XX SNPTEE SEMINÁRIO NACIONAL DE PRODUÇÃO E TRANSMISSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA GRUPO IX GRUPO DE ESTUDO DE OPERAÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS - GOP
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1 XX SNPTEE SEMINÁRIO NACIONAL DE PRODUÇÃO E TRANSMISSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA Versão a 25 Novembro de 2009 Recife - PE GRUPO IX GRUPO DE ESTUDO DE OPERAÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS - GOP UTILIZAÇÃO DO RELIGAMENTO AUTOMÁTICO TRIPOLAR LENTO EM LINHAS DE TRANSMISSÃO DO SIN SISTEMA INTERLIGADO NACIONAL: UMA EXPERIÊNCIA BEM SUCEDIDA Antonio Felipe da Cunha de Aquino (*) Alexandre Garcia Massaud David do Nascimento Gonçalves ONS OPERADOR NACIONAL DO SISTEMA ELÉTRICO RESUMO Este trabalho apresenta a experiência do ONS Operador Nacional do Sistema Elétrico na aplicação do religamento tripolar lento de linhas de transmissão do SIN Sistema Interligado Nacional. O artigo dá ênfase aos potenciais benefícios que podem ser obtidos com a adoção desta modalidade de religamento automático. Os dados estatísticos apresentados no trabalho indicam que a utilização do religamento tripolar lento é uma estratégia promissora e que sua eficácia supera, em geral, a taxa média de sucesso para o religamento dos demais circuitos do sistema. PALAVRAS-CHAVE Religamento automático tripolar, Religamento automático monopolar, Eficácia do religamento automático, Estatística de desligamentos do SIN, Parcela Variável por Indisponibilidade, Confiabilidade de sistemas elétricos INTRODUÇÃO O religamento automático é um recurso utilizado com freqüência nos sistemas elétricos de potência. Na prática, na utilização do religamento automático convergem os interesses dos operadores de sistemas elétricos e das concessionárias de transmissão. Dentre os benefícios que derivam da utilização do religamento automático podem ser citados: a melhoria do desempenho dinâmico do sistema; a redução dos efeitos de perturbações que resultam de desligamentos subseqüentes; o aumento da confiabilidade e a redução do tempo de recomposição dos sistemas elétricos; o aumento da disponibilidade dos circuitos nos quais o recurso está ativo. Os benefícios associados ao religamento automático só são obtidos quando a manobra é completada com sucesso. Neste sentido, sempre há interesse do Operador Nacional do Sistema Elétrico e dos agentes no aumento da taxa de sucesso do religamento. Quando se consideram os diversos aspectos envolvidos no problema, verifica-se que o religamento tripolar lento constitui uma alternativa bastante atraente. No esquema de religamento tripolar aumentam as chances de extinção da causa do defeito, sobretudo quando a mesma está relacionada a descargas atmosféricas e queimadas (defeitos fugitivos). Além disso, nesta modalidade de religamento, o tempo morto pode ser bem maior que no caso do religamento monopolar, com conseqüente elevação da taxa de sucesso. Com efeito, no religamento monopolar o tempo morto está limitado pelos problemas (*) Rua da Quitanda, n º andar CEP Rio de Janeiro, RJ Brasil Tel: (+55 21) Fax: (+55 21) aquino@ons.org.br
