OFICINA DE ORIENTAÇÃO VOCACIONAL: EM BUSCA DE UMA IDENTIDADE PROFISSIONAL

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1 OFICINA DE ORIENTAÇÃO VOCACIONAL: EM BUSCA DE UMA IDENTIDADE PROFISSIONAL Emiliano Jaskulski 1 Milena da Silva Costa 2 Roselaine Londero Mossatti 3 Mara Regina Nieckel da Costa 4 RESUMO Este artigo apresenta o trabalho realizado por alunos do Curso de Psicologia da Universidade Luterana do Brasil em uma Oficina de Orientação Vocacional. Essa Oficina abordou a complexidade dos fatores envolvidos na escolha de uma profissão e propiciou aos adolescentes um espaço em grupo onde puderam discutir abertamente as dúvidas que permeiam a escolha vocacional. Desta forma, os mesmos dividiram com seus pares a discussão sobre como fazê-la, sem excluir a reflexão sobre a dimensão desta responsabilidade e o quanto esta escolha irá afetar diretamente o futuro de suas vidas. Palavras-chave: Oficina, Orientação Vocacional, Adolescentes. INTRODUÇÃO A Oficina de Orientação Vocacional: Em Busca de Uma Identidade Profissional consistiu-se em uma atividade concomitante e integrante da MULTIFEIRA DE PROFISSÕES da Universidade Luterana do Brasil Campus Guaíba, em junho de Esta oficina foi realizada com o intuito de possibilitar aos adolescentes em fase de pré-vestibular, e conseqüentemente em fase de escolha profissional, um espaço de reflexão acerca desta importante decisão. Assim, este trabalho teve como objetivo a abertura de um canal de comunicação entre os participantes da Oficina, onde foram discutidos assuntos pertinentes ao seu momento de vida e a necessidade de fazer uma escolha profissional, bem como os anseios e dúvidas provenientes deste momento tão decisivo em suas vidas. 1 Acadêmico do Curso de Psicologia/ULBRA GUAÍBA 2 Acadêmica do Curso de Psicologia/ULBRA GUAÍBA 3 Acadêmica do Curso de Psicologia/ULBRA GUAÍBA - mroselaine@pop.com.br 4 Professora do Curso de Psicologia ULBRA/GUAÍBA

2 2 É de conhecimento comum que o momento da escolha profissional é significativamente importante na vida de qualquer indivíduo e geralmente esta escolha se dá junto com outras importantes e diferentes escolhas que esse indivíduo tem que fazer na sua vida, ou seja, acontece em um momento evolutivo em que o adolescente prepara-se para assumir uma identidade sexual, religiosa, entre outras. Dentre estes desafios nossa cultura e sociedade impõem hoje o que entendemos ser um desafio ainda maior: escolher a profissão que deverá ser seguida pelo resto de sua vida, enquanto contam apenas dezesseis, dezessete anos de idade, ou seja, quando ainda são muito jovens para escolher. Segundo Erikson (1998), o adolescente está em idade de experimentar grandes mudanças. Estas são tão intensas e contínuas, tão características da idade adolescente, que fazem pensar num indivíduo submetido a uma crise contínua. É de se questionar como este indivíduo conseguirá realizar tarefas tão importantes como as que têm que concluir: definir-se ideológica, religiosa e eticamente, etc. A sociedade, atualmente, vive um momento de intensa modificação no que se refere ao mercado de trabalho, exigindo cada vez mais capacitação e aprimoramento dos profissionais que desejem atuar neste universo. Fator este que desencadeia um compromisso de vencer frente à alta competitividade do mercado. Este compromisso, por sua vez, vem arraigado de dificuldades e exposição pessoal por parte de quem encara esta disputa, muitas vezes desigual e injusta, colocando frente a frente indivíduos de diferentes níveis socioeconômicos e, por conseqüência disto, de diferentes formações culturais, cujas possibilidades de estudo nem sempre foram as mesmas. Segundo Levenfus (1997), a competitividade do mercado de trabalho fará, muitas vezes, com que a escolha profissional tome rumos de um conflito entre o lutar ou o acomodarse. Além disso, o jovem toma atitudes nem sempre saudáveis nesta necessidade de escolha. Pode optar por estudar incessantemente, evitando refletir profundamente sobre o assunto, levar o seu hobby ao mais próximo possível de uma profissão rentável ou ainda decidir-se por uma posição e classe social provenientes em um pensamento mágico, unicamente ancorado em uma escolha assertiva. Para o adolescente, estas questões muitas vezes estão ligadas a sua identificação com um modelo familiar e/ou social ao qual esta inserido, tornando a escolha profissional uma etapa posterior a sua formação de identidade.

