Escassez de Médicos 1
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- Marta Palma Bentes
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2 Escassez de Médicos 1 Centro de Políticas Sociais Instituto Brasileiro de Economia Fundação Getulio Vargas Coordenação: Marcelo Cortes Neri marcelo.neri@fgv.br Equipe do CPS: Luisa Carvalhaes Coutinho de Melo Samanta dos Reis Sacramento André Luiz Neri Carolina Marques Bastos Célio Mayone Pontes Ana Lucia Salomão Calçada (Administrativo) 1 Agradecemos a excelente assistência de Gabriel Buchmann, Ana Andari e Celso Fonseca. 1
3 Sumário Executivo O número de médicos atuando no Brasil tem aumentado nos últimos anos. O número de habitantes por médico cai de 893 em 1990 para 595 em 2005, ou seja, aumentou o contingente de doutores no Brasil. Daí conclui-se que a escassez de médicos caiu? Não necessariamente, pois mudanças de demanda e tecnológicas podem mais de compensar as tendências de incremento de oferta observadas. Este trabalho demonstra que do ponto de vista do mercado de trabalho e dos usuários dos serviços de saúde há falta de médicos. Em primeiro lugar, dados da POF demonstram o impacto das despesas médicas privadas no orçamento familiar complementadas pelas evidencias do suplemento de saúde da PNAD acerca da baixa qualidade percebida dos serviços médicos, em particular no que tange a população de baixa renda. Complementarmente, os dados do Censo 2000, os médicos ocupam a liderança da escassez em todos os principais indicadores trabalhistas, como taxa de ocupação, salário e jornada de trabalho. De lá para cá a pesquisa mostra pelas últimas PNADs disponíveis que houve aumento relativo do nível de pressão de demanda a partir de variáveis associadas à inserção das variáveis médicos no mercado de trabalho. A pesquisa demonstra que as respostas acerca da pergunta se faltam médicos além de contemplar várias respostas afirmativas a nível nacional a assimétrica distribuição espacial de médicos não se dá apenas entre estados, mas no interior dos mesmos. Estados como o do Rio de Janeiro e do Espírito Santo se destacam por abrigarem cidades ao mesmo tempo com as maiores e com as menores razões de médicos por habitantes. O estudo analisa movimentos pendulares dos médicos - médicos que moram em um município e trabalham em outro - assim como a migração destes profissionais entre estados e municípios, inclusive aqueles que migraram depois de estudar, procurando subsidiar o debate em torno da iniciativa federal de ampliar o quadro permanente de médicos em cada região com base em incentivos concedidos a recém-formandos em Universidades Federais. A pesquisa aborda a perspectiva do lado dos pacientes, acerca dos serviços prestados pelos médicos enfocando o movimento de pacientes que migram de um município a outro em busca de atendimento médico. A pesquisa dá uma especial atenção ao impacto da incidência de doenças sobre o bem estar subjetivo e material dos doentes. É feita uma análise do acesso e da qualidade percebidos do atendimento de saúde. Os resultados demonstram que a população mais pobre não apenas é a que fica mais doente, como também aquela que lida pior com a doença, uma vez que tem menos acesso tanto a políticas preventivas quanto a tratamento de qualidade 2. Além disso, procuramos, através de pesquisas de orçamentos familiares, medir os impactos dos choques de saúde sobre a saúde financeira das famílias. 2 *Este tipo de questão está sendo aprofundada na nossa linha de pesquisa sobre saúde e saneamento básico desenvolvida para o Instituto Trata Brasil (vide e ) 2
4 Toda informação é sobre o trabalho dos médicos e em relação ao serviço prestado à população geral, tanto para o Brasil quanto para o estado do Rio de Janeiro, como forma de auxiliar ações relativas à epidemia de dengue em curso. Além da análise e interpretação próprias, a pesquisa disponibiliza sistemas de provisão de informação interativos e amigáveis voltados aos cidadãos comuns, com informações inéditas e com produtos em linguagem acessível, tais como panoramas geradores de tabulações ao gosto do usuário e simuladores de probabilidades desenvolvidos a partir de modelos estatísticos estimados, além de mapas e rankings para municípios brasileiros. O sítio da pesquisa permite a cada um traçar o panorama da extensão, causas e conseqüências da falta de serviços de saúde e de médicos na sua localidade, respondendo questões básicas do tipo: "Quem são?", "Onde vivem?", "Onde trabalham?", "Quanto ganham?" e "Quanto trabalham?", entre outras. Rankings Internacionais Um primeiro critério para se analisar a falta de médicos é analisar a relação de número de médicos por 100 mil habitantes ou, como adotamos aqui por razão de simplicidade de exposição, o número de habitantes por médico. Começando por um ranking de 174 paises da ONU o Brasil aparece em 84 o lugar entre 174 paises em termos de número de habitantes por médico, com um médico para cada 870 habitantes logo abaixo do Peru e acima da Algéria. O líder do ranking é Cuba, com um médico para cada 169 habitantes e o último são Malawi, Nigéria e Tanzânia com um médico para cada 50 mil habitantes. Ranking de Médicos por Habitante entre Paises País Médico por Habitantes Topo do Ranking Cuba 169 Saint Lucia 193 Belarus 220 Belgium 223 Estonia 223 Greece 228 Russian Federation 235 Italy 238 Rwanda Base do Ranking Benin Chad Togo Burundi Ethiopia Mozambique Sierra Leone Malawi Niger Tanzania (United Republic of) Fonte: Human Development Report 3
5 Habitantes por Médico IDH e Presença de Médicos no Mundo - Talvez não seja por coincidência que paises com mais médicos apresentem um IDH mais alto. A geração de médicos necessita de um bom sistema educacional e, além disso, médicos geram saúde e expectativa de vida, outro componente do IDH. E, como este estudo demonstra no contexto brasileiro, médicos geram renda, sendo a carreira universitária que apresenta os maiores salários, taxa de ocupação e jornada de trabalho. Apresentamos uma análise de correlação simples de regressão de IDH e presença de médicos no mundo. Escolhemos um ajuste logaritmo por se ajustar melhor as séries. 4
