NÍVEL DE CONTROLE DE Spodoptera frugiperda NA CULTURA DO ALGODOEIRO DO OESTE DA BAHIA (*)
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1 NÍVEL DE CONTROLE DE Spodoptera frugiperda NA CULTURA DO ALGODOEIRO DO OESTE DA BAHIA (*) José Ednilson Miranda (Embrapa Algodão / miranda@embrapa.br), João Batista dos Santos (EBDA), Wagner Alexandre Lucena (Embrapa Algodão), Murilo Barros Pedrosa (Fundação Bahia), Arnaldo Rocha Alencar (Embrapa Algodão). RESUMO - Praga cuja importância econômica tem crescido ano a ano na cultura do algodão, principalmente nas áreas agrícolas do cerrado brasileiro, a lagarta-militar, Spodoptera frugiperda (Lepidoptera: Noctuidae) promove danos severos que podem reduzir significativamente a produção de fibra. Este estudo visou determinar o nível de controle adequado para as condições do Oeste da Bahia. O experimento foi desenvolvido na Fazenda Acalanto, no município de São Desidério, Bahia, no período de Os tratamentos consistiram de pulverizações com inseticidas quando níveis de 0 a 20% de presença de lagartas foram atingidos. O delineamento experimental foi de blocos ao acaso, com 7 tratamentos e 4 repetições. As amostragens foram efetuadas a cada cinco dias a partir do início da floração até a total formação dos frutos. O nível de controle de 5% de plantas com presença de lagartas grandes apresentou nível de infestação relativamente menor aos verificados com níveis inferiores no período mais crítico. Recomenda-se a adoção de nível de controle de 5% de presença de lagartas nas plantas até os 90 d.a.e., alterando-se posteriormente para 10% de presença de lagartas. Palavras-chave: Gossypium hirsutum, lagarta militar, limiar econômico. ECONOMIC THRESHOLD FOR CONTROL OF Spodoptera frugiperda IN THE COTTON CROP OF WEST BAHIA ABSTRACT - Pest whose economical importance has been increased year to year in the cotton crop, mainly in the agricultural areas of the Brazilian Mid-West, the fall armyworm, Spodoptera frugiperda (Lepidoptera: Noctuidae) promotes severe damages that can reduce significantly the fiber production. This study sought to determine the appropriate economic threshold for control of the fall armyworm at the conditions of the West Bahia. The experiment was developed in Acalanto Farm, in the municipal district of São Desidério, Bahia, in the period of The treatments consisted of spraying with insecticides when levels from 0 to 20% of presence of caterpillars were reached. The experimental design was randomized blocks, with 7 treatments and 4 repetitions. The samplings were made every five days starting from the beginning of the flowering to total fruit setting. The level of 5% of plants with presence of caterpillars presented infestation level relatively smaller to the verified with inferior levels in the most critical period. The adoption of level of control of 5% of presence of caterpillars is recommended in the plants until 90 days after the emergence, changing later to 10% of presence of caterpillars. Key words: Gossypium hirsutum, fall armyworm, economic threshold.
2 INTRODUÇÃO Praga cuja importância econômica tem crescido ano a ano na cultura do algodão, principalmente nas áreas agrícolas do cerrado brasileiro, a lagarta-militar, Spodoptera frugiperda (Lepidoptera: Noctuidae) promove danos severos que podem reduzir significativamente a produção de fibra (SOARES e VIEIRA, 1998). As informações existentes a respeito da praga estão relacionadas à sua ocorrência em gramíneas. Entretanto, a biologia, o comportamento e o potencial de danos de uma determinada espécie varia com o alimento disponível e o ambiente em que se encontra (PANIZZI e PARRA, 1991). Logo, o estudo bioecológico da praga e o desenvolvimento de um sistema que se mostre adaptado à lavoura algodoeira, com base no Manejo Integrado de Pragas, virá nortear o processo de controle populacional do inseto a níveis que não causem danos econômicos. As causas do aumento populacional da espécie na cultura envolvem o cultivo intensivo do solo praticado nestas áreas, com sucessão de ciclos de hospedeiros durante todo o ano, condições climáticas favoráveis (alta temperatura e baixa umidade relativa do ar), o uso excessivo e inadequado de inseticidas, especialmente do grupo dos piretróides, e, principalmente, o plantio de gramíneas como milho, sorgo e milheto em sucessão à cultura do algodão. Estas gramíneas têm se mostrado espécies hospedeiras adequadas ao desenvolvimento do inseto, favorecendo a ocorrência dos surtos populacionais no algodoeiro, ao promover a manutenção do ciclo reprodutivo da praga (LUTTREL e MINK, 1999). O ataque de Spodoptera sp. inicia a partir da parte mediana da planta do algodoeiro. O período crítico vai desde o surgimento dos botões florais até o aparecimento do primeiro capulho (DEGRANDE, 1998; SANTOS, 1999). A ocorrência da espécie Spodoptera frugiperda na cultura algodoeira é citada com freqüência, oriundas de culturas adjacentes de milho, sorgo e aveia, seus hospedeiros potenciais (Soares & Vieira, 1998). Em plantas de algodão, após três a quatro dias da postura, dos ovos eclodem as lagartas que iniciam a alimentação raspando o parênquima das folhas. À medida que vão crescendo, as lagartas passam a se alimentar com maior voracidade, perfurando folhas, brácteas, flores e maçãs do algodão. No início da fase larval, o inseto destrói a epiderme das brácteas dos botões, flores e maçãs. Lagartas maiores danificam o interior das flores ou a base das maçãs (OLIVEIRA et al., 2001). O ataque se localiza desde a parte mediana até o ponteiro (SANTOS, 1997). Embora se alimente de grande número de espécies vegetais, apresenta preferência por gramíneas como milho, sorgo, arroz, cana-de-açúcar e pastagens. A polifagia e capacidade migratória do inseto asseguram sua sobrevivência em épocas desfavoráveis, já que nesta espécie não ocorre o fenômeno da diapausa (FERRAZ, 1982). Em face deste quadro, este trabalho visou determinar o nível de controle adequado para as condições do Oeste da Bahia.
