dos seus constrangimentos espacio-temporais e adaptar-se ao ritmo e estilo de cada aprendente, proporcionando-lhe uma aprendizagem mais de acordo com
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1 O DOCENTE EM DISTÂNCIA Mª de Fátima Goulão Universidade Aberta fgoulao@netcabo.pt Num ambiente de ensino a distância, a mudança metodológica exige uma alteração de mentalidade e de práticas dos docentes. A estes são atribuídas novas funções e responsabilidades. Assim, o docente, para além de transmitir conhecimentos, deve dinamizar o processo de aprendizagem do aluno, por forma a desenvolver as suas capacidades, nomeadamente a de aprender a aprender, a sua autoaprendizagem e a sua autonomia. A este actor, no cenário da educação, em particular no ensino a distância, são agora atribuídas novas funções, novos papéis. Como é visto pelos aprendentes, em ensino a distância, esta nova figura de professor? Foi com o objectivo de contribuir para clarificar esta questão que surgiu este trabalho. Neste sentido, este constitui uma reflexão sobre a representação social do docente, em ensino a distância, por parte de aprendentes usuários deste sistema de ensino. Para tal utilizámos os resultados de um estudo exploratório, levado a cabo junto de uma amostra de aprendentes, que constitui a base empírica do nosso trabalho. Os primeiros resultados, concernentes à análise de conteúdo das respostas à questão colocada aos aprendentes, apontam para um perfil de docente, onde se destaca a categoria disponível. Palavras-chave: ensino a distância, docentes, papéis sociais Introdução A nossa sociedade é objecto de um complexo processo de transformação que tem implicações em vários aspectos da vida dos indivíduos. Os desafios que se nos colocam ao longo da existência fazem-nos repensar a forma de nos posicionarmos nesta sociedade onde a informação e os conhecimentos têm um peso cada vez maior. A tomada de consciência desta realidade faz com que seja cada vez maior a necessidade dos indivíduos tentarem saber cada vez mais, pois este aumento do conhecimento pode significar melhores e maiores oportunidades pessoais e profissionais, maior capacidade de diálogo com os demais e com o mundo que nos rodeia. A necessidade de termos os conhecimentos e as competências adequadas quer ao diálogo, quer aos inúmeros desafios, de um ponto profissional, com que nos deparamos no nosso dia-a-dia, tornou- -se um aspecto primordial nas nossas vidas. No entanto, esta necessidade de actualização constante, por vezes, não se coaduna com o nosso estilo de vida, de um ponto de vista pessoal e profissional. Tanto as necessidades como os constrangimentos para as colmatar são muitos. É neste sentido que o ensino a distância joga um papel de destaque. Permite que os indivíduos adquiram nova formação, melhorem as suas performances, adquiram novas competências que lhes permitam adequar-se mais às suas necessidades e aos desafios da sociedade. Surge, assim, a oportunidade de enfrentar novos desafios sem que os indivíduos necessitem de sair do seu posto de trabalho, de se deslocarem a um lugar determinado, a horas previamente estabelecidas ou a seguirem a um ritmo e de uma forma que não é a mais adequada para cada um deles. Pelo seu carácter flexível, o ensino a distância permite, assim, libertar os indivíduos 2745
2 dos seus constrangimentos espacio-temporais e adaptar-se ao ritmo e estilo de cada aprendente, proporcionando-lhe uma aprendizagem mais de acordo com os seus constrangimentos. É neste sentido que, cada vez mais, o ensino a distância ganha sentido na formação ao longo da vida, ao permitir conciliar vários aspectos da vida dos indivíduos, como seja a sua vida profissional, familiar, social. O ensino a distância, tal como o concebemos hoje, já percorreu uma longa caminhada. Assim, deste os primórdios do século XIX, com o ensino por correspondência, até à actualidade longo foi o caminho percorrido. Todas as alterações tiveram como intuito a procura de uma melhoria das condições de ensinar e de aprender. Entre elas destacamos o contributo oriundo do crescente desenvolvimento das tecnologias da informação e da comunicação. A integração destes novos sistemas veio colmatar as necessidades práticas da comunicação humana e do processo de ensino-aprendizagem que se vinham a sentir nos modelos de ensino a distância mais tradicionais. De acordo com Aretio (2002) há dificuldade em encontrar uma só definição de ensino a distância, que seja aceite universalmente. No entanto, existem algumas características que fazem dele um sistema particular. Entre elas destacamos, como já vimos, a ausência de constrangimentos espacio-temporais, a separação física entre docente e aprendente, uma aprendizagem independente e flexível. Devido às suas características e à forma de estruturar o ensino, surgiu a necessidade