6 IDH X Habitantes por Médico 1,00 0,90 0,80 0,70 0,60 0,50 0,40 0,30 Belgica Cuba Brasil y = -0,1003Ln(x) + 1,4534 India Nigeria Fonte: Human Development Report Detalhamos também a relação entre os componentes do IDH, como expectativa de vida e PIB per capita, de um lado, e o IDH de outro. A relação entre expectativa de vida e o IDH parece mais forte que entre o PIB e o IDH. Ranking entre Estados Analisando os dados, apresentamos abaixo ranking dos estados brasileiros baseados nos dados do Datasus de Os líderes são o Distrito Federal (292 habitantes por médico), seguido de perto pelo Rio de Janeiro (292 habitantes por médico) e mais de longe por São Paulo e Rio Grande do Sul, com 448 e 445, respectivamente. Os últimos do ranking dos estados brasileiros são Maranhão (1786 habitantes por médico), Pará (1351) e Piauí (1282). Ou seja, os dois extremos do ranking estadual do Brasil, chamado de Belíndia por Bacha em referencia a alta desigualdade, estão próximos da Bélgica (223) e Índia (1667). O Brasil aparece em uma posição intermediária. No período de 1990 a 2005, o número de habitantes por médico, segundo os dados do Datasus, cai de 893 para 595, o que equivaleria a uma melhora de 22 posições no último ranking estático internacional. 5
7 2005 Unidade da Federação Ranking HAB/MED HAB/MED Ranking Ranking TOTAL Distrito Federal Rio de Janeiro São Paulo Rio Grande do Sul Espírito Santo Minas Gerais Paraná Santa Catarina Goiás Mato Grosso do Sul Pernambuco Rio Grande do Norte Paraíba Alagoas Sergipe Mato Grosso Roraima Tocantins Bahia Amazonas Ceará Amapá Acre Rondônia Piauí Pará Maranhão Fonte: Ministério da Saúde - CGRH-SUS/SIRH A Geografia da Medicina Apresentamos abaixo um zoom de mapas refletindo a distribuição espacial relativa de médicos na mesma escala que vão do nível nacional ao local carioca. Os extremos de habitantes pó médico abaixo: Habitantes por Médico Esfera Mínimo máximo Mundo 169 Cuba Tanzania UF 56 Distrito Federal 342 Maranhão mun. Br e Rio (+ 250 mil Hab) 93 Niterói Belfort Roxo RAs Cariocas 49 Lagoa Pavuna Fonte: CPS/IBRE/FGV a partir dos microdados do Censo/IBGE e Human Development Report 6
8 Habitantes por Médico 7
9 Habitantes por Médico Rankings Municipais - Habitantes por Médico Discutimos os rankings dos municípios com mais de 250 mil habitantes para dar mais precisão as estimativas, uma vez que a existência de médicos pode ser considerada um evento raro (embora apresentemos também os resultados para os municípios com mais de 100 mil e mais de 200 mil habitantes). Os resultados são surpreendentes à luz daqueles do Rio de Janeiro, em direção ao qual as atenções do país se voltam por força da epidemia de dengue. Entre todos municípios brasileiros, Niterói é também disparado o primeiro no pais (um médico para cada 93,55 habitantes). Vitoria é o segundo, com 133 médicos por habitantes, seguido de Porto Alegre, Florianópolis e Ribeirão Preto. A menor estatística entre as cidades com mais de 250 mil habitantes é Belfort Roxo também situada no Estado do Rio de Janeiro (um médico para cada habitantes) acompanhado de perto de outros municípios fluminenses como São João do Meriti e Duque de Caxias (com um médico para cada e habitantes, respectivamente). No caso do Espírito Santo, que tem o segundo município do país com menor número de habitantes por médico (Vitória, com 133) também apresenta o penúltimo desta classe de municípios (Serra, com habitantes por médico). Este resultado demonstra que o problema de distribuição espacial de médicos não se dá apenas entre estados, mas também no interior dos estados. O estudo analisa movimentos pendulares dos médicos que moram em um município e trabalham em outro, que se revela de importância neste caso. 8
10 Ranking municípios brasileiros com mais de 250 mil hab Habitantes por médico Topo do Ranking 1 RJ Niterói 93,55 2 ES Vitória 133,07 3 RS Porto Alegre 134,04 4 SC Florianópolis 156,06 5 SP Ribeirão Preto 186,46 6 MG Belo Horizonte 201,14 7 SP Santos 208,62 8 RJ Rio de Janeiro 217,38 9 SP Campinas 218,96 10 PE Recife 227,54 Base do Ranking 75 RJ São João de Meriti 2832,42 76 ES Cariacica 2978,53 77 SP Carapicuíba 3218,38 78 SP Itaquaquecetuba 3344,31 79 GO Aparecida de Goiânia 3770,82 80 ES Serra 3862,30 81 RJ Belford Roxo 6878,54 Fonte: CPS/IBRE/FGV a partir dos microdados do Censo/IBGE Movimentos Pendulares dos Médicos (Casa-Trabalho-Casa) Em seguida fizemos um zoom para captarmos um tipo de deslocamento dos médicos fluminenses algumas vezes necessário para esses profissionais, o de casa ao trabalho entre diferentes municípios. Ou seja, os médicos também são profissionais que em geral trabalham em localidades diferentes da de residência. No estado do Rio de Janeiro, 88% dos médicos trabalham no mesmo município em que residem. Dos que se deslocam, grande parte trabalham no município do Rio de Janeiro (44,97% dos que se deslocam), seguido de Niterói (6,6%) e São Gonçalo (6,13%). A tabela a seguir sintetiza a perda dos médicos do municípios de residência função destes movimentos pendulares casa-trabalho-casa que são detalhados nas tabelas mais detalhadas a seguir: 9