2 2 que a circulação de correntes desequilibradas pode causar. Este problema não ocorre no religamento tripolar, pois a abertura das três fases elimina qualquer desequilíbrio no sistema. Os principais aspectos relacionados com o religamento automático tripolar conduzem a uma clara relação entre o sucesso do religamento, a confiabilidade do sistema e o tempo morto do esquema de religamento. De uma forma geral, à medida que se aumenta o tempo morto, aumentam as chances de o religamento automático resultar no restabelecimento da linha de transmissão. Por outro lado, quanto maior o tempo morto, mais exposto estará o sistema à ocorrência de novas emergências. A escolha do tempo morto deve considerar estes dois condicionantes de forma a obter os maiores benefícios para o sistema. No caso do SIN Sistema Interligado Nacional o dimensionamento da rede é feito considerando que o sistema deve suportar a contingência simples de seus elementos, sem conseqüências para o atendimento às suas cargas (critério n-1). Neste sentido, o religamento automático dos circuitos deve ser encarado como um recurso adicional e não como garantia prévia de manutenção dos padrões de desempenho do sistema MODALIDADES DE RELIGAMENTO AUTOMÁTICO Tradicionalmente, utilizam-se duas modalidades distintas de religamento automático: o religamento monopolar e o religamento tripolar. A adoção de uma ou outra modalidade depende de diversos aspectos relacionados ao desempenho dinâmico do sistema, às características dos equipamentos de proteção e disjuntores, à freqüência de defeitos monofásicos, etc. As próximas seções apresentam detalhes dos esquemas de religamento automático tripolar e monopolar. 2.1 Religamento automático monopolar A motivação para utilização do religamento monopolar reside no fato de que, em circuitos de alta e extra-alta tensão, a maioria dos defeitos envolve apenas uma das fases e a terra. Esta característica dos sistemas de tensão mais elevada está ilustrada na Tabela 1 que apresenta a estatística dos defeitos no SIN, no período de 2002 a Observa-se na tabela que a freqüência de defeitos monofásicos é de quase 80% em sistemas de 230 a 750 kv, indicando clara predominância deste tipo de defeito. TABELA 1 Estatística de defeitos no Sistema Interligado Nacional (de 2002 a 2006) Nível de tensão (kv) Freqüência dos defeitos (em % do total) FT FF FFF FFT FFFT Outros ,8 5,8 3,9 11,4 1,5 18, ,5 4,6 1,8 3,8 0,5 14, ,5 3,9 0,9 5,3 0,1 10, ,0 4,2 1,8 2,9 0,0 15, ,7 2,9 0,5 2,7 0,1 14, ,7 0,0 0,8 2,4 0,0 19,1 Legenda: FT monofásicos; FF bifásicos; FFF trifásicos; FFT bifásicos-terra; FFFT trifásicos-terra. No esquema de religamento monopolar, a eliminação dos defeitos monofásicos é feita através da abertura apenas da fase sob falta (abertura monopolar). Para viabilizar a abertura monopolar, o esquema de proteção deve permitir a identificação precisa da fase sob defeito. Além disso, os disjuntores do circuito a ser religado devem estar preparados para abertura e fechamento individual de seus pólos. Para conclusão da manobra, após decorrido o tempo morto faz-se o religamento apenas da fase que foi efetivamente desligada. Durante o ciclo do religamento monopolar (abertura monopolar, tempo morto e fechamento monopolar), permanecem em serviço as fases sãs do circuito, sem que ocorra a interrupção total do fluxo de energia na linha. Esta estratégia conduz à melhoria do desempenho dinâmico do sistema, se comparada com a abertura tripolar utilizada no esquema tradicional de religamento tripolar. A aplicação mais natural do esquema de religamento monopolar é em sistemas elétricos embrionários, que apresentam, freqüentemente, característica radial. Nestes sistemas não é possível garantir a preservação de todas as cargas, tampouco a manutenção da estabilidade das máquinas síncronas, quando da ocorrência de emergências simples. Na prática, estes sistemas não atendem o critério de planejamento (n-1) e o religamento monopolar (com sucesso) melhora significativamente o seu desempenho.
