PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO
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- Benedita Corte-Real Bernardes
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1 Acórdão 7a Turma Atleta. Profissionalismo/Amadorismo. Vínculo de Emprego. Não se pode considerar amador atleta que atua em competições profissionais, recebendo remuneração fixa mensal, cujo valor é incompatível com ajuda de custo, além de estar sujeito a treinamento rigoroso supervisionado por técnico de clube desportivo. Presentes os requisitos ensejadores da relação empregatícia, impõe-se a declaração do vínculo. Inteligência do art. 2º e 3º da CLT. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de Recurso Ordinário provenientes da MM. 42ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, em que são partes: CLUBE DE REGATAS DO FLAMENGO, como recorrente, e CLAUDIOMIR IUNG DE OLIVEIRA, como recorrido. Inconformado com a decisão de fls. 100/105, de lavra do MM. Juiz Paulo de Tarso Machado Brandão, que julgou parcialmente procedente o pedido, o reclamado apresenta recurso ordinário, consoante razões de fls.110/116. Sustenta, em síntese, que: a sentença é nula por negativa de prestação jurisdicional completa, eis que não foi apreciada a argüição de prescrição parcial dos créditos trabalhistas; a inicial é inepta, pois o reclamante não informou as circunstâncias que ensejaram a sua dispensa, como a data do evento e quem o dispensou, tendo afirmado apenas que teve ciência da resilição contratual quando recebeu carta do empregador solicitando a desocupação do imóvel; o vínculo de emprego deve ser afastado, pois o reclamante era atleta amador; de acordo com a Lei /01, não pode ser considerado empregado ; nunca remunerou o autor, apenas contribuindo com ajuda de custo e incentivos de material; não ficaram comprovados os requisitos da relação de emprego; as contribuições previdenciárias e fiscais devem ser recolhidas mês a mês, devendo o autor com os valores correspondentes à sua quota; por não existirem irregularidades não se cogita na expedição de ofícios aos órgãos competentes. Depósito recursal e custas comprovadas às fls.118/119. Contrarrazões às fls. 121/127. Sem manifestação do Ministério Público, nos termos do inciso II, do art. 85, do Regimento Interno desta Casa. Proferido Acórdão (fls. 145/146), complementado pela decisão de fls. (149/150), a douta Turma considerou irregular a representação processual do reclamado, negando provimento ao recurso. Interposto Agravo Regimental pelo réu (fls. 152/159), foram apresentadas contra-razões (fls. 161/162), sendo-lhe negado provimento (fls. 166/169)
2 O reclamado apresentou recurso de revista (fls. 171/178), sendo ofertadas contrarrazões (fls. 184/187), obtendo provimento, mediante decisão da D. Quinta Turma do Col. Tribunal Superior do Trabalho (fls. 193/195) que, considerando regular a representação processual, anulou as decisões de fls. 145/146 e 167/169 e determinou o retorno dos autos à origem para que outra fosse proferida. É o relatório. V O T O CONHECIMENTO Por preenchidos os pressupostos de admissibilidade, conheço do Recurso Ordinário. MÉRITO DA NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL Afirma o recorrente que a sentença é nula por não ter se manifestado a respeito da prescrição argüida em defesa. As omissões das sentenças devem ser sanadas mediante oposição de embargos de declaração, o que não ocorreu. Assim, não há como considerar nula a sentença por omissão quanto à questão que não foi objeto de embargos de declaração. Ressalte-se que o recorrente limita-se a postular a anulação de sentença, sem sequer requerer que a prescrição seja analisada pelo Juízo ad quem. DA INÉPCIA A CLT prevê, em seu artigo 840, que a petição inicial deve conter "uma breve exposição dos fatos de que resulte o dissídio, o pedido, a data e a assinatura". Em face do princípio da simplicidade que anima o processo trabalhista, desnecessárias especificações nos moldes processuais civis, desde que as articulações conduzam a conclusão da existência de um direito e sua lesão. Ao contrário do que sustenta o