11 Médicos Residentes no Estado do Rio de Janeiro Perda Líquida de Médicos por Movimentos Pendulares Residencia-Trabalho - % Pontos de Porcentagem Variação Percentual Rio de Janeiro 8,01 11,77 Niterói 4,70 38,00 Nova Iguaçu 0,37 16,09 Petrópolis 0,26 14,21 Campos dos Goytacazes 0,28 15,73 São Gonçalo -0,04-2,76 Volta Redonda 0,10 7,63 Nova Friburgo 0,05 5,62 Teresópolis 0,22 24,72 Duque de Caxias -0,33-45,21 Fonte: CPS/IBRE/FGV a partir dos microdados do Censo/IBGE Os municípios com mais médicos do Rio de Janeiro tendem a perder em termos líquidos profissionais de saúde. No caso do Rio de Janeiro a queda é de 11,77% dos seus médicos (ou 8 pontos de porcentagem da composição estadual). Niterói a líder brasileira em médicos por habitantes perde 38% de seus médicos durante o dia (ou 4,7 pontos de porcentagem da composição estadual). Isto significa que a taxa real de habitantes por profissionais que ali trabalham em Niterói é de 129 habitantes por médico e não os 93 as estatística calculada em cima dos médicos residentes. De qualquer forma, como o número dos outros municípios a com a maior presença de médicos é 42% acima a começar por Vitória (133). De fato quando se aplica procedimento semelhante aos municípios capixabas não se observa inversão da posição de liderança do ranking de Niterói pois Vitória perde em termos líquidos 1,78% de seus médicos em movimentos casa-trabalho-casa. Serra que ocupa a posição logo a seguir do ranking das cidades com mais de 250 mil habitantes também pouco muda função de movimentos pendulares perda líquida de 0,93% de seus médicos. O município capixaba que se destaca é Vila Velha onde nada menos que 46,2% de seus médicos trabalham em outros municípios. A proporção de Belfort Roxo na população médica do estado praticamente dobra (sobre 85%) quando passamos do critério de município de residência para o município que trabalha praticamente igualando a escassez absoluta de médicos do município de Serra no Espírito do Santo. IDH e Presença de Médicos Talvez não por coincidência Niterói, a líder nacional dos médicos, apresente o segundo IDH do país. Como dissemos para ter médicos há que se ter um bom sistema educacional, médicos geram expectativa de vida, outro componente do IDH. E como este estudo demonstra medicina é a carreira universitária que apresenta as maiores rendas. 10
12 Médicos x IDH Estado do Rio de Janeiro Varre-Sai Niterói IDH = Med/Hab R 2 = Fonte: CPS/IBRE/FGV processando os microdados do Censo Demográfico / IBGE Fonte: CPS/IBRE/FGV a partir dos microdados do Censo. Resultado menos marcado é encontrado quando levamos em conta o salário-hora do medico. As localidades onde os médicos ganham mais por cada hora trabalhada também tendem a apresentar maior IDH. Médicos Sem Fronteiras Segundo o Censo Demográfico, a crônica falta de médicos em determinadas localidades ocorre apesar do fato desses profissionais possuírem altas taxas de deslocamento para outros estados e municípios. Os gráficos a seguir mostram que os médicos são os que mais migram para outras localidades, apenas 73,62% deles são nativos dos Estados que residem atualmente. Quando olhamos em nível municipal esse percentual e ainda menor (apenas 43,63%). A tabela a seguir ilustra que o grande estado fornecedor de médicos para outra região é Minas Gerais. Panorama Nativo do Estado (%) Medicina Engenharia Civil Direito Administração Ciências Econômicas Comunicação Social Fonte: CPS/IBRE/FGV processando os microdados do Censo Demográfico / IBGE 11
13 Panorama Nativo do Município (%) Medicina Engenharia Civil Direito Administração Ciências Econômicas Comunicação Social Fonte: CPS/IBRE/FGV processando os microdados do Censo Demográfico / IBGE RETRATO DE MIGRAÇÃO DOS MÉDICOS Por Origem de Nascimento População Amostra Total População % Salário Total Horas semanais Total Topo do Ranking UF de nascimento NATIVO MINAS GERAIS SÃO PAULO RIO DE JANEIRO RIO GRANDE DO SUL PARANÁ PERNAMBUCO Fonte: CPS/IBRE/FGV a partir dos microdados do Censo/IBGE 12
14 Indicadores de Escassez Trabalhistas Procuram-se Médicos - Em seção do corpo principal do trabalho analisamos, através do Censo 2000, os egressos da carreira universitária de medicina, o que nos propiciará enfocar a taxa de ocupação e atividade além de uma maior abertura espacial dos dados. Entre 31 carreiras universitárias de graduação comparadas, os médicos são os que apresentam, ao mesmo tempo, a maior taxa de ocupação (90% deles estão empregados), a maior média salarial (R$ 6270) e a maior jornada de trabalho (50 horas semanais). Se incluímos outros níveis educacionais, como os pré-universitários e os de Pós-graduação chegamos a 85 carreiras escolares. Neste ranking ampliado os indivíduos com Mestrado ou Doutorado em medicina ocupam as posições de destaque nos três rankings, perdendo apenas no quesito salário para os doutores ou mestres em administração, e liderando os demais. Entre as cinco carreiras universitárias com maior taxa de ocupação no mercado de trabalho, cinco são na área médica. Todos esses indicadores econômicos são fortes indícios de que faltam médicos, o que será confirmado por dados da última PNAD disponível. Trabalhamos agora com a última PNAD disponível enfocando a profissão ativa de médico no mercado de trabalho de Senão vejamos: Médicos em Atividade - No ranking de todas as profissões com alguma densidade amostral (aqui arbitradas como populações acima de 75 mil indivíduos ativos) os médicos figuram em 2006 com a quarta ocupação em carga de trabalho semanal, com$ 50,32 horas, sendo apenas superados por dirigentes de empresas maiores e condutores de veículos particulares e de transporte de mercadorias, estes com 51,5 horas semanais. No extremo oposto do ranking encontramos músicos e cantores populares e vendedores a domicílios com menos de 24 horas semanais cada. Entre 2002 e 2006 houve expressivo aumento da jornada de trabalho de no ranking das horas dos doutores. Horas Trabalhadas Horas Posição Posição ranking Horas ranking Total ,25 Ocupações Condutores de veículos sobre rodas (distribuidor de mercadorias) 51, ,20 1 Dirigentes de empresas - empregadores com mais de 5 empregados 50, ,61 3 Condutores de veículos sobre rodas (transporte particular) 50, ,37 2 Médicos 50, ,53 17 Trabalhadores elementares de serviços de manutenção 49, ,26 6 Gerentes de produção e operações 49, ,39 4 Trabalhadores da mecanização agropecuária 48, ,07 5 Magarefes e afins 48, ,76 14 Condutores de veículos sobre rodas (transporte coletivo) 47, ,56 7 Repositores e remarcadores do comércio 47, ,15 10 Guardas e vigias 47, ,70 15 Cabos e soldados da polícia militar 47, ,87 13 Trabalhadores de terraplenagem e fundações 47, ,08 18 Fiscais e cobradores dos transportes públicos 46, ,55 8 Eletricistas-eletrônicos de manutenção veicular (aérea, terrestre e naval) 46, ,60 16 Condutores e operadores polivalentes 46, ,11 11 Vigilantes e guardas de segurança 46, ,08 12 Enfermeiros de nível superior e afins 46, Camareiros, roupeiros e afins 46, Mantenedores de carroçarias de veículos 46, ,73 Fonte: CPS/IBRE/FGV a partir dos microdados da PNAD/IBGE