3 3 A eficácia do religamento monopolar depende, dentre outros fatores, da extinção do arco secundário. Teoricamente, o aumento do tempo morto do religamento conduz a uma maior probabilidade de extinção do arco secundário. Contudo, a operação com uma das fases desligada impõe circulação de correntes desequilibradas no sistema o que inviabiliza o aumento do tempo morto para valores muito superiores a 1 segundo. Outro aspecto importante é que o religamento monopolar, pelas suas próprias características, só pode ser realizado quando o defeito envolve apenas uma das fases da linha de transmissão. Para todos os defeitos que envolvem mais de uma das fases faz-se necessária a abertura tripolar do circuito, não sendo possível a aplicação do esquema de religamento monopolar. 2.2 Religamento automático tripolar No esquema de religamento tripolar, a eliminação do defeito é conseguida através da abertura das três fases da linha de transmissão (abertura tripolar). Decorrido o tempo morto, a manobra é concluída com a energização do terminal líder e o conseqüente fechamento do anel no terminal seguidor. Nesta modalidade de religamento, aumentam os impactos no sistema elétrico, sobretudo nas unidades geradoras. De fato, a abertura tripolar interrompe abruptamente o fluxo de energia no circuito, com impacto nas unidades geradoras e redistribuição de fluxos nas demais linhas de transmissão. Neste sentido, a adoção do religamento tripolar deve considerar ajustes adequados de verificação de sincronismo, principalmente no que se refere às defasagens angulares que se verificam antes da conclusão das manobras de fechamento de anel. De fato, as variações instantâneas de potência elétrica nas unidades geradoras crescem à medida que aumentam as defasagens angulares associadas ao fechamento do anel. Outro aspecto que deve ser considerado é que na abertura tripolar ocorre a desenergização de todas as fases durante o período de tempo morto. Desta forma, na abertura tripolar aumentam as chances de extinção da causa do defeito, sobretudo quando a mesma está relacionada a descargas atmosféricas ou queimadas (defeitos fugitivos). No que se refere ao tempo morto, no religamento tripolar pode-se adotar valores bem maiores que no caso do religamento monopolar. Tipicamente, tempos mortos de até 10 s podem ser utilizados, desde que não haja compromisso com a estabilidade do sistema APLICAÇÕES DO RELIGAMENTO AUTOMÁTICO O religamento automático (com sucesso) de linhas de transmissão agrega uma série de benefícios para os sistemas elétricos. Estes benefícios estão relacionados ao desempenho do sistema elétrico, quer seja em regime permanente ou dinâmico, a aspectos de confiabilidade do sistema e disponibilidade dos circuitos, etc. Nesse sentido, na utilização do religamento automático convergem os interesses dos operadores de sistema e dos proprietários dos ativos de transmissão. 3.1 Estabilidade do sistema elétrico A estabilidade indica a capacidade que tem os sistemas elétricos de atingir uma nova posição de equilíbrio após a ocorrência de uma determinada perturbação. Em geral, em se tratando de grandes perturbações, a perda de elementos de transmissão após a ocorrência de curtos-circuitos constitui a emergência mais severa para os sistemas elétricos. O desligamento de linhas reduz a capacidade de transmissão dos sistemas elétricos, podendo levar as unidades geradoras à perda de sincronismo, dependendo das condições operativas verificadas antes da emergência e da própria severidade do distúrbio. Geralmente, problemas associados à perda de elementos de transmissão estão relacionados à estabilidade transitória, ou seja, ocorrem nos primeiros 500 ms 1 s após a emergência. O religamento automático monopolar, quando se dá com sucesso, melhora significativamente a estabilidade do sistema. Nesta modalidade de religamento permanecem em serviço as fases sãs do circuito envolvido na manobra, sem que ocorra a interrupção total do fluxo de energia na linha. Neste sentido, a utilização do religamento monopolar conduz a um aumento das margens de estabilidade e permite evitar, em determinadas situações, a perda de sincronismo de unidades. Teoricamente, o religamento tripolar (com sucesso) também agrega melhoria à estabilidade do sistema. Contudo, nesta modalidade de religamento há algumas questões que limitam os benefícios para a estabilidade. A principal é que, no religamento tripolar, a eliminação do defeito se dá por meio da abertura das três fases, o que conduz à interrupção total do fluxo de energia no circuito. Neste caso, o movimento relativo dos rotores das máquinas é muito mais rápido o que faz com a perda de sincronismo se dê em menos tempo. Na prática, para que se possa
