Resumo. GT Produção Laboratorial Impresso Jornal cultural 2ª Opinião Márcia Eliane Rosa Professora de Jornalismo, doutoranda na ECA/USP

Transcrição

1 GT Produção Laboratorial Impresso Jornal cultural 2ª Opinião Márcia Eliane Rosa Professora de Jornalismo, doutoranda na ECA/USP Resumo O 2ª Opinião - Espaço cultural é um jornal-laboratório que vem sendo publicado, desde o primeiro semestre de 2001, como instrumento prático na aprendizagem dos alunos dos 4º e 5º semestres da habilitação de Jornalismo da Faculdade Prudente de Moraes, Itu- SP. Trata-se de um jornal mensal que tem como pautas assuntos culturais da região, que envolvem temas relevantes para o público interessado em teatro, música, cinema, arquitetura, história, folclore e lazer em geral. Tem na proposta editorial o objetivo de fomentar a discussão nas medidas tomadas em relação às políticas culturais e ao trabalho de ação cultural na cidade e região. Em 2003, o Jornal estabeleceu uma parceria com o Museu Republicano Convenção de Itu e o Museu Paulista da Universidade de São Paulo (Museu do Ipiranga), que serviram como importante fonte para a produção das pautas. Este encontro proporcionou uma experiência interessante na exploração das matérias culturais com a proposta de gerar reportagens reflexivas e bem contextualizadas, além de desenvolver a relação do aluno com a sociedade e fundamentalmente incentivar a pesquisa na experimentação laboratorial do jornalismo.

2 Jornal 2ª Opinião: Um espaço para a reportagem cultural Introdução O Jornalismo cultural, na maioria das vezes, gera significados agradáveis para os estudantes de jornalismo. Ao ouvir este termo logo é estabelecida uma relação entre a prática jornalística e o divertimento. De alguma forma sentem-se à vontade neste universo cultural. E antes de qualquer reflexão sobre esta especialidade do jornalismo, os alunos começam a produzir pautas muito parecidas com o que temos nos jornais diários, com reflexo da agenda de produtos culturais. Há uma resistência em compreender que é possível pensar em reportagens que abordem as questões culturais da cidade ou da região, sem estar vinculado aos lançamentos, estréias espetáculos, etc. Partindo desta dificuldade na pauta é que iniciamos o trabalho laboratorial com 2ª Opinião- Espaço cultural, um jornal-laboratório que vem sendo aplicado, desde o primeiro semestre de 2001, como instrumento prático na aprendizagem dos alunos dos 4º e 5º semestres do curso de Jornalismo da Faculdade Prudente de Moraes em Itu-SP. Trata-se de um jornal de assuntos culturais da região que envolve temas relevantes para o público interessado em teatro, música, cinema, arquitetura, história, folclore e lazer em geral, com uma proposta editorial clara de fomentar a discussão nas medidas tomadas em relação às políticas culturais e ao trabalho de ação cultural. O jornal laboratorial originou-se da preocupação de preparar os alunos para a produção de reportagens, orientada pela disciplina Técnicas de Reportagem. O projeto teve uma contribuição, em 2003, através da parceria estabelecida com o Museu Republicano Convenção de Itu e o Museu Paulista da Usp, representados pela Samur - Sociedade Amigos do Museu Republicano Convenção de Itu. Através desta união foi possível, ao mesmo tempo em que se desenvolveu a relação do aluno com a sociedade 2

