13 de julho de 2012 Edição nº. 477

Transcrição

1 Aviso aos leitores: É, eu sei, sou doido mesmo, minha mãe vive repetindo isso, não sei o porquê. Semana que vem estaremos viajando pela Transamazônica. Naturalmente, irei de moto. Total: 8 mil quilômetros. Desses, quase 3 mil de terra. Pelas características adversas dessa viagem dormir de barraca, sair e não saber onde dormir, levar gasolina, comida... enfim, essas coisinhas básicas e divertidas de um passeio pelos rincões brasileiros talvez não consiga acesso à internet para escrever nas próximas duas semanas. O Amazonas já me surpreendeu positivamente ano passado quando fui para Manaus pela mata. Vamos ver dessa vez. Rezem por nós... e pelas motos! Seguindo em frente, você reparou no milho ultimamente? Subiu 40% em 30 dias. Quarenta por cento! A alta do grão simplesmente destruiu a relação de troca arroba x milho. Nesse período seco no Brasil Central onde o uso do milho para o gado se torna quase tão importante quanto a água que eles bebem, os contratos do boi ainda não tomaram conhecimento dessa ruptura na conta dos custos de produção. Fascinante. Isso nos traz ao tema de hoje. O indicador do boi subiu e desceu violentamente nesses últimos dias, basicamente indo para lugar nenhum ao redor de 92/93 reais à vista em São Paulo. Ao mesmo tempo, a reação positiva nos preços do atacado pelo encurtamento das escalas já mostrou o seu efeito sugerindo novamente uma arroba indo para 93 reais aqui em MS frigoríficos menores ligando atrás de boi e pagando 88 reais à vista, com 54% de rendimento na balança da fazenda. Eu mesmo vendi um lotinho de boi gordo nesses preços essa semana. Então, caro leitor, o tema de hoje é a arroba do boi. A pergunta clássica da Carta Pecuária é: a arroba está cara ou barata? Como está a carne perante a arroba? Valorização relativa dos cortes perante a arroba. Base 21 dias. Indicador Traseiro Carcaça jan fev mar abr mai jun jul Fonte: Esalq/BVMF/Broadcast Elaboração: Carta Pecuária Sob o ponto de vista estrito dos preços, a arroba está barata porque estamos no vale da safra. OK uma safrinha danadinha que está se estendendo estranhamente julho adentro, mas de um modo geral com preços estáveis desde meados de maio. Quem tinha boi gordo e segurou, e quem ainda tem um pouco guardado, se deu bem. Carta Pecuária cartapecuaria@gmail.com Edição nº. 477 Página 1

2 Variação Ano-a-Ano dos Preços da Arroba Fonte: Esalq/BVMF Ainda no quesito preço, a variação ano a ano se mostra em linha com os piores momentos desse ciclo pecuário iniciado em 2006, como demonstrado aqui no gráfico. Quero dizer, e isso é importante: depois de uma forte alta em 2010, estamos passando por uma forte correção. Paciência é crucial aqui. Isso também ocorreu em 2006 e em Tudo o que sobe um dia cai. Tudo o que cai um dia sobe. Essa noção é simples, mas é poderosamente elegante para permanecer na nossa mente. Incito aos leitores fixar essa ideia à fogo na cabeça. Em tempos como os de hoje, e especialmente em tempos como os atuais, de extremos (para baixo), o foco deveria ser em aproveitar e comprar boi gordo abaixo do custo de produção (como indica a bolsa) e boi magro com deságio em preço ao invés de ficar lamentando a arroba do boi gordo. Só estou dizendo. Não faço recomendações aqui. Então, em preços, e olhando para a história dos preços, a arroba está barata atualmente. Não sei se vai ficar mais barata ou se vai subir. Deixo isso para os futurólogos. Não tenho tempo para isso. Do jeito que está o mercado, o status quo nos leva a agir aproveitando as oportunidades de compra por exemplo, de reposição, de vacas, bezerras, boi magro, futuros que aparecem ao nosso redor. O outro lado dos preços são os custos de produção e o resultado de uma operação de engorda a margem da engorda de um boi. A margem você sabe o que é, certo? Preço de venda do boi gordo menos o preço de compra da reposição somado com o seu custo de produção. Tenho um gráfico inédito aqui para te mostrar, caro leitor, que ilustra o que quero dizer. É o gráfico da margem da operação de engorda. O gráfico está na próxima página. Mas antes de você ir para o gráfico, vamos colocar o contexto dessa conversa. Tenho dito que a pecuária de corte está em crise. Falei bastante sobre isso no final do ano passado e no início desse ano. A crise é de margem da operação de engorda. Os custos de produção subiram demais ao longo desses últimos anos junto com o custo da reposição e a arroba do boi patinou, derrubando a margem da engorda para patamares que há décadas não víamos na atividade. O resultado mostrado no gráfico mostra isso de forma bem clara. Mesmo levando em consideração a inflação, o aumento de produtividade nas fazendas e o aumento, com o passar dos anos, dos custos de produção, a conta sempre fechava. A margem de uma operação de engorda é uma coisa meio estável ao longo dos anos, mas a partir de 2008 tivemos uma ruptura em um modelo de precificação que já dura mais de 50 anos. É uma notícia ruim para quem inverna, porém é uma situação excepcional quando levamos em consideração o potencial da reversão dessa tendência em relação à média histórica. A média em vermelho é a de três anos. Ou seja, existe um potencial enorme sob pressão e a pressão com o passar dos meses está cada vez maior. O 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% -10% -20% Carta Pecuária cartapecuaria@gmail.com Edição nº. 477 Página 2

