XV COBREAP CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA DE AVALIAÇÕES E PERÍCIAS IBAPE/SP 2009



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Transcrição:

XV COBREAP CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA DE AVALIAÇÕES E PERÍCIAS IBAPE/SP 2009 ESTIMATIVA DE CUSTOS PARA RECUPERAÇÃO DA VEGETAÇÃO EM ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE E RESERVA LEGAL NO ESTADO DE SANTA CATARINA. AUTORES: GUILHERME FREITAS DEPRÁ, DARLENE HELEN DE GRANDI, CYRO JOSÉ MATAVELLI, JUSSARA D'AMBROSIO FERREIRA, ANDREY DEL VECCHIO DE LIMA Resumo: Nas avaliações de imóveis rurais para fins de reforma agrária deve-se calcular o custo estimado para recuperar as áreas de preservação permanente e de reserva legal, custo este, que será descontado do valor a ser pago na indenização ao proprietário. Desta maneira, definir uma metodologia capaz de ilustrar as possíveis condições encontradas no campo, se torna de suma importância, principalmente para agilizar esta nova atribuição incumbida aos peritos na elaboração do laudo de fiscalização. Além disso, é importante estabelecer os serviços que serão necessários para recuperar a área e determinar os custos dos mesmos. Sendo assim, o presente trabalho traz propostas de metodologia baseadas em estudos técnicos para recuperação ambiental, que melhor se adaptam ao bioma mata atlântica no estado de SC. Palavras-chave: Área de preservação permanente, Área de reserva legal, Recuperar, Custo estimado, Metodologias. 1

1. EXPOSIÇÃO 1.1 INTRODUÇÃO A legislação ambiental vigente, em especial a Lei n 6.938/81 que dispõe sobre a Política Nacional de Meio Ambiente, tem como um de seus objetivos impor ao poluidor e ao predador, a obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados ao meio ambiente. Em atendimento à legislação, o INCRA traz na última versão do seu Manual de Obtenção de Terras e Perícia Judicial a exigência de identificar, quantificar e calcular o dano ambiental decorrente do uso inadequado das áreas de Reserva Legal e de Preservação Permanente, bem como sua dedução do montante da indenização, isentando o INCRA de custos para a recuperação dos passivos deixados pelos antigos proprietários. Contudo, devido a diversidade de características entre os biomas brasileiros, e mesmo dentro de cada bioma, não é apropriado utilizar o mesmo método de recuperação em todas as regiões, pois é a situação encontrada em cada ambiente que determinará quais os procedimentos que serão necessários, e os custos dos mesmos para sua recuperação. Desta maneira, o presente trabalho apresenta uma metodologia adaptada pelo INCRA-SC, que consiste em uma tabela, onde se determina os procedimentos para a recuperação das áreas degradadas de Reserva Legal e de Preservação Permanente, no bioma Mata Atlântica em Santa Catarina, e em planilhas para determinar os custos de recuperação, conforme a classificação das áreas obtidas na tabela. Este método leva em consideração a situação de degradação das áreas em avaliação, sua declividade, bem como a presença de florestas em áreas próximas, resultando na determinação mais precisa dos procedimentos indicados para recuperação e de seus custos, em cada caso. Desta forma, propiciando a equipe de 2

avaliação subsídio confiáveis para a determinação dos custos de recuperação do Passivo Ambiental. 1.2 OBJETIVO O presente trabalho tem por objetivo oferecer subsídios para determinar os custos de recuperação da vegetação em áreas de preservação permanente e de reserva legal degradadas, bem como, propor metodologias baseadas em estudos técnicos para recuperação ambiental que melhor se adaptam ao Bioma Mata Atlântica no Estado de Santa Catarina. Desta forma, proporcionará ao INCRA/SC maior uniformização no trabalho, mais transparência e agilidade nos processos de avaliação dos imóveis rurais. 1.3 JUSTIFICATIVA As avaliações de imóveis rurais para fins de reforma agrária são regulamentadas pela Norma de Execução Incra/DT nº 2, de outubro de 2006, publicada no Manual de Obtenção de Terras e Perícia Judicial. Em sua segunda edição, o referido manual contempla várias decisões e acórdãos judiciais, recomendações do Tribunal de Contas da União, da Procuradoria Federal Especializada e as exigências das resoluções CONAMA. Traz ainda atualizações da Norma 14.63-3 da ABNT e a exigência de identificar, quantificar e calcular o dano ambiental decorrente da utilização de técnicas inadequadas de manejo e conservação dos solos (Manual de Obtenção de Terras, 2006). Diante desta exigência, as câmaras técnicas das superintendências regionais ficaram encarregadas de elaborar suas planilhas de cálculos, com as estimativas de custos para a recuperação das áreas degradadas em áreas de preservação permanente e de reserva legal. O custo para a recuperação destas áreas, obtido através da planilha, será deduzido do valor a ser pago na indenização do imóvel e destinado a posterior recuperação das mesmas. 3