reclamado, o reclamante afirmou às fls. 40/48 - aditamento à inicial - que foi dispensado pelo Diretor de Remo, Sr. Getúlio Brasil, indicando como data de dispensa aquela constante do Termo de Acordo de fls. 11/13, estando a petição inicial apta ao conhecimento. DA RELAÇÃO JURÍDICA Na processualística moderna, compete às partes expor, de forma clara e precisa, as circunstâncias fáticas que lhes sejam favoráveis e, em havendo resistência adversária, distribui-se o ônus da prova segundo a titularidade da alegação: ao autor, quanto aos fatos constitutivos do seu direito; ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do demandante (exegese dos arts. 818 da CLT e art. 333 do CPC). No caso presente, o réu não contestou o fato de o autor ser atleta do clube, na modalidade remo, limitando-se a alegar a inexistência de vínculo
3 empregatício, já que, segundo a defesa, era atleta amador e percebia apenas incentivos materiais e ajuda de custo de modo não profissional. Ao assim proceder fez com que para ele se deslocasse ônus probatório até então imposto ao reclamante, pois arguiu fato impeditivo do direito. Dele, entretanto, não se desincumbiu. Ao revés, às fls. 67, o reclamado comprova, através de autorizações de débitos bancários destinados ao reclamante, o pagamento de importâncias fixas mensais, confirmando como última remuneração aquela indicada na peça de ingresso - R$5.000,00. Em que pese o Código de Remo prever hipótese da prática amadorista do esporte - artigo 28 -, constata-se que não se trata da hipótese em tela. Isso porque referido dispositivo estabelece que (fls. 89/90): para efeito deste Código, remador ou timoneiro amador é o que pratica o esporte de forma amadorística identificado pela liberdade de prática e pela inexistência de qualquer forma de remuneração ou de incentivos materiais para atletas de qualquer idade, além das permitidas por este Código. No caso, além de o reclamante receber consideráveis importâncias fixas mensais, ocupava imóvel de propriedade do reclamado, cedido a título de comodato (fls. 14/16). Público e notório que diversas modalidades esportivas, apesar de classificadas como amadoras, envolvem patrocinadores, dirigentes, treinadores, atletas, etc., ou seja, um verdadeiro exército de pessoas que trabalham e empregam em nome do esporte, sendo esta a hipótese dos autos. Um exemplo direto é a Seleção Brasileira de Futsal, que já conquistou várias vezes o campeonato mundial da categoria (hexacampeã mundial), feito que só pôde ser alcançado, no competitivo mundo esportivo de hoje, com alto grau de profissionalismo de seus atletas, treinadores e dirigentes. A polêmica sobre o falso amadorismo é antiga em nosso País e as entidades esportivas, aproveitando brecha na legislação, ocultam a natureza trabalhista da relação, contratando atletas como amadores, sonegando encargos trabalhistas, sociais e fiscais. É o profissionalismo travestido de amadorismo. Presentes os requisitos legais, eventual enquadramento de atleta como amador não constitui óbice à caracterização de vínculo empregatício. Presente a onerosidade revelada pelo pagamento mensal de valores fixos, a não eventualidade, caracterizada pela incontestável habitualidade de treinamentos, com subordinação a técnico que os ministrava, caberia à reclamada demonstrar a alegada natureza diversa da empregatícia, o que não aconteceu. Configurado o vínculo empregatício, como no caso ocorreu, é de se confirmar a sentença de primeiro grau. DO IMPOSTO DE RENDA
4 Estabelece o art. 46 da Lei 8.541/92: O imposto sobre a renda incidente sobre os rendimentos pagos em cumprimento de decisão judicial será retido na fonte pela pessoa física ou jurídica obrigada ao pagamento, no momento em que, por qualquer forma, o recebimento se torne disponível para o beneficiário. Este é o critério que, justo ou não, deve sempre ser observado, pois decorrente da vontade do legislador. Não há dúvida que o inadimplemento do empregador que não quita suas obrigações trabalhistas no vencimento efetivamente pode ocasionar a elevação do imposto de renda devido pelo empregado, prejuízo que, ante o que estabelecem