TÍTULO: PERFIL ELETROCARDIOGRÁFICO COMPUTADORIZADO DO LOBO GUARÁ (CHYSOCYSON BRACHYURUS)



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Transcrição:

TÍTULO: PERFIL ELETROCARDIOGRÁFICO COMPUTADORIZADO DO LOBO GUARÁ (CHYSOCYSON BRACHYURUS) CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE SUBÁREA: MEDICINA VETERINÁRIA INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE DE FRANCA AUTOR(ES): FRANCINE DE SOUZA SOARES ORIENTADOR(ES): DANIEL PAULINO JUNIOR COLABORADOR(ES): CRISTIANE DOS SANTOS HONSHO, LAURA TEODORO DE OLIVEIRA, TÁRCIO ANDRÉO COSTA

RESUMO Sendo o maior canídeo selvagem que habita a America do Sul, o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) tem seu peso variando entre 20 e 30 kg, é um onívoro, monogâmico facultativo que forma casais durante a estação reprodutiva. Vem sendo um exemplo clássico dos animais silvestres que surgem nos atendimentos veterinários, principalmente por acidentes automobilísticos. Tornando-se essenciais informações clinicas sobe essa espécie, nos atendimentos de urgência e emergência. Deste modo, o objetivo deste trabalho foi descrever o traçado eletrocardiográfico computadorizado do lobo-guará visando originar informações que contribuam com a rotina clínica. Para este estudo foram utilizados seis lobos sendo quatro machos e duas fêmeas com média 22 (kg) e 5 anos de idade do Centro de Desenvolvimento Ambiental (CDA) localizado dentro das dependências da CBMM (Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração) na cidade de Araxá MG. Os lobos foram contidos de forma física sem auxílio de fármacos e mantidos em decúbito lateral direito no chão do próprio recinto. Após o animal se ambientar, o eletrocardiograma (ECG) computadorizado foi registrado durante um minuto e os traçados foram avaliados pelo programa de ECG computadorizado TEB a partir das derivações periféricas (I, II, III, avr, avl, e avf). Os eletrocardiogramas foram analisados na derivação bipolar II (DII), na velocidade de 50 mm/segundo, calibrado para um centímetro igual a 1 mv (N), medindo ondas, intervalos e segmentos com posterior medida do complexo QRS também nas derivações DI e DIII para obtenção do eixo cardíaco. Análises percentuais das variáveis foram comparadas com valores das mesmas em cães do mesmo porte não evidenciando alguma diferença em nenhuma variável entre as espécies. 1. INTRODUÇÃO. A invasão humana na natureza vem acarretando grandes prejuízos a fauna e a flora nacional tanto a médio como a longo prazo. Em vista deste cenário, centros veterinários recebem lobos-guarás para atendimento de urgência e emergência, sendo hoje em dia a ocorrência de casos crescente. Tornando-se indispensável o conhecimento dos parâmetros fisiológicos nessa espécie, tanto ao atendimento inicial como na avaliação e evolução do caso. Destacando-se a importância na determinação de parâmetros como a frequência cardíaca e respiratória, eletrocardiograma (ECG), valores hematológicos, bioquímica sérica e temperatura

retal para um melhor suporte durante o atendimento. 2. OBJETIVO. Baseado nas informações acima citadas este trabalho tem como objetivo traçar o perfil eletrocardiográfico computadorizado do lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), sem contenção química para obtenção dos parâmetros eletrocardiográficos mais fisiológicos possíveis com o intuito de contribuir com segurança na rotina ambulatorial veterinária. 3. METODOLOGIA. O experimento foi realizado no Criadouro Científico da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), latitude 19º40 23, longitude 46º44 13,5, altitude 1095m, localizado no município de Araxá, Minas Gerais, Brasil. O criadouro é especializado na conservação ex situ de espécies do cerrado, com ênfase nas espécies ameaçadas de extinção e regulamentado de acordo com a Instrução Normativa 169/2008, na categoria de Criadouro Científico de Fauna Silvestre para Fins de Conservação, junto ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBAMA. Foram utilizados seis lobos-guarás saudáveis, sendo quatro machos e duas fêmeas, com média de peso e idade de 22 kg (± 2,67), e 5 (± 2,59), anos respectivamente. Esses lobos foram provenientes do Centro de Desenvolvimento Ambiental localizado dentro das dependências da CBMM na cidade de Araxá MG. Todos os animais recebem água ad libidum bem como diariamente, dieta balanceada. A alimentação balanceada é constituída de ração para cães com 23% de proteína, frutas (abacaxi, mamão, laranja e banana), legumes cozidos (cenoura, beterraba, batata doce e abobrinha), além de carne bovina moída. Em média, a soma desta dieta perfaz um total de 1,4 kg de alimentação por animal por dia. Adicionalmente três vezes por semana os animais também se alimentam de ovos de galinha crus e ratos vivos. A área dos mesmos é variada onde a média perfaz 3000 m 2. Os animais são examinados a cada três meses no Criadouro Científico da empresa pela veterinária responsável do mesmo. Os lobos-guarás, deste estudo apresentavam-se hígidos no momento que foram realizados os exames de eletrocardiográficos, pois este foi realizado no mesmo

