Universidade de Aveiro, 15 de Julho de 2011 Conclusões da Segunda Reunião sobre Ungulados Silvestres Ibéricos
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1 Universidade de Aveiro, 15 de Julho de 2011 Conclusões da Segunda Reunião sobre Ungulados Silvestres Ibéricos A Segunda Reunião sobre Ungulados Silvestres Ibéricos consistiu na discussão de dois temas, considerados actuais e relevantes para um melhor conhecimento dos ungulados ibéricos e das suas populações: Gestão Cinegética de Populações de Ungulados e Censos/Monitorização de populações de ungulados. As principais conclusões destes workshops foram as seguintes: - a certificação cinegética funciona, cada vez mais, como uma ferramenta de promoção de práticas de gestão adequadas valorizando a compatibilização da actividade cinegética e a conservação da Natureza. Na Península Ibérica, a certificação cinegética encontra-se numa fase embrionária. Enquanto que em Portugal estão a ser dados os primeiros passos no sentido de tentar a sua implementação, em Espanha existem já alguns exemplos ao nível das comunidades autónomas, principalmente no sul do país. A certificação cinegética é um processo importante e quase inevitável no contexto actual. Contudo, o seu reconhecimento e valorização estará dependente da aceitação por parte do mercado. Ainda no âmbito deste tema, realçou-se que o processo de certificação cinegética deverá incorporar, para além da própria componente cinegética, uma componente ambiental e a gestão global dos recursos animais (cinegéticos e não cinegéticos) e dos seus habitats. - a gestão de espécies de caça maior em terrenos cinegéticos contíguos e com áreas reduzidas, característicos do norte da Península, é extremamente difícil. A pequena dimensão de alguns terrenos de caça chegou mesmo a ser apontada como um dos grandes problemas para gestão efectiva das espécies de ungulados cinegéticos, as quais necessitam de áreas consideráveis para realizar as suas movimentações diárias e sazonais. A gestão conjunta, abrangendo vários terrenos cinegéticos, deverá ser a opção mais viável para
2 solucionar este problema. Em Portugal, uma maior aposta na implementação dos Planos Globais de Gestão (PGG) como ferramenta para uma gestão eficiente das espécies de caça maior deverá ser considerada. Os PGG funcionam numa base idêntica aos sistemas aplicados nalgumas comunidades autónomas em Espanha, onde existem planos de caça de âmbito local que são integrados num plano global. Contudo, e ainda relativamente aos PGG, alguns problemas de gestão administrativa deverão ser resolvidos e uma maior cooperação entre entidades gestoras deverá ser desenvolvida. - o manejo, fomento e a exploração das espécies cinegéticas de caça maior estão, muitas vezes, relacionados com a alimentação suplementar e a sobreabundância de animais. Se, por um lado, a alimentação suplementar está associada a uma melhoria da qualidade dos troféus, a um aumento da condição corporal e da fertilidade das fêmeas e à manutenção de densidades elevadas, por outro, além de conduzir a alterações comportamentais e nos sistemas de acasalamento, também leva a um aumento da probabilidade de transmissão de doenças. Embora não tenha havido um consenso absoluto relativamente a esta temática, de um modo geral, houve concordância de que a gestão ideal deveria ser a que mais se aproxima dos sistemas naturais. Sendo a alimentação suplementar uma prática opcional, é importante que se conheçam e avaliem os riscos associados (e.g. impactos na vegetação, problemas sanitários e alterações comportamentais). - a componente sanitária é fundamental na gestão de populações animais. Debateu-se sobre a importância da presença de veterinários para efectuar a inspecção dos animais abatidos, após a actividade cinegética e sobre a necessidade de uma maior consciencialização, formação e participação das entidades gestoras e dos próprios caçadores em todo o processo de examinação das peças de caça. O envolvimento dos vários intervenientes foi considerado fundamental não apenas por razões de saúde pública, mas também no sentido de controlar e reduzir a disseminação e transmissão de doenças, adoptando práticas correctas no que concerne à eliminação dos subprodutos da caça. Durante a discussão, foi dada especial importância à tuberculose bovina, uma doença reemergente, zoonótica e partilhada entre ungulados selvagens e domésticos. Salientou-se a importância da eliminação de factores de risco na disseminação e transmissão desta doença, entre os
3 quais se referem a redução de pontos de agregação (água e alimento), a redução das densidades animais e a correcta eliminação dos subprodutos da caça. Ao nível das espécies domésticas, considerou-se que o Estado deveria definir medidas efectivas de controlo das espécies vivas, uma vez que a inspecção dos animais em vida é tão importante como a inspecção pos-mortem no controlo das doenças. Finalmente, a criação de leis referentes à gestão cinegética, nomeadamente à inspecção sanitária, deve ser efectuada com base nos recursos, necessidades e escala/dimensão dos problemas. - qualquer programa de monitorização deve ter por base uma correcta e sólida estimativa das densidades populacionais. Esta estimativa: i) permite detectar as flutuações e tendências das populações; ii) funciona como medida que possibilita a avaliação dos planos de gestão de determinadas populações e iii) permite identificar a quota anual de abate que as populações podem suportar. - a escolha de determinado método de censo, e para uma determinada espécie de ungulado, deve ter em linha de conta vários factores, dos quais foram destacados os seguintes: (i) área de