4 4 extrair benefícios efetivos do religamento tripolar para a estabilidade do sistema, faz-se necessário a adoção de tempos mortos muito baixos, da ordem de 500 ms, por exemplo. 3.2 Confiabilidade do sistema elétrico O religamento automático em sistemas elétricos malhados perde a importância sob o aspecto de estabilidade, passando a ter mais importância para melhoria da confiabilidade do sistema. Após uma emergência na rede de transmissão e havendo atuação do esquema de religamento automático com sucesso, o sistema fica mais bem preparado para enfrentar novos desligamentos. Ou seja, a atuação do religamento automático pode evitar, em determinadas perturbações, que uma contingência simples resulte em um distúrbio mais severo para o sistema. O tempo morto do religamento é um aspecto que tem influência na confiabilidade dos sistemas, sobretudo no esquema de religamento tripolar. Até que o religamento seja concluído, o sistema fica mais vulnerável em função da indisponibilidade de um de seus elementos. Numa análise preliminar, poder-se-ia dizer que a redução do tempo morto do religamento tende a aumentar a confiabilidade dos sistemas elétricos. Contudo, há que se considerar os efeitos da redução do tempo morto na taxa de sucesso do religamento, conforme será discutido na seção Recomposição do sistema elétrico e disponibilidade dos circuitos De uma forma geral, a ativação do religamento automático dos circuitos beneficia a recomposição do sistema elétrico. Da mesma forma, o religamento automático permite melhorar os índices de disponibilidade dos circuitos nos quais esta funcionalidade está ativa SUCESSO DO RELIGAMENTO AUTOMÁTICO Efetivamente, os benefícios associados ao religamento automático só são obtidos quando a manobra é concluída com sucesso. Na prática, tendo em vista o desempenho do sistema e das próprias linhas de transmissão, sempre haverá interesse no aumento da taxa de sucesso do religamento. Neste sentido, há que se identificar e caracterizar os principais fatores que influenciam na taxa de sucesso do religamento automático. 4.1 Tempo morto do religamento Não há dúvida de que o tempo morto tem influência na taxa de sucesso do religamento automático. A prova mais evidente deste fato é que muitas manobras de religamento rápido sem sucesso, obtém sucesso quando são feitas manualmente tendo decorrido um tempo maior. Esta característica está associada às próprias causas dos defeitos, que muita vezes não são permanentes, como é o caso das queimadas e das descargas atmosféricas. De forma geral, pode-se afirmar que o aumento do tempo morto conduz ao aumento da taxa de sucesso do religamento automático. Neste sentido, a utilização do esquema de religamento tripolar dá mais flexibilidade para a escolha do tempo morto, viabilizando a adoção de valores bem maiores que no caso do religamento monopolar. De fato, conforme discutido anteriormente, no caso do religamento monopolar o tempo morto está limitado pelo desempenho dos sistemas de proteção em função da circulação de correntes desequilibradas. Este problema não ocorre no religamento tripolar, pois a abertura das três fases elimina qualquer desequilíbrio no sistema. Na prática, tempos mortos de até 10 s podem ser adotados no esquema de religamento tripolar, desde que não haja compromisso com a estabilidade do sistema. No caso do SIN, o planejamento considera que o sistema deve suportar a perda simples de qualquer elemento, mantendo padrões adequados de desempenho para o sistema, sem considerar a atuação do religamento. 4.2 Causas dos defeitos O sucesso das manobras de religamento automático está fortemente associado à causa do defeito que resultou no desligamento da linha. Naturalmente, defeitos de natureza permanente impedem que o religamento tenha sucesso, uma vez que a causa do defeito não se extingue, mesmo após decorrido o tempo morto. Só se pode esperar sucesso no religamento para os defeitos de natureza fugitiva, ou seja, aqueles defeitos cuja causa se extingue no tempo. A Tabela 2 apresenta a estatística de causas de desligamentos do SIN, para o ano de 2006, para as linhas de transmissão de tensão igual a 230, 345, 440 e 500 kv. A tabela dá ênfase às causas que conduzem a defeitos de natureza fugitiva, tais como queimadas e descargas atmosféricas.
