PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE Gabinete da Presidência

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1 PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE Gabinete da Presidência Suspensão de Segurança n.º Autor: Estado do Rio Grande do Norte. Réu: Juízo de Direito da Comarca de Currais Novos/RN. Relator: Desembargador João Rebouças - Presidente DECISÃO Trata-se de Pedido de Suspensão de Liminar formulado pelo Estado do Rio Grande do Norte em face da decisão prolatada pelo Exmo. Juiz de Direito da Comarca de Currais Novos que, nos autos da Ação Popular nº ajuizada por Ezequiel Pereira da Silva Neto, deferiu a liminar, no sentido determinar que Estado do Rio Grande do Norte "obedeça a ordem cronológica de pagamentos da folha de pessoal, especificamente que somente efetue os pagamentos dos vencimentos e proventos vencidos em 2019, após o integral pagamento dos vencimentos e proventos relativos aos meses de novembro e dezembro de 2018, assim como décimos terceiros salários de 2017 e Acrescento, para ser bem compreendido, que a presente decisão NÃO determina que o Estado do Rio Grande do Norte efetue pagamentos atuais ou atrasados, mas apenas que se ABSTENHA de pagar os vencimentos e proventos vencidos e a vencer em 2019, até o integral pagamento dos vencimentos e proventos relativos aos meses de novembro e dezembro de 2018, assim como décimos terceiros salários de 2017 e Nas razões do pedido de suspensão, após discorrer acerca do cabimento do pedido de suspensão de liminar, o Requerente afirma que, a decisão objurgada ofendeu à ordem pública, sobretudo diante da pública e notória crise financeira extremamente grave atualmente suportada pelo Estado do Rio Grande do Norte, com as folhas de pagamento sendo pagas com atraso, repasses duodecimais incompletos e níveis de investimento de custeio drasticamente atingidos. Relata que a completa escassez de recursos financeiros para adimplemento das obrigações essenciais a cargo do Poder Executivo levou a Governadora do Rio Grande do Norte a decretar, ainda no início do mandato, por meio do Decreto nº , de 2 de janeiro de 2019, publicado no Diário Oficial do Estado de ontem,

2 3/01/2018, estado de calamidade financeira no âmbito da Administração Pública do Estado do Rio Grande do Norte e que "diante do cenário de impossibilidade material de pagamento tempestivo da integralidade da gratificação natalina de 2017, bem como dos salários de novembro, dezembro e da gratificação natalina de 2018 aos servidores públicos do Poder Executivo, em virtude da total ausência de recursos para tanto, é inegável que a decisão impugnada gera gravíssima ofensa à economia pública estadual, na medida em que impede o Poder Executivo de, no exercício de sua competência exclusiva, organizar o seu fluxo de caixa e decidir a melhor alternativa para quitação gradativa de todas as suas obrigações, considerando a atual insuficiência de recursos para quitação de todas dívidas estaduais de forma simultânea". Assevera, ainda, que é evidente que decisão judicial impugnada, ao impedir a opção de pagamento elegida pelo Poder Executivo firmada em acordo com todos os servidores estaduais impede a divulgação de um calendário que traga um mínimo de previsibilidade e segurança jurídica para o servidor que aguarda o recebimento de sua remuneração em atraso, já que ao determinar o pagamento dos atrasados do ano anterior, retorna-se à situação de imprevisibilidade anteriormente vigente, na qual o pagamento da parcela salarial seguinte dependerá sempre do ingresso eventual e incerto de recursos futuros. Defende,também, que o Estado não atrasa os salários intencionalmente, mas sim porque não possuía recursos suficientes no momento, de forma que a solução deve passar pelo aumento de receitas e pelo corte de despesas, não podendo ser resumida a decisões judiciais que desconsideram a realidade da situação financeira estatal; que decisões como a ora impugnada agravam ainda mais a regularização dos pagamentos do funcionalismo ativo e inativo, pois apenas modificam a competência da parcela objeto de pagamento, sem, contudo, resolver o problema da insuficiência de recursos financeiros, além de prejudicar a necessária previsibilidade no pagamento de tais obrigações, o que gera aprofundamento da recessão econômica e o consequente arrefecimento da arrecadação fiscal, prejudicando ainda mais a economia pública, já comprometida com a utilização de vultosos recursos do tesouro estadual para a cobertura do déficit previdenciário; que o manejo da Ação Popular pela parte requerida, formulada com pedidos tipicamente mandamentais, é inadequado ao caso, sobretudo quando visam compelir o réu a praticar determinadas prestações positivas (obrigações de fazer); que não pode o Poder Judiciário substituir o Poder Executivo na eleição de prioridades de pagamentos sobretudo quando tal escolha foi resultado de consenso entre a administração e os próprios interessados, representantes dos servidores públicos, sob pena de violação ao princípio da separação de poderes; que