3 3... definir o futuro não é somente definir o que fazer, mas, fundamentalmente, definir quem ser e, ao mesmo tempo, definir quem não ser. Quando o adolescente se preocupa somente pelo que fazer, o psicólogo deveria restituir-lhe a parte da realidade que esteja escamoteada. Terá que lhe mostrar que forma de ser escolhe ou quer escolher. E quando se preocupa somente por que coisa quer ser, terá que lhe mostrar que relação tem a ocupação concreta com esse modo de ser que propõe assumir. (BOHOSLAVSKI, 1987, p. 53). Desta forma, entendemos a complexidade da opção vocacional como sendo uma escolha de vida que acarreta em elaboração de lutos, identificações, tomada de decisões e, conseqüentemente, em uma formação de identidade. Por este prisma, a atividade de um profissional de psicologia que atue neste momento da vida dos indivíduos deverá levar em consideração estes aspectos estruturais, vendo e entendendo este adolescente como um ser biopsicossocial. Embora, nem sempre fique evidente, o adolescente que escolhe a profissão mostra que quer crescer. Isto sugere uma reestruturação, não só de si mesmo, mas de toda família, o que é motivo suficiente para fazê-lo sentir-se culpado. É importante, no Processo de Orientação Vocacional, a pesquisa dos níveis inconscientes, pois neste período as figuras parentais, sociais, ambientais, que ficam recalcadas no inconsciente, norteiam sua vida e influenciam na escolha vocacional. Por isso, destaca-se a importância de estudar o sujeito, sua história pregressa, sua relação com a família e a sociedade, sua capacidade de amar... A orientação vocacional é, antes de mais nada, um processo de elaboração (BOHOSLAVSKY, 1987). Bohoslavski (1987) ainda refere quais seriam os critérios utilizados por psicólogos clínicos para esta atuação frente à necessidade de escolha profissional por parte de seus clientes: a) O adolescente pode chegar a uma decisão se conseguir elaborar os conflitos e ansiedades que experimenta em relação ao seu futuro; b) as carreiras e profissões requerem potencialidades, que não são específicas, modificando-se no transcurso da vida, incluindo, o tempo de estudante e profissional; c) o prazer no estudo e na profissão depende do tipo de vínculo que se estabelece com eles. Por sua vez, o vínculo depende da personalidade, que não é um a priori, mas que se define na ação;

4 4 d) a realidade sociocultural muda incessantemente. Surgem novas carreiras especializações e campos de trabalho, continuamente. Diante destas considerações acerca da escolha profissional, bem como do momento de vida em que esta ocorre, descreveremos os modelos adotados para a realização da referida Oficina de Orientação Vocacional. METODOLOGIA A Oficina Em Busca de Uma Identidade Profissional foi realizada com 53 adolescentes, de ambos os sexos, estudantes do Ensino Médio das escolas de Guaíba/RS e região. Consistiu basicamente em uma atividade de metodologia participativa, com a orientação de três acadêmicos do curso de Psicologia da ULBRA/Guaíba, instrumentalizados com técnicas de grupo. A Oficina Vocacional foi realizada em um encontro, com duração de duas horas. Inicialmente, o grupo foi convidado a participar da dinâmica de grupo Descobertas ao Sonhar Acordado que teve como objetivo promover a apresentação e integração dos participantes, bem como a divisão destes em 6 subgrupos. Essa dinâmica foi adaptada à oficina pelos acadêmicos e envolveu brincadeiras com balões, de acordo com os diferentes ritmos de música tocados. Após a descontração inicial do grupo e sua integração, ao som de um ritmo instrumental, os adolescentes foram levados a imaginar uma viagem a um local tranqüilo onde entraram em contato com instrumentos e palavras significativas para o seu desenvolvimento profissional. Os balões foram então estourados e, de acordo com o número que continham em seu interior, formaram-se seis subgrupos para trabalhar com o Jogo Tangram. O Jogo Tangram foi desenvolvido como uma proposta reflexiva para a discussão vocacional, através de perguntas impressas em cada uma de suas partes, relacionadas à complexidade de fatores envolvidos na escolha de uma profissão. Ao responder cada pergunta individualmente e no subgrupo, os adolescentes foram levados a refletir sobre seu momento de vida e seus projetos futuros, através da percepção e do conhecimento de si e do mundo que o cerca. A discussão final sobre o Jogo Trangram foi realizada no grande grupo, após todos