3 Margem da Engorda de Boi Magro Engorda de 12 meses. Ajustado pelo aumento da produtividade, aumento dos custos e inflação % 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% resultado seria o retorno das margens para patamares médios. Isso poderá ocorrer de três formas. 1) Alta na arroba do boi; 2) Queda da reposição, ou; 3) Queda dos custos operacionais. Ou uma combinação dos três. Nesse contexto, a alta explosiva do milho só faz jogar mais lenha na fogueira. Então, caro leitor, temos os dois lados da moeda o preço da arroba do boi e os custos de produção, representado pelo que realmente interessa na ponta do lápis, a margem da engorda. Fonte: Esalq/BVMF/IEA/Carta Pecuária Ambos, atualmente, estão em baixa. A arroba está em baixa forte, porém em linha com o que já ocorreu no passado. As margens, por outro lado, estão atualmente em linha com os piores momentos dos últimos 50 anos. É claro, tudo isso que estou dizendo é sob o ponto de vista do sujeito que engorda o boi. Não é a operação de cria nem a situação de frigoríficos. Estou fechando o foco somente em engorda, e aqui levo em consideração os confinamentos também como indutor no aumento de produtividade média das fazendas. A situação é interessante. Ímpar, diria. A arroba está barata? Pode apostar que sim. Vai subir? Não sei. Se você tem fazenda de engorda, provavelmente está com um olho em 2012 e outro olho, maior ainda, para É lá que serão abatidas suas compras de agora. Estou agindo para 2013 imaginando um retorno dessas margens à média histórica, o que, historicamente, é uma atitude prudente a se tomar, ainda mais com o cheiro de inflação voltando ao ar, como dissemos em um texto anterior. As margens, caro leitor, só para reforçar a conversa, são uma combinação dos três pontos que coloquei acima. Preço Reposição Custos. Repito o que disse duas semanas atrás: Sugiro apertar o cinto e agarrar no que você sabe e aprendeu sobre pecuária. Essas coisas ainda valem, apesar do time do dessa vez é diferente. MOVIMENTAÇÃO DO MERCADO: Boi -- Indicador ESALQ/BVMF do boi, que mede a variação dos preços da arroba no Estado de São Paulo, fechou a semana com 1,38 a R$ 91,50 à vista. Cotações em R$ por arroba. A média móvel de 5 dias fechou em R$ 92,00. O contrato de julho/12 fechou com 0,70 a R$ 91,42. O contrato de julho está 0,58 centavos abaixo do preço médio de liquidação do contrato. O contrato que vence em agosto/12 fechou com 0,75 a R$ 92,51; setembro/12 0,31 a R$ 94,84; outubro/12 0,62 a R$ 96,23. Carta Pecuária cartapecuaria@gmail.com Edição nº. 477 Página 3