3 ao contrário do que defendeu a decisão objurgada - a atitude do Poder Executivo em efetuar pagamento dos salários referentes ao exercício atual antes da quitação do passivo do ano anterior - não ofende ao o art. 8º, parágrafo único, da Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar n. 101/2000), eis que a folha salarial é adimplida com recursos provenientes de impostos, cuja natureza é não vinculada por excelência, concluindo-se que o pagamento dos vencimentos relativos ao exercício de 2019 antes da quitação daqueles originados no exercício anterior em nada afronta a Lei de Responsabilidade Fiscal. e, por fim, que a opção realizada pelo Poder Executivo potiguar, em acordo firmado com os próprios servidores, repita-se, não ofendeu nenhum dispositivo legal ou constitucional, tanto é assim que "o Tribunal de Contas do Estado, em resposta à consulta realizada pela Controladoria-Geral do Estado acerca da possibilidade de proceder à antecipação do pagamento referente ao presente exercício, ratificou a legalidade de tal prática, mesmo ciente da existência de débitos do exercício anterior ainda em aberto". Ao final, entendendo demonstrado o grave risco de lesão à ordem e à economia públicas gerado pela decisão do Juízo a quo, e após trazer jurisprudência em prol de sua tese, requer a suspensão da eficácia integral da decisão interlocutória proferida pelo Juízo a quo, nos autos da Ação Popular n.º É o relatório. Decido. Convém registrar que, no âmbito dos feitos de suspensão de liminar/tutela antecipada ou de sentença, o julgador deve formalizar seu posicionamento observando se a decisão a qual se busca atribuir o efeito suspensivo causará grave lesão a um dos valores protegidos pelos ordenamentos legais que regem esta via excepcional, coibindo-se, dessa maneira, prejuízos à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas. Acerca da discussão, colhe-se a lição de Hely Lopes Meirelles: "Sendo a suspensão da liminar ou dos efeitos da sentença uma providência drástica e excepcional, só se justifica quando a decisão possa afetar de tal modo a ordem pública, a economia, a saúde ou qualquer outro interesse da coletividade, que aconselhe sua sustação até o julgamento final do mandado". (Mandado de Segurança, Ação Popular, Ação Civil Pública, Mandado de Injunção e Habeas Data, 14ª Ed., São Paulo: Malheiros, 2000, págs. 61/62). Digo mais, não cabe ao Presidente do Tribunal decidir sobre questões relacionadas à legalidade do provimento judicial vergastado, nem tampouco adentrar o mérito da demanda principal, sendo mister apenas observar, repita-se, se a decisão tem ou não o condão de vilipendiar os valores jurídicos elencados nas normas de regência.

4 No caso sob análise, pretende o Estado requerente suspender a decisão que determinou, em linhas gerais, que o pagamento dos servidores obedeça a ordem cronológica, ou seja, que somente efetue os pagamentos dos vencimentos e proventos vencidos em 2019, após o integral pagamento dos vencimentos e proventos relativos aos meses de novembro e dezembro de 2018, assim como décimos terceiros salários de 2017 e Da análise dos autos, sobretudo dos documentos que o compõem, e diante das peculiaridades inerente ao caso, utilizando os critérios da proporcionalidade e razoabilidade, em razão da excepcionalidade da espécie, concluo que o cumprimento da decisão objurgada nos moldes como proferida, tem o condão de acarretar lesão à ordem e economia públicas, bem como à autonomia do Estado. É que, resta comprovado ter o atual gestor estadual, diante do Decreto de calamidade publicado recentemente, firmou acordo com representantes de diversas categorias, onde restou estabelecido um calendário para definição das alternativas de regularização do pagamento dos salários, de forma que a decisão proferida pelo Juiz primevo infirma essa avença, impedindo a divulgação de um calendário que traga um mínimo de previsibilidade e segurança jurídica para o servidor que aguarda o recebimento de sua remuneração em atraso. Ora, determinar o pagamento dos atrasados do ano anterior (décimo de 2017 e alguns meses de 2018), retorna-se à situação de imprevisibilidade, na qual o pagamento da parcela salarial posterior dependerá, inevitavelmente, do ingresso eventual e incerto de recursos futuros, quebrando todo cronograma e planejamento já efetuado para regularização dos salários em atraso. Frise-se, ainda, a meu ver, que não obstante a decisão impugnada não tenha determinado pagamento de qualquer salário, atrasado ou atual, nos moldes como foi proferida impede o Poder Executivo de, no exercício de sua competência exclusiva, organizar o seu fluxo de caixa e decidir a melhor solução para quitação paulatinamente de todas as suas obrigações, considerando a atual e notória insuficiência de recursos para quitação de todas dívidas estaduais de forma simultânea, ocasionando inevitável e irreparável risco à ordem e finanças públicas. Por derradeiro, importante esclarecer dois pontos: primeiro, que não se pode desconhecer o louvável esforço da atual gestão do Estado do Rio Grande do Norte que, após intensas discussões e concessões recíprocas, junto a representantes dos servidores públicos civis e militares, conseguiu acordar pela definição de um calendário de pagamento que contemplasse a quitação tempestiva dos salários referentes ao exercício de 2019, aliado ao compromisso de buscar receitas

5 extraordinárias para a quitação do passivo salarial gerado em 2017 e 2018, segundo, que restou assumido, pelo Executivo Estadual, no acordo já mencionado, o compromisso de pagar as folhas salariais em atraso, obedecendo a ordem cronológica do passivo deixado pela anterior gestão, ajustando que serão carimbadas todas as entradas de recursos extras e antecipatórios para o pagamento dos salários atrasados, obedecida a seguinte ordem de pagamento: i) 13º salário de 2017; ii) Salário de novembro de 2018; iii) 13º salário de 2018 e; iv) Salário de dezembro de Face ao exposto, ponderando as peculiaridades do caso em análise, defiro o Pedido de Suspensão de Liminar, para sustar os efeitos da decisão proferida na Ação Popular n.º , preservando, desta feita, a ordem e a economia públicas do ente requerente. Comunique-se, imediatamente, o inteiro teor desta decisão. Publique-se. Intimem-se. Natal, 12 de fevereiro de 2019 Desembargador João Rebouças Presidente