15 Os médicos são conhecidos por possuírem mais de um emprego o que pode implicar em perdas adicionais no transporte de ida e de volta ao trabalho. De fato, os médicos ocupam com uma boa folga o topo do ranking daqueles com mais de um emprego: 47,91% deles possuem mais de um emprego contra 25,08% do professores de disciplinas no ensino médio. Nas oito primeiras posições do ranking de múltipla inserção trabalhista figuram profissionais das áreas médica e de ensino. Entre 2002 e 2006 houve ligeira redução da parcela de médicos com mais de um emprego mas a posição no ranking dos médicos neste quesito fica inalterada % Mais de 1 Emprego - População por Ocupação R$ Posição ranking R$ Posição ranking Total 4,99% 4,70% Médicos 47,91% 1 48,87% 1 Professores (com formação de nível superior) de disciplinas da educação geral do ensino 25,08% médio 2 28,57% 3 Cirurgiões-dentistas 25,07% 3 32,98% 2 Professores do ensino superior 24,57% 4 24,48% 4 Professores (com formação de nível superior) de disciplinas da educação geral de 5a à 23,17% 8a séries do ensino 5 fundamental 24,17% 5 Professores (com formação de nível superior) de disciplinas da educação geral de 1a à 22,84% 4a séries do ensino 6 fundamental 21,13% 6 Enfermeiros de nível superior e afins 22,30% 7 - Fisioterapeutas e afins 20,13% 8 - Diretores de áreas de produção e operações 20,07% 9 13,40% 10 Técnicos esportivos 18,93% 10 13,97% 9 Moleiros 17,44% 11 - Programadores, avaliadores e orientadores de ensino 17,32% 12 16,45% 7 Psicólogos e psicanalistas 15,97% 13 - Músicos e cantores populares 14,80% 14 - Técnicos e auxiliares de enfermagem 13,41% 15 12,06% 13 Produtores agrícolas 13,15% 16 12,04% 14 Professores (com formação de nível médio) no ensino fundamental 12,18% 17 15,31% 8 Instrutores e professores de escolas livres 12,02% 18 12,87% 11 Dirigentes das áreas de apoio da administração pública 11,88% 19 9,37% 18 Professores (com formação de nível médio) na educação infantil 11,47% 20 8,67% 20 Fonte: CPS/IBRE/FGV a partir dos microdados da PNAD/IBGE 2006 Finalmente, o último indicador de escassez econômica é o maior salário médio percebido no mercado resultado da labuta em todos os trabalhos. Mais uma vez os médicos ocupam a liderança do ranking com um rendimento total do trabalho da ordem de R$ o que guarda um diferencial de mais de 50% em relação ao segundo colocado os dirigentes de áreas de apoio (R$ 3980) das maiores empresas (R$ 3962). Ao contrário dos outros indicadores as posições mais altas de remuneração são acompanhadas de outras profissões associadas a posse de diploma universitário como engenheiros civis, dentistas, professores de nível superior, contadores e advogados. Na cauda inferior da distribuição de salários se situam trabalhadores agrícolas com salários de R$ 113 ao mês seguidos de trabalhadores artesanais e da agropecuária.. Entre 2002 e 2006 houve aumento do rendimento de todos os trabalhos, com a média variando de R$ para R$ 6.192, o que corresponde a um ganho de 10,2% superior aos 4,6% do conjunto de ocupados. 14
16 Salário R$ Posição Posição ranking R$ ranking Total , Ocupações Médicos 6191, ,39 1 Diretores de áreas de apoio 4103, Dirigentes de empresas - empregadores com mais de 5 empregados 3980, ,26 2 Engenheiros civis e afins 3862, ,51 3 Cirurgiões-dentistas 3681, ,13 5 Professores do ensino superior 3476, ,45 4 Contadores e auditores 3207, ,49 7 Advogados 2864, ,47 8 Analistas de sistemas 2857, ,18 6 Serventuários da justiça e afins 2726, ,67 9 Administradores 2719, Gerentes de áreas de apoio 2324, ,55 11 Dirigentes das áreas de apoio da administração pública 2277, ,68 10 Diretores de áreas de produção e operações 2176, ,75 13 Gerentes de produção e operações 2076, ,38 12 Psicólogos e psicanalistas 2050, Enfermeiros de nível superior e afins 2020, Arquitetos 1993, Caixas de banco e operadores de câmbio 1690, ,20 16 Técnicos em contabilidade 1681, ,73 20 Fonte: CPS/IBRE/FGV a partir dos microdados da PNAD/IBGE 2006 Retratos dos Médicos em Atividade Traçamos aqui um panorama dos médicos em atividade hoje no país, através dos microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Privilegiamos o uso dos dados da PNAD por serem mais atuais, e por contemplar maior variedade de informações. Com intuito de atingir maior precisão das estimativas, empilhamos os dados em dois períodos distintos (1995 a 1999 e 2001 a 2006). Apresentamos um perfil dos médicos em atividade no país com informações extraídas do panorama. Panorama (link) Migração Mais da metade dos médicos em atividade são migrantes de outros municípios. A proporção de nativos entre os médicos sofre queda de 4,6 pontos de percentagem na comparação entre períodos em questão, enquanto todos os outros status migratórios crescem. Á exceção daqueles que migraram a menos tempo, a renda média dos médicos que se deslocam de suas terras nativas, é maior, chega a R$ 7192 para aqueles com mais de 10 anos de migração (R$ 5576 para os nativos). PNAD Médicos - População População Total População Renda Total Jornada Categoria 1995 a a a a 2006 Nasceu neste Município 47,03% 42,42% 5575,97 47,77 Migrou UF - Menos de 4 anos 6,94% 7,19% 5024,98 48,21 Migrou UF - De 5 a 9 anos 4,52% 4,53% 6408,29 51,7 Migrou UF - Mais de 10 anos 22,42% 23,82% 7192,46 49,4 Migrou Municipio ou Ignorado 19,09% 22,04% 6589,57 48,65 Fonte: CPS/FGV processando os microdados do PNAD/IBGE. 15
