Discurso do Presidente da Autoridade da Concorrência Abertura da sessão de Lisboa do Road Show Fair Play Lisboa 9 de dezembro de 2014
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- Diana Macedo Graça
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1 Discurso do Presidente da Autoridade da Concorrência Abertura da sessão de Lisboa do Road Show Fair Play Lisboa 9 de dezembro de 2014 Senhor Presidente da Comissão de Concorrência da Câmara de Comércio Internacional em Portugal e Membro da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Dr. Miguel Gorjão-Henriques, Senhor Adjunto do Presidente da Fundação AIP, Professor André Magrinho, Ilustres convidados, Minhas Senhoras e Meus Senhores, É com muito gosto que me encontro aqui hoje, em Lisboa, na oitava, e última sessão do road show da campanha Fair Play, lançada pela Autoridade da Concorrência. No passado dia 8 de outubro, a Autoridade da Concorrência, em parceria com várias associações de empresas nacionais e regionais, lançou uma campanha de sensibilização que percorreu o país de norte a sul, com sessões em 8 cidades do país. A Autoridade da Concorrência realizou sessões no Porto, em Braga, em Aveiro, em Santarém, em Loulé, em Évora, em Viseu. Hoje encerramos o nosso road show em Lisboa. O diálogo com a comunidade empresarial, bem como a interação próxima com todos os agentes económicos é essencial para a consolidação de uma cultura de concorrência em Portugal. Benefícios da Concorrência O motor da economia são as empresas. Delas depende a recuperação económica de que Portugal tanto precisa e é nossa profunda convicção que a 1
2 concorrência tem um papel fundamental a desempenhar neste trajeto de recuperação. É a rivalidade entre empresas e o esforço exigido pela dinâmica da concorrência que permite às empresas alcançar maior produtividade, maior eficiência económica e ganhos financeiros sustentados. Uma empresa que concorre num mercado livre procura, com vista à maximização do seu lucro, reduzir custos, baixar os preços, melhorar a qualidade dos bens ou serviços que oferece, inovar, progredir tecnicamente e expandir a sua atividade. Para além de capacitar as empresas para os desafios que enfrentam, a existência de mercados concorrenciais também beneficia os consumidores, maximizando o seu bem-estar através de melhores preços, maior qualidade e variedade de escolha. Permitindo a entrada e manutenção de empresas eficientes no mercado e afastando as menos eficientes, a concorrência promove a produtividade e potencia o crescimento económico, promovendo e premiando o mérito. Prejuízos das Práticas Anticoncorrenciais Pelo contrário, quando a concorrência é eliminada ou limitada, as empresas perdem o incentivo para inovar e para reduzir custos, tornando-se menos eficientes e competitivas. Tal prejudica, no imediato, os consumidores, diminuindo o seu bem-estar, mas é também nocivo, a médio prazo, para as próprias empresas, que vão perdendo a robustez necessária para enfrentarem novos desafios. Num contexto de crise, em que os cidadãos e contribuintes já se encontram numa situação particularmente vulnerável, uma prática proibida, como por exemplo um cartel, agrava a sua situação económica, obrigando-os a pagar preços mais elevados. As próprias empresas que precisam de consumos intermédios ou inputs para produzir são prejudicadas quando os seus fornecedores se cartelizam, o que também afeta a sua competitividade internacional. O Estado, que enfrenta o desafio da consolidação orçamental, também conhece maiores dificuldades numa economia menos competitiva que proporciona 2
