Intervenção de Jorge Abrantes nas comemorações do Dia Nacional dos Pescador em Peniche

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1 Intervenção de Jorge Abrantes nas comemorações do Dia Nacional dos Pescador em Peniche 30 de Maio de 2010 Mais uma vez a cidade de Peniche promove a comemoração deste Dia Nacional, dia que pretende homenagear o pescador nas diversas comunidades de pesca do nosso País, homenagem essa que, na nossa perspectiva, deve ser também extensível a todo o conjunto de trabalhadoras e de trabalhadores que embora não exercendo directamente a sua actividade profissional a bordo de embarcações, contribuem diariamente para o reconhecimento deste tão importante sector de actividade económica nacional que é o sector da pesca. Para além da justiça e do mérito associados à definição deste dia nacional, ele tem servido para que, pelo menos uma vez por ano e em vários portos de pesca do País, sejam enunciados os problemas que afectam os pescadores em particular e o sector da pesca em geral, e se apontem algumas soluções de âmbito local, nacional e mesmo comunitário tendentes à sua resolução, contando com a colaboração da comunicação social que, pelo menos nos dias anteriores e seguintes ao 31 de Maio faz eco destas comemorações e das preocupações apresentadas. E fazemos esta homenagem em plena zona portuária do Porto de Peniche, nesta Ribeira velha, local tão cheio de memórias sobre a forma com a actividade da pesca se desenvolveu neste concelho.

2 Numa primeira apreciação da situação no nosso porto de pesca nunca é demais salientar a importância do porto de Peniche no contexto nacional do sector da pesca. Quer em termos do volume e do valor do pescado desembarcado, da importância da indústria de conservas e de congelados, dos estaleiros navais ou das estruturas portuárias, da investigação científica, da localização das bases de compras de algumas das principais cadeias nacionais de distribuição, Peniche surge sempre num lugar cimeiro, o que, agrupando todas estas diversas realidades, confere ao porto de Peniche o estatuto inequívoco de um dos principais portos de pesca de Portugal projectando-o também como aquele que, no panorama nacional, se apresenta com as condições necessárias para poder consolidar esse protagonismo e esses lugares cimeiros. Entre os aspectos mais relevantes ocorridos nos últimos 12 meses e que dizem respeito a questões associadas ao sector das pescas permitam-me salientar alguns temas particulares, como são: A Segurança no mar A Certificação da pesca da sardinha portuguesa A Reforma da Política Comum de Pesca

3 Sobre a questão da Segurança, infelizmente não posso deixar de salientar o facto da insegurança continua a reinar nos nossos mares, pois não há memória, nas últimas décadas, de um inverno tão rigoroso e de um número tão grande de naufrágios ao longo da costa, num espaço tão curto de tempo. De facto, entre Dezembro de 2009 e a data de hoje, ocorreram 11 naufrágios de Norte a Sul do Continente e nas Regiões Autónomas, causando a morte a 16 pescadores. São números assustadores, responsáveis por muitos sofrimentos ao longo de toda acosta portuguesa e que nos obrigam a pensar sobre quais as formas de evitar a ocorrência de tão trágicos acidentes. Julgamos assim ter sido bastante importante o facto de hoje de manhã termos acompanhado uma sessão prática de Formação do Curso de Segurança e Sobrevivência no Mar, promovido pelo Centro de Formação Profissional das Pescas e do Mar (For - Mar). Ficou perfeitamente demonstrada a importância da formação profissional para poder preparar os nossos pescadores com os conhecimentos e as capacidades de resposta nas situações de infortúnio, e Foi também reconhecida a necessidade de incentivar o debate sobre a segurança no mar e de realizar jornadas específicas de reflexão sobre essa temática, envolvendo todas as entidades mais directamente relacionadas com esta matéria, designadamente a Mutua dos Pescadores, as demais companhias seguradoras e as Associações de Armadores,