1.4 METODOLOGIA O método foi adaptado a partir do proposto por Rodrigues et al. (1992), o qual descreve a necessidade de se realizar a caracterização endógena da área e de se averiguar a existência de florestas naturais próximas para a determinação do sistema de reflorestamento a ser utilizado e, por conseguinte, os procedimentos de campo a serem implantados (quadro 1). Quadro 1: Revegetação das áreas degradadas da bacia do rio Ceveiro. METODOLOGIA CARACTERIZAÇÃO ENDÓGENA DA ÁREA EXISTÊNCIA DE FLORESTAS NATURAIS PRÓXIMAS SISTEMA DE REFLORESTAMENTO Procedimento de campo 1 Vegetação herbácea (predominante) com banco de sementes inexistentes b. Presente Implantação de pioneiras,secundárias e climácicas Implantação de pioneiras e secundárias iniciais Práticas de preparo e conservação de solo, coveamento e acompanhamento das mudas 2 Vegetação herbácea (predominante) com banco de sementes com espécies pioneiras em suficiência b. presente Enriquecimento com secundárias e climácicas, após ocupação pelas pioneiras do banco de sementes Enrriquecimento com espécies climácicas Indução do banco de sementes com práticas agrícolas (gradagem ou capinas) e acompanhamento das espécies germinadas 3 Vegetação arbustivo-arbóreo com espécies pioneiras e secundárias iniciais (predominantes) - capoeira b. Presente Regeneração natural Coveamento e acompanhamento das mudas no interior da capoeira Isolamento da área Vegetação florestal ou presente Regeneração natural Isolamento da pouco perturbada área 4 FONTE: ADAPTADO DE RODRIGUES; GANDOLFI; RIBEIRO (1992) Revegetação das áreas degradadas da bacia do rio Ceveiro, Piracicaba, SP Nesta adaptação, foram realizadas alterações de modo a atender as 4

peculiaridades do Estado de Santa Catarina, bem como a contemplar as determinações previstas no Manual de Obtenção de Terras. Neste sentido, foram adicionados alguns itens na estrutura da tabela, como restrição legal de uso áreas de preservação permanente e de reserva legal, declividade e espaçamento. Diferenciar os métodos utilizáveis nas áreas de preservação permanente e de reserva legal é de suma importância, pois cada uma tem uma finalidade ambiental. Conforme incluído pela medida provisória nº 2166-67 de 24 de agosto de 2001 que trouxe alterações a Lei nº 4771 de 1 de setembro de 196, o código florestal brasileiro, a área de preservação permanente tem a função de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas. Assim, a reserva legal é necessária para o uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e flora nativas. Além disso, é necessário inserir a variante declividade, pois de acordo com Martins (200), em áreas com maiores declives o espaçamento entre as mudas deve ser reduzido para que a cobertura do solo seja mais rápida e efetiva. Sendo assim, determinamos que nas áreas onde predomina vegetação herbácea e com banco de sementes inexistente, devido sua fragilidade ambiental, deve-se reduzir o espaçamento, conforme quadro abaixo: Classes de relevo Plano Suave Ondulado Ondulado Moderadamente Ondulado Forte Ondulado Montanhoso Escarpado FONTE: LEPSCH, 1983 Classes de Declividade % Graus 0 2 0 a 1º8 4 2 1º8 4 a 2º1 4 10 2º1 4 a º42 38 10 1 º42 38 a 8º31 1 1 4 8º31 1 a 24º13 40 4 70 24º13 40 a 34º9 31 > 70 >34º9 31 3 x 2 m 2 x 2 m Nas áreas onde não existe banco de sementes e florestas naturais próximas,