de repensar o conceito de aprendizagem e a forma de o equacionar, levando à procura de um novo paradigma pedagógico, que fosse mais adequado e desse resposta às necessidades existentes. Aliada a esta alteração metodológica, surge uma alteração de mentalidades e de papéis, dos actores intervenientes no processo, nomeadamente no que diz respeito às práticas docentes, onde lhes são atribuídas novas funções e responsabilidades. A estes, agora, mais do que transmitir os conhecimentos, é-lhes solicitado que guiem os aprendentes no seu percurso de aprendizagem, fomentando as suas capacidades de auto-aprendizagem, de autonomia, de aprender a aprender. Ser docente num ambiente a distância não é só uma questão de adquirir um determinado número de conteúdos, é, sobretudo, uma alteração de mentalidade e de postura perante o processo de ensino aprendizagem. O docente deve acompanhar, motivar, dialogar, ser líder e mediador, fomentando e mediando uma interacção humana positiva. Em suma, espera-se de um docente, neste sistema de ensino, que seja criativo, que respeite as diversidades dos aprendentes, propiciando caminhos e formatos diversificados, por forma a motivar, incentivar e dinamizar para as aprendizagens, utilizando diferentes canais de comunicação. Espera-se que seja moderador nas relações interpessoais e intrapessoais e faça o 2746
3 seu papel de auto e hetero-avaliador, de conteúdos e desempenhos. Espera-se também que sirva de suporte e estimulo aos aprendentes, regulando e orientando as suas emoções, afectos e atitudes. Sabemos que estes aspectos pesam extraordinariamente em todo o percurso de aprendizagem a distância, pois, neste sistema de ensino, o esforço solitário dos aprendentes pode ser gerador de obstáculos, quer de ordem cognitiva, quer de ordem afectiva, que, por sua vez, se vão repercutir na sua aprendizagem. A questão da comunicação e do feedback, a dar aos alunos, tem sido muito importante, no mundo do ensino a distância, que se revestiu de várias formas, como seja o recurso à carta, ao fax, ao telefone e ao , pois, nesta situação, não existe contacto directo entre os docentes e os aprendentes. Este contacto é feito com vista ao esclarecimento de dúvidas, que podem ser de carácter científico, formal ou até mesmo institucional. Por vezes, o recurso ao docente faz-se por uma necessidade psicológica, afectiva e de reforço, para a sua continuação no sistema de ensino. De acordo com Aretio (2002) la eficacia y eficiencia de las instituciones educativas dependem en gran parte de la formación, capacidades y actitudes de sus docentes (p.116). Metodologia Neste trabalho, escolhemos como objecto de estudo a representação social do docente em ensino a distância face aos aprendentes, que frequentam este sistema de ensino. Dada a falta de contacto directo com os aprendentes, optou-se por enviar um questionário, via , aos discentes inscritos em duas disciplinas de que fazemos o acompanhamento. Este foi enviado, no início do ano lectivo, acompanhado do texto de boas-vindas. Nele se pedia a colaboração dos discentes através do preenchimento de um questionário e se explicavam as razões do mesmo. O preenchimento do questionário era facultativo. Os aprendentes foram livres de responder ou não à nossa solicitação. Caracterização da Amostra Do total de questionários enviados, obtivemos 29 respostas. Que se caracterizam da seguinte forma, quanto ao sexo, idade e anos de frequência no ensino a distância (ED). Assim, temos que, dos 29 sujeitos, 62,1% são do sexo feminino e 37,9% são do sexo masculino. Os sujeitos da amostra apresentam uma média de idade de 40 anos, sendo a idade mínima de 29 e a máxima de 58. No que diz respeito aos anos de frequência do ensino a distância temos um mínimo 0 (aprendentes que estão a iniciar a sua formação) e um máximo de 4, sendo a média de 2 anos. 2747
4 Todos se encontravam na situação de trabalhadores-estudantes e a residir em diferentes pontos do país. Instrumento Utilizámos no nosso estudo um questionário composto por três partes. A primeira parte dizia respeito aos dados de identificação da amostra. A segunda prendia-se com aspectos relacionados com a aprendizagem no ensino a distância, em geral. A questão relacionada com a hipótese em análise neste estudo era apresentada através de uma pergunta onde se solicitava que indicassem as cinco principais características de um docente em ensino a distância. Para analisar os resultados obtidos, nesta questão, foi utilizada a técnica de análise de conteúdo. Resultados A partir da resposta geral relativa à questão sobre o docente de ensino a distância obteve-se um conjunto de 116 sub-respostas. Estas foram submetidas à técnica de análise de conteúdo, em dois momentos distintos. 