4 CERTIFICAÇÃO DA PESCA DA SARDINHA A sardinha capturada na costa portuguesa foi a primeira pescaria da Península Ibérica a obter em Janeiro de 2010 o rótulo azul com a certificação de sustentabilidade e boa gestão dos recursos piscatórios MSC ( Marine Stewardship Council ), Este processo foi requerido em 2007 pela ANOPCERCO - Associação Nacional das Organizações da Pesca do Cerco, e para se chegar à aprovação final, toda a cadeia da sardinha foi vistoriada a pente fino por peritos internacionais. A certificação de sustentabilidade e boa gestão da actividade piscatória, reconhece que todo o processo, desde a pesca da sardinha até à chegada à mesa dos consumidores, respeita a sustentabilidade dos recursos marinhos. As capturas efectuadas pelas embarcações associadas das Organizações de Produtores da Pesca do Cerco - que representam 95% da produção de sardinha em Portugal - podem, a partir de 2010, ser portadoras do ecorótulo azul do MSC, que é reconhecido internacionalmente. A certificação abrange todas as embarcações de pesca cuja actividade principal é a pesca do cerco e constituiu um importante passo na defesa de toda a fileira nacional da sardinha, porque vai a responder aos interesses e às expectativas do mercado e dos consumidores e a ir ao encontro dos objectivos da Politica Comum de Pesca que promete vir a dar ainda um cada vez maior relevo ao respeito pelas temas do ambiente e da sustentabilidade.

5 Reforma da Política Comum de Pesca Com a divulgação, do chamado Livro Verde sobre a Reforma da Política Comum de Pesca, a Comissão Europeia, iniciou um processo de debate sobre o futuro da pesca na União Europeia,. Esta discussão pretende instituir uma intervenção racional e responsável sobre os recursos da pesca, através de uma gestão que garanta a preservação das espécies e a melhoria da rentabilidade económica do sector, principalmente daqueles que tradicionalmente mais dependem dos rendimentos obtidos do mar. A actividade pesqueira deve ser reconhecida como muito importante particularmente pelo elevado emprego directo e indirecto que promove em regiões onde as alternativas económicas e sociais são escassas. A reforma da PCP deve criar mecanismos de promoção da concentração da oferta, nomeadamente os que forem desenvolvidos pelas Organizações de Produtores, visando a melhoria da comercialização dos produtos da pesca, o aumento do seu valor acrescentado e, por consequência, a obtenção de um maior rendimento dos pescadores. O importante é que a reforma da Política Comum de Pesca consiga garantir o futuro da pesca, com a manutenção dos postos de trabalho e a melhoria das condições de vida dos pescadores garantindo as possibilidades de desenvolvimento das zonas costeiras mais dependentes dessa actividade.

6 É por isso que afirmamos ser necessária uma nova política de pesca na Europa, uma política que defenda os interesses nacionais, uma política de efectiva coesão económica e social, capaz de promover o emprego, capaz de assegurar um efectivo futuro para o sector da pesca em Portugal e, assim poder contribuir para promover de uma forma consequente o desenvolvimento da cidade de Peniche. Não poderia acabar a minha intervenção sem fazer referência a grandiosa jornada de luta que se efectuou ontem em Lisboa. Em resposta a uma política de desastre nacional que nos querem impor e que é baseada nas reduções dos salários e das pensões, no aumento dos preços, nos cortes no subsídio de desemprego e nas prestações sociais, nos cortes no investimento público, nas privatizações, mais injustiças e mais exploração, largos milhares de pessoas manifestaram o seu descontentamento e a sua vontade em exigir novas políticas para a nossa economia. A política que está a ser seguida nem resolve o problema económico, nem resolve o problema orçamental. Como é que podemos ter crescimento económico se se quebra o investimento se se anunciam novos sacrifícios para os trabalhadores, com reduções nos salários e nas reformas, e, por essas vias, se promove o desemprego e se reduz a procura interna? O sector das pescas é um bom exemplo do que deveria ser um sector que poderia promover o emprego, que representa a defesa da produção nacional e também da soberania nacional,

7 Termino manifestando o desejo de ouvir durante as comemorações locais do Dia Nacional do Pescador no próximo ano intervenções dos representantes dos agentes económicos que salientem pela positiva aquilo que vai ser realizado nos próximos 12 meses. Seria um sinal que as pescas em Peniche, apesar das adversidades com que o sector se confronta, estão a conseguir construir uma imagem moderna e sustentada da actividade que sempre esteve associada á nossa cidade. Julgo que temos vontade e capacidades para responder positivamente a este desafio.