5 5 terem montado o quadrado ou outra figura a escolha do participante. Com isto, buscou-se que o jovem pudesse entender que a ocupação não é algo definido de dentro, nem de fora, mas a interação de ambos. No adolescente, reina uma enorme confusão a respeito de todos estes problemas, porque estão relacionados a vínculos manifestos e não manifestos. Quando há a integração das identificações e a perda do caráter defensivo ou protetor original, o adolescente alcança sua identidade ocupacional. Este processo ocorre durante toda a vida, devido à ambivalência das emoções humanas. Talvez o problema de orientação vocacional do adolescente não esteja tão vinculado ao que tem que deixar, mas sim às fantasias relacionadas ao que deixa e das conseqüências fantasiadas ante o abandono dos objetos, dos quais se desfaz (BOHOSLAVSKI, 1987). Após a reflexão, a avaliação final da Oficina se deu através de um questionário de múltipla escolha, entregue ao final da mesma, e das observações realizadas pelos acadêmicos de Psicologia que a coordenaram. RESULTADOS E DISCUSSÃO Como principal resultado, apontamos o aproveitamento por parte de alguns dos adolescentes participantes da oficina em relação ao espaço de discussão oportunizado. Ainda que em pequenos grupos, e de forma tímida no grande grupo, alguns discutiram abertamente as dúvidas que permeiam a escolha de uma profissão como: responsabilidade pelo futuro, medo de fazer a escolha errada, medo de desapontar a família. Dentre outros aspectos, foi salientado que a escolha da atividade profissional representa decidir o que o jovem vai fazer pelos próximos 20, 30, 50 anos ou mais e isto certamente é um grande desafio para todos. Esta preocupação é muito intensa, como pode ser observado nos seguintes depoimentos: Por que tenho de escolher agora o que vou ser? Só tenho dezessete anos, é muito cedo ainda, a gente nem sabe o quer! ; Eu quero ser cantora! Minha família diz que cantor é vagabundo, que não tem como se sustentar! Minha irmã faz Administração e quer que eu faça também, mas eu não gosto. Eu quero ser cantora e vou ser! ;

6 6 Eu quero fazer psicologia, mas não tenho dinheiro. Já me escrevi no ENEM, mas não sei se vou passar! ; Eu quero fazer fisioterapia, mas tenho um pouco de dúvida ainda... Quando levo minha filha na AACD, vejo o trabalho que as fisioterapeutas fazem com as crianças. As áreas de maior interesse dos adolescentes foram: Carreira Militar, Direito, Cinema, Música e Psicologia, respectivamente. Quanto à avaliação da Oficina Em Busca de Uma Identidade Profissional 74% dos adolescentes consideraram as dinâmicas e o trabalho desenvolvido como excelente ou muito bom e 11% como bom. O grupo considerou seu desenvolvimento como excelente ou muito bom em 43%, 34% como bom e 8% como regular. Os adolescentes consideraram sua participação individual como excelente ou muito boa em 47%, bom em 36% e regular em 2%, já para o aproveitamento pessoal dos participantes, a Oficina, foi considerada como excelente e muito bom em 66%, bom em 15% e regular em 4%. Nenhum aspecto avaliado foi considerado ruim pelos adolescentes, sendo que em todos os aspectos avaliados, 15% dos adolescentes não responderam ao questionário de avaliação. Assim, mediante as avaliações quantitativas, as técnicas de dinâmica de grupo e do Jogo Tangram entendemos ter chamado a atenção dos adolescentes para os assuntos que, segundo nossa percepção e o referencial teórico estudado, são de extrema relevância para a escolha de uma profissão, considerando-se os diferentes fatores que podem contribuir para essa escolha, como a reflexão a respeito de seus interesses e identificação com determinadas áreas profissionais, os diferentes recursos sociais que estão disponíveis para a formação de um profissional, os investimentos que deverão ser feitos e a disponibilidade de cada um para isso, sejam eles financeiros, de tempo ou de energia, bem como a necessidade de delinear um projeto de vida, a fim de planejar ações para a realização do mesmo. CONSIDERAÇÕES FINAIS No decorrer de todo o processo de elaboração deste trabalho, o cuidado na escolha e desenvolvimento das atividades propostas na Oficina foi marcado pelo objetivo de promover o interesse dos integrantes do grupo, de modo a incentivar a participação e reflexão de todos sobre o que representa a escolha de uma profissão. Percebeu-se que a finalidade foi

7 7 alcançada, na medida em que realmente contribuiu para que os jovens possam encarar a análise desta escolha como um processo de construção de suas identidades, como parte da busca de autoconhecimento, da consciência da realidade profissional e do que significa o trabalho na vida de todas as pessoas. A idade de 17, 18 anos, é muito cedo para escolher? Sim, mas o fato é que, na nossa sociedade, a hora é essa, o momento é esse, assim como o é a escolha de um projeto de vida, de seguir ou não uma religião, de morar sozinho... REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOHOSLAVSKI, Rodolfo. Orientação Vocacional A Estratégia Clínica. 7 ed. São Paulo: Martins Fontes, ERIKSON, Erik. O Ciclo de Vida Completo. Porto Alegre: Artes Médicas, GRAMIGNA, Maria Rita Miranda. Jogos de Empresa e Técnicas Vivenciais. São Paulo: Pearson Education do Brasil, LEVENFUS, Rosane Schotgues. Psicodinâmica da Escolha Profissional. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.

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