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2. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO

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Transcrição:

HABEAS CORPUS Nº 166.778 - BA (2010/0053073-0) RELATOR : MINISTRO NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO IMPETRANTE : JANJÓRIO VASCONCELOS SIMÕES PINHO E OUTROS IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA BAHIA PACIENTE : ITAMAR DA SILVA RIOS RELATÓRIO 1. Trata-se de Habeas Corpus com pedido de liminar impetrado em favor de ITAMAR DA SILVA RIOS, Prefeito do Município de Capim Grosso/BA, contra acórdão proferido pelo TJBA, que recebeu a denúncia ofertada em desfavor do paciente pela suposta prática do crime previsto no art. 1o., II do DEL 201/67, nos termos do acórdão assim ementado, por seu caput: AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA. PREFEITO MUNICIPAL DENUNCIADO COMO INCURSO NAS PENAS DO ART. 1o., INCISO II DO DECRETO-LEI 201/67. ALCAIDE QUE CEDEU VEÍCULO OFICIAL PARA VEREADOR, TENDO ESTE PROCEDIDO O TRASLADO DE AMIGOS E FAMILIARES PARA FESTA JUNINA, E ANTES DE CHEGAR AO SEU DESTINO ENVOLVEU-SE EM ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO. PEÇA ACUSATÓRIA DESCREVENDO REGULARMENTE OS FATOS E IMPUTANDO A PRÁTICA DE CRIME EM TESE PELO ACUSADO, ALICERÇADA EM ELEMENTOS SUFICIENTES DE MATERIALIDADE E INDÍCIOS DE AUTORIA. DESNECESSIDADE DE DECRETAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA E DO AFASTAMENTO DOA ALCAIDE. DENÚNCIA RECEBIDA. (fls. 196). 2. Aduz a impetração, em síntese: (a) a ausência de crime eis que o fato constitui um indiferente penal; (b) ausência de dolo específico, pois o veículo foi utilizado de forma adequada e necessária para servir ao paciente enquanto prefeito, que não autorizou o transporte de outras pessoas; (c) a não receptação do DEL 201/67 pela atual constituição; (d) violação ao princípio da indisponibilidade/indivisibilidade da Ação Penal, porquanto não denunciado o Vereador condutor do veículo sinistrado; (e) incompetência da 1a. Câmara Criminal para o julgamento do paciente. 3. Indeferido o pedido de liminar (fls. 214), foram solicitadas informações, as quais, contudo, não foram prestadas. Documento: 13159789 - RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 1 de 9

4. O MPF, em parecer subscrito pelo ilustre Subprocurador-Geral da República FRANCISCO DIAS TEIXEIRA, manifestou-se pela denegação da ordem (fls. 247/252). 5. É o que havia de relevante para relatar. Documento: 13159789 - RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 2 de 9

HABEAS CORPUS Nº 166.778 - BA (2010/0053073-0) RELATOR : MINISTRO NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO IMPETRANTE : JANJÓRIO VASCONCELOS SIMÕES PINHO E OUTROS IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA BAHIA PACIENTE : ITAMAR DA SILVA RIOS VOTO HABEAS CORPUS PREVENTIVO. CRIME DE RESPONSABILIDADE DE PREFEITO. ART. 1o., II DO DEL 201/67 (EMPRÉSTIMO DE CARRO DA PREFEITURA PARA FINS PARTICULARES DE TERCEIROS). RECEBIMENTO DA DENÚNCIA PELO TRIBUNAL ESTADUAL, SEM AFASTAMENTO DO PREFEITO DO CARGO. INADMISSIBILIDADE DA PRETENSÃO DE TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. ACUSAÇÃO ACEITA PELO TRIBUNAL DE FORMA MOTIVADA. FATO, EM PRINCÍPIO, TÍPICO. RECEPÇÃO DO DEL 201/67 PELA ATUAL CONSTITUIÇÃO. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA INDISPONIBILIDADE/INDIVISIBILIDADE DA AÇÃO PENAL. CRIME DE RESPONSABILIDADE QUE É PRÓPRIO DE PREFEITO. INCOMPETÊNCIA DA 1A. CÂMARA CRIMINAL PARA O JULGAMENTO DO PACIENTE. QUESTÃO NÃO ENFRENTADA PELO TRIBUNAL A QUO. AUSÊNCIA DE DOCUMENTOS COMPROBATÓRIOS DA ALEGAÇÃO. PARECER DO MPF PELA DENEGAÇÃO DA ORDEM. ORDEM DENEGADA. 1. O trancamento da Ação Penal por meio de Habeas Corpus é medida excepcional, somente admissível quando transparecer dos autos, de forma inequívoca, a inocência do acusado, a atipicidade da conduta ou a extinção da punibilidade, circunstâncias não evidenciadas na hipótese em exame. 2. A impetração envereda por argumentação relativa ao mérito da acusação, sustentando a ausência de dolo do acusado; todavia, a tese defensiva não é daquelas que se apresentam induvidosa e somente por meio da análise da prova a ser judicializada será possível concluir pela existência ou não do dolo específico na conduta do paciente. 3. Quanto à violação ao princípio da indisponibilidade/indivisibilidade da Ação Penal, poque não denunciado o Vereador condutor do veículo sinistrado, a tese não comporta acolhida, pois o crime de responsabilidade em apuração é próprio de Prefeito. 4. A alegação de que, nos termos da Lei de Organização Judiciária do Estado da Bahia, o julgamento de Prefeito compete ao Pleno do Tribunal de Justiça, e não à Câmara Criminal, carece de adequada Documento: 13159789 - RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 3 de 9