3 pôde-se fundamentalmente incentivar a pesquisa na experimentação laboratorial do jornalismo. A pesquisa e a reportagem no jornalismo cultural Com a parceria, o jornal passou a dedicar uma página de seu espaço para a produção de matérias originadas da pesquisa nos arquivos e biblioteca do Museu. Esta rotina fez com que os alunos pesquisassem sobre a história da cidade de Itu e região e a partir de conhecimentos históricos e documentos raros pudessem produzir pautas que sugeriam a reflexão cultural. Portanto, o comportamento histórico-cultural da região passou a fazer parte das edições e fez com que os alunos percebessem que o jornalismo cultural não é sustentado apenas pela agenda de acontecimentos. A compreensão do próprio jornalismo cultural gera polêmica e confusão entre os alunos. A questão central provavelmente está na própria definição de cultura. O esporte, a ciência e a economia junto com a política parecem editorias que estão muito bem delimitadas com suas características intrínsecas e explícitas. Mas a cultura sofre com esta definição, afinal, o que realmente devemos tratar nesta cobertura jornalística? Para Coelho (1996), este termo jornalismo cultural se trata apenas de um vício de linguagem, algo que se nomeou para tratar os produtos da indústria cultural. O que se pode dizer desde logo, e isto deve dar a exata dimensão do fenômeno, é que a expressão jornalismo cultural revela-se consideravelmente tautológica - porque jornalismo é, em ampla medida, apenas um outro nome para cultura, o modo atual da cultura (p.101). Assim o jornalismo tenta delimitar a idéia de cultura para exercer seu trabalho. A cultura neste campo está voltada para o mercado cultural, onde fica claro identificar seus produtos. Aqueles que expressem idéias, valores, atitudes e criatividade artística e que oferecem entretenimento, informação ou análise (Coelho:1997, p.318). Todos estes produtos podem ser utilizados em qualquer uma das estratificações como popular, massivas ou elitizadas. A cobertura das sete artes 3

4 Entendendo como cultura os produtos da indústria cultural, a cobertura jornalística tratou de enfocar seu trabalho em cima das práticas culturais: as sete artes (cinema, música, teatro, escultura, pintura, arquitetura, literatura) e recentemente passou a englobar ainda moda e gastronomia dentro da cobertura. No jornalismo cultural, a liberdade de pauta e o trabalho de reportagem estão sufocados pela ordem do mercado. O jornalista passa a fazer o papel de correia de transmissão de uma indústria determinante do que deve ou não ser publicado. Poucas são as vezes em que os veículos conseguem apresentar alternativas para o consumo cultural, ou mesmo, alternativa de um produto jornalístico empenhado em apresentar algo novo, mesmo que seja de produtos massificados. Para a jornalista e crítica de arte Angélica de Moraes, esse panorama se complica mais ainda na questão das artes visuais, que considerada como "arte erudita", é muitas vezes ignorada não só pelo leitor como pelo jornalista que trata o assunto. No papel de crítica de arte, Angélica de Moraes analisou as condições em que são produzidos os textos nessa área e atentou para os fatores negativos da determinação do mercado. Para ela "os jornalistas parecem disputar o papel de bons moços, obedientes e prestimosos. Diante da avalanche de pautas e releases da indústria cultural". 1 Assim, o jornalista também passa a ser objeto dessa indústria, não refletindo sobre o contexto dos eventos. Para evitar este ciclo vicioso nas produções do jornalismo cultural é que experimentou-se neste jornal laboratorial incentivar não só a pesquisa, mas também a elaboração de pautas que refletissem o contexto cultural de Itu e região, não apenas apontando para os eventos e acontecimentos no mundo das artes. O 2º Opinião pretende trabalhar com o aluno a importância da reportagem interpretativa neste campo jornalístico. 1 Angélica de MORAES. Paletra proferida no curso de jornalismo cultural, Cásper Líbero, 28/10/

