ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS COM BASE EM EMPREENDIMENTOS RURAIS: O CASO DO AGROCOMÉRCIO NA REGIÃO DO BAIRRO CAXAMBÚ NO MUNICÍPIO DE JUNDIAÍ-SP, BRASIL



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Transcrição:

ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS COM BASE EM EMPREENDIMENTOS RURAIS: O CASO DO AGROCOMÉRCIO NA REGIÃO DO BAIRRO CAXAMBÚ NO MUNICÍPIO DE JUNDIAÍ-SP, BRASIL JÚLIO CÉSAR LÁZARO DA SILVA 1 AURO APARECIDO MENDES2 1. Introdução O processo de mundialização da economia, caracterizado pela intensificação do comércio internacional e dos fluxos de investimento direto e financeiro, tem apontado para abordagens que contemplam o desenvolvimento local integrado e articulado ao global. Benko (2001) se utiliza do conceito glocalização para se referir à articulação crescente dos territórios locais à economia mundial. As tipologias utilizadas na análise do desenvolvimento local procuram focalizar as aglomerações locais, de acordo com o setor econômico, capacidade de inovação produtiva e tecnológica, inserção no circuito econômico e organização produtiva. Cassiolato e Szpaziro (2003) destacam que as características dos Arranjos e Sistemas Produtivos Locais revelam peculiaridades que não podem ser conceituadas de forma abrangente, podendo existir diferentes classificações. Dessa forma, entendemos os Arranjos Produtivos Locais como os empreendimentos industriais, agrocomerciais, eco-industriais e de prestação de serviços que utilizam estratégias, inovações e iniciativas que buscam o fortalecimento das produções locais. O presente trabalho busca, a princípio, contextualizar as diferentes abordagens a cerca das estratégias de desenvolvimento local, destacando sua relevância como vetor de desenvolvimento territorial e avaliar se os elementos constitutivos de um Arranjo Produtivo Local ou cluster industrial, tais como as especificidades locais, as relações de cooperação, redes produtivas e o suporte institucional estão presentes em um Arranjo Produtivo fundamentado na produção de frutas e no agrocomércio. O objeto de estudo dessa pesquisa são as transformações produtivas ocorridas no bairro Caxambú, localizado no município de Jundiaí, interior do estado de São Paulo. 2. Contextualização do Tema 1 Universidade Estadual Paulista - UNESP IGCE - Rio Claro-SP - Brasil geocvz@yahoo.com.br 2 Prof. Dr. - Universidade Estadual Paulista UNESP - IGCE - Rio Claro-SP - Brasil auromdj@ibest.com.br 14574

A reestruturação econômica dos anos 80 induziu várias estratégias reorganizacionais nas atividades industriais. Alguns analistas, especialmente Piore e Sabel, argumentam que a crise econômica da década de 70 resultou da exaustão do sistema de produção em massa, constituindo um marco na atividade industrial na história do capitalismo. Para outros, como Harrison e Storper, a difusão de novas formas organizacionais foi resposta à crise de lucratividade do processo de acumulação de capital. Outros ainda, como Coriat, por exemplo, sugerem uma evolução de longo prazo do "fordismo" ao "pós-fordismo", como expressão de uma "grandiosa transição" a transformação histórica das relações entre, de um lado, produção e produtividade e, de outro, consumo e concorrência. Apesar da diversidade de abordagens, há algumas coincidências, tais como: - Quaisquer que sejam as causas e origens da transformação organizacional houve, de meados dos anos 70, uma divisão importante (industrial ou outra) na organização da produção e dos mercados na economia global; - As transformações organizacionais interagiram com a difusão de tecnologia da informação; - O objetivo das transformações organizacionais em várias formas era diminuir a incerteza causada pelo ritmo veloz das mudanças no ambiente econômico, institucional e tecnológico, aumentando a flexibilidade em produção, gerenciamento e marketing; - Muitas transformações organizacionais tinham por objetivo redefinir os processos de trabalho e as práticas de emprego, introduzindo o modelo da "produção enxuta" com o fito de economizar mão-de-obra mediante a automação de trabalhos, eliminação de tarefas e supressão de camadas administrativas. A própria empresa mudou seu modelo organizacional para adaptar-se às condições de imprevisibilidade engendrada pela rápida transformação econômica e tecnológica. A empresa horizontal parece apresentar as seguintes tendências principais: organização em torno do processo, não da tarefa; hierarquia horizontal; gerenciamento em equipe; medida do desempenho pela satisfação do cliente; recompensa com base no desempenho da equipe; maximização dos contatos com fornecedores e clientes, informação, treinamento e retreinamento de funcionários em todos os níveis. Para operar na nova economia global, caracterizada pela onda de novos concorrentes que usam novas tecnologias e capacidade de redução de custos, as grandes empresas tiveram de tornar-se principalmente mais "flexíveis". Para conseguir absorver os benefícios da flexibilidade das redes produtivas, a própria empresa teve de tornar-se uma rede e dinamizar cada elemento de sua estrutura interna: este é na essência o significado e o objetivo do modelo da "empresa horizontal", freqüentemente estendida na descentralização de suas unidades e na crescente autonomia 14575