comprovação, pois não juntados cópias das referidas normas estaduais, fato que obstaculiza a análise da questão. 5. O DEL 201/67 tem sido constantemente aplicado tanto por esta Corte como pelo STF sem se cogitar de qualquer inconstitucionalidade. 6. Ordem denegada. 1. No que interessa, o Tribunal Baiano aduziu o seguinte: Consta da denúncia oferecida pelo Ministério Público do Estado da Bahia que (...) o Alcaide, inquinando os princípios da legalidade, moralidade e impessoabilidade, utilizou indevidamente veículo público pertencente à Comuna que dirige, para satisfazer fins particulares. Com efeito, desde que assumiu a Prefeitura de Capim Grosso, o Alcaide, por diversas vezes, emprestou veículos oficiais ao Vereador Ednon Oliveira Queiroz, seu correligionário político, permitindo a este que usufruísse em suas atividades privadas. Nessa toada, em 24 de junho de 2006, o Vereador Ednon utilizava o veículo municipal de marca Ford Ranger, com placa policial JQS 1422, para dirigir-se a uma festa junina, na cidade de Senhor do Bonfim, levando consigo dois filhos, uma nora, um sobrinho e um outro EDIL. Ocorre que, na data supra, próximo ao Município do Senhor do Bonfim, por volta das 15:30 horas, o Vereador Ednon perdeu a direção do carro e capotou, conforme Boletim de Acidente de Trânsito 560799 às fls. 10/14. O veículo público sofreu diversas avarias, sendo o seu reparo arcado pelos cofres municipais, cujo valor total correspondeu a R$ 15.840,82 (quinze mil, oitocentos e quarenta reais e oitenta e dois centavos). Assim, além da conduta criminosa de utilizar de forma proposital e indevida o referenciado bem público em benefício de seu apadrinhado político, o Alcaide assumiu o risco e acabou concorrendo para o prejuízo suportado pelo erário. Como se sabe, o recebimento da exordial acusatória, mero juízo de admissibilidade, envolve sempre a análise da peça vestibular, a qual deve preencher os requisitos insculpidos no art. 41 do Código de Processo Penal Brasileiro. Documento: 13159789 - RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 4 de 9