1ª parte No primeiro, de acordo com esta análise, podemos agrupar as respostas dadas em 6 categorias diferentes. A tabela que se segue apresenta as categorias encontradas e a definição das mesmas. Tabela 1 Categorias de resposta ao questionário (1º momento) Categoria Definição Exemplos de resposta Disponibilidade Categoria de respostas que está relacionada com a disponibilidade do docente face às solicitações dos aprendentes. Conhecimentos Teóricos Categoria de resposta relacionada com conhecimentos relativos às matérias a que estão a fazer o acompanhamento. Estimulação Conhecimento da Realidade Suporte Outras Categoria de resposta que aponta para referências de carácter motivacional ou de estímulo. Categoria de resposta relacionada com o conhecimento relativo à especificidade do sistema de ensino onde se encontra. Categoria de resposta onde se inserem todos os aspectos ligados ao acompanhamento que o docente deve prestar aos aprendentes. Categoria de resposta onde se inserem outros aspectos cuja frequência é pouco expressiva. Disponibilidade na resposta às dúvidas, Ficar perto do aluno, Manter-se contactável. Esclarecimento de dúvidas, Desdobramento de alguns conteúdos dos manuais mais confusos. Ser inovador, Criatividade, Dinâmico. Percebe a especificidade deste sistema, Adaptação ao método de ensino a distância. Encorajamento ao estudo e ao método, Elucidar sobre a estratégia correcta de estudo 2748
5 A escolha destas categorias foi feita a partir das respostas dos aprendentes sem termos em conta nenhum pressuposto ou grelha de orientação. A distribuição das respostas pelas diferentes categorias encontra-se representada no gráfico 1. Gráfico 1 Distribuição das respostas em função das categorias (%): 1º momento A análise deste gráfico permite-nos constatar que a categoria Disponibilidade é a que apresenta um valor mais elevado, seguida da categoria Estimulação. Estas duas categorias reúnem as respostas que se prendem com a prontidão de resposta por parte do docente, o acesso ao docente, o seu papel de gestor das emoções e dos afectos. Com um peso próximo desta segunda categoria surge a dos Conhecimentos Teóricos, onde a grande a maioria das respostas se prende com o esclarecimento de dúvidas e a necessidade de reformular alguns aspectos da matéria que podem ser geradores de confusão. Os aprendentes não deixam de referir a importância do docente no encaminhamento e elucidação das formas mais adequadas de estudar bem como no encorajamento necessário ao seu prosseguimento. A categoria que surge em último lugar é aquele que diz respeito ao Conhecimento da Realidade. O posicionamento desta categoria pode ser entendida pelo facto das respostas terem sido pulverizadas, sobretudo, pelas categorias Disponibilidade, Estimulação e Suporte, que reúnem, possivelmente, aspectos mais particulares para este grupo de aprendentes, deixando para a categoria Conhecimento da Realidade aspectos mais de carácter geral 2ª parte A segunda parte deste estudo consiste na análise das respostas dadas pelos aprendentes tendo como base as funções atribuídas a um docente de ensino a distância, de acordo com Aretio 2749
6 (2002). De acordo com este autor, as funções básicas de um docente em ensino a distância podem agrupar-se em: Orientadora, Académica e Institucional. A análise das nossas respostas levou-nos a criar uma 4ª categoria Outra. A definição desta e das restantes categorias, bem como os exemplos de respostas, encontram-se descritos na Tabela 2. Tabela 2 Categorias de resposta ao questionário (2º momento) Função Definição Exemplo de respostas Orientadora Centrada fundamentalmente no âmbito Compreensão de que cada afectivo, das atitudes e emoções. aluno é um mundo ; Académica Institucional Outra Centrada na facilitação das aprendizagens, de ajuda e reforço da auto-aprendizagem. Cognição. Centrada dos aspectos burocráticos, inovadores e inerentes a este sistema de ensino Respostas que são transversais a mais do que uma categoria anterior ou não encontram relação com nenhuma. Disponibilidade Actualização das matérias (testes formativos) ; Objectividade na explicação da matéria Compreensão das dificuldades inerentes a este tipo de ensino, Inovador Profissionalismo, Boa voz À semelhança do que foi feita na análise anterior também procedemos à distribuição das respostas por cada uma das categorias estipuladas. A representação gráfica dessa distribuição, em termos percentuais, encontra-se no Gráfico 2. Gráfico 2 Distribuição das respostas em função das categorias (%): 2º momento A análise das respostas, a partir dos pressupostos de Aretio (op.), vai no mesmo sentido daquela que tínhamos encontrado na 1ª parte do nosso estudo. Encontramos aqui respostas que nos 2750