5 5 Observa-se na tabela que a maior parte dos desligamentos registrados tiveram origem em defeitos fugitivos. Para todos os níveis de tensão analisados, o total de desligamentos cuja causa tiveram origem em defeitos fugitivos atinge cerca de 90%. Teoricamente, para todos estes desligamentos o religamento automático poderia se efetivar. TABELA 2 Causa dos desligamentos no SIN (ano de 2006) NÍVEL DE TENSÃO CAUSAS DOS DESLIGAMENTOS 500 kv 440 kv 345 kv 230 kv Descargas atmosféricas, ventanias e temporais 57% 69% 58% 71% Queimadas 18% 28% 31% 9% Vegetação 12% 0% 6% 6% 4.3 Seleção de defeitos para o religamento automático A estratégia de seleção de faltas para as quais o esquema de religamento deve ser acionado depende muito da experiência de cada empresa transmissora. Contudo, alguns aspectos de caráter geral merecem destaque, sobretudo quando se considera a melhoria do desempenho do religamento automático. No caso do religamento monopolar, o próprio esquema já limita sua utilização para faltas envolvendo apenas umas das fases. Ou seja, efetua-se o religamento monopolar para faltas monofásicas. No caso do religamento tripolar, em princípio, o esquema poderia partir para qualquer tipo de falta (monofásica, bifásica e mesmo trifásica). Contudo, há que se considerar os efeitos de um religamento sem sucesso para faltas trifásicas, por exemplo no desempenho dinâmico do sistema. Este aspecto pode ser crítico para religamento rápidos, com tempo morto inferior a 1 s, por exemplo. Outro aspecto que deve ser considerado é o de que as faltas fugitivas, geralmente, atingem apenas uma das fases da linha de transmissão. Por outro lado, faltas envolvendo mais de uma fase tendem a ser do tipo permanente. Sem outras considerações, estes aspectos conduziriam à utilização do religamento tripolar apenas para faltas monofásicas. Contudo, há que se considerar que o efeito do religamento sem sucesso no desempenho dinâmico do sistema, quando se considera o religamento lento, é muito menos significativo do que no caso do religamento rápido. De fato, no religamento rápido a energização do circuito ocorre quando o sistema ainda está oscilando, condição que não se verifica no religamento lento. Além disso, os projetos mais novos das linhas de transmissão adotam estruturas cada vez mais compactas. A utilização destas estruturas tem provocado o aumento de curtos-circuitos fugitivos envolvendo duas fases, conforme tem sido observado nas últimas análises de ocorrência no SIN. Neste caso, a utilização do religamento tripolar apenas para faltas monofásicas conduziria a um mau desempenho do religamento. 4.4 Carga capacitiva das linhas Outro aspecto que deve ser considerado está relacionado à carga capacitiva residual da linha de transmissão no instante do religamento do circuito. Na prática, quanto menor a carga capacitiva residual no instante do religamento, menores as solicitações transitórias associadas às manobras de energização das linhas. Pode-se dizer que uma menor carga capacitiva no instante do religamento aumenta as chances de sucesso da manobra. Deve-se ressaltar que a carga capacitiva na linha de transmissão é função do tempo decorrido após a abertura tripolar. Teoricamente, quanto maior o tempo, menor a carga capacitiva armazenada na linha. Ressalta-se ainda que a presença de compensação shunt na linha acelera o processo de descarga. Visando ilustrar o fenômeno mencionado, a Figura 1 apresenta a tensão fase-neutro em uma linha de 500 kv, com compensação shunt, após a abertura tripolar. A medida foi obtida no secundário do DCP, que reconhecidamente agrega distorções à forma de onda; contudo, a oscilografia de tensão apresentada permite obter informações qualitativas sobre o fenômeno. Observa-se na figura que após 3 segundos da abertura tripolar, a carga capacitiva da linha foi dissipada quase que integralmente.
6 6 Figura 1 Tensão fase-neutro em linha de 500 kv compensada após abertura tripolar 4.5 Função risco do religamento tripolar vs. tempo morto Considerando os diversos aspectos relacionados com o sucesso do religamento automático tripolar, pode-se definir uma função que relaciona o sucesso do religamento, a confiabilidade do sistema e o tempo morto do esquema de religamento. De fato, conforme indicado anteriormente, à medida que se aumenta o tempo morto, aumentam as chances do religamento se efetivar. Por outro lado, quanto maior o tempo morto, mais exposto estará o sistema à ocorrência de novas emergências. A escolha do tempo morto deve considerar estes dois condicionantes de forma a obter os maiores benefícios para o sistema. A Figura 2 apresenta a função do risco de religamento tripolar em função do tempo morto adotado. Observa-se que há um ponto ótimo, onde o risco de perda de confiabilidade é igual ao risco do insucesso do religamento. FIGURA 2 Função risco do religamento tripolar vs. tempo morto Naturalmente, dificilmente uma curva específica poderia ser obtida para uma determinada linha. Contudo, quando se consideram os diversos aspectos envolvidos no religamento automático, pode-se fazer boa estimativa para o tempo morto a ser adotado. De uma forma geral, a adoção do tempo morto da ordem de 5 segundos para o religamento tripolar permite obter benefícios significativos para o desempenho do religamento, com conseqüente melhoria do desempenho do sistema e para os índices de disponibilidade dos circuitos EXPERIÊNCIA COM O RELIGAMENTO AUTOMÁTICO NO SIN As empresas de transmissão brasileiras têm bastante experiência na aplicação do religamento automático de circuitos. O desempenho deste recurso vem sendo acompanhado pelo ONS desde a sua criação, baseando-se nos registros de desligamentos forçados apresentados pelas concessionárias de transmissão. As estatísticas do religamento automático de circuitos do SIN permitem fazer considerações interessantes sobre o desempenho deste recurso.