4 Todos os vencimentos estão cotados à vista com o fechamento da sexta-feira e com a indicação semanal da variação de preços. Bezerro -- Indicador ESALQ/BVMF de bezerro, que mede a variação dos preços no Estado do Mato Grosso do Sul, fechou a semana com 5,30 cotado a R$ 698,84 à vista. Cotações em R$ por bezerro. A arroba do bezerro cotada ao redor de R$ 108,00, alta de R$ 3,00 na semana. Todos os vencimentos estão cotados com o fechamento da sexta-feira e com a indicação da variação semanal. Taxa de Reposição 1 -- Um boi gordo compra hoje 2,16 bezerros, queda de 0,02 na semana. Dólar -- Dólar comercial fechou com +0,30% a R$ 2,037. Dólar futuro com vencimento no início de agosto fechou com 0,04% a R$ 2,042; setembro fechou com 0,06% a R$ 2,054. Juros -- A taxa de juros do governo (SELIC) está hoje em 8,00% ao ano, queda de 0,50% na última reunião do Copom. Inflação IGP-M de junho +0,66%. Acumulado no ano 2 +3,15%. Acumulado nos últimos 12 meses 3 (julho-11 a junho-12) +5,03%. Assim como os contratos de boi e bezerro se encerram pelo preço dos seus respectivos indicadores, o dólar se encerra pelo preço do dólar do Banco Central nas datas acima indicadas. Frigoríficos 4 -- A arroba nos frigoríficos foi cotada hoje em São Paulo ao redor de R$ 92,00; no Mato Grosso do Sul, Dourados a R$ 86,00 (Base 6,5%) e em Campo Grande ao redor de R$ 86,00 (Base 6,5%). A arroba em Goiânia foi cotada ao redor de R$ 82,00 (Base 10,9%). Em Cuiabá está em R$ 82,50 (Base 10,3%). No sul do Tocantins a arroba foi cotada em R$ 84,00 (Base 8,7%). No Triângulo Mineiro ao redor de R$ 85,00 (Base 7,6%). 1 Considerando os valores nominais dos indicadores da ESALQ/BVMF. 2 e 3 Somatória com Juros Simples. 4 Fonte completa dos preços da arroba nos frigoríficos à vista e livre do Funrural: Informativo Boi na Linha, da Scot Consultoria. CONCLUSÃO: Arroba do boi termina a semana com queda, interrompendo duas semanas de alta no indicador. Ainda estamos entre o intervalo de 92/93 reais em São Paulo, intervalo esse estabelecido desde maio. O destaque é o milho. O principal insumo da engorda em confinamento ou semi confinamento nesse período seco do ano subiu mais de 40% em um mês uma alta explosiva ainda não assimilada ou entendida pelo mercado futuro. Veremos o que acontecerá para frente, e uma forma inteligente e olhar isso será acompanhar o movimento dos preços do frango. No mais, caro leitor, fico por aqui. Estou colocando o capacete, abastecendo o tanque e caindo na estrada! Carta Pecuária cartapecuaria@gmail.com Edição nº. 477 Página 4

5 Fui! Rogério Goulart... Carta Pecuaria. Melhore sua Comercialização de Gado. Editor: Rogério Goulart Periodicidade semanal. A Carta Pecuária é uma contribuição semanal no debate sobre as ferramentas de análise de mercado e negociação da pecuária brasileira. O texto aborda especialmente discussões sobre o segmento de engorda de bovinos e suas possíveis formas de negociação: mercado físico e também mercado futuro. Nessas análises são utilizadas diversas ferramentas técnicas de mercado, tais como gráficos, e também há o extensivo acompanhamento da dinâmica da oferta vs. demanda de animais acabados (machos e fêmeas) para os frigoríficos. Comentários, considerações e sugestões? Gostaria de indicar alguém para receber esse texto? Escreva para cartapecuaria@gmail.com Gostaria de anunciar seu produto ou marca nessas páginas? Entre em contato pelo cartapecuaria@gmail.com O intuito é divulgar, democratizar e ampliar os conhecimentos dos envolvidos na cadeia pecuária brasileira. Sinta-se livre para ler, opinar e, se achar interessante, divulgar para seus amigos. Câmara do Boi Associação de Profissionais da Pecuária Sustentável Carta Pecuária cartapecuaria@gmail.com Edição nº. 477 Página 5