O USO DE RECURSOS AUDIOVISUAIS NO PROCESSO EDUCACIONAL INCLUSIVO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL NO ENSINO MÉDIO



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Transcrição:

O USO DE RECURSOS AUDIOVISUAIS NO PROCESSO EDUCACIONAL INCLUSIVO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL NO ENSINO MÉDIO Introdução Gabriela Alias Horta 1, Elisa Tomoe Moriya Schlunzen 2 A possibilidade da ruptura da escola tradicional nasce com os princípios da Educação Inclusiva em uma perspectiva mais ampla, que de acordo com Dall Acqua (2010 p. 24) diz respeito ao acolhimento a todas as pessoas que apresentam alguma condição considerada como uma diferença ao padrão estabelecido socialmente como desejável ou normal, que foram historicamente excluídas da escola. Partindo do pressuposto que o objetivo da educação é que cada pessoa desenvolva sua personalidade, suas aptidões e sua capacidade mental e física até o máximo de suas possibilidades e esteja preparada para assumir uma vida responsável dentro da sociedade (SANCHO et. al, 2006 pode-se dizer que a proposta da educação inclusiva é garantir à pessoa com deficiência o direito ao acesso e a continuidade de sua escolaridade. É importante ressaltar que durante esse processo se torna necessário identificar o potencial do aluno, para que a proposta de ensino seja elaborada, levando em consideração esses aspectos e não ser pautada nos aspectos negativos que sua condição de deficiência proporciona. Dessa forma, a educação inclusiva visa que esses alunos atinjam o seu potencial máximo, e aprenda com todos. Nesse cenário, encontram-se os alunos com deficiência visual (DV), sendo estes com baixa visão e os com cegueira. Essa deficiência requer a utilização de estratégias e de recursos específicos, tornando muito importante compreender as implicações pedagógicas dessa condição visual para a utilização de recursos de acessibilidade adequados no sentido de favorecer uma melhor qualidade de ensino na escola (DOMINGUES et. al, 2010). A baixa visão é considerada por um comprometimento do funcionamento visual, em ambos os olhos, que não pode ser sanado, por exemplo, com o uso de óculos convencionais, lentes de contato ou cirurgia oftalmológica (DOMINGUES et. al, 2010). E cegueira, pode ser caracterizada por congênita ou adquirida. Sendo que, a primeira se refere à ausência da visão manifestada durante os primeiros anos de vida, enquanto que a segunda se refere à perda da visão de forma imprevista ou repentina, ou seja, ocasionadas por problemas orgânicos ou acidentais (DOMINGUES et. al, 2010). De acordo com a estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 70% da população considerada cega, possui alguma visão residual aproveitável (DOMINGUES et. al, 2010). Domingues et. al (2010) esclarecem que as crenças e os mitos que povoam o imaginário social sobre a falta da visão transparecem em falas, gestos e posturas das pessoas, o que reflete o desconhecimento das peculiaridades da cegueira e de suas reais conseqüências. Dessa forma, as ideias errôneas e concepções fictícias tornam-se barreiras que dificultam ou 1 Aluna do curso de Pedagogia Univesp, graduada em Letras e colaboradora em transcrição de recursos digitais no Centro de Promoção da Inclusão Digital, Educacional e Social da Faculdade de Ciências e Tecnologia UNESP -bihalias@gmail.com 2 Professora Doutora na Faculdade de Ciências e Tecnologia Unesp : elisa@fct.unesp.br 3248

impedem o desenvolvimento de outras habilidades e conhecimentos tanto no ambiente educativo, quanto nos demais ambientes sociais. Diante dessa condição, sabemos que o fato de possibilitar o aluno com deficiência visual em uma sala de aula do ensino regular não é sinônimo de inclusão. Para que esta ocorra efetivamente, é necessário que se garanta o desenvolvimento de suas habilidades e competências, sempre valorizando o potencial que o aluno apresenta. (SCHLÜNZEN et al, 2011). Para auxiliar no processo de ensino-aprendizagem e superar possíveis barreiras encontradas em sala de aula, o professor pode utilizar as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). As tecnologias permitem aproximação da formação e cultura às pessoas com necessidades especiais, principalmente como via de acesso à educação. De acordo com Alba (2006), as tecnologias auxiliam no processo de ensino, aprendizagem e socialização, em conformidade à necessidade de cada educando. Assim, o seu uso permite aos alunos com deficiência participar de forma ativa e significativa do processo de ensino e aprendizagem. Dentre esses recursos das TICs, encontram-se os recursos audiovisuais que são essenciais no processo de ensino e aprendizagem, principalmente no ensino da língua materna. Os vídeos permitem ao professor o trabalho com a oralidade, e questões pertinentes ao uso da língua no cotidiano. Os recursos audiovisuais podem ser usados, ainda, para contextualizar o ensino de tópicos estruturais da língua, como a gramática, adequação vocabular ou a construção do mesmo discurso em ambientes diferentes. Outro aspecto relevante desse recurso é a possibilidade de se trabalhar a interdisciplinaridade. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio PCNEM (BRASIL, 2000), o ensino da língua materna não pode ser pensado apenas no que tange à competência gramatical. A língua constitui elemento chave para as diversas relações humanas, na qual o aluno está presente. Dessa forma, a natureza da linguagem é social e interativa, ideia que vai de encontro à concepção tradicionalista, em que a linguagem é deslocada do uso social. De acordo com o PCNEM (BRASIL, 2000), o processo de ensino/aprendizagem de Língua Portuguesa deve basear-se em propostas interativas língua/ linguagem, consideradas em um processo discursivo de construção do pensamento simbólico, constitutivo de cada aluno em particular e da sociedade em geral. Espera-se que o aluno seja um cidadão, capaz de posicionar-se acerca dos vários assuntos com que tem contato em sua vida cotidiana, criticando e interagindo nos grupos sociais a que frequenta. A capacidade de analisar e criticar determinada situação se inicia na escola. Por isso, é importante que se trabalhe temas transversais e interdisciplinares em sala de aula. Objetivo Assim, este trabalho visa apresentar um recurso digital para o ensino de Língua Portuguesa no Ensino Médio tendo em vista o processo educacional inclusivo. Metodologia O presente trabalho versa sobre uma análise descritiva de um recurso