17 Sexo - Como segunda clivagem analisada, observamos no período entre 2001 e 2006 que a proporção de médicos, supera a de médicas (respectivamente, 54,62% e 45,38%). Analisando diferenças de rendas, observamos que a média de renda dos homens (R$ 7521) é muito mais elevada a das mulheres (R$ 4572), assim como a jornada de trabalho (média de 52,12 horas de trabalho semanais para eles contra 44,28 para elas). PNAD Médicos - População População Total População Renda Total Jornada Categoria 1995 a a a a 2006 Homem 53,88% 54,62% 7520,97 52,12 Mulher 46,12% 45,38% 4571,69 44,28 Fonte: CPS/FGV processando os microdados do PNAD/IBGE. Idade A remuneração média dos médicos brasileiros possui trajetória crescente de acordo com a idade, atingindo R$ 8338 para aqueles entre 55 e 59 anos, que apesar dos altos salários não são os que mais trabalham. O pico de jornada é de 51,9 horas exercido por aqueles entre 36 e 39 anos. PNAD Médicos - População População Total População Renda Total Jornada Categoria 1995 a a a a a 24 2,21% 2,10% 1534,13 40,63 25 a 29 13,71% 14,21% 3044,48 48,74 30 a 35 21,42% 17,69% 5318,58 48,01 36 a 39 13,48% 10,98% 6382,69 51,86 40 a 44 16,86% 13,80% 6615,29 49,44 45 a 49 14,28% 12,24% 7218,88 49,15 50 a 54 8,37% 13,02% 7431,71 49,47 55 a 59 3,89% 8,48% 8338,25 48,65 60 ou Mais 5,71% 7,45% 8127,75 42,73 Fonte: CPS/FGV processando os microdados do PNAD/IBGE. Posição na Família - Quanto à posição dentro da família, os dados nos dizem que 58,75% são chefes da família.. Posição na Ocupação A proporção de médicos funcionários públicos cresceu ao longo do tempo (passou de 41,87% para 44,78% no período). Por outro lado, os médicos contapróprias, segundo grupo mais representativo, sofreu queda de participação, cai quase 5 pontos de percentagem entre os dois períodos (de 22,23% para 17,32%). Já os empregadores, com aumentos de participação, apresentam maiores renda (R$ 9813) e jornada (50,4 horas). 16
18 PNAD Médicos - População População Total População Renda Total Jornada Categoria 1995 a a a a 2006 Empregado Agrícola 0,05% 0,00% 0 0 Empregado com carteira 14,66% 11,46% 5741,3 47,28 Empregado sem carteira 6,92% 9,47% 5483,74 49,44 Conta-própria 22,23% 17,32% 6158,83 43,54 Empregador 13,63% 16,06% 9812,84 50,36 Funcionário público 41,87% 44,78% 5261,56 50,12 Não-remunerado 0,61% 0,91% 729,06 42,75 Fonte: CPS/FGV processando os microdados do PNAD/IBGE. Contribuição Previdenciária Houve aumento significativo da proporção de contribuintes para previdência (de 18,59% para 29,22%), os contribuintes possuem os maiores salários (R$ 7826) e jornada (52,6 horas). PNAD Médicos - População População Total População Renda Total Jornada Categoria 1995 a a a a 2006 Sim 18,59% 29,22% 7826,49 52,58 Não 81,41% 70,78% 5503,72 46,9 Fonte: CPS/FGV processando os microdados do PNAD/IBGE. Tamanho de Cidade Como já era esperado, é nítida a escassez de médicos em áreas rurais. Com apenas 0,32% dos médicos brasileiros, é bastante inferior às demais (56,7% nas áreas metropolitanas e 49,08% nas urbanas). Por outro lado, quando olhamos em termos de renda, são os médicos metropolitanos os que ganham (R$ 5507) e trabalham menos (46,5 horas). PNAD Médicos - População População Total População Renda Total Jornada Categoria 1995 a a a a 2006 Metrópole 56,70% 50,60% 5507,17 46,5 Urbana 42,32% 49,08% 6868,29 50,68 Rural 0,98% 0,32% 7795,68 49,59 Fonte: CPS/FGV processando os microdados do PNAD/IBGE. Regiões Assim como na análise por tamanho de cidade, os dados regionais brasileiros corroboram o princípio de escassez relativa. Na região Norte, onde a proporção de médicos é de apenas 2,81%, encontramos os maiores salários (R$ 7054), apesar da jornada ser a menor (46,7 horas). 17
19 PNAD Médicos - População População Total População Renda Total Jornada Categoria 1995 a a a a 2006 Norte 2,77% 2,81% 7053,67 46,74 Nordeste 17,00% 15,69% 5959,02 48,32 Sudeste 60,90% 58,77% 5910,5 48,54 Sul 13,35% 16,04% 6865,41 49,15 Centro 5,97% 6,69% 7094,09 48,69 Fonte: CPS/FGV processando os microdados do PNAD/IBGE. Regiões Metropolitanas - Analisando apenas áreas metropolitanas, as maiores médias de renda são encontrados em Porto Alegre (5212), no Distrito Federal (R$ 6513) e Fortaleza (R$ 6375). No extremo oposto, Rio de Janeiro (R$ 4484) e Recife (R$ 4821) são as metrópoles onde os médicos ganham menos. Em termos de horas trabalhadas, a menor jornada é encontrada no Ro de Janeiro (43,6 horas) e a maior em Fortaleza (49,3 horas). Importante ressaltar que a jornada de trabalho dos médicos é menor em todas as Regiões Metropolitanas, quando comparadas ao total. PNAD Médicos - População População Total População Renda Total Jornada Categoria 1995 a a a a 2006 Pará 1,01% 1,09% 5286,2 46,24 Ceará 1,56% 2,01% 6374,83 49,27 Pernambuco 3,00% 3,08% 4820,54 47,21 Bahia 3,28% 2,64% 6148,81 46,39 Minas Gerais 4,63% 3,92% 5754,01 46,76 Rio de Janeiro 14,18% 13,44% 4484,1 43,56 São Paulo 20,63% 15,27% 5747,61 48,53 Paraná 2,09% 2,47% 5567,38 48,75 Rio Grande do Sul 4,20% 4,56% 6768,29 45,96 Distrito Federal 2,13% 2,12% 6513,26 45,27 Fonte: CPS/FGV processando os microdados do PNAD/IBGE. 18
20 Serviços Médicos na Perspectiva dos Clientes Vistos pelas Pessoas e pelos Pacientes Dados nacionais mostram que aqueles que estiveram doentes, são os que possuem o pior acesso a serviços de prevenção. Cerca de 22,3% dos que estiveram acamados possuem plano de saúde contra 24,86% da população como um todo. A qualidade percebida de todos serviços médicos como plano de saúde, hospitalização e serviços de saúde rotineiros é pior para quem esteve mais exposto as doenças (aproximado pela pergunta de quem ficou acamado nos últimos 15 dias). Populaçã o Estado de Saúde - Média Dificulda de de Andar 100m - Média População Total Esteve acamado Tem Plano Plano - Média Esteve Hospitaliz ado Hospitaliz ado - Média Procurou Serviço de Saúde Serviço de Saúde - Média Categoria Total 100 3,99 4,93 4,08 24,86 4,05 7,03 4,13 14,78 4,06 Esteve acamado 100 3,16 4, ,37 3,98 29,25 4,07 65,86 3,95 Fonte: CPS/IBRE/FGV a partir dos microdados do Suplemento de Saúde da PNAD. Sem prevenção Analisando o acesso e a qualidade dos serviços de saúde, todos os indicadores indicam menor acesso e qualidade de