7 5.1 Estatística do desempenho do religamento automático no SIN 7 A Tabela 3 apresenta a estatística do desempenho do religamento automático das linhas de transmissão do SIN, para o ano de A tabela apresenta dois índices: o primeiro relacionado ao desempenho do próprio esquema do religamento automático; o segundo mede a eficácia do religamento de circuitos que tenham sido desligados por defeitos fugitivos. TABELA 3 Desempenho do religamento automático no SIN (ano de 2006) DESEMPENHO DO RELIGAMENTO AUTOMÁTICO NÍVEL DE TENSÃO 500 kv 440 kv 345 kv 230 kv Atuação correta do esquema de religamento 86% 88% 77% 90% Eficácia do religamento 54% 36% 46% 71% Observa-se na Tabela 3 que a eficácia do religamento para defeitos fugitivos é relativamente baixa, ficando em cerca de 50% nas redes de 500 e 345 kv e abaixo de 50% na rede 440 kv. No sistema de 230 kv observa-se melhor desempenho, com 71% de eficácia do religamento para desligamentos associados a defeitos fugitivos. Deve-se considerar que maioria dos religamentos em operação é do tipo tripolar rápido; há ainda inúmeras linhas com o religamento monopolar, 5.2 Desempenho do religamento automático tripolar lento Há inúmeros casos de linhas de transmissão no SIN que utilizam a estratégia de religamento tripolar lento, com tempo morto da ordem de 3 a 10 s. Esta estratégia vem sendo adotada desde 2002, em linhas que foram objeto dos leilões de transmissão da ANEEL. Como exemplos de linhas de transmissão com religamento tripolar lento ativado podem ser citadas as seguintes: LT 500 kv Tucuruí/Marabá C3 e C4; LT 500 kv Marabá/Açailândia C1 e C2; LT 500 kv Teresina/Sobral C2; LT 500 kv Sobral/Fortaleza C2; Eixo 500 kv Serra da Mesa/Gurupi/Miracema/Colinas/Imperatriz C2; Eixo 500 kv Serra da Mesa/Gurupi/Miracema/Colinas/Imperatriz C1; LT 525 kv Londrina/Assis/Araraquara; LT 500 kv Samambaia/Itumbiara; LT 500 kv Samambaia/Emborcação; Eixo 500 kv Colinas/Ribeiro Gonçalves/São João do Piauí; LT 230 kv Porto Primavera/Imbirussu e etc. O histórico da eficácia do religamento destes circuitos tem sido bastante promissor e supera, em geral, a taxa média apresentada na Tabela 3 para os demais circuitos do SIN. Os resultados que vêm sendo obtidos corroboram as constatações deste trabalho, conforme pode ser observado na Tabela 4 a seguir. A tabela apresenta a eficácia do religamento automático para três circuitos de 500 kv da Interligação Norte/Sudeste, calculada para eventos ocorridos no período de 2007 a A tabela apresenta ainda a proporção de desligamentos que tiveram origem em queimadas na faixa de servidão da linha. TABELA 4 Desempenho do religamento automático de linhas de 500 kv da Interligação Norte/Sudeste LT 500 KV INTERLIGAÇÃO NORTE/SUDESTE LINHA A LINHA B LINHA C Eficácia do religamento 67% 83% 92% Queimadas/total de desligamentos 80% 92% 66% Observa-se na tabela que a eficácia do religamento automático para os três circuitos indicados é superior à eficácia média do religamento automático no SIN. Para as linhas A e B, por exemplo, a eficácia é superior a 80%, contra 54% de eficácia média no SIN. Deve-se ressaltar que os dados estatísticos sobre desligamentos forçados e desempenho dos esquemas de religamento automático foram obtidos da base de dados mantida pelo SIAP Sistema de Análise e Coleta de