3 MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi desenvolvido na Fazenda Acalanto, no município de São Desidério, Estado da Bahia, no período de O plantio do algodão foi realizado em solo latossolo, em condições de cerrado, utilizando-se cultivar Delta Opal, semeado em espaçamento de 0,76 cm com 8-12 plantas por metro linear, perfazendo um stand de plantas/ha. Os tratamentos consistiram de pulverizações com inseticida quando foram atingidos os seguintes níveis: controle (sem pulverização); 2% de plantas com presença de lagartas pequenas nas plantas; 2% de plantas com presença de lagartas grandes nas plantas; 5% de plantas com presença de lagartas pequenas nas plantas; 5% de plantas com presença de lagartas grandes; 10% de plantas com lagartas; 15% de plantas com lagartas; 20% de plantas com lagartas. O delineamento experimental foi de blocos ao acaso, com 8 tratamentos e 4 repetições. Cada unidade experimental constou de 12 linhas com 20 metros de comprimento. As linhas foram espaçadas em 76 cm entre si, com 8-12 plantas por metro linear após desbaste. No total, incluindo-se os intervalos entre parcelas, a área total do experimento abrangia 1,5 ha. Por questões de migração de insetos e para evitar derivas dos produtos aplicados, áreas limítrofes da lavoura foram preferidas. Pelas mesmas razões, os intervalos entre as parcelas foram plantados com milho. As amostragens foram efetuadas a cada cinco dias a partir do início da floração até a total formação dos frutos. Em cada parcela, 10 plantas foram escolhidas ao acaso e, através de inspeção manual nas plantas, lagartas de S. frugiperda foram coletadas e seu número foi registrado. Quando foi atingido o nível de controle para cada tratamento efetuou-se o controle químico. O número de aplicações, o custo de controle, o número e tamanho de lagartas, o rendimento de algodão em caroço e em pluma (produtividade), a rentabilidade da cultura e o benefício relativo (diferença entre o rendimento e o custo de controle de Spodoptera) foram calculados. As condições climáticas (temperatura e umidade relativa) foram registradas durante a época experimental. Os dados de produtividade foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Duncan a 5% de probabilidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO Embora os menores custos de aplicação de inseticidas para o controle de Spodoptera tenham sido verificados nos tratamentos em que foram estabelecidos níveis de controle de 15 e 20% de lagartas, resultado do menor número de pulverizações, outros tratamentos mostraram-se mais eficientes no controle da praga, levando a uma maior produtividade. Assim, o tratamento referente ao nível de controle de 5% de lagartas grandes, além de registrar a maior produtividade, resultou no melhor benefício relativo, ou seja, descontando-se o custo de aplicação dos inseticidas neste tratamento, o rendimento final foi mais compensador, quando comparado aos demais tratamentos (Tab. 1).