dada a cada uma delas, até mesmo permitindo que concorram entre si, embora dentro de uma estratégia global comum (CASTELLS, 1999, p.184). O advento da indústria de alta tecnologia, ou seja, a indústria com base na microeletrônica e assistida por computadores, introduziu uma nova lógica de localização industrial. As empresas eletrônicas, produtoras dos novos dispositivos da tecnologia da informação, também foram as primeiras a utilizar a estratégia de localização possibilitada e exigida pelo processo produtivo baseado na informação. Esse espaço caracteriza-se pela capacidade organizacional e tecnológica de separar o processo produtivo em diferentes localizações, ao mesmo tempo em que reintegra sua unidade por meio de conexões de telecomunicações e da flexibilidade e precisão resultante da microeletrônica na fabricação de componentes. Além disso, devido à singularidade da força de trabalho necessária para cada estágio e às diferentes características sociais e ambientais próprias das condições de vida de segmentos profundamente distintos dessa força de trabalho, recomenda-se especificidade geográfica para cada fase do processo produtivo. De acordo com Castells (1999, p.418), o novo espaço industrial não representa o fim das velhas áreas metropolitanas já estabelecidas e o início de novas regiões caracterizadas por alta tecnologia. O novo espaço industrial é organizado em torno de fluxos de informações que, ao mesmo tempo, reúnem e separam - dependendo do ciclo das empresas - seus componentes territoriais. E, à medida que a lógica da fabricação da tecnologia da informação vai passando dos produtores de equipamentos de tecnologia da informação para os usuários destes dispositivos em toda a esfera da indústria, também a nova lógica espacial se expande criando uma multiplicidade de redes industriais globais, cujas intersecções e exclusões mudam o próprio conceito de localização industrial de fábricas para fluxos industriais. A desintegração vertical de uma empresa ocorre quando as diferentes etapas da produção não se efetivam na mesma empresa. A tendência à desintegração vertical tornouse muito comum, o que explica a multiplicação das pequenas e médias empresas. A organização da produção - integrada ou desintegrada - depende da economia realizável na gestão da produção. Assim sendo, verifica-se que as mudanças geográficas dos espaços de produção coincidem com as mutações maiores da organização da produção, que são por sua vez provocadas pelas exigências do novo regime de acumulação. Faz-se mister salientar que essa "nova ordem capitalista" é caracterizada no processo de reprodução do capital, por uma série de imbricações de comando, de fazer, de obedecer, de dependências, entre outras, que acabam intensificando as relações entre o todo e as partes, entre o lugar e o global. 14576