acesso dos mais pobres. A pesquisa revela que a medicina voltada para os grupos de menor educação é menos preventiva e mais curativa. Os universitários são os que possuem maior acesso a serviços de prevenção, 56,08% possuem plano de saúde, enquanto nos analfabetos o percentual é de 11,53%. Apesar do baixo acesso a plano de saúde observado entre os analfabetos: estes são os que procuram mais atendimento em casos de emergência, 7,27% estiveram hospitalizados nos últimos 12 meses contra 6,77% dos universitários, o que gera gargalos no sistema público de saúde. Não prevenir fica mais caro para todos: governo inclusive. Populaçã o Estado de Saúde - Média Dificulda de de Andar 100m - Média Anos de Estudo Esteve acamado Tem Plano Plano - Média Esteve Hospitaliz ado Hospitaliz ado - Média Procurou Serviço de Saúde Serviço de Saúde - Média Categoria Sem instrução ou menos de 1 ano 100 3,92 4,92 4,39 11,53 3,96 7,27 4,05 13,06 3,99 1 a 3 anos 100 3,94 4,92 4,12 16,04 4,01 7,36 4,09 13,85 4,02 4 a 7 anos 100 3,97 4,93 4,12 21,89 4,02 7,01 4,13 14,94 4,04 8 a 11 anos 100 4,04 4,94 4,01 31,56 4,05 6,77 4,16 15,35 4,08 12 anos ou mais 100 4,18 4,95 3,44 56,08 4,12 6,77 4,3 17,6 4,23 Fonte: CPS/IBRE/FGV a partir dos microdados do Suplemento de Saúde da PNAD. Impacto financeiro privado dos choques na saúde Este elemento representa o gasto efetivo com serviços privados de saúde, não só excluindo a provisão pública de saúde, mas ainda não refletindo a demanda por saúde privada, uma vez que há fatores que restringem o acesso (distância, tempo de espera, tempo, custo privado do tratamento que pode ser monitorado com pesquisas sobre auto-percepção individual). O consumo efetivo (uso dos serviços) também não necessariamente equivale às necessidades dos serviços de saúde, pois com ou sem necessidade uma pessoa pode 19
21 consumir serviços de saúde. Ter ativos de saúde (planos de saúde) pode levar a um uso desnecessário dos serviços de saúde (exames, procedimentos médicos, consultas, internações). A estratégia aqui é usar a última pesquisa de gastos por consumo disponível para o Brasil (POF 2003). Infelizmente, o suplemento especial da PNAD 2003 perdeu a informação detalhada sobre despesas médicas, que as versões de 1981 e 1998 apresentavam. Uma possibilidade alternativa aqui é usara última pesquisa de gastos por consumo disponível para o Brasil (POF). A idéia é construir indicadores descritivos agregados que mensurem a extensão e natureza que o impacto dos choques de saúde tem sobre a situação financeira do domicílio de grupos sócio-econômicos diferentes. POF 2003 apresentar maiores níveis de detalhes do orçamento dos indivíduos e domicílios. A idéia é mensurar os diferentes níveis de agregação do consumo de diferentes itens de saúde e identificar seu impacto nas finanças dos consumidores. Isto inclui uma lista de gastos individuais relacionados aos serviços de saúde e aos gastos com remédio no nível do domicílio. A natureza dos gastos, por exemplo com remédios, fornece informações sobre a origem do impacto financeiro relacionado à saúde sobre indivíduos e domicílios. No entanto, nós acreditamos que vale a pena olhar de perto a relação entre o fornecimento privado e público de saúde, aproveitando os detalhes oferecidos pela POF 2003 Saúde financeira A pesquisa ainda analisa o impacto das doenças sobre a saúde financeira das famílias. No caso dos analfabetos 47,96% deles tiveram despesas privadas de saúde que consumiram 20,4% do salário dos doentes pobres em remédios e serviços médicos. No caso das pessoas com o nível universitário 34,6% incorreram em despesas de saúde o que equivale a 9,4% dos seus orçamentos. Paradoxalmente quem pode menos, paga relativamente mais do seu próprio bolso. Despesas Médicas Rio versus Brasil Isolando o Estado do Rio de Janeiro e ap4nas as despesas com serviços médicos que é o objeto de estudo aqui não vemos grandes diferenças do impacto das despesas de serviços médicos no orçamentos. Corresponde a 15,8% da renda de trabalho dos brasileiros e 15,47% no caso dos fluminenses, considerando apenas os que tiveram a despesa (75,9% no caso do Brasil e 73,5% no caso do Rio) 20
22 Escassez de Médicos Texto principal Milton Friedman e Simon Kuznets, dois dos maiores economistas que a história conheceu, escreveram em 1945 o livro Income from Independent Professional Practice - um dos primeiros estudos baseados na teoria de capital humano no qual calculam a taxa de retorno à educação de médicos e dentistas. Segundo eles, o alto retorno recebido pelos médicos do seu investimento em educação se devia a restrições de entrada impostas pela Associação Americana de Medicina. Na mesma linha, podemos argumentar que no caso brasileiro talvez a relativa escassez de médicos se deva a restrições à entrada na profissão. Entretanto, essa restrição se daria num momento anterior, o da formação acadêmica, imposta pela escassez de vagas em cursos superiores de medicina, que por sua vez se deve a combinação de baixo investimento em educação básica e ao alto custo relativo a implantação de tais cursos. Procuram-se Médicos No momento em que é anunciada a criação a força nacional de saúde, que permitirá utilizar médicos de outros estados em eventuais crises de saúde, pesquisa do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (CPS/IBRE/FGV) demonstra que os profissionais formados em Medicina são os mais raros no mercado brasileiro. Entre 31 carreiras universitárias de graduação comparadas, os médicos são os que apresentam, ao mesmo tempo, a maior taxa de ocupação (90% deles estão empregados), a maior média salarial (R$ 6.270) e a maior jornada de trabalho de 50 horas semanais. Se incluirmos outros níveis educacionais, como os pré-universitários e os de Pós-graduação, chegamos a 85 carreiras escolares. Neste ranking ampliado, indivíduos com Mestrado ou Doutorado em medicina ocupam as posições de destaque nos três quesitos, perdendo apenas no quesito salário para os doutores ou mestres em administração, e liderando os demais. Entre as cinco carreiras universitárias com maior taxa de ocupação no mercado de trabalho, cinco são na área médica. Todos esses indicadores econômicos são fortes indícios de que faltam médicos, o que será confirmado por dados da última PNAD disponível. 21
