REVISTA SABER ACADÊMICO N 16 / ISSN 1980-5950 VASCONCELLOS, A. R. 2013. OS CAMINHOS E OS DESCAMINHOS NO PROCESSO DA EXPATRIAÇÃO

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Transcrição:

68 Artigo original OS CAMINHOS E OS DESCAMINHOS NO PROCESSO DA EXPATRIAÇÃO VASCONCELLOS, A. R. 1 Nome Completo: Ana Rodrigues Vasconcellos Artigo submetido em: 30/07/2013 Aceito em: 30/09/2013 Correio eletrônico: annabyte@gmail.com RESUMO Este trabalho apresenta considerações sobre o processo da expatriação, bem como conceitos atualmente utilizados. O objetivo deste artigo teórico é estabelecer algumas considerações sobre o tema e as suas implicações no mundo do trabalho. Pretende-se também, mesmo que de forma sucinta, levantar algumas questões sobre a identidade pessoal, e a problemática da expatriação para a família bem como o processo estabelecido em gestão de pessoas. Palavras chaves: expatriação; identidade; Gestão de Pessoas, globalização ABSTRACT This work presents considerations on the process of expatriation, as well as concepts currently used. The aim of this theoretic article is to establish some considerations on the subject and its implications in the workplace. It is also intended, even if briefly, raise questions about personal identity, and the issue of expatriation for the family and the procedure established in people management. Keys Word: expatriation; identity; people management; globalization Ana Cristina Rodrigues de Vasconcellos Docente da UNIESP Ribeirão Preto PEDAGOGA, MESTRE EM EDUCAÇÃO E PSICÓLOGA.

69 INTRODUÇÃO Não podemos iniciar a conversa sem antes olharmos para uma citação bíblica que diz: Ora, o SENHOR disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção. (Gn 12:1-2). Sair de sua terra representa sair da sua zona de conforto, daquilo que nos traz segurança, ora, Abraão, já era uma pessoa idosa, morava numa cidade avançada para época, chamada Ur, cidade que se destacava pelo comércio ativo e grandes avanços estruturais para as cidades da época. É no contexto de segurança, que Abraão é desafiado por Deus a largar tudo e ir expatriar-se em outro lugar desconhecido, Toda mudança, seja para fora ou dentro do próprio país, traz conseqüências e possivelmente grandes alterações não só na pessoa que sai, mas pra todos os envolvidos, Abraão, que teve que levar além de suas coisas, seus sobrinhos, e deixar pra trás uma parte de si mesmo. O presente artigo, propõe considerar a proposta da expatriação e todas as implicações que o mesmo estabelece nas diversas áreas da vida humana. O trabalho é um artigo de revisão, onde a autora se dispõe a discutir as nuances por onde passa o processo de expatriação, considerando as questões subjetivas e as organizacionais, como o processo de acompanhamento da gestão de pessoas no envio do expatriado. IDENTIDADE CULTURAL ENTRE O SER E O SENTIR O ser humano é um ser sociável, nascemos com necessidades de relacionarmos. Nosso primeiro contato com a sociedade se dá na família, um local acolhedor. Moreno chama esse momento de Matriz de Identidade. (MORENO,1984,p.102) Moreno aborda ainda que o indivíduo devesse ser concebido e estudado através de suas relações interpessoais. Moreno fala da Placenta Social, referindo-se que ao nascer a criança está arraigada e inserida num conjunto de relações, com sua mãe, seu pai, seus avós, seus irmãos, estabelecendo o conceito de Matriz de identidade, onde esse indivíduo levará para a sua vida inteira, e sempre estará ligada a ela, tornando-se um ser sociável. A Matriz de identidade nos acompanha durante toda a nossa vida, pois por ela somos reconhecidos como pessoas e passamos a responder por elas. Em sua obra Identidade,