As relações produtivas na atividade industrial atualmente geram novos recortes territoriais, cujo domínio e poder fogem da esfera nacional. Consiste em uma reconstrução do espaço e de uma nova noção de tempo, que procura atender as demandas da própria sociedade. Em meio a todas as transformações sócio-econômicas e espaciais em curso, é necessário compreender que cada lugar é único, resultado da combinação e das relações de dominação, subordinação e interdependência e produzido historicamente. O alcance espacial do sistema produtivo globalizou-se, fundamentando-se em vantagens comparativas dinâmicas, gerando novas relações de trabalho e de produção. Dessa forma, as economias locais devem ser entendidas como malhas de uma rede econômica global. Não se pode olvidar, nem negligenciar os nexos que prendem o local ao global e vice-versa. Cabe, então, compreender as "amarrações" as formas de dependências (técnicas, produtivas, entre outras) e as redes produtivas do sistema industrial. 3. Relevância do Tema A partir de 1970 com a crise do paradigma fordista/taylorista de produção, emerge um novo sistema de produção denominado de especialização flexível. A referida flexibilidade ocorre em todos os níveis das atividades econômicas através do uso de novas tecnologias, mão-de-obra, etc., todos flexíveis. A flexibilidade é também espacial, uma vez que as indústrias e outras atividades econômicas tornam-se mais e mais independentes dos antigos ou clássicos fatores locacionais. Contudo, são as grandes empresas que conseguem, de certa forma, dispor das vantagens decorrentes da flexibilidade produtiva. Tais empresas não criam, assim, vínculos com o local e não promovem, portanto, o desenvolvimento endógeno. Então como promover o desenvolvimento local ou territorial? Na verdade com a crise do paradigma taylorista/fordista e com a emergência da sociedade informacional, o que se busca em um novo modelo de desenvolvimento menos perverso, menos desigual e não excludente. Ou seja, um desenvolvimento cujo os protagonistas sejam locais num meio inovador, contando com políticas públicas e instituições de suporte. Trata-se da valorização das vantagens competitivas locais. O território é entendido como ator, impregnado de conhecimento, aprendizagem, cooperação e articulação entre os elementos que o formam. No que tange as formas de promover o desenvolvimento endógeno, destacam-se algumas experiências estrangeiras nos seguintes países: Os Distritos Industriais italianos, 14577

os clusters nos Estados Unidos, os Sistemas Industriais Localizados na França e na Alemanha, por exemplos. De acordo com Amaral Filho (2001, p. 72) o distrito pode ser definido como um sistema produtivo local, caracterizado por um grande número de firmas envolvidas em vários estágios produtivos. Este modelo de desenvolvimento ocorre no norte e nordeste da Itália, na chamada Terceira Itália. Tais distritos são especializados na produção de diferentes produtos, tais como: cerâmica em Sassuolo, têxtil em Prato, sapato em Montegranaro, etc. Segundo Becattini (1994, p.20) o distrito industrial é uma entidade sócio-territorial caracterizada pela presença ativa de uma comunidade de pessoas e de uma população de empresas num determinado espaço geográfico e histórico, com intensas relações entre a comunidade local e as empresas. Os Distritos Industrais italianos (marshallianos) apresentam importantes características, quais sejam: são formados por pequenas e médias empresas especializadas, utilizam novas tecnologias, são competitivas, possuem uma atmosfera industrial e conhecimento tácitos de aprendizagem e de cooperação, intensas relações interfirmas (redes produtivas), entre outras. Lins ( 2001, p.80) salienta que os distritos industriais são antes de tudo clusters de atividades e suas características transcendem o aspecto da simples concentração setorial. Conforme o autor os principais elementos de um cluster são: - concentração espacial de firmas, principalmente de pequenas e médias empresas, setorialmente especializadas; - intensas relações interfirmas; - existência de serviços especializados; - identidade sócio-cultural, - rede de instituições públicas e privadas. Altenburg & Meyer-Stamer (1999, p.1694) destacam que a simples concentração de empresas que geram produtos similares em uma mesma região não é suficiente para caracterizar um cluster. Faz-se mister que haja cooperação e eficiência coletiva. Os autores consideram, ainda, que o distrito industrial é um tipo específico de cluster. De acordo com Santos et al. (2004, p.21) os Arranjos Produtivos Locais (APLs) que tem como paradigma principal os distritos industriais italianos- são uma concentração geográfica de empresas e outras instituições que se relacionam em um setor particular. 14578