8 8 Dados de Desempenho da Proteção. O processo de coleta e consistência de dados do SIAP é estabelecido pelo submódulo 11.2 dos Procedimentos de Rede. A apuração dos dados é realizada pelos agentes e enviada para o ONS trimestralmente CONCLUSÃO O religamento automático (com sucesso) de linhas de transmissão agrega uma série de benefícios para os sistemas elétricos, relacionados ao desempenho do sistema elétrico, a aspectos de confiabilidade do sistema e disponibilidade dos circuitos, etc. Na utilização do religamento automático convergem interesses dos operadores de sistema e das concessionárias de transmissão. A estatística de desligamentos do SIN indica que a eficácia (taxa de sucesso) do religamento para defeitos fugitivos é relativamente baixa; alcança cerca de 50% nas redes de 500 e 345 kv e fica abaixo de 50% na rede 440 kv. O tempo morto tem influência significativa na taxa de sucesso do religamento automático. A prova mais evidente disto é que muitas manobras de religamento rápido sem sucesso, obtém sucesso quando são feitas manualmente tendo decorrido um tempo maior. Quando se consideram os diversos aspectos envolvidos no problema, verifica-se que o religamento tripolar lento com tempo morto da ordem de 5 segundos constitui uma alternativa bastante atraente para a melhoria do desempenho do religamento e aumento de sua taxa de sucesso. A experiência na utilização da estratégia de religamento tripolar lento tem sido bastante promissora. As taxas de sucesso de suas manobras de religamento superam, em geral, as taxas médias apresentadas pelos demais circuitos do SIN. Para circuitos de 500 kv da Interligação Norte/Sudeste, a eficácia chega a valores de até 90% REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS (1) Relatórios de Estatística de Desligamentos Forçados de Componentes do SIN Linhas de Transmissão Período: 2002 a (2) Bases de Dados de Desligamentos Forçados, Atuações de Proteção e Religamento Automático do SIN Período: 2002 a (3) Massaud, A. G, Aquino, A. F. C, Adoção do Religamento Tripolar Lento: Benefícios para o Desempenho do SIN e para Concessionárias de Transmissão IX Seminário Técnico de Proteção e Controle Junho de 2008 Belo Horizonte, MG Brasil DADOS BIOGRÁFICOS Antonio Felipe da Cunha de Aquino nasceu em Teresópolis, RJ Brasil, em 13 de junho de Graduou-se em Engenharia Elétrica pela UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro em Obteve o grau de mestre pela COPPE/UFRJ no ano de Entre os anos de 1999 e 2000 trabalhou como pesquisador no CEPEL Centro de Pesquisas em Energia Elétrica. Desde o ano de 2000, trabalha no ONS Operador Nacional do Sistema Elétrico com análise de sistemas elétricos. Seus principais interesses são a estabilidade de sistemas elétricos, interligação de sistemas elétricos, eletrônica de potência e qualidade de energia elétrica. Alexandre Garcia Massaud nasceu no Rio de Janeiro, RJ Brasil em 28 de novembro de Graduou-se em Engenharia Elétrica pela UERJ Universidade Estadual do Estado do Rio de Janeiro em Entre os anos de 1972 e 1973 trabalhou como engenheiro eletricista na Light SESA. De 1974 a 1977 trabalhou na Eletrosul Centrais Elétricas do Sul do Brasil, com análise de sistemas elétricos. De 1978 a 1995 trabalhou na Eletrobras Centrais Elétricas Brasileiras, atuando em diversas atividades relacionadas ao planejamento de sistemas elétricos. Desde então, trabalha no ONS Operador Nacional do Sistema Elétrico com análise de sistemas elétricos. David do Nascimento Gonçalves nasceu no Rio de Janeiro, RJ Brasil, em 06 de junho de Graduou-se em Engenharia Elétrica pela UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro em Obteve o grau de mestre pela COPPE/UFRJ, no ano de Entre os anos de 2000 e 2004 trabalhou como engenheiro eletricista na Light SESA. Desde o ano de 2004, trabalha no ONS Operador Nacional do Sistema Elétrico com proteção e controle de sistemas elétricos. Seus principais interesses são proteção e controle de sistemas elétricos, eletrônica de potência e qualidade de energia elétrica.
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