4 Tabela 1. Custo de controle de Spodoptera, produtividade e rendimento da cultura do algodão em função de diferentes níveis de controle. Fazenda Acalanto, São Desidério (BA). 2003/2004. Trat. Custo Produt. Produt. Rend. Benefício Nº aplic. Rend. bruto aplic. caroço pluma inseticidas (R$) 1 (@/ha) (@/ha) 2 (R$/ha) 3 Custo Relativo (R$) (R$) 2% lag P 8 191,40 312,5 ab 4 125,0 6062, ,10 270,68 2% lag G 4 89,60 304,3 ab 121,7 5903, ,82 213,40 5% lag P 6 146,60 287,8 b 115,1 5583, ,72-163,70 5% lag G 6 118,10 328,7 a 131,5 6376, ,68 658,26 10% lag 4 95,70 287,8 b 115,1 5583, ,62-112,80 15% lag 3 73,30 296,0 ab 118,4 5742, ,10 68,68 20% lag 3 73,30 309,8 ab 123,9 6010, ,82 336,40 Controle 4 89,60 293,3 ab 117,3 5690, ,42 - C.V.(%) 7,93 1 Custo exclusivo para o controle de Spodoptera; utilizando-se os produtos Lufenuron 200 ml/ha e Methomil 800 ml/ha; 2 Considerando um rendimento de fibra de 40% para a cultivar Delta Opal; 3 Preço de mercado em 02/08/2004: R$ 48,50; 4Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Duncan (P<0,05). O maior surto populacional de Spodoptera ocorreu entre 50 e 70 dias após a emergência das plantas (d.a.e.), período que correspondeu à fase de formação de botões e florescimento. Apesar de não se tratar do maior número de pulverizações, o tratamento com nível de controle de 5% de plantas com presença de lagartas grandes apresentou nível de infestação relativamente menor aos verificados com níveis inferiores no período mais crítico (Fig.1) Infestação (%) % 5% 10% 15% 20% Controle Data avaliação (d.a.e.) Figura 1. Nível de infestação de Spodoptera sp. em função do nível de controle estipulado. Faz. Acalanto, São Desidério - BA. 2003/2004.
5 Após os d.a.e. os níveis populacionais do inseto tenderam a se manter abaixo de 10%, independentemente do nível de controle estabelecido. Isto sugere ser possível a adoção de nível de controle mais rigoroso até os 90 d.a.e., abrandando-se posteriormente, adotando-se o nível de 5% de plantas atacadas até 90 d.a.e. e 10% de plantas atacadas após 90 d.a.e. CONCLUSÔES 1. O maior surto populacional de Spodoptera ocorreu na fase de formação de botões e florescimento; 2. O nível de controle de 5% de plantas com presença de lagartas grandes apresentou nível de infestação relativamente menor aos verificados com níveis inferiores no período mais crítico; 3. Após os d.a.e. os níveis populacionais do inseto tenderam a se manter abaixo de 10%, independentemente do nível de controle estabelecido; 4. O tratamento referente ao nível de controle de 5% de lagartas grandes, além de registrar a maior produtividade, resultou no melhor benefício relativo, ou seja, descontando-se o custo de aplicação dos inseticidas neste tratamento, o rendimento final foi mais compensador, quando comparado aos demais tratamentos; 5. Recomenda-se a adoção de nível de controle de 5% de presença de lagartas nas plantas até os 90 d.a.e., alterando-se posteriormente para 10% de presença de lagartas. (*) Trabalho financiado pelo Fundo de Desenvolvimento do Agronegócio do Algodão FUNDEAGRO.
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DEGRANDE, P. E. Guia prático de controle das pragas do algodoeiro. Dourados: UFMS. 62 p FERRAZ, M. C. D. V. Determinação das exigências térmicas de Spodoptera frugiperda (J.E.Smith, 1797) (Lepidoptera: Noctuidae) em cultura do milho. Piracicaba: ESALQ USP, 1982, 81 p. Dissertação (Mestrado) Escola Superior Luiz de Queiroz Piracicaba. LUTTREL, R. G.; MINK, J. S. Damage to cotton structures by the fall armyworm, Spodoptera frugiperda (Lepidoptera: Noctuidae). The Journal of Cotton Science, v. 3, p , PANIZZI, A. R.; PARRA, J. R. P. (Eds.). Ecologia nutricional de insetos e suas implicações no manejo de pragas. São Paulo: Ed. Manole, p. OLIVEIRA, E. A. R. de; VIEIRA, B. da S.; FERNANDES, P. M.; CZEPAK, C.; ALVES, E. P. Eficácia dos inseticidas thiodicarb e methoxifenozide no controle de Spodoptera frugiperda (Lepidoptera: Noctuidae) na cultura do algodão. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ALGODÃO, 3, 2001, Campo Grande. Anais... Campina Grande: Embrapa Algodão, p SANTOS, W. J. Monitoramento e controle das pragas do algodoeiro. In: CIA, E.; FREIRE, E. C.; SANTOS, W. J. Cultura do algodoeiro. Piracicaba: Potafós, p SOARES, J. J.; VIEIRA, R. M. Spodoptera frugiperda ameaça a cotonicultura brasileira. Campina Grande: Embrapa-CNPA, (Comunicado Técnico, 96).
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