estudo; (ii) a questão à qual se quer responder; (iii) qual a precisão e exactidão requerida; (iv) quais os recursos técnicos e humanos disponíveis; e (v) a própria biologia da espécie (i.e. se é ou não esquiva, etc.). Quanto mais controlados estes factores estiverem, maior será a precisão das estimativas. - para o corço foi dado como exemplo o norte de Espanha, onde é bastante utilizado o método de contagem de excrementos, uma vez que são áreas bastante grandes e os recursos disponíveis (i.e. número de pessoas) para efectuar o censo são escassos. Assim, para vastas áreas e para populações com baixas densidades, os transectos lineares de contagem de excrementos é considerado um bom método. Contudo, torna-se fundamental o cálculo rigoroso das taxas de defecação e decaimento para a área em questão, uma vez que dependem do tipo de habitat e condições meteorológicas local. Em situações de baixa densidade, por exemplo, a realização de um maior número de réplicas irá aumentar a precisão das estimativas. Além da estimativa de densidades, outro parâmetro que se reveste da maior importância é a determinação da estrutura populacional. Desta forma, dever-se-á usar métodos directos
4 (aplicando o Distance Sampling), sempre que possível e quando devidamente assegurados todos os pressupostos. - para o veado/gamo foi referido o método de contagem direta em pontos fixos, em plena altura da brama, como sendo o método mais amplamente usado em toda a Península. Esta metodologia permite fazer uma estimativa de abundância e a determinação do sexo e da classe etária de cada animal observado. Para além deste, outros métodos complementares como a contagem de animais nos comedouros (no final do Verão) ou a contagem e recolha de hastes caídas, devem ser utilizados. Este último método parece ser viável nalgumas zonas de caça, especialmente vedadas. - no caso do javali, o uso de métodos indirectos, com recurso a indícios de presença, poderá ser bastante útil na produção de estimativas pontuais de densidades populacionais numa dada região (sistema de monitorização a curto-prazo). Este método fornece resultados bastante fiáveis, uma vez que já foi validado por outros métodos. A utilização de batidas e montarias para contagem de javalis (sistema de monitorização a longo prazo) deve ser reservado para acompanhamento de populações ao longo do tempo, pois permite, se realizado em condições padronizadas, a detecção de tendências demográficas. Por outro lado, o recurso a colares GPS permite o conhecimento das áreas vitais dos animais, assim como os seus padrões de actividade. Um método que forneceria boas estimativas de densidades, a curto-prazo, seria a contagem de excrementos ou amostragem fotográfica, com a aplicação do Distance Sampling. - para o sarrio foi sugerido que um bom método para estimar as suas densidades, são as contagens totais (pontos fixos) em determinadas épocas do ano, permitindo assim determinar o número mínimo de indivíduos numa área, bem como cartografar e mapear os grupos populacionais. Contudo, também é possível aplicar transectos (métodos directos) e aplicar o Distance Sampling. - para a cabra-montês, as abordagens são distintas em áreas distintas, havendo múltiplas aproximações. Foi referido o exemplo utilizado nos Pirenéus, onde são utilizados pontos fixos com a aplicação do Distance Sampling. São repetidos várias vezes ao ano (i.e. 4) em condições meteorológicas constantes. Este método torna-se bastante útil para densidades baixas e condições topográficas difíceis.
5 Como considerações finais salientam-se: 1. O consenso generalizado da existência de duas realidades distintas no norte e no centro-sul da Península Ibérica, dividindo-a em dois grandes blocos, quer em termos de ecossistemas, quer em termos de habitats associados. Este facto vai por isso, limitar a escolha da metodologia a aplicar; 2. É importante delinear metodologias padronizadas, uniformizando-as nestes dois grandes blocos de realidades distintas e que permitam assim, a comparação entre áreas. Contudo, dever-se-á usar um método comparativo, focando-se por isso, num cálculo de densidades, com o respectivo erro padrão e intervalo de confiança, em alternativa ao cálculo de abundâncias. Assim, um método consensual a nível ibérico, que possa ser aplicado em diferentes situações, deverá ir de encontro a procedimentos padronizados; 3. Uma opinião transversal em toda a discussão foi que tão importante quanto as estimativas de densidade são outros parâmetros demográficos, tais como a estrutura etária e sexual; 4. É também importante saber qual a influência da gestão levada a cabo numa dada região na densidade populacional de uma dada espécie nessa área. Devem encontrar-se outros indicadores que permitam avaliar o estado da população, assim como avaliar a sua produtividade ao longo do tempo; 5. A densidade esperada da população limita a escolha do método: para populações com baixa densidade, dever-se-á utilizar métodos de censo indirectos, uma vez que métodos directos não poderão fornecer estimativas de densidade mais reais ; 6. Todos os métodos (directos e indirectos), quando bem aplicados, podem fornecer boas estimativas de densidade e abundância, significativamente correlacionadas entre elas; 7. É importante fazer a distinção entre a contagem de densidades: o cálculo de densidades que é feito em gestão cinegética (ex. herdades ) e o cálculo de densidades feito em investigação científica. Aveiro, 15 de Julho de 2011 Carlos Fonseca, Rita Torres, Pelayo Acevedo, Eduardo Ferreira, João Santos, João Carvalho, Tamira Cruz, Sara Marques, David Migues, Tony Fernandes
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