hospital com um crachá pendurado no pescoço por um cordão, assim como, com brincos, pulseiras, relógios e anéis. 2 METODOLOGIA O desenvolvimento do Projeto Integrador aconteceu em quatro momentos os quais são apresentados a seguir: Primeiro momento: identificando a interdisciplinaridade dos componentes curriculares em uma unidade de saúde da família No início do semestre os alunos do primeiro período são agrupados em pequenos grupos para ir no turno da manhã ou da tarde, fazer uma visita técnica para fazer reconhecimento do que foi abordado em sala de aula pelos diversos componentes curriculares. Na Unidade, acompanhado de um docente e de posse de um roteiro vão observando e anotando tudo que entendem ser importante. Segundo momento: socializando com a turma as vivências durante a visita técnica Uma semana depois da visita técnica reunimos os alunos e professores do período para socializar o que foi percebido pelos alunos.

9 A partir dos relatos dos alunos os professores vão fazendo anotações para daí sair os temas a serem abordados pelos grupos no final do semestre. Esse momento tem a duração de quatro horas aulas, ou seja, todo o turno das aulas daquele dia. Terceiro momento: Buscando a literatura pertinente Agora já sabendo o tema que terá que desenvolver os alunos vão buscar a fundamentação científica. Recebem orientações sobre como formatar o trabalho segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), rigor gramatical, dentre outros, relativos aos componentes curriculares, uma vez que a interdisciplinaridade é o foco. Quarto momento: apresentando o fruto da pesquisa Nessa última etapa do projeto integrador é que os alunos apresentaram o objeto desse relato de experiência (ANEXO). A banca de docentes avalia as apresentações e ao término classificam os grupos indicando o 1º, 2º e 3º lugares. Esse grupo foi contemplado com o 1º lugar. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Através da atividade desenvolvida pelos alunos, percebemos a importância dessa modalidade de ensino para o aprendizado significativo do alunado. As atividades desenvolvidas em grupo e com visita técnica são de extrema importância porque vai levar o aluno a desenvolver as habilidades sócio emocionais solicitadas na atualidade e proporciona a aproximação já no primeiro período do curso com a realidade. Percebemos como positiva a participação dos alunos nas visitas técnicas, mostrando-se interessados em participar das visitas e de interagir com os profissionais da unidade de saúde, mais especificamente instigando-os a conhecer as atribuições do enfermeiro.

10 Conclui-se que atividades como estas incentivam os alunos a conhecer como o passado da profissão que escolheram para que possam mudar o que for necessário para dar maior visibilidade à profissão que escolheram. REFERÊNCIAS BRASIL. Norma Regulamentadora nº 32, de 11 de novembro de Estabelece normas de segurança e saúde no trabalho em serviços de saúde. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Ministério do Trabalho e Emprego, Brasília, DF, 16 nov CEREJEIRA, TLT. A moda e o vestuário como objetos de estudo da antropologia na compreensão das relações sociais, identidade e imaginário da sociedade contemporânea brasileira. Vivencia 40 Revista de Antropologia, n. 40, 2012 p PERES MAA, BARREIRA IA. Significado dos uniformes de enfermeira nos primórdios da enfermagem moderna. Esc Anna Nery Rev Enferm 2003 abr; 7(1): PERES MAA; BARREIRA IA. Significado dos uniformes de enfermeira nos primórdios da enfermagem moderna. Esc. Anna Nery Rev. Enferm 2003 abr; n.7, v. 1: SANTOS, TCF. Significado dos emblemas e rituais na formação da identidade da enfermeira brasileira: uma reflexão após oitenta anos. Esc. Anna Nery. 2004; 8(1):81-86

11