devem ser introduzidas espécies dos três grupos sucessionais (pioneiras, secundárias e climácicas), a fim de propiciar uma rápida recuperação e garantir uma diversidade semelhante a floresta original. Para Ferretti (2002), as espécies pioneiras crescem rápido, a pleno sol, produzem sementes em pouco tempo e por isso colonizam a área rapidamente. As espécies secundárias produzem sementes que estão prontas para germinar ao chegarem no solo, formando o que se chama de banco de plântulas, estas espécies germinam à sombra mas precisam de luz para crescerem, nesta busca pela luz, as secundárias chegam ao dossel (teto) da floresta. Ainda segundo o mesmo autor, as espécies climácicas, assim como as secundárias, formam banco de plântulas, mas conseguem se desenvolver e completar todo o seu ciclo de vida à sombra, produzem frutos carnosos e volumosos apreciados por vários animais. Porém, nas áreas com banco de sementes inexistentes e com a presença de florestas naturais próxima devem ser introduzidas apenas espécies pioneiras e secundárias iniciais, pois estas espécies de crescimento mais rápido, além de proteger o solo elas proporcionam sombra e umidade necessárias para germinar as sementes das espécies tardias e climácicas oriundas dos remanescentes florestais próximos. Outra caracterização, endógena da área, é quando houver vegetação herbácea predominante com banco de sementes de espécies pioneiras em suficiência, neste caso aumentamos o espaçamento ficando 4 x 4 m para as espécies secundárias e 4 x 8 m para as espécies climácicas, as quais deverão ser introduzidas após a ocupação das espécies pioneiras, provenientes do banco de sementes. O enriquecimento segundo Ferretti (2002) é um método muito utilizado para acelerar a recuperação de áreas de floresta secundária, como capoeiras muito jovens e com pequenas diversidades de espécies. Por isso em áreas com espécies pioneiras e secundárias em estágio arbustivo-arbóreo (capoeira), que não contam com a presença de florestas naturais próximas, estamos enriquecendo o local com espécies climácicas no espaçamento de 4 x 8 m. Contudo, se houver a florestas naturais próximas emprega-se regeneração natural. De acordo com Martins (200) a regeneração natural é indicada para áreas 6

pouco degradadas que mantêm as características bióticas e abióticas, contudo, elas devem ser isoladas para conseguirem promover os processos naturais de recuperação, pela própria produção de sementes e condições para o desenvolvimento das plântulas e mudas das espécies da área. O item procedimento de campo foi excluído da tabela, para ser trabalhado separadamente, servindo de base para estimar os custos de recuperação das áreas degradadas. Sendo assim, a partir da situação encontrada na área se especifica quais as fases que devem ser adotadas para sua recuperação, e quais as etapas de serviços devem ser realizadas, podendo ser regeneração natural onde apenas se realiza o abandono da área e os mais complexos podem contemplar concomitantemente as seguintes etapas: - IMPLANTAÇÃO, compreendendo os serviços: Combate à formiga 30 dias antes do plantio, capina 1 dias antes do plantio, coveamento e adubação de base 10 dias antes do plantio, plantio e replantio até 4 dias após o plantio. - MANUTENÇÃO 1º ANO, compreendendo os serviços de coroamento e combate à formiga após 60 dias do plantio e coroamento após 6 meses do plantio. - MANUTENÇÃO - 2º ANO, compreendendo duas etapas de coroamento, uma após 12 meses e outra após 18 meses do plantio. Salientamos que as etapas compreendidas em cada fase podem sofrer alterações devido as especificidades de cada área. 1. RESULTADOS Como resultado deste trabalho foi elaborado primeiramente um quadro (quadro2) com os métodos para recuperação de áreas degradadas no Bioma Mata Atlântica em Santa Catarina. A utilização deste quadro irá propiciar ao avaliador o enquadramento das situações encontradas a campo em um sistema de reflorestamento adequado. Cada sistema de reflorestamento foi subdividido em casos, os quais consideram a existência de florestas naturais próximas, o tipo de restrição de uso e a declividade para a determinação da necessidade de plantio de mudas e, nos casos afirmativos, o espaçamento indicado. 7