Conforme os autores, o APL deve ser definido a partir da existência de vantagens competitivas locacionais de abrangência setorial e, assim sendo, existem aglomerações setoriais que não são APLs. Ainda segundo os autores mencionados, APL pode ser constituído por grandes aglomerações que tenham uma importante presença de pequenas e médias empresas, ou concentração produtiva em geral que concentram um grande volume de atividades criativas, ou quando a imagem regional é fundamental para a competitividade das empresas. Essas são as principais situações onde a localização oferece às firmas vantagens competitivas em nível setorial ou da cadeia produtiva que são decisivas e que se mantêm no tempo. APL só é um conceito novo e relevante quando isso ocorre (Santos et al., 2004, p. 31). Com base nesta definição de APL, verifica-se a importância dos fatores locacionais na constituição das vantagens competitivas locais. No Brasil a partir de 1980, principalmente, a análise dos APLs tem sido objeto de investigação científica e de políticas públicas de desenvolvimento territorial. Contudo, tornase necessário a realização de mais pesquisas específicas que permitam elucidar importantes questões relacionadas aos Arranjos Produtivos, tais como: - Os Arranjos Produtivos realmente promovem o desenvolvimento local? Qual a importância dos arranjos produtivos especializados em agrocomércios, por exemplo? - Quais as principais vantagens competitivas para o aparecimento de um APL? - Os APLs surgem das condições históricas e geográficas específicas do lugar ou são induzidos por políticas públicas? - Qual é a morfologia, os estágios de desenvolvimento e o dinamismo dos APLs? A presente pesquisa procura, através deste estudo de caso, contribuir para a compreensão dos Arranjos Produtivos no estado de São Paulo, Brasil. 4. O estudo do Arranjo Produtivo agrocomercial do município de Jundiaí-SP 4.1. Caracterização da área de estudo O município de Jundiaí, localizado a 63 km da capital paulista e 40 km da cidade de Campinas, reúne características que representam uma grande contribuição para a o estudo dos Arranjos Produtivos Locais. Jundiaí possui importantes vias de acesso, como a Rodovia Anhanguera, Rodovia dos Bandeirantes e a Rodovia Dom Gabriel Paulino Couto. Essa localização estratégica e logística privilegiada, situada entre os eixos metropolitanos de São Paulo e Campinas, representou um condicionante histórico de desenvolvimento. 14579

Segundo dados da prefeitura municipal, Jundiaí detém um PIB estimado em US$ 2,4 bilhões e está situado entre as 10 maiores economias do estado. Apesar de sua vocação industrial, o setor agrícola desempenha importante papel na economia municipal. Sua população de 323.397 habitantes encontra-se distribuída em uma área de 432 km 2, onde 298 km 2 representa a área de cultivo, o que evidencia a dimensão de seu cinturão verde. Produzindo cerca de 25.000 t de uva por ano, o município de Jundiaí é, por excelência, o maior produtor de uva de mesa do país. Os principais mercados consumidores da uva produzida no município são os estados de São Paulo e Rio de Janeiro, seguidos dos estados de Goiás, Paraná, Bahia e a região de Belo Horizonte, no estado de Minas Gerais. A variedade Niagara Rosada, que corresponde a 95% dos vinhedos do município, não pode ser conservada e refrigerada por um grande período, restringindo seu transporte e comercialização a pequenas e médias distâncias (SILVA, 2002). O município possui, ainda, grandes empresas engarrafadoras de vinho e de vinagre, inseridas no mercado nacional e internacional. A matéria-prima utilizada por essas empresas é proveniente da Região Sul do país, pois a manutenção de grandes propriedades de uvas destinadas à fabricação de vinho em Jundiaí é inviável, devido a fatores naturais que comprometem o trato dos parreirais. Apesar da posição de destaque que o município de Jundiaí possui, no que tange à produção e comercialização de uvas de mesa, os pequenos produtores têm enfrentado diversas dificuldades para manter seus vinhedos. Como pequenos produtores, entendemos aqueles que possuem até 50.000 pés de uva plantados. Para esses produtores, os gastos necessários para a manutenção de seus vinhedos não são compensados pelo preço final do produto. O valor dos insumos utilizados, como pesticidas, herbicidas, adubos e inseticidas sofrem aumentos constantes devido às variações cambiais. Outro sério problema diz respeito ao transporte da produção, pois o valor do frete não favorece os pequenos produtores, que não possuem condições de pleitear junto às grandes redes de varejo, o que acaba privilegiando os grandes proprietários que possuem maior flexibilidade de produção (SILVA, 2002). O preço da uva no mercado nacional vem apresentando uma sensível queda na última década. Devido à abertura do mercado brasileiro para as importações, diferentes variedades de uva são comercializadas durante todo o ano. Através dos melhoramentos genéticos, que propiciaram a adaptação e incremento da qualidade de diferentes variedades no território brasileiro, aumentou-se a oferta de uvas, que já não é considerada uma fruta de época. Somada a esses fatores, a expansão de novas frentes produtoras ocasiona a queda do preço, principalmente no mês de dezembro, quando ocorre o auge da demanda e da safra (SILVA, 2002). 14580