7 permitem preencher as categorias previamente estabelecidas. Tal como acontecia anteriormente a primazia vai para os aspectos que se ligam com a gestão de afectos, emoções e atitudes, face ao ensino a distância e à sua aprendizagem. Esta afirmação é sustentada pelos valores obtidos na Função Orientadora. Também, nesta 2ª parte, não deixam de ser preocupação os aspectos de ordem cognitiva, ligados à gestão da sua aprendizagem, ao reforço da auto-aprendizagem, da autonomia e flexibilidade preconizados por este sistema de ensino. Na terceira categoria Função Institucional os aprendentes fazem sentir a sua preocupação para com os aspectos mais de ordem burocrática mas nunca perdendo de vista e reforçando sempre a necessidade de que o docente seja uma pessoa actualizada, inovadora, o que, neste campo, pressupõe variedade de recursos e percursos, que facilitam a personalização do processo, bem como canais diversificados e comunicação e colaboração, com a consequente adaptação metodológica e didáctica. Tal como dissemos anteriormente a 4ª categoria, que surge em último lugar reporta a aspectos que foram considerados por nós transversais e, que por essa razão, mereceram um tratamento separado. Conclusão Tal como dissemos anteriormente, ser docente em ensino a distância implica uma alteração de mentalidade, postura e paradigma pedagógico. Pois aliado a este sistema de ensino novas exigências e novos papéis têm lugar e abrem outras portas, outras investigações. Os resultados obtidos neste estudo exploratório, através das respostas dadas pelos participantes, dão-nos conta de uma outra forma de pensar a profissão de docente, quando estamos em ensino a distância. As categorias encontradas na 1ª parte do nosso estudo, bem como, os valores associados a cada uma delas permitem-nos fazer pontes para essa forma de encarar a profissão docente. Neste sentido as duas principais categorias são a disponibilidade e a estimulação, que se ligam com os aspectos relacionados com a prontidão, para poder dar resposta às solicitações dos aprendentes, quer elas sejam de carácter cognitivo, formal quer tenham a sua razão de ser em aspectos mais afectivos e emocionais. Não se trata, pois, de transmitir mais informação ao aprendente, mas sim de o ajudar a superar as dificuldades, que lhe vão surgindo ao longo da sua formação, em diferentes aspectos e matérias. 2751
8 O esforço do docente deverá ser canalizado para personalizar este sistema de ensino, através de um apoio que propicie o estímulo e a orientação de cada um dos aprendentes, de acordo com as suas necessidades, ajudando-os a encontrar o seu caminho e a resolver as suas dificuldades relativamente ao material didáctico. É também neste sentido, que apontam os resultados obtidos no 2º momento do nosso estudo, ao colocar em evidência a função de orientador. Mais uma vez se destaca a importância de alguém que está presente, que ajuda na caminhada, que dá alento neste percurso do ensino a distância. Mas sem nunca descuidar os aspectos que reforcem a auto-aprendizagem, a sua autonomia, o aprender a aprender. Pretende-se também que o docente seja uma pessoa actualizada, pedagógica e tecnologicamente, e inovadora neste sistema de ensino, que saiba adequar a sua prática às novas tendências. O docente deve, então, combinar estratégia, actividades e recursos com o objectivo de incrementar o processo de ensino-aprendizagem, tendo sempre presente o processo de feedback académico, pedagógico e afectivo, através do qual se facilita e mantém a motivação dos aprendentes. Em suma, a autonomia e a flexibilidade existentes no ensino a distância devem ser reforçadas com o feedback necessário para o desenrolar do percurso de aprendizagem. Este não se deve ficar na esfera dos conhecimentos, dos conteúdos cognitivo, mas deve alargar-se à esfera afectiva. Esta componente permite-nos trabalhar as reacções emocionais à situação, aos conteúdos, ao próprio sistema de ensino e que podem ser bloqueadoras das aprendizagens cognitivas. Permitem-nos, ainda, orientar os aprendentes na forma de estar no ensino a distância. 2752
9 Bibliografia Aretio, Lorenzo García (2002). La educación a distancia. Barcelona: Ariel Educación Barbera,Elena & Badia, Antoni (2004). Educar com aulas virtuales: Orientaciones para la innovación en el proceso de enseñanza y aprendizaje. Madrid: A. Machado Libros, S.A. Dias, Ana A. Silva & Gomes, Mª João (coord.). (2004). E-learning para e-formadores. Guimarães: TecMinho Fonseca, Fabiana B. (2004). E-learning e a Profissão Docente. in Consultado em Outubro 2004 Goulão, Mª de Fátima (2002). Ensino aberto a distância: Cognição e Afectividade. Tese de doutoramento defendida na área das Ciências da Educação. Lisboa: Universidade Aberta (2004). Aprender e Ensinar a Distância. CD-Rom das Actas da Conferência eles 04 elearning no Ensino Superior. Aveiro Jézégou, Annie (1998). La formation a distance: Enjeux, perspectives et limites de l individualisation. Paris: L Harmattan 2753
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