23 Onde há menor Escassez Econômica de Médicos Na busca de médicos pelas as capitais brasileiras, encontramos a menor jornada de trabalho em Porto Alegre, o menor salário em João Pessoa, e a menor taxa de ocupação em Florianópolis. Rankings Internacionais Outro critério para se analisar a falta dos médicos é analisar a relação de número de médicos por 100 mil habitantes ou, como adotamos aqui por razão de simplicidade de exposição, o número de habitantes por médico. Começando por um ranking de 174 paises da ONU, verificamos que o Brasil aparece em 84 o lugar em termos de número de habitantes por médico, com um médico para cada 870 habitantes, logo abaixo do Peru e acima da Algéria. O líder do ranking é Cuba, com um médico para cada 169 habitantes, e os últimos são Malawi, Nigéria e Tanzânia, com um médico para cada 50 mil habitantes. IDH e Presença de Médicos no Mundo Talvez não seja por coincidência que paises com mais médicos apresentem um IDH mais alto. A geração de médicos necessita de um bom sistema educacional e, além disso, médicos geram saúde e expectativa de vida, outro componente do IDH. E, como este estudo demonstra no contexto brasileiro, médicos geram renda, sendo a carreira universitária que apresenta os maiores salários, taxa de ocupação e jornada de trabalho. IDH X Habitantes por Médico 1,00 0,90 0,80 0,70 0,60 0,50 0,40 0,30 Belgica Cuba Brasil y = -0,1003Ln(x) + 1,4534 India Nigeria Fonte: Human Development Report Detalhamos a seguir a relação entre os componentes do IDH, como expectativa de vida e PIB per capita, de um lado, e o IDH de outro. A relação entre expectativa de vida e o IDH parece mais forte que entre o PIB e o IDH. 22
24 Expectativa de Vida (anos) X Habitantes por Médico 85,00 80,00 75,00 70,00 65,00 60,00 55,00 50,00 45,00 40,00 35,00 Belgica Cuba Brasil India y = -5,8692Ln(x) + 109,96 Nigeria Fonte: Human Development Report PIB per capita X Habitantes por Médico Belgica y = -4470Ln(x) Cuba Brasil Nigeria India Fonte: Human Development Report Ranking entre Estados Analisando os dados, apresentamos abaixo ranking dos estados brasileiros baseados nos dados do Datasus de Os líderes são o Distrito Federal (292 habitantes por médico), seguido de perto pelo Rio de Janeiro (292 habitantes por médico) e mais de longe por São Paulo e Rio Grande do Sul, com 448 e 445, respectivamente. Os últimos do ranking dos estados brasileiros são Maranhão (1786 habitantes por médico), Pará (1351) e Piauí (1282). Ou seja, os dois extremos do ranking estadual do Brasil, chamado de Belíndia por Bacha em referencia a alta desigualdade, estão próximos da Bélgica (223) e Índia (1667). O Brasil aparece em uma posição intermediária. No período de 1990 a 2005, o número de habitantes por médico, segundo os dados do Datasus, cai de 893 para 595, o que equivaleria a uma melhora de 22 posições no último ranking estático internacional. 23
25 2005 Unidade da Federação Ranking HAB/MED HAB/MED Ranking Ranking TOTAL Distrito Federal Rio de Janeiro São Paulo Rio Grande do Sul Espírito Santo Minas Gerais Paraná Santa Catarina Goiás Mato Grosso do Sul Pernambuco Rio Grande do Norte Paraíba Alagoas Sergipe Mato Grosso Roraima Tocantins Bahia Amazonas Ceará Amapá Acre Rondônia Piauí Pará Maranhão Fonte: Ministério da Saúde - CGRH-SUS/SIRH A Geografia da Medicina Apresentamos abaixo um zoom de mapas refletindo a distribuição espacial relativa de médicos na mesma escala que vão do nível global ao local fluminense e carioca, passando pelas esferas estaduais e municipais. Habitantes por Médico Esfera Mínimo Maximo Mundo 169,20 Cuba 50000,00 Tanzania UF 56,00 Distrito Federal 342,00 Maranhão mun. Br e Rio (+ 250 mil Hab) 93,55 Niterói 6878 Belfort Roxo RAs Cariocas 49,21 Lagoa 4926,70 Pavuna Fonte: CPS/IBRE/FGV a partir dos microdados do Censo/IBGE e Human Development Report 24
26 Rankings Municipais Discutimos os rankings dos municípios com mais de 250 mil habitantes para dar mais precisão as estimativas, uma vez que a existência de médicos pode ser considerada um evento raro (embora apresentemos também os resultados para os municípios com mais de 100 mil e mais de 200 mil habitantes). Os resultados são surpreendentes à luz daqueles do Rio de Janeiro, em direção ao qual as atenções do país se voltam por força da epidemia de dengue. Entre todos municípios brasileiros, Niterói é também disparado o primeiro no pais (um médico para cada 93,55 habitantes). Vitória é o segundo, com 133 médicos por habitantes, seguido de Porto Alegre, Florianópolis e Ribeirão Preto. A menor estatística entre as cidades com mais de 250 mil habitantes é Belfort Roxo também situada no Estado do Rio de Janeiro (um médico para cada habitantes) acompanhado de perto de outros municípios fluminenses como São João do Meriti e Duque de Caxias (com um médico para cada e habitantes, respectivamente). No caso do Espírito Santo, que tem o segundo município do país com menor número de habitantes por médico (Vitória, com 133) também apresenta o penúltimo desta classe de municípios (Serra, com habitantes por médico). Este resultado demonstra que o problema de distribuição espacial de médicos não se dá apenas entre estados, mas também no interior dos estados. O estudo analisa movimentos pendulares dos médicos que moram em um município e trabalham em outro, que se revela de importância neste caso. 25