Todas essas dificuldades merecem uma atenção especial quando se trata de uma cultura anual que necessita de cuidados artesanais, como a uva. Uma eventual chuva de granizo ou uma estação seca mais severa é capaz de comprometer toda uma plantação. Nesse cenário de instabilidade e incertezas encontramos não apenas os pequenos viticultores, mas também os médios produtores que se dedicam exclusivamente à uva. Muitos viticultores estão abandonando o cultivo da uva, diversificando sua produção com produtos que não exigem tantos insumos e que possuem melhor valor de mercado. Os produtores que conseguiram atravessar as crises sazonais características do rural brasileiro, estão buscando alternativas para melhorar seu desempenho no agronegócio da uva, procurando agregar valores a seus produtos. Incentivados por instituições de apoio técnico como o SEBRAE, que desenvolve cursos de capacitação rural, os produtores recebem instrução para o incremento de seus rendimentos, tais como: otimizar a utilização de insumos, preparação para a visitação turística das propriedades e como negociar sua produção, a fim de conseguir melhores preços no mercado. É num contexto de competitividade entre os territórios que as capacidades de inovação e adaptação às transformações globais são emergentes. As localidades, cada vez mais expostas a padrões de mercado globais que demandam novas formas organizacionais, necessitam de planos de ação focalizados em suas especialidades e vocações. E são os pequenos estabelecimentos que apresentam maior viabilidade para a promoção de estratégias de desenvolvimento endógeno e gestão participativa, capazes de promover a troca de saberes e fazeres, compartilhando os dividendos com todos partícipes do processo. As pequenas propriedades rurais do município de Jundiaí, com base nas suas potencialidades locais e suas relações produtivas, oferecem vantagens comparativas para se inserir em um espaço econômico cada vez mais concorrencial. 4.2. Aspectos Históricos As referências sobre a produção de uva em escala comercial no município de Jundiaí datam da segunda metade do século XIX, com a publicação do Relatório da Comissão Central de Estatística, publicado em 1888, que chama a atenção para o surgimento de propriedades agrícolas destinadas exclusivamente à produção de uva e de vinho. Antes dessa publicação, a documentação a respeito da produção de uva é confusa e inconstante, restringindo-se a relatos informais e a alguns registros de posses, como testamentos (SILVA, 2002). Entre os séculos XVIII e XIX, a agricultura jundiaiense teve, respectivamente, a canade-açúcar e o café como culturas principais. Para compreendermos a transformação da 14581