Na atual fase do processo, este colegiado reúne-se unicamente para deliberar sobre o recebimento ou rejeição da denúncia ou queixa, sendo, posteriormente, no caso de prosseguimento do feito, analisada a ação propriamente dita, depois de todos os demais trâmites processuais, onde, inclusive, existe o exercício do amplo direito de defesa. A peça acusatória ora analisada contém a descrição precisa do fato considerado criminoso, com todas as suas circunstâncias, atribuindo ao acusado a prática de crime de responsabilidade, haja vista ter o réu cedido ao seu amigo e vereador Ednon Oliveira de Queiroz, nos termos das suas declarações prestadas no procedimento preparatório de Inquérito Civil (fls. 24/25), o carro oficial, tendo este procurado efetuar o traslado de amigos e familiares para o município de Senhor do Bonfim, em época de festividades juninas (24 de junho de 2006), fato, ademais, que gerou grande prejuízo ao erário em virtude do acidente com o mencionado veículo ocorrido quando se aproximava da supracitada municipalidade (fls. 11/14), automóvel que precisou de reparos no valor total de R$ 15.840,82 (quinze mil, oitocentos e quarenta reais e oitenta e dois centavos) (fls. 81/82), fato que se coaduna, portanto, com o tipo descrito no art. 1o., inciso II do Decreto-Lei 201/67, a saber: Art. 1o. - São crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipais, sujeitos ao julgamento do Poder Judiciário, independentemente do pronunciamento da Câmara dos Vereadores: II - utilizar-se, indevidamente, em proveito próprio ou alheio, de bens, rendas ou serviços públicos; Destarte, sendo o veículo um bem da Administração e configurada a utilização indevida, ou seja, imprópria, fora do âmbito da finalidade a que é destinado, está caracterizado, em tese, o tipo penal, razão pela qual, mesmo que não houvesse o acidente automobilístico, a exordial acusatória deveria ser recebida. Além disso, não é demais ressaltar que a denúncia ou queixa não precisa ser demasiadamente extensa, devendo restringir-se ao indispensável à configuração da figura delitual penal e às demais circunstâncias que envolvem o fato e que possam influir na sua caracterização (Fernando da Costa Tourinho Filho, in Código de Processo Penal Comentado, 8a. edição, pág. 148). Portanto, o fato descrito na peça de acusação adequa-se ao Documento: 13159789 - RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 5 de 9

apontado tipo penal, até porque as questões envolvendo a atipicidade da conduta somente levam à rejeição da denúncia quando for evidente, mediante os elementos já constantes dos autos, que o fato não constitui crime. Se houve a necessidade da produção de provas não é possível refutar-se a peça acusatória. Para o recebimento da denúncia basta que a conduta descrita, em tese, configure-se como crime. Ademais, a análise acerca da possibilidade de acolhimento das alegações relativas à desclassificação da conduta para a infração político-administrativa descrita no art. 4o., inciso VIII do Decreto-Lei 201/67, bem como ao dolo, requerem exame de provas a serem colhidas na instrução criminal. (fls. 198/203). 2. Tenho reiteradamente afirmado, seguindo a maciça jurisprudência das Cortes Superiores do País, que o trancamento da Ação Penal por meio de Habeas Corpus é medida excepcional, somente admissível quando transparecer dos autos, de forma inequívoca, a inocência do acusado, a atipicidade da conduta ou a extinção da punibilidade. Na hipótese, tais circunstâncias não estão evidenciadas. 3. Com efeito, a impetração envereda por argumentação relativa ao mérito da acusação. Sustenta a ausência de dolo do acusado, que estaria em festa patrocinada por outro Município a serviço, tendo pedido ao colega Vereador que o buscasse na referida localidade com o carro da prefeitura. Afirma, ainda, que não teria consentido com o transporte de terceiras pessoas. 4. Ora, a tese defensiva não é daquelas que se apresentam induvidosa. Somente por meio da análise da prova a ser judicializada será possível concluir pela existência ou não do dolo específico na conduta do paciente. Nesse sentido: EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PENAL. PROCESSUAL PENAL. CRIME DE RESPONSABILIDADE DE PREFEITO. ALEGAÇÃO DE FALTA DE JUSTA CAUSA. TRANCAMENTO DE INQUÉRITO. HABEAS CORPUS DENEGADO NO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. DECISÃO EM PERFEITA CONSONÂNCIA COM A JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. ANÁLISE DE Documento: 13159789 - RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 6 de 9

MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA: IMPOSSIBILIDADE. RECURSO AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO. 1. O trancamento de inquérito, em habeas corpus, apresenta-se como medida excepcional, que só deve ser aplicada quando evidente a ausência de justa causa, o que não ocorre quando a lei supostamente violada pelo Paciente não foi declarada inconstitucional pelo Tribunal de Justiça e a denúncia descreve conduta que configura crime em tese. 2. Decisão do Superior Tribunal de Justiça devidamente fundamentada e em consonância com o entendimento deste Supremo Tribunal sobre a matéria. 3. Na tímida via do habeas corpus, não se permite a análise do conjunto fático-probatório, em evidente substituição ao processo de conhecimento. Precedentes. 4. Recurso ao qual se nega provimento. (RHC 100.961/SC, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, Dje 20.05.2010). ² ² ² PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. CRIME DE RESPONSABILIDADE DE PREFEITO. DECRETO-LEI 201/67, ART. 1.º, XIII. CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA, SEM CONCURSO, FORA DAS HIPÓTESES LEGAIS. REMISSÃO A LEI MUNICIPAL DE 1990. EXISTÊNCIA DE LEI FEDERAL RELATIVAMENTE MAIS RESTRITIVA EM 1993. FATOS OCORRIDOS EM 2003. CONTRATAÇÃO TIDA POR ILEGAL EM DUAS INSTÂNCIAS JUDICIAIS. ATIPICIDADE NÃO MANIFESTA. TRANCAMENTO. IMPOSSIBILIDADE. 1. O trancamento da ação penal, por falta de justa causa, na angusta via do habeas corpus, pressupõe manifesta atipicidade ou o claro afastamento do jus puniendi. In casu, a alegação de atipicidade se embasa no fato de o paciente determinar a realização de contratação temporária, sem concurso, lastreando-se em lei municipal. Ocorre que: a) quando da deliberação, vigia lei federal relativamente mais restritiva (especificamente em relação ao caso em testilha, visto que não preveria a hipótese de contratação de guardas municipais), não sendo evidente, portanto, a alegação de legalidade do comportamento; b) o Poder Judiciário, já em duas instâncias, considerou a contratação ilegal. Daí ser mais apropriado destinar o debate acerca da vexata quaestio às vias ordinárias. 2. Ordem denegada, cassada a liminar. (HC 78.218/SP, Rel. Min. MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, DJe 17.05.2010) ² ² ² HABEAS CORPUS. PREFEITO MUNICIPAL. CRIME DE RESPONSABILIDADE E FORMAÇÃO DE QUADRILHA. TRANCAMENTO Documento: 13159789 - RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 7 de 9

DA AÇÃO PENAL. INÉPCIA DA DENÚNCIA INEXISTENTE. CONTAS JULGADAS IRREGULARES PELO TCE/TO. PRAZO DE 15 DIAS PARA O OFERECIMENTO DA DENÚNCIA. OBEDIÊNCIA AO PRAZO IMPRÓPRIO, CUJA INOBSERVÂNCIA NÃO CAUSA NULIDADE. RITO DA LEI ESPECIAL (LEI 8.038/90) OBSERVADO. PRÉVIA NOTIFICAÇÃO DO PACIENTE PARA O OFERECIMENTO DE DEFESA ANTES DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. ACUSAÇÃO ACEITA PELO TRIBUNAL DE FORMA MOTIVADA. AFASTAMENTO DO PACIENTE DO CARGO DE PREFEITO DEVIDAMENTE FUNDAMENTADO NA GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA, DO ERÁRIO MUNICIPAL E DA INSTRUÇÃO CRIMINAL. PARECER DO MPF PELA DENEGAÇÃO DO WRIT. ORDEM DENEGADA, CASSANDO A LIMINAR INICIALMENTE DEFERIDA. 1. Inviável o pleito de trancamento da Ação Penal por inépcia da denúncia, porquanto a inicial acusatória descreve minimamente os fatos e suas circunstâncias, possibilitando o amplo exercício do direito de defesa. 4. O egrégio Tribunal a quo, ao aceitar a acusação, o fez de forma motivada, manifestando-se, inclusive, sobre os pontos levantados pelo ora paciente quando da apresentação da defesa preliminar. 6. Ordem denegada, cassando-se a liminar inicialmente deferida, em conformidade com o parecer ministerial. (HC 102.818/TO, Rel. MiN. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, DJe 27.04.2009) 5. Quanto à violação ao princípio da indisponibilidade/indivisibilidade da Ação Penal, porquanto não denunciado o Vereador condutor do veículo sinistrado, a tese não comporta acolhida, pois o crime de responsabilidade em apuração é próprio de Prefeito. Eventual conduta criminosa ou infração administrativa cometida pelo Vereador deve ser apurada em outra sede. 6. No tocante à alegação de que, nos termos da Lei de Organização Judiciária do Estado da Bahia, o julgamento de Prefeito compete ao Pleno do Tribunal de Justiça, e não à Câmara Criminal, conforme previsto no Regimento Interno daquela Corte de Justiça, como bem assinalou o douto representante do Parquet Federal, carece de mínima comprovação, pois não foram juntados cópias das referidas normas estaduais, fato que obstaculiza a análise do Documento: 13159789 - RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 8 de 9

pedido, no ponto. 7. Por fim, ressalte-se que o DEL 201/67 tem sido constantemente aplicado tanto por esta Corte como pelo STF sem se cogitar de qualquer inconstitucionalidade. parecer ministerial. 8. Ante o exposto, denega-se a ordem, em consonância com o Documento: 13159789 - RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 9 de 9