Quadro 2: Métodos para recuperação de áreas degradadas no Bioma Mata Atlântica/SC METO- DOLO- GIA CARACTE- RIZAÇÃO ENDÓGENA DA ÁREA FLORES- TAS NATURAIS PRÓXIMAS TIPO DE RESTRIÇÃO DECLI- VIDADE ESPAÇAMENTO CASO SISTEMA DE REFLORESTA- MENTO 1 Vegetação herbácea (predominante) com banco de sementes inexistentes b. Presente I. APP II. Reserva Legal I. A PP II. Reserva Legal > 2º < 2º > 2º < 2º 2x2 m (2.00 mudas/ha) 3x2 m (1.667 mudas/ha) 3x2 m (1.667 mudas/ha) 2x2 m (2.00 mudas/ha) 3x2 m (1.667 mudas/ha) 3x2 m (1.667 mudas/ha) 1 2 3 4 6 Implantação de pioneiras, secundárias e climácicas Implantação de pioneiras e secundárias iniciais 2 3 Vegetação herbácea (predominante) com banco de sementes com espécies pioneiras em suficiência Vegetação arbustivoarbóreo com espécies pioneiras e secundárias iniciais (predominantes) - capoeira ou presente I. A PP ou Reserva Legal I. A PP ou Reserva Legal 4x4m (62 mudas/ha) espécies secundárias + 4x8m (313 mudas/ha) espécies climácicas 4x8m (313 mudas/ha) espécies climácicas b. Presente 9 7 8 Enriquecimento com secundárias e climácicas após ocupação pelas pioneiras do banco de sementes Enriquecimento com espécies climácicas Regeneração natural 4 Vegetação florestal pouco perturbada ou presente I. A PP ou Reserva Legal 10 Regeneração natural FONTE: ADAPTADO DE RODRIGUES; GANDOLFI; RIBEIRO (1992) Revegetação das áreas degradadas da bacia do rio Ceveiro, Piracicaba, SP. In: Simpósio Nacional de Recuperação de Áreas Degradadas. Anais... Curitiba, 1992. p. 178-188. Cada um dos 10 casos apresentam os serviços que serão necessários para promover a recuperação ambiental da área, bem como os dados necessários para estimar o custo. As planilhas englobam os custos com a utilização de mão-de-obra e com a aplicação de insumos, os quais foram estimados em quantidade necessária por hectare, através de consultas bibliográficas, demonstrados abaixo: 8

Planilha 1: Cálculo para recuperação de áreas degradadas nos seguintes Casos: Espaçamento: Fase Etapas dos serviços 1 e 4 2x2 m (2.00 mudas /ha) Produto Quantidade /ha Combate à formiga (30 dias) 10 formicida (Kg) Capina (1 dias) 80 Coveamento (10 dias) 100 IMPLANTAÇÃO Adubação Base (10 dias) Plantio Replantio (1-4 dias) 1% 2 7 11,2 fertilizante 4-14-8 (Kg) mudas (un) mudas (un) 20 200 37 MANUTENÇÃO 1º ANO MANUTENÇÃO 2º ANO Coroamento (60 dias) 10 Combate à formiga (60 dias) 24 formicida (Kg) Coroamento (6 meses) 10 Coramento (12 meses) 10 Coroamento (18 meses) 10 TOTAL Custo unitário Custo total Planilha 2: Cálculo para recuperação de áreas degradadas nos seguintes Casos: 2, 3, e 6 Espaçamento: 3x2 m (1.667 mudas /ha) Fase Quantidade /ha 10 Combate à formiga (30 dias) formicida (Kg) Capina (1 dias) 80 Coveamento (10 dias) 66,68 IMPLANTAÇÃO Adubação Base (10 dias) MANUTENÇÃO 2º ANO Plantio Etapas dos serviços Replantio (1-4 dias) 1% Produto 16,67 fertilizante 4-14-8 (Kg) 166,7 0,01 mudas (un) 1667 7, mudas (un) 20,0 Coroamento (60 dias) 100,02 24 formicida (Kg) Coroamento (6 meses) 100,02 Coramento (12 meses) 100,02 Coroamento (18 meses) 100,02 TOTAL MANUTENÇÃO Combate à formiga (60 dias) 1º ANO Custo unitário Custo total 9