paisagem agrícola e a consolidação da viticultura já no final do século XIX, dois marcos fundamentais merecem destaque. O primeiro, corresponde à construção da Ferrovia Santos-Jundiaí. Inaugurada em 1867, a Ferrovia proporcionou o incremento das relações comerciais entre Jundiaí e a cidade de São Paulo. Jundiaí se beneficiou com o monopólio da Companhia São Paulo Railway, que tinha o privilégio na ligação planalto-litoral, concluindo seus trilhos em Jundiaí sem se preocupar com o prolongamento, já que qualquer estrada construída no interior teria que lhe pagar tributo (MATOS,1974). Outro marco relevante diz respeito à mão-de-obra italiana que começou a imigrar para a região nesse mesmo período. No ano de 1887, foi criado o Núcleo Colonial Barão de Jundiaí (região do atual bairro Colônia), organizado para receber o grande contingente de imigrantes italianos que chegaram no município para trabalhar nas lavouras de café. A princípio, a viticultura era uma cultura de subsistência, servindo apenas de complemento de renda através da comercialização de seu excedente. A imigração italiana ocorrida em outra localidade do município, no atual bairro Traviú, também contribuiu para o desenvolvimento da atividade viticultora. Nessa localidade, ocorreu a formação de um Núcleo de Colonização Espontâneo, no ano de 1893, onde algumas famílias provenientes de outras regiões da Itália compraram seu lote de terra com os recursos acumulados no trabalho da lavoura Niagara Branca, que era comercializada em São Paulo. Já nas primeiras décadas do século XX, a viticultura tornou-se uma atividade comercial relevante, superando a produção cafeeira por volta de 1930. Aliada aos fatores já mencionados, devemos ressaltar a perfeita adaptação das chamadas variedades americanas, como a Isabel e a Niagara, que se adequaram rapidamente às condições naturais, principalmente ao clima da região, exigindo poucos insumos para seu cultivo (SILVA, 2002). No ano de 1934, na região do Traviú, ocorreu a mutação natural da Niagara Branca para a Rosada. Por ter seu ponto de maturação facilmente identificável e baixo custo de produção, a Niagara Rosada se popularizou rapidamente, acabando por dominar a paisagem dos vinhedos jundiaienses e transformar a fisionomia da produção de uva no estado de São Paulo (MARTINS, 1997). Durante a primeira metade do século XX, foram criadas diversas cantinas e fábricas de vinho. As variedades destinadas à fabricação de vinho chegaram a ocupar a maior parte dos vinhedos jundiaienses. A prefeitura investiu em capacitação e melhorias técnicas dos estabelecimentos vinícolas, promovendo exposições e encontros para associar o nome do município ao cultivo da uva e à produção de vinho. 14582

Os pequenos produtores de vinho, em contrapartida, começaram a enfrentar, a partir da década de 50, problemas pela necessidade de se adequar às rígidas normas técnicas fiscalizadas por agentes federais. Já no final da década de 50, as variedades utilizadas para a fabricação de vinho já não apresentavam bons rendimentos quanto às variedades para a comercialização a granel. Os terrenos rurais tornaram-se supervalorizados, e de acordo com a demanda e a dimensão dos estabelecimentos vinícolas, era mais vantajoso a transferência das propriedades para a Região Sul, onde havia excedente de produção de uvas para a fabricação de vinho e os custos de produção eram menores. A partir da década de 60, os vinhedos jundiaienses começaram a ter sua produção destinada principalmente para as uvas de mesa. As empresas engarrafadoras de vinho que se consolidaram no município, assim como as empresas engarrafadoras de vinagre, importam as matérias-primas necessárias do estado do Rio Grande do Sul. Essas propriedades ainda são administradas pelos descendentes dos familiares que imigraram para o Brasil no início do século XX, e sua localização, na maioria dos estabelecimentos, remonta ao primeiro terreno comprado pelos imigrantes. Na segunda metade do século XX, a Niagara Rosada consolidou-se como principal variedade produzida e comercializada no município, tendo sua produção aumentado consideravelmente até o início da década de 90, quando após constantes crises econômicas, associadas a fenômenos meteorológicos isolados, fizeram com que muitos pequenos e médios produtores abandonassem o cultivo da uva. Essa queda de produção constatada em pesquisas de campo e entrevistas junto aos viticultores, não possui números precisos em relação aos pés de uva erradicados, para contrapor aos dados oficiais apresentados pela prefeitura municipal. 4.3. Perspectivas para a constituição de um APL rural O estudo dos Arranjos e Sistemas Produtivos Locais, como iniciativas promotoras do desenvolvimento econômico endógeno e sustentado, contempla uma série de variantes, capazes de colaborar para a análise e categorização das novas territorialidades. O cenário atual da viticultura de Jundiaí nos revela alguns dos principais enfrentamentos dos pequenos agricultores brasileiros, como a dificuldade de obtenção de crédito e acumulação de capital de giro, o que resulta na falta de competitividade em mercados cada vez mais exigentes e flexíveis. É claro que, juntamente com esses fatores, devem ser consideradas as especificidades de cada produção agrícola, de acordo com sua organização produtiva, estrutura fundiária e composição étnico-cultural. 14583