5 A aplicação laboratorial do jornal O 2ª Opinião Espaço cultural é realizado pelos estudantes em todas suas etapas. A interferência do professor não deve afetar esta característica fundamental do instrumento prático. A Projeto tem a orientação da professora da disciplina Técnicas de reportagem, que media o processo de produção na função de editora geral. A proposta é de instrumentalizar os alunos para tal e estimulá-los a partir de suas idéias à análise de um universo maior de reflexão. A participação do professor é imprescindível no sentido de um trabalho crítico permanente e de assessoramento às atividades dos estudantes. O professor responsável pela disciplina possibilita a aplicabilidade dos conceitos trabalhados em sala de aula nas aulas práticas do jornal-laboratório, ou seja, no horário laboratorial. O jornal tem formato ofício com quatro páginas e impresso em papel couchê 75grs, duas cores. Sendo que a cada edição é alternada a variação de cores para que o jornal tenha destaque nos locais de distribuição gratuita. As fotos são determinadas a cada edição e produzidas pelos alunos. A tiragem é de mil exemplares. O 2ª Opinião visa atingir como públicos-alvo universitários, professores, estudantes secundários e interessados em cultura. A periodicidade é de quatro edições semestrais. A distribuição é realizada pelos próprios alunos e pela administração do Museu. São listados pontos estratégicos da Faculdade Prudente de Moraes, nos museus, universidades e espaços culturais diversos da região. As etapas de produção são distribuídas da seguinte forma: Pauta - Discussão das edições são realizadas nas reuniões de pautas entre professor (editor) e alunos. São considerados os envios de sugestões como informação sobre eventos, acontecimentos locais e sugestões dos alunos e comunidade. O Museu Republicano tem a participação através dos releases enviados. Produção de matérias e edição - Os textos, reportagens e fotos são produzidos pelos alunos de jornalismo, sob a supervisão dos professor orientador. As artes como ilustrações, 5

6 charge, etc, tem o apoio, se necessário, dos alunos do curso de Publicidade e Propaganda. A diagramação e gráfica são terceirizadas. Distribuição - São distribuídos para os alunos da Faculdade Prudente de Moraes pela equipe de redação do jornal e também em espaços culturais da região. O Museu também fica responsável pela distribuição nas escolas e museus. Esta experiência laboratorial tem rendido resultados satisfatórios no aprendizado dos alunos voltado para o jornalismo cultural. Vimos que a imprensa deste setor trabalha envolvida no processo da indústria cultural, pois a maioria dos veículos de comunicação trata o jornalismo cultural baseado em serviços, na agenda de eventos, elaborando menu de programação artística voltado para o que é produzido em tal indústria. Essa tendência tem enfatizado o aparecimento de críticos que apenas sugestionam o consumo de uma ou outra atração e, também, de textos muito parecidos que mostram os eventos e lançamentos da semana baseados no critério do que vende mais. Dentro deste quadro, é importante encontrar saídas e tentar fazer o que o jornalismo sempre se propôs que é recortar a realidade e refletir mais sobre a cultura brasileira, simplesmente, sem estereótipos ou tentativas conceituais. Buscar assim reportar e informar sobre o setor ao qual se destina. Hoje, o que é discutido como a busca do bom jornalismo cultural é trazer o novo à frente da agenda cultural, antecipá-la. Mas talvez seria melhor pensar em buscar o texto de reflexão e interpretativo. Com dificuldades comuns na produção jornalísticas de estudantes, estamos avançando nesta experiência. 6

7 BIBLIOGRAFIA COELHO, Teixeira. Modos culturais pós-modernos. Revista da USP. São Paulo, nº 29, fev, 1996, p Dicionário Crítico de políticas culturais. São Paulo: Iluminuras, FAPESP, COUTO, José Geraldo. Jornalismo, cultura e propaganda. Site Observatório da Imprensa. FOLHA DE S. PAULO. Um país aberto - Reflexões sobre a Folha de S. Paulo e o jornalismo contemporâneo. São Paulo: Publifolha, MACHADO, Cassiano Elek. A renovação cultural. Folha on-line. PIZA,Daniel. Jornalismo cultural. São Paulo: Editora Contexto, PRIGOL, Valdir. Notas de jornalismo cultural. Dissertação de mestrado. Universidade Metodista de São Paulo: junho de ROSA, Márcia Eliane. Os Eventos Culturais e a busca pelo público: uma análise do papel da mídia. Revista de Estudos do Curso de Jornalismo Puc-campinas. V. 4, nº 2, Julho/dezembro SODRÉ, Muniz. Reinventando a cultura: a comunicação e seus produtos. Petrópolis: Vozes