Planilha 3: Cálculo para recuperação de áreas degradadas no seguinte 7 Caso: Espaçamento: 4x4 m (62 mudas /ha) esp.sec. + 4x8 m (313 mudas/ha) esp.clim. (total - 938 mudas/ha) Fase Etapas dos serviços Produto Quantidade /ha 10 Combate à formiga (30 dias) formicida (Kg) Coveamento (10 dias) 37,2 9,38 Adubação Base (10 dias) IMPLANTAÇÃO fertilizante 4-14-8 (kg) 93,8 Plantio Replantio (1-4 dias) 1% 28,17 4,221 mudas (un) mudas (un) 938 140,7 Coroamento (60 dias) 6,28 MANUTENÇÃO 24 1º ANO Combate à formiga (60 dias) formicida (Kg) TOTAL Custo unitário Custo total Planilha 4: Cálculo para recuperação de áreas degradadas no seguinte Caso: Espaçamento: 8 4x8 m (313 mudas /ha) esp. clim. Fase Etapas dos serviços Produto Quantidade /ha Coveamento (10 dias) 12,2 Adubação Base (10 dias) IMPLANTAÇÃO Plantio 3,13 9,39 fertilizante 4-14-8 (kg) mudas (un) 31,3 313 TOTAL Custo unitário Custo total Planilha : Cálculo para recuperação de áreas degradadas nos seguintes Casos: 9 e 10 Sistema de reflorestamento: Regeneração natural Fase Etapas dos serviços Produto Quantidade /ha IMPLANTAÇÃO Regeneração Natural TOTAL Custo unitário Custo total 10

2 CONCLUSÕES Os resultados alcançados irão propiciar aos profissionais responsáveis pela avaliação de imóveis rurais, mais especificamente, no quesito custo de recuperação de áreas de preservação permanente e de reserva legal degradadas, um mecanismo objetivo para enquadrar as possíveis situações encontradas a campo em um sistema de reflorestamento. Definido o método de reflorestamento adequado, as planilhas, específicas para cada caso, irão permitir a elaboração do custo de recuperação das áreas mencionadas, conjuntamente com pesquisa de mercado para obtenção dos valores referentes a insumos e mão-de-obra. A utilização das planilhas, por parte dos avaliadores, não fica restrita/condicionada a um determinado período, ou seja, poderá ser utilizada a qualquer tempo desde que atualizada mediante pesquisa de mercado para a obtenção dos valores relativos à mão-de-obra e/ou insumos. O uso desta metodologia para a definição do sistema de reflorestamento e posteriormente para o cálculo dos valores referentes a recuperação de áreas de preservação permanente e de reserva legal degradadas, por parte de todos PFAs do INCRA SR(10) proporcionará padronização dos laudos de avaliação. 3 BIBLIOGRÁFIA CONSULTADA FERRETTI A. R., Modelos de Plantio para Restauração. In: Restauração da mata atlântica em áreas de sua primitiva ocorrência natural, 2002. GASPERI, A.C.; PERFOLL, R.J.; SCOPEL, T.C. Estimativa do custo de reflorestamento de 1,0 ha de Mata Atlântica. (PLANILHA INCRA) MARTINS, S.S., Recomposição de matas ciliares no estado do Paraná, 200. 11

Revista Florestar Estatístico, volume 1 nº 3, nov/1993 - fev/1994 - Custo de Implantação de Florestas com Espécies Nativas, em Áreas Localizadas na Região de Mata Atlântica. RODRIGUES; GANDOLFI; RIBEIRO (1992) Revegetação das áreas degradadas da bacia do rio Ceveiro, Piracicaba, SP In: Simpósio Nacional de Recuperação de Áreas Degradadas. Anais. Curitiba, 1992. p. 178-188. Técnicas de plantio de florestas Site: http://www.ipef.br/silvicultura/plantio.asp 12