3 menores receitas fiscais ou ainda quando é lesado por situações de concertação na contratação pública, onerando ainda mais os contribuintes. É importante por isso que tenhamos bem consciência dos prejuízos que resultam da violação das regras. Merecem hoje a reprovação dos portugueses tanto a evasão fiscal como a corrupção. A sociedade é hoje cada vez menos tolerante com aqueles que incumprem as regras para seu benefício próprio, lesando a economia como um todo. Não se pode também aceitar que as empresas abusem do seu poder de mercado, que se cartelizem para combinar preços ou dividir mercados, quer nas suas ofertas a privados, quer nos concursos públicos, ou que troquem entre si informação que facilite essa coordenação em prejuízo dos clientes, consumidores ou contribuintes. Para além de uma questão económica, a concorrência é necessariamente também uma questão política e de cidadania. O Papel da Autoridade da Concorrência A Autoridade da Concorrência tem por missão assegurar a aplicação das regras de promoção e defesa da concorrência nos setores privado, público, cooperativo e social, no respeito pelo princípio da economia de mercado e de livre concorrência, tendo em vista o funcionamento eficiente dos mercados, a afetação ótima dos recursos e os interesses dos consumidores. Essa missão traduz-se, assim, em duas áreas principais: a promoção de uma cultura de concorrência em Portugal e a aplicação rigorosa das regras de concorrência. O primeiro objetivo de uma política de concorrência, e de uma autoridade da concorrência, deve ser dissuadir comportamentos anticoncorrenciais e defender um contexto legal pro-concorrencial, ou seja, um ambiente mais amigo dos negócios. Assim podemos evitar os danos para o mercado e para os consumidores. 3
4 Mas não deve haver igualmente hesitação em punir aqueles que violem as regras. Para contribuir para essa prevenção, a Autoridade da Concorrência entende que é seu dever dar a conhecer às empresas os benefícios da concorrência e as regras da concorrência, alertando igualmente para os custos do incumprimento, ou seja, para os riscos que as empresas enfrentam. Transparência e acesso à informação A compreensão das regras é, pois, fundamental para o seu cumprimento. Face à complexidade do direito da concorrência, em permanente evolução e com forte carácter jurisprudencial, é dever das autoridades de concorrência promover o acesso a informação rigorosa e completa sobre as regras de concorrência em vigor e a forma como têm sido interpretadas e aplicadas, quer pela Autoridade da Concorrência, quer pelos tribunais, mas fazê-lo de uma forma acessível e clara para todos. Nesse sentido, a Autoridade elegeu como prioritária uma política de maior transparência na divulgação pública de legislação, estudos, pareceres e prática decisória. O cumprimento das regras de concorrência é ainda facilitado pela elaboração e publicação de orientações. Ao nível das práticas restritivas da concorrência, por exemplo, a Autoridade emitiu orientações relativas à clemência, à determinação da medida da coima e à instrução de processos. Interação com Stakeholders A atividade de promoção de uma cultura de concorrência não deve, no entanto, cingir-se à disponibilização de informação. Deve também ser proactiva na interação com os principais stakeholders. O contexto legal em que as empresas operam é fundamental para garantirmos mercados concorrenciais. Por isso, a Autoridade da Concorrência elegeu como uma das suas prioridades contribuir para instituir uma cultura de contínua avaliação de impacto das políticas públicas na concorrência, em colaboração estreita com o Governo, o Parlamento, as Entidades Reguladoras e outras entidades públicas. 4
5 De facto, é muitas vezes o próprio Estado que introduz restrições à concorrência, ainda que de modo não intencional. Neste domínio, a Autoridade da Concorrência criou em 2013 uma Unidade Especial de Avaliação de Políticas Públicas (UEAP), para assegurar o acompanhamento e a avaliação do sistema normativo português e das políticas públicas, em todos os domínios que possam afetar a livre concorrência. O objetivo é emitir recomendações que permitam que a atividade económica em diferentes setores de atividade se desenvolva num contexto mais favorável à concorrência. Mas a consolidação de uma cultura de concorrência exige fundamentalmente uma interação estreita com a comunidade empresarial. O diálogo contínuo com as empresas é essencial e a campanha Fair Play será apenas um exemplo da interação que queremos dinamizar junto das empresas. Enforcement A atividade de promoção da concorrência só será, no entanto, verdadeiramente eficaz se conjugada com uma aplicação rigorosa das regras de concorrência. As empresas tomam em consideração os riscos que enfrentam e esse risco será