O componente étnico, longe de representar um elemento reducionista ou até mesmo excludente, nos revela aspectos fundamentais para a compreensão da organização produtiva familiar em diversas regiões brasileiras. Com base nos novos empreendimentos viticultores em Jundiaí, constatamos que mais do que um marketing local, os elementos da cultura italiana se fazem presentes na organização e divisão do trabalho, na cooperação e transmissão do conhecimento e na capacidade de inovação, aspectos intrínsecos aos Arranjos Produtivos que buscam o desenvolvimento endógeno. Essa situação nos remete a Amaral Filho (2001), que contextualiza as transformações que ocorrem na esfera do desenvolvimento regional, inserido no processo de globalização, como agentes ativos da flexibilização e descentralização, dentro e fora das organizações, os quais ocasionam impactos importantes em termos de reestruturação funcional do espaço (AMARAL FILHO, 2001, p.261). Para nosso estudo, pesquisamos a região do bairro Caxambú (que envolve os bairros Caxambú, Toca e Roseira), localizada no setor norte, a aproximadamente 6,5 km do centro do município, por ser uma tradicional região produtora de uvas de mesa. Apesar de serem considerados bairros rurais, a região apresenta urbanização crescente e aprimoramento no setor de serviços, o que fortalece ainda mais sua vocação para o turismo. Muitos produtores estão diversificando suas atividades econômicas para enfrentarem um novo cenário econômico. Schneider (2004, p.4) destaca que, nos dias atuais, o rural deixa de ser o locus específico das atividades agrícolas. A capacidade histórica desses produtores, descendentes dos colonizadores italianos do final do século XIX, inspira iniciativas que têm sido muito bem sucedidas. Entre as estratégias dos viticultores da região está a difusão do agrocomércio de produtos derivados da uva (vinho, doces geléias) e do turismo rural. No agrocomércio, destaca-se o vinho artesanal, que é vendido dentro das propriedades rurais, agregando um caráter de produto típico do campo e enfatizando a tradição e os costumes italianos. Mesmo com o aumento da produção de vinho, não ocorreu a modificação dos vinhedos, pela troca de uvas de mesa pelas uvas típicas para a fabricação de vinho. As uvas são compradas da região sul do país, o que ainda é mais vantajoso do que produzí-las. Nota-se, ainda, uma preocupação crescente com a qualidade dos produtos e sua inserção em um mercado cada vez mais competitivo. No ano de 2003 foi criada a Associação dos Produtores de Vinho Artesanal do Caxambú, com o objetivo de otimizar os custos com matéria-prima, transporte, adequação às normas de saúde e divulgação de seus produtos em nível local e nas feiras agrícolas da região (SILVA, 2002). 14584

No que se refere às iniciativas institucionais, a prefeitura municipal não possui políticas bem definidas de apoio ao vinho artesanal, que não tem regulação federal específica para sua produção e comercialização. O que a prefeitura tem feito é promover o turismo rural na região, incorporando os bairros viticultores no Circuito das Frutas, programa estadual de aprimoramento do turismo rural no interior paulista. Outro suporte institucional importante é realizado pelo SEBRAE, que oferece cursos de capacitação rural que abordam os mais variados temas, desde o cuidado com as plantações, uso racional de água e pesticidas como a adequação das propriedades rurais para a visitação (SILVA, 2002). A atual configuração do agrocomércio da região do bairro Caxambú direciona nossa reflexão para a identificação de um Arranjo Produtivo Local com base em empreendimentos rurais, caracterizado pela valorização das especificidades locais, aprimoramento das redes produtivas e da cooperação local, através da incorporação de aspectos históricos e culturais. Utilizamos o termo agrocomércio para destacar não apenas a comercialização da uva a granel mas, sobretudo, os produtos derivados da uva e os serviços que se desenvolvem de forma articulada como a constituição de vias gastronômicas e visitação das propriedades. A análise qualitativa desse Arranjo Produtivo busca aprimorar os procedimentos metodológicos para o acompanhamento de outras modalidades de desenvolvimento local, inclusive através da parceria com diferentes instituições de pesquisa e agências de capacitação e suporte técnico como o SEBRAE. Além da contribuição teórico-metodológica, o estudo das iniciativas desses pequenos e médios produtores nos revela dados importantes para a criação de políticas públicas de desenvolvimento local e regional, servindo como referência para as instituições municipais e estaduais. Diante do que foi exposto, é possível classificar o agrocomércio da região do bairro Caxambú como um Arranjo Produtivo Local? A região em questão apresenta certas especificidades que, se bem conduzidas e administradas, serão capazes de promover um desenvolvimento integrado e participativo. A avaliação desse desenvolvimento só é possível diante de um acompanhamento sistemático das experiências que estão sendo realizadas, a fim de categorizar os estágios de seu desenvolvimento. Essa análise deve contemplar alguns aspectos importantes, tais como: - participação dos atores locais no planejamento das estratégias; - desenvolvimento de redes de conhecimento e trocas de saberes; 14585

- envolvimento das instituições de suporte; - elaboração de políticas públicas; - criação de empregos e renda; - geração de eficiência coletiva ; - consolidação do marketing territorial. Um Arranjo Produtivo nessas condições pode ser concebido de forma objetiva e planificado. As ações públicas, no sentido de oferecer suporte técnico e logístico para esse empreendimento, são fundamentais para a sua constituição. Por outro lado, as características que o tornam viável são de natureza espontânea, como os aspectos étnicoculturais que proporcionam uma maior fluidez das relações de trabalho, interferindo diretamente na organização da cadeia produtiva. Acrescenta-se, ainda, que apesar dos desafios impostos pela globalização da economia é possível, como no caso em estudo, articular todos os elementos constituintes deste território e transformá-los em vantagens competitivas para esse Arranjo Produtivo e para o conseqüente desenvolvimento local integrado e sustentado. REFERÊNCIAS ALTENBURG, T; MEYER-STAMER, J. How to promote clusters: policy experiences from Latin America. World Development, Great Britain: Elsevier Science Ltd, v. 27, n. 9, p. 1693-1713, 1999. AMARAL FILHO, J. A endogeneização no desenvolvimento econômico regional e local. IPEA, Brasília, n. 23, p. 261-286, 2001. BECATTINI, G. O Distrito Marshalliano uma noção socioeconômica. In: BENKO, G. ; LIPIETZ, A. (orgs.).as regiões ganhadoras- distritos e redes: os novos paradigmas da Geografia Econômica. Lisboa: Celta, 1994. BECKER, B. K. A crise do Estado e a Região a Estratégia de Descentralização em Questão. In: BECKER, B. K. (org.). Ordenação do Território: Uma Questão Política? Exemplos da América Latina.UFRJ, Departamento de Geografia, 1984. BENKO, G.; LIPIETZ, A. (org.). As Regiões Ganhadoras. Distritos e Redes: Os Novos Paradigmas da Geografia Econômica. Oeiras: Celta Editora, 1994. BENKO, G.; PECQUEUR, B. Os recursos de territórios e os territórios de recursos. Revista Geosul, Florianópolis, v.16, n. 32, p.31-50, jul-dez 2001. BERNARDES, R. Novas Tecnologias e Modernização Conservadora na Indústria Brasileira. São Paulo em Perspectiva, v. 5, n. 3, p. 62-69, 1991. BOSCHERINI, F. & POMA, L. (eds.). Territorio, Conocimiento y Competitividad de las empresas: El rol de las instituciones en el espacio global. Madrid: Editorial Miño y Dávila, 2000. 14586

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