27 Ranking população municípios brasileiros com mais médicos/ total habitantes de 250 mil hab habitantes do município por médico 1 RJ Niterói 0, ,55 2 ES Vitória 0, ,07 3 RS Porto Alegre 0, ,04 4 SC Florianópolis 0, ,06 5 SP Ribeirão Preto 0, ,46 6 MG Belo Horizonte 0, ,14 7 SP Santos 0, ,62 8 RJ Rio de Janeiro 0, ,38 9 SP Campinas 0, ,96 10 PE Recife 0, ,54 11 SP São José do Rio Preto 0, ,82 12 GO Goiânia 0, ,57 13 SP Jundiaí 0, ,38 14 PB João Pessoa 0, ,67 15 AL Maceió 0, ,06 16 PR Curitiba 0, ,75 17 SE Aracaju 0, ,45 18 SP São Paulo 0, ,73 19 DF Brasília 0, ,41 20 RS Pelotas 0, ,74 21 SP São José dos Campos 0, ,58 22 PA Belém 0, ,20 23 RS Caxias do Sul 0, ,20 24 BA Salvador 0, ,65 25 MG Uberaba 0, ,56 26 RN Natal 0, ,81 27 MG Juiz de Fora 0, ,81 28 ES Vila Velha 0, ,29 29 SP Sorocaba 0, ,51 30 RJ Petrópolis 0, ,00 31 PR Londrina 0, ,00 32 MT Cuiabá 0, ,77 33 PB Campina Grande 0, ,97 34 MG Uberlândia 0, ,26 35 SP Santo André 0, ,85 36 PI Teresina 0, ,71 37 MS Campo Grande 0, ,56 38 CE Fortaleza 0, ,34 39 SP Moji das Cruzes 0, ,85 40 PR Maringá 0, ,52 41 SP São Bernardo do Campo 0, ,97 42 SP Piracicaba 0, ,81 43 RJ Campos dos Goytacazes 0, ,49 26
28 Ranking (Continuação) população municípios brasileiros com mais médicos/ total habitantes de 250 mil hab habitantes do município por médico 44 SC Joinville 0, ,16 45 MG Montes Claros 0, ,73 46 MA São Luís 0, ,05 47 AM Manaus 0, ,88 48 SP Bauru 0, ,40 49 RO Porto Velho 0, ,09 50 BA Vitória da Conquista 0, ,89 51 PE Olinda 0, ,75 52 SP Franca 0, ,45 53 RJ Nova Iguaçu 0, ,47 54 AP Macapá 0, ,57 55 PE Jaboatão dos Guararapes 0, ,97 56 SP Limeira 0, ,20 57 GO Anápolis 0, ,65 58 PR Foz do Iguaçu 0, ,73 59 BA Feira de Santana 0, ,78 60 RS Canoas 0, ,07 61 BA Ilhéus 0, ,23 62 PR Ponta Grossa 0, ,06 63 AC Rio Branco 0, ,01 64 SP Osasco 0, ,01 65 SP Guarulhos 0, ,98 66 PE Paulista 0, ,81 67 PA Ananindeua 0, ,79 68 RJ São Gonçalo 0, ,23 69 MG Contagem 0, ,17 70 SP Diadema 0, ,01 71 MG Betim 0, ,63 72 RJ Duque de Caxias 0, ,11 73 SP Mauá 0, ,85 74 SP São Vicente 0, ,78 75 RJ São João de Meriti 0, ,42 76 ES Cariacica 0, ,53 77 SP Carapicuíba 0, ,38 78 SP Itaquaquecetuba 0, ,31 79 GO Aparecida de Goiânia 0, ,82 80 ES Serra 0, ,30 81 RJ Belford Roxo 0, ,54 Fonte: CPS/IBRE/FGV a partir dos microdados do Censo/IBGE Nas tabelas a seguir avaliamos o número de habitantes por médico no interior dos municípios que ocupam as posições extremas do ranking acima. Em Itaipu (Niterói) o número de habitantes por médicos é de 86. Por outro lado, em Parque São José (Belford Roxo) são 9736 habitantes por médico. 27
29 Habitantes por Médico Niterói Hab / Med Horas semanais Salário Itaipu Niterói Belford Roxo Hab / Med Salário Horas semanais Areia Branca Jardim Redentor - Lote XV - Nova Aurora - Parque São José Fonte: CPS/IBRE/FGV a partir dos microdados do Censo/IBGE Apresentamos abaixo as mesmas evidências para o município do Rio de Janeiro. No topo do ranking está a Lagoa, com 49 habitantes por cada médico. Informações de outros distritos/subdistritos no Rio de Janeiro estão disponíveis no anexo. Município do Rio de Janeiro Hab / Med Salário Horas semanais Lagoa Botafogo Barra da Tijuca Copacabana Tijuca Vila Isabel Santa Teresa Ilha do Governador Méier Jacarepaguá Rio Comprido Inhaúma Irajá Madureira Penha Ramos Campo Grande Centro Realengo Portuária São Cristovão Anchieta Bangu Cidade de Deus Santa Cruz Guaratiba Pavuna Complexo do Alemão - Ilha de Paquetá - Jacarezinho - Maré - Rocinha - Fonte: CPS/IBRE/FGV a partir dos microdados do Censo/IBGE 28
30 Movimentos Pendulares Residência-Trabalho Em seguida fizemos um zoom para captamos um tipo de deslocamento dos médicos fluminenses algumas vezes necessário para esses profissionais, o de casa ao trabalho ente diferentes municípios. Ou seja, os médicos também são profissionais que em geral trabalham em localidades diferentes a de residência. No estado do Rio de Janeiro, 81, 88% dos médicos trabalham no mesmo município em que residem. Dos que se deslocam, grande parte trabalham no município do Rio de Janeiro (44,97% dos que se deslocam), seguido de Niterói (6,6%) e São Gonçalo (6,13%). A tabela a seguir sintetiza a perda dos médicos dos municípios de residência função destes movimentos pendulares casa-trabalho-casa que são detalhados nas tabelas mais detalhadas a seguir: Médicos Residentes no Estado do Rio de Janeiro Perda Líquida de Médicos por Movimentos Pendulares Residência-Trabalho - % Pontos de Porcentagem Variação Percentual Rio de Janeiro 8,01 11,77 Niterói 4,70 38,00 Nova Iguaçu 0,37 16,09 Petrópolis 0,26 14,21 Campos dos Goytacazes 0,28 15,73 São Gonçalo -0,04-2,76 Volta Redonda 0,10 7,63 Nova Friburgo 0,05 5,62 Teresópolis 0,22 24,72 Duque de Caxias -0,33-45,21 Fonte: CPS/IBRE/FGV a partir dos microdados do Censo/IBGE Os municípios com mais médicos do Rio de Janeiro tendem a perder em termos líquidos profissionais de saúde. No caso do Rio de Janeiro a queda é de 11,77% dos seus médicos (ou 8 pontos de porcentagem da composição estadual). Niterói a líder brasileira em médicos por habitantes perde 38% de seus médicos durante o dia (ou 4,7 pontos de porcentagem da composição estadual). Isto significa que a taxa real de habitantes por profissionais que ali trabalham em Niterói é de 129 habitantes por médico e não os 93 as estatística calculada em cima dos médicos residentes. De qualquer forma, como o número dos outros municípios a com a maior presença de médicos é 42% acima a começar por Vitória (133). De fato quando se aplica procedimento semelhante aos municípios capixabas não se observa inversão da posição de liderança do ranking de Niterói pois Vitória perde em termos líquidos 1,78% de seus médicos em movimentos casa-trabalho-casa. Serra que ocupa a posição logo a seguir do ranking das cidades com mais de 250 mil habitantes também pouco muda função de movimentos pendulares perda líquida de 0,93% de seus médicos. O município capixaba que se destaca é Vila Velha onde nada menos que 46,2% de seus médicos trabalham em outros municípios. A proporção de Belfort Roxo na população médica do estado praticamente dobra (sobre 85%) quando passamos do critério de município de residência para o município que trabalha praticamente igualando a escassez absoluta de médicos do município de Serra no Espírito do Santo. 29
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