Zygmunt Bauman,(2005), estabelece vínculos com diversos segmentos sociais interpretandoos de forma inteligente e envolvente, pois a leitura de sua obra nos remete a um processo de grande reflexão sobre nós mesmos e sobre a nossa realidade social. Bauman aborda ainda vários tipos de Identidades e traz reflexões sobre o ato de pertencer. A trajetória de Bauman, sendo de família judia, tendo servido no exército polonês, traz grandes contribuições para o seu pensamento sobre temas relevantes, que o inspira a publicar algumas de suas importantes obras. Bauman passara pela experiência da expatriação, e relata num discurso caloroso no início do seu livro a experiência de estar em terra estranha. Quando fala em Identidade Nacional, percebe-se que o autor considera a questão do Estado moderno no enfrentamento de novas possibilidades de relações a partir das novas identidades produzidas pela sociedade do consumo. A própria questão habitacional, onde um aglomerado de pessoas convive num determinado espaço de terra buscando afirmar suas raízes, seus berços e laços familiares e ainda os que vagam pelas ruas com a sensação de não pertencer nem a este nem aquele lugar os quais Bauman os trata de pessoas sem senhor ou até mesmo pessoas sem dono. É nisso que nós, habitantes do líquido mundo moderno, somos diferentes. Buscamos, construímos e mantemos as referências comunais de nossas identidades em movimento lutando para nos juntarmos aos grupos igualmente móveis e velozes que procuramos, construímos e tentamos manter vivos por um momento, mas não por muito tempo. (BAUMAN, 2005, p. 32) A comparação da formação da Identidade com um quebra cabeças, nos remete a construção da Identidade pela racionalidade do objetivo, onde se tem algumas peças, mas não se sabe exatamente o resultado final do jogo. 70 Nessa construção da identidade, não há modelos pré-definidos ou estabelecidos por um desenho ou diagrama, não é possível ajustar todas as peças, pois nem sempre elas se encaixam. Bauman fala do processo de libertação ao poder de atribuir tarefas e objetivos na criação dessa Identidade. Nesse momento, a sociedade rígida, passa a ser considerada por Bauman uma sociedade líquida. No processo de liquidez, a sociedade rígida sofre com o desmantelamento dos direitos e obrigações que atavam pés e mãos que impossibilitavam os movimentos e iniciativas. Assim, derretendo esses sólidos, as redes de relações sociais estariam desprotegidas e expostas a outras regras de ações. O derretimento dos sólidos gera com isso, uma progressiva liberdade na economia no que tange as tradições políticas, éticas e culturais. Sedimentando uma nova ordem econômica. Bauman relata ainda sobre o ressurgimento do nacionalismo e da procura por autonomia e independência em meio à crise social causada pela perda dos meios convencionais de proteçã0 ficando de fora os ventos congelantes, furacões, tempestades