os artigos 186 e 927 do Código Civil, deve ser por aquele reparado. A título exemplificativo vamos examinar uma hipotética situação. Empregado percebe salário mínimo e, portanto, está isento de imposto de renda. O empregador, inadimplente, é condenado em Reclamação Trabalhista a pagar R$ 3.500,00 ao empregado a título de salários que não foram quitados em sua época própria. Sobre esta importância incidirá imposto de renda, sendo evidente o prejuízo deste que, inicialmente isento, passou a qualidade de contribuinte obrigatório da receita federal. Outras situações podem ocorrer, elevando a alíquota de incidência do imposto. A Lei nº 8.541/92 deve ser cumprida, ou seja, o imposto de renda incidirá sobre o rendimento pago no momento em que este se torna disponível ao reclamante. Entretanto, em havendo acréscimo deste tributo em relação aos valores que seriam devidos se as obrigações houvessem sido adimplidas em seus respectivos vencimentos, este acréscimo - deverá ser suportado pelo empregador, como postulado na exordial. Como a sentença determinou a responsabilidade integral do reclamado pelo recolhimento fiscal, dou parcial provimento para estabelecer que tal encargo deverá ser suportado apenas quanto ao acréscimo em relação aos valores que seriam devidos, caso os obrigações tivessem sido corretamente adimplidas. Dou parcial provimento. DOS RECOLHIMENTOS PREVIDENCIÁRIOS Em processos análogos vinha me manifestando no sentido de que, por absoluta falta de amparo legal, seria inviável transferir para o empregador a responsabilidade integral pelo pagamento das quotas previdenciárias. Entretanto, divergências jurisprudenciais e doutrinárias existentes me levaram a rever referido posicionamento. Isso porque, reza o artigo 33, parágrafo 5º da Lei nº 8212/91: Art.33 - Ao Instituto Nacional do Seguro Social - INSS - compete arrecadar, fiscalizar, lançar e normatizar o recolhimento das contribuições sociais previstas nas alíneas a, b e c do parágrafo único do art. 11, bem como as contribuições
5 incidentes a título de substituição; e à Secretaria da Receita Federal - SRF - compete arrecadar, fiscalizar, lançar e normatizar o recolhimento das contribuições sociais previstas nas alíneas d e e do parágrafo único do art. 11, cabendo a ambos os órgãos, na esfera de sua competência, promover a respectiva cobrança e aplicar as sanções previstas legalmente.... 5º - O desconto de contribuição e de consignação legalmente autorizadas sempre se presume feito oportuna e regularmente pela empresa a isso obrigada, não lhe sendo lícito alegar omissão para se eximir do recolhimento, ficando diretamente responsável pela importância que deixou de receber ou arrecadou em desacordo com o disposto nesta Lei. Assim, sendo do empregador a obrigação de reter e recolher a contribuição devida pelo empregado e não comprovada sua atuação nesse sentido, aplica-se na hipótese o art. 33, 5º, da Lei 8.212/91, atribuindo-se-lhe a responsabilidade pelo integral pagamento das contribuições previdenciárias aqui estabelecidas. EXPEDIÇÃO DE OFÍCIOS Considerando o irregular procedimento adotado pelo reclamado, mantenho a decisão de origem, que determinou a expedição de ofícios aos órgãos competentes. PELO EXPOSTO, conheço e dou parcial provimento ao recurso para estabelecer que o reclamado deverá arcar com o imposto de renda apenas quanto ao acréscimo do tributo em relação aos valores que seriam devidos caso as obrigações houvessem sido adimplidas nas épocas próprias. Mantidos os valores arbitrados na decisão de origem. A C O R D A M os Desembargadores da Sétima Turma do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, por unanimidade, e dar parcial provimento ao recurso para estabelecer que o reclamado deveráarcar com o imposto de renda apenas quanto ao acrédo tributo em relaçãaos valores que seriam devidos caso as obrigaçõhouvessem sido adimplidas nas épró. Mantidos os valores arbitrados na decisãde origem.////////////////////////////////// Rio de Janeiro, 14 de janeiro de
6 MHG FERNANDO ANTONIO ZORZENON DA SILVA Desembargador e Relator
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