tanto maior, quanto mais eficaz for a aplicação das regras pela Autoridade da Concorrência. Nos últimos dois anos, foram promovidas reformas ao quadro legal e institucional da concorrência, com a aprovação de uma nova lei da concorrência, com a criação de um Tribunal especializado em Concorrência, Supervisão e Regulação e com a aprovação de novos Estatutos da Autoridade da Concorrência. Este novo quadro legal e institucional conjugado com melhorias de organização e de métodos de trabalho e com a experiência adquirida ao longo de mais de uma década, permitem que a Autoridade da Concorrência se encontre hoje em melhores condições para assegurar o respeito estrito das regras da concorrência. A atividade da Autoridade da Concorrência centra-se essencialmente em duas áreas de intervenção: o controlo de operações de concentrações entre empresas e a investigação de práticas restritivas da concorrência. Na sessão de hoje, apresentaremos, em traços gerais, as regras aplicáveis a cada uma destas 5
6 áreas. Veremos também quais os meios de que a Autoridade dispõe para detetar, investigar e sancionar eventuais violações à lei e quais os riscos para as empresas do incumprimento. No caso das práticas restritivas, estes riscos podem ser muito elevados. Desde logo, as coimas a que podem estar sujeitas as empresas infratoras poderão ter um impacto financeiro sério, para além custos reputacionais que uma condenação acarreta. As empresas podem ainda estar sujeitas a eventuais ações de indemnização interpostas por terceiros. E, finalmente, também os administradores e dirigentes das empresas podem ser diretamente responsabilizados pela infração e sancionados a título individual. Atuação responsável das empresas Sem prejuízo do papel da Autoridade da Concorrência, quer na aplicação das regras, quer na consolidação de uma cultura de concorrência, é importante sublinhar o papel das empresas na promoção de mercados competitivos. As empresas devem não apenas estar conscientes das regras, mas ser proactivas no cumprimento da lei, desenvolvendo mecanismos internos para prevenir ou identificar eventuais infrações. Devem ainda ser proactivas na sinalização de comportamentos por outras empresas que possam ser lesivos da concorrência ou da sua própria atividade. Teremos oportunidade, na sessão de hoje, de falar, em maior detalhe, da atuação responsável das empresas na promoção da concorrência e dos meios à disposição das empresas para minimizar os riscos da violação da lei. 6
7 Notas finais Para concluir, permitam-me que renove os meus agradecimentos à Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa e à Fundação AIP pelo seu envolvimento empenhado nesta iniciativa. Reitero ainda a importância, para a Autoridade da Concorrência, do diálogo com a comunidade empresarial, para que se criem condições para uma recuperação económica sólida que depende em muito da concorrência pelo mérito e do desafio que se coloca às empresas de serem mais eficientes e inovadoras. Nesta sessão, temos a honra de contar com mensagens da Senhora Comissária Europeia de Concorrência e do Senhor Primeiro-Ministro, a quem agradeço o apoio a esta iniciativa. Temos ainda o privilégio de ter como keynote speaker o Presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos, o Professor Doutor Nuno Garoupa, que nos falará de Concorrência e a cultura portuguesa. Seguir-se-á a apresentação das regras aplicáveis em matéria de práticas restritivas da concorrência e do controlo de concentrações, bem como das consequências do incumprimento. Contamos, para essa apresentação, com 3 especialistas da Autoridade da Concorrência, o Dr. João Cardoso Pereira, a Dra. Mariana Costa e o Dr. André Forte. Finalmente, muitos nos honra igualmente a participação nesta sessão da Senhora Anne Riley, Vice-Presidente da Comissão de Concorrência da Câmara de Comércio Internacional, que abordará o tema Compliance with competition law the business perspective. Resta-me formular votos de que esta sessão da Campanha Fair Play contribua para a consolidação da cultura de concorrência em Portugal e para sua aplicação diária pelas empresas portuguesas. 7
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