emboscadas dando lugar ao aconchego de estar dentro um sonho agradável, uma visão do paraíso. Os relacionamentos descritos por Bauman nos dão o entendimento de que se busca a realização pessoal independente de qualquer coisa ou pessoa. Num relacionamento, as pessoas estão mais dispostas a trocar ou desfazer do que não lhes interessa do que estabelecer laços e vínculos duradouros. A única razão de manter algo ou alguém por perto está na expectativa de satisfação a qualquer preço. A valorização das relações está diretamente relacionada com o valor que damos as coisas, segundo Bauman, os relacionamentos passam pelo teste da validade, e se já estão em desuso, com algum defeito, devem ser retirados de circulação. Parafraseando uma de suas respostas a respeito da identidade, podemos afirmar com segurança que a globalização, ou melhor, a modernidade líquida, não é um quebra-cabeça que se possa resolver com base num modelo preestabelecido. Pelo contrário, deve ser vista como um processo, tal como sua compreensão e análise da mesma forma que a identidade que se afirma na crise do multiculturalismo, ou no fundamentalismo islâmico, ou quando a internet facilita a expressão de identidades prontas para serem usadas. (BAUMAN, 2005, p. 11) A Esse processo de busca de Identidade e do sentimento de pertença, percebo que Bauman acaba traduzindo o que parecia simples num momento de profunda reflexão sobre nós mesmos, nossas relações, nossa existência e nosso comprometimento com o próximo enquanto cidadãos de uma sociedade líquida. 71 OS CAMINHOS DA EXPATRIAÇÃO Segundo o dicionário Aurélio, expatriação significa exílio, banimento, desterro. Esses significados, não exatamente retratam o atual conceito de expatriação que vem sendo utilizado pelas empresas, pois trabalha a expatriação como forma de negócios. Alguns autores já estão trabalhando com o conceito de forma mais adequada a realidade da expatriação. Segundo SHEPHARD (1996), expatriado é um indivíduo que não é cidadão do país no qual ele ou ela está designado para trabalhar. Expatriado é uma pessoa vivendo longe de seu próprio país ou membros da organização que vivem e trabalham em país no qual eles não têm cidadania. Segundo Tomás (2009) o expatriado é um recurso humano, um cidadão exterior ao país no qual está a trabalho, deslocado de seu país de origem, deparando-se no novo meio com um conjunto de práticas culturais diferentes. Ele funciona como agente de transferência (deslocam rotinas, saberes e

72 valores do país de origem para o local onde irá trabalhar) de aprendizagem e de difusão de conhecimento. A partir do momento em que vivemos numa sociedade globalizada, o ir e vir das pessoas pelo mundo vai aumentando. Nunca foi tão fácil percorrer grandes distâncias em poucas horas. Uma das grandes colaboradoras do processo da globalização foi com certeza a tecnologia, que é capaz de reduzir os espaços geográficos incorporando tecnologias de informática, comunicação e transporte reduzindo as distanciam e permitindo a troca das informações. Grandes empresas e multinacionais aproveitaram a oportunidade para difundir os seus negócios, reduzindo financeiramente quantias enormes com a utilização do comércio eletrônico, da troca e exportação dos seus funcionários. De acordo com Freitas (2000), a partir dos anos 90 o capitalismo ganha força e marca a economia mundial com o surgimento de empresas e mercados mundiais, dando caráter de internacionalização à economia. A criação de blocos econômicos como a União Européia, NAFTA, North American Free Trade Agreement e do MERCOSUL, Mercado Comum do Sul e os surgimentos de diversas economias emergentes, fizeram com que houvesse rápida expansão das empresas e uma grande quantidade de investimentos estrangeiros nas diversas economias espalhadas pelo mundo. Em conseqüência disso, surgiram fluxos migratórios crescentes entre os diversos países, fazendo com que fossem desenvolvidas novas habilidades comunicativas, que possibilitam a formação e coordenação de equipes multiculturais. A expatriação pode se dar de forma voluntária, pelos chamados aventureiros que vão tentar a vida em outro lugar, por motivos políticos, por pessoas em busca de oportunidades de trabalho, por imposição da própria profissão e ainda tem os que ilegalmente fixam moradias em outros países. A IMPORTÂNCIA DO RH NO PROCESSO DE TRANSFERÊNCIA DO EXPATRIADO A importância da interação dos Recursos Humanos ou RH de uma empresa no envio de seus funcionários é fundamental para a adaptação dos funcionários enviados. A expatriação indica a transição de recursos humanos de uma organização para outro país com diferentes práticas culturais.