período dos exames trimestrais do Criadouro Cientifico. Após a entrada dos tratadores no recinto, os lobos eram contidos fisicamente com cambão, amarração da boca e mantidos em decúbito lateral direito sendo a equipe instruída e preparada para manipular os animais sem estressa-los. Após um período de adaptação à contenção e com os animais apresentando-se tranquilos à manipulação, os membros eram posicionados perpendicularmente ao tronco com movimentos leves. A cada membro foi acoplado um eletrodo ligado a um prendedor metálico jacaré (acima dos olecranos nos membros torácicos e acima dos ligamentos patelares nos membros pélvicos) e umedecidos com álcool. A captação dos sinais eletrocardiográficos durou aproximadamente um minuto. Vale ressaltar que esses animais já eram adaptados a este tipo de manipulação em experimentos anteriores o que facilitou a captura bem como a adaptação a contenção, não provocando nenhum tipo de estresse adicional. Foi empregado um eletrocardiógrafo computadorizado, modelo TEB para obtenção do ECG nas derivações periféricas (I, II, III, avr, avl, e avf). Os eletrocardiogramas foram analisados na derivação bipolar II (DII), na velocidade de 50 mm/segundo, calibrado para um centímetro igual a 1 mv (N), observando-se as características do ritmo cardíaco e os valores dos parâmetros referentes a frequência cardíaca, duração [milissegundos (ms)] e amplitude [milivolts (mv)]da onda P, duração do intervalo PR e do complexo QRS, amplitude da onda R, duração do intervalo QT, características da polaridade da onda T, presença ou não de desnivelamento do segmento ST e valor em graus do eixo médio de QRS, obtido a partir das derivações I e III. As medidas eletrocardiográficas foram analisadas segundo, com ressalva para as durações da onda P e do complexo QRSL, que descreveram maior acurácia do método computadorizado com relação ao convencional, notando-se valores maiores na duração da onda P e do complexo QRS. 4. DESENVOLVIMENTO e RESULTADOS A eletrocardiografia consiste em um método diagnóstico não invasivo e acessível, usualmente aplicado tanto na medicina como na medicina veterinária para avaliar alterações no ritmo cardíaco, já descrita principalmente em humanos, caninos e felinos, assim como os valores basais dos intervalos, segmentos e amplitude e duração das ondas pelos métodos convencional e alguns no

computadorizado (HOFFMAN; RANEFIELD, 1964; TILLEY, 1992; WOLF et al., 2000). Entretanto, existem poucos estudos no que diz respeito à utilização e padronização do método computadorizado em animais silvestres sem contenção química, salientando em questão o lobo-guará. Desta maneira, este estudo obteve valores normais das variáveis eletrocardiográficas pelo método computadorizado, pois não houve a influência de nenhum fármaco anestésico ou tranquilizante e os animais estavam hígidos. Inicialmente é válido ressaltar nesta pesquisa que as variáveis eletrocardiográficas, evidenciadas na tabela 1, mostram uniformidade morfológica nas quais as deflexões, segmentos e intervalos seguem um parâmetro constante de formato demonstrando assim uma homogeneidade dentro da mesma espécie independente da idade ou sexo. Diferentemente do que é explanado por MELCHERT et al. (2012), que descreveram nos 24 equinos alterações fisiológicas normais como o contorno da onda P bífida com um formato da letra M em alguns animais (58%) sendo que em outros não, bem como alterações na morfologia do complexo QRS, sendo ambas situações rotineiramente encontradas como normalidade. Tratando-se dos valores das variáveis eletrocardiográficas, também demonstrados na tabela 1, a maioria, quando confrontada com os valores normais de cães com a mesma faixa de peso, sem uso de fármacos, descritos por TILLEY (2004) e por WOLF et al.(2000) encontram-se dentro do intervalo considerado normal para a espécie que é permitido, mesmo não sendo uma comparação entre a mesma espécie, já que existe dificuldade em encontrar esses dados de animais sem uso de fármacos na literatura. O valor médio da duração da onda P (Pms), ultrapassou o preconizado por WOLF et al. (2000) para cães, que recomenda valores até 50,20 ms. Em nosso estudo foi obtido valor médio de 50,67 ms, sendo que apenas um animal apresentou valor de 57 ms. Fato semelhante também foi observado na duração do complexo QRS (QRSms) no qual o valor médio de 52,83 ms, não excedeu o prescrito por WOLF et al. (2000) de 64,84 ms. Porém um animal apresentou duração do complexo QRS de, 67 ms ultrapassando o limite considerado normal. Segundo, TILLEY (2004) o aumento da amplitude e duração da onda P é associada à despolarização dos átrios sugerindo aumento dos mesmos bem como em cães da raça boxer, VAILATI et al. (2009) sugere que o aumento da amplitude da

onda P com a idade pode estar relacionado ao aumento do peso do coração. Em relação ao complexo QRS, TILLEY (2004), sugere que as principais alterações são indicadas pela sobrecarga no ventrículo esquerdo, se a amplitude da onda R esta aumentada, se a duração da onda R estiver aumentada pode ser indicativo de bloqueio de ramo de feixe esquerdo. Um sobrecarga no ventrículo direito a onda S esta com a amplitude aumentada, e se a duração da onda S estiver aumentada é indicativo de bloqueio de ramo de feixe direito. Semelhantemente como em nossa pesquisa, ESTRADA et al. (2009) realizaram ECG em 13 lobos-guarás anestesiados com tiletamina-zolazepam. Ao confrontarmos os valores das variáveis eletrocardiográficas dos dois estudos notouse ampla proximidade destacando somente a duração da onda P que neste estudo o valor médio foi de 50,67 ms e para ESTRADA et al. (2009) foi de 40 ms. Quando analisada a variável, ritmo cardíaco foi caracterizado predomínio da Arritmia Sinusal Respiratória (ASR) em 66,66 % dos lobos sendo seguido pelo ritmo sinusal. (fig.1) A ASR é o ritmo cardíaco de origem sinusal e de frequência comumente dentro dos limites normais, que se caracteriza pelo tempo entre as ondas R consecutivas não exatamente igual em todos os intervalos R-R do ECG. Têm-se diferenças detectáveis entre os distintos intervalos R-R, porém tais diferenças não são maiores que o dobro do espaço R-R considerado normal no ECG (RAMÍREZ et al., 2003). Nos cães esta situação está relacionada na maioria das ocasiões de forma direta com a respiração, de maneira que, quando se produz a inspiração, provoca-se um estímulo simpático e inibição vagal, pelo qual se acelera o ritmo cardíaco e têm-se espaços R-R mais curtos. Na expiração gera-se aumento do tônus vagal e inibição simpática, pelo qual se produz diminuição da frequência, o que evidencia espaços R-R maiores (RAMÍREZ et al., 2003, MILLER et al., 2006). O fato de se observar ASR nos animais deste estudo pode ter sido pelo fato dos lobos estarem tranquilos, pois quando são submetidos ao estresse o sistema nervoso simpático assume totalmente o comando inibindo a ASR e até mesmo o ritmo sinusal predominando a taquicardia sinusal (STEPHENSON, 2008). Ainda, em relação ao ritmo cardíaco, nesta pesquisa notou-se a ocorrência de alguns episódios de extra-sístoles ventriculares, também conhecidas como complexos ventriculares prematuros, nos lobos número II e VI.(fig.1) A etiologia desta anormalidade é muito variável. Quando a origem é cardíaca, observa-se em

quadros avançados de insuficiência cardíaca congestiva por cardiopatias dilatadas secundárias a lesões valvares atrioventriculares, em cardiomiopatia idiopáticas de raças grandes e na cardiomiopatia do Boxer e do Dobermann. Nos de origem iatrogênica, podem encontrar-se com uso de digitálicos, simpatomiméticos, anestésicos gerais, fenotiazinicos e muitos antiarrítmicos. Os de origem extracardíacos, aparecem em muitos processos metabólicos graves e de inúmeras procedências tais como, hipertermia, hipóxia, insuficiência renal, hipertiroidismo, insuficiência hepática crônica, alterações do sistema nervoso autônomo, infecções sistêmicas, isquemia, intoxicação por fármacos, entre outras (RAMÍREZ et al., 2003; MILLER et al., 2006). Esta alteração no ritmo pode ser explicada pela maior atividade do componente autonômico simpático que apresentam em situações de estresse ou atribuída à idade do lobo-guará em questão, sendo a vida media dos lobos-guarás de 10 anos (KITTLESON, 1998; TILLEY, 1992; CUBAS et al. 2006). 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS. Após análise dos resultados obtidos na presente pesquisa, pode-se concluir que a morfologia dos traçados eletrocardiográficos do lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) bem como os valores das variáveis estudadas são muito parecidos aos dos cães com mesmo escore corporal. De forma parecida, os complexos ventriculares prematuros observados em um dos lobos, se encontra também em cães com estresse ou com cardiopatias. Sendo de grande importância ressaltar a necessidade de novos estudos com um número maior de animais, com variadas idades, pesos, animais sedados, anestesiados, doentes ou não para melhor detalhamento da padronização dos traçados eletrocardiográficos nesta espécie. 7. FONTES CONSUTADAS. CAMACHO, A.A. et al. Comparison between conventional and computerized electrocardiography in cats. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.62, n.3, p.1-4, 2010. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0102-09352010000300038&script=sci_arttext>. Acessado em: 10 dez. 2012. doi: 10.1590/S0102-09352010000300038

CUBAS, Z.S. et al. Tratado de Animais Selvagens. São Paulo: Roca, 2006. 1356p. ESTRADA, A.H. et al. Cardiac evaluation of clinically healthy captive maned wolves (chrysocyon brachyurus). Journal of Zoo and Wildlife Medicine. Washington, v. 40, n.3, p.478-486, 2009. Disponível em: <http://www.bioone.org/doi/full/10.1638/2008-0154.1>. Acesso em: 13 dez. 2012. doi: http://dx.doi.org/10.1638/2008-0154.1. HOFFMAN, B.F., CRANEFIELD, P.F. The physiological basis of cardiac arrhythmias. American Journal of Medicine., New York, v.37, p.670-684, 1964. KITTLESON, D.M.; KIENLE, R.D. Small Animal Cardiovascular Medicine. California: Mosby, 1998. 603p. MELCHERT, A. et al. Eletrocardiografia computadorizada em cavalos Puro Sangue Lusitano submetidos a exercício físico. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia. Belo Horizonte, v.64, n.3, p.547-554, 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s010209352012000300004>. Acesso em: 13 dez. 2012. doi: http://dx.doi.org/10.1590/s0102-09352012000300004. MILLER, M.S. et al. Disorders of cardiac rhythm. In: BICHARD, S.J.; SHERDING, R.G. Manual of small animal practice. Philadelphia: W.B. Saunders, 2006. p.454-1471. RAMÍREZ, E.Y. et al. Arritmias cardíacas no cão e no gato. In: BELEVERIAN, G.C. et al. Afecções cardiovasculares em pequenos animais. São Caetano do Sul: Interbook, 2003. p. 230-259. STEPHENSON, R.B. O coração como uma bomba. In: CUNNINGHAM, J.G.; KLEIN, B.G. Tratado de fisiologia veterinária. Rio de Janeiro : Elsevier, 2008. Cap.21, p.229-244. TILLEY, L.P. Essential of canine and feline eletrocardiography. Philadelphia: Lea & Febiger, 1992. 470p.

TILLEY, L.P.; BURTINICK, N. L. Eletrocardiografia para o clínico de pequenos animais. São Paulo: Roca, 2004. 99p. VAILATI, M.C.F. et al. Características eletrocardiográficas de cães da raça boxer. Veterinária e Zootecnia, Botucatu, v.16, n.4, p.698-707, 2009. WOLF, R. et al. Eletrocardiografia computadorizada em cães. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, Belo Horizonte, v.52, n.6, p.1-7, 2000. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0102-09352000000600010&script=sci_arttext. Acessado em: 10 dez. 2012. doi: 10.1590/S0102-09352000000600009.

Figura 1 - Registros eletrocardiográficos computadorizados dos lobos-guarás obtidos a partir da derivação II, na velocidade de 50 mm/s e calibração 1 milivolt igual 1 cm. Trechos destacados com setas vermelhas mostram os complexos ventriculares prematuros nos lobos II e VI e as linhas amarelas de tamanhos diferentes mostram a variação das ondas Rs no mesmo traçado, nos lobos III e V caracterizando a arritmia sinusal respiratória. Os traçados eletrocardiográficos dos lobos I e IV não tiveram alterações. Tabela 1. Valores individuais e médios das variáveis eletrocardiográficas de lobosguarás adultos sem contenção química. ASR Arritmia sinusal respiratória, VPC esq Complexo Ventricular Prematuro esquerdo. mv Milivolt, ms milisegundo e bpm batimentos por minuto. Na linha verde as variáveis, na azul, a média.