73 Tomás (2009) destaca as principais razões pelas quais as companhias enviam expatriados para tarefas internacionais são: 1 - Abrir novos mercados; 2 - Facilitar uma fusão ou aquisição; 3 - Instalar novas tecnologias e sistemas; 4 - Aumentar a participação de mercado (market share) ou impedir que competidores o façam; 5 - Desenvolver visão de longo prazo de negócios em países estrangeiros; 6 - Transferir conhecimento para profissionais locais; 7 - Aprender e gerar idéias inovadoras; 8 - Desenvolver habilidades de liderança global A organização deverá proporcionar ao expatriado: - Acompanhamento permanente em todas as fases da expatriação (antes, durante e após); - Promover atividades de desenvolvimento de carreira, formação lingüística e transcultural, apoio logístico (deslocamento, alojamento, serviços de saúde, assuntos legais); - Criar mecanismos de comunicação que permitam manter contato com a empresa e país nativo. - Algumas empresas oferecem uma visita (em geral de uma semana) para o casal fazer um primeiro reconhecimento da cidade e adiantar alguns contatos. Este procedimento se revela muito eficaz no futuro e reduz resistências. As grandes barreiras para o sucesso do negócio são a cultura e a linguagem, por esta razão é necessário empenho para minimizar os impactos. De acordo com Freitas (2006) a organização pode providenciar algumas informações básicas que incluam o sistema de ensino e as creches locais, os critérios de escolha de escolas, escolas de línguas e cursos, o sistema de saúde e procedimentos de emergência, as coberturas do plano de saúde e reembolsos, o sistema bancário, lista de preços de itens e serviços básicos. Algumas empresas elaboram manuais com essas informações essenciais, o que certamente contribui para uma maior segurança da família também poderá fornecer cursos que incluam o idioma e aspectos da cultura, da história, dos costumes, a rede de relações que já existe naqueles países ou favorecer acesso a outros profissionais que já foram para lá.

CONTRASTES E CONTRADIÇÕES ORIUNDOS DAS RELAÇÕES ENTRE OS EXPATRIADOS E AS ORGANIZAÇÕES. 74 O processo de expansão e de sobrevivência frente ao mercado mundial leva as empresas a buscarem profissionais altamente capacitados para enfrentar a diversidade dos trabalhos. Homen e Dallagnelo (2006) observam que a crescente busca por parte das empresas, de profissionais superqualificados resulta em muitas contradições existentes nos ambientes de trabalho multiculturais. Qualidades que representam a capacidade de mudar constantemente, como flexibilidade, criatividade, multifuncionalidade, reatividade, entre outras são exigidas dos profissionais. Na classe de profissionais expatriados a procura é por supertrabalhadores, onde entre outras características eles devem possuir sensibilidade, interesses culturais e sociais, habilidades relacionais e técnicas, busca de realização, trabalho como prioridade de vida, autonomia, extroversão, fluência de línguas, disponibilidade para treinamento e preparação, registro baixo de doença, poucos laços de família (apud Franke e Nicholson, 2002). Para o trabalhador o seu maior desafio será atingir os objetivos da expatriação e o centro de sua vida é a Organização. Segundo Black e Mendenhali (1990) para os expatriados obterem sucesso numa designação internacional, são necessárias características relacionadas à interação crosscultural, como: habilidades relacionadas à preservação do eu (saúde mental, bem-estar psicológico, redução do estresse, sentimentos de auto-confiança); habilidades relacionadas ao encorajamento de relacionamentos com os nativos (sociabilidade, habilidade de comunicação, confiança mútua) e habilidades cognitivas (permitem a correta percepção do ambiente hospedeiro e seus sistemas sociais). Para Homen e Dallagnelo (2006) essas habilidades não são fáceis de serem controladas ou modificadas a qualquer momento pelos sujeitos, pois são relacionadas a fatores psicossociais. São exigidas dos profissionais expatriados características específicas de conduta, personalidade e ação decorrentes de situações de trabalho variadas, configurando assim esta falta de percepção das organizações. As constantes mudanças no ambiente de trabalho e no contexto mundial levam o indivíduo a criar mecanismos de melhoria pessoal a fim de acompanhar todas as evoluções da organização. Essas transformações exigem muito mais do que pro atividade, criatividade, dinamismo, flexibilidade e características pessoais únicas. Elas levam o indivíduo a conviver

75 com antagonismos nunca antes vistos, pois o tipo de ser que as organizações pretendem formar e possuir em seus quadros é um retrato das contradições que abrigam em seu próprio interior. A organização é explicita quando diz ao indivíduo para ser combativo, agressivo, individualista, mas, ao mesmo tempo, para colaborar e integrar-se na equipe; pedem que ele seja inovador, criativo, ousado, mas que obedeça à tradição e não provoque rupturas; elas querem que ele tenha iniciativa, mas seja obediente; ele deve ser orgulhoso de estar em equipe, mas deve sempre provar que merece o lugar do outro. Diante destas contradições a empresa exige do profissional uma convivência pacífica! CONSIDERAÇÕES FINAIS O tema expatriação, ou seja, a transferência de recursos humanos para países diferentes do de origem foi abordado procurando mostrar os caminhos e descaminhos deste processo muitas vezes extremamente complexo. Percebe-se principalmente duas barreiras a serem transpostas ao expatriado, que são o domínio do idioma e o contexto cultural. Além destes fatores agregasse a exigência de superprofissionais capazes de comportamento flexível e uma postura maleável para adaptar-se a circunstâncias variáveis. Preponderam ambientes multiculturais nas empresas, surgindo trabalhadores cosmopolitas, sem territórios determinados, sem apego aos locais de trabalho e família, obrigados a se ajustarem rapidamente. Concordamos com Baumann onde afirma que o surgimento do homem sem vínculo, homem líquido-moderno, sem vínculos de relacionamentos, de compromissos, mostra claramente um modelo de ser sem humano, sem vida,,vivendo a efemeridade do ter, do consumo e da produção, um expatriado, ou seja, sem pátria determinada. Tudo que é sólido desmancha no ar

76 REFERÊNCIAS BAUMAN, Zygmunt. 2005. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Rio de Janeiro: J. Zahar. BLACK, J. S.; MENDENHALL, M. E. Cross-cultural training effectiveness: a review and a theoretical framework for future research. Academy of Management Review, v. 15, n. 1, p. 113-136, 1990. BIBLIA, N. T. João. Português. Bíblia sagrada. Reed. Versão de Antonio Pereira de Figueiredo. São Paulo: Ed. Da Américas, 1950. FRANKE, J.; NICHOLSON, N. Who shall we send? Cultural and other influences on the rating of selections criteria for expatriate assignments. International Journal of Cross Cultural Management, London: Sage Publications, v. 2, n. 1, p. 21-36, 2002. FREITAS, Maria Ester. Expatriação de Executivos. FGV-EAESP 48.Vol.5.no 4.SET/OUT.2006 FERREIRA, Aurélio B. de Hollanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. 1838 p. MORENO, J. L. O Teatro da Espontaneidade. São Paulo: Summus, 1984 TOMAS dos Santos José Ricardo da Silva Bramão. Dissertação de Mestrado Integrado Em Psicologia. Secção de Psicologia dos Recursos Humanos, do Trabalho e das Organizações 2009. http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/881/1/18741_ulsd_dep.17726_dissertacao_2008_09.p df visitado em Dez/2010 HOMEM, Ivana Dolejal; DELLAGNELO, Eloise Helena Livramento. Novas formas organizacionais e os desafios para os expatriados. RAE electron., São Paulo, v. 5, n. 1, June 2006. Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s167656482006000100009&lng=en &nrm=iso>. access on 14 Dec. 2010. doi: 10.1590/S1676-56482006000100009. SHEPARD, P. (1996). Working with Malaysians - expatriates and Malaysians Perspectives. In A. Abdullah (Eds.), Understanding the Malaysian workforce - Guidelines for managers (pp. 144-155). Kuala Lumpur: Malaysian Institute Universidade de Lisboa Faculdade De Psicologia e de Ciências da Educação Expatriação em Recém-Licenciados: Um Trajecto Profissional Aproveitado ou Ambicionado? Projecto de investigação sobre atitudes culturais e âncoras de carreira http://hdl.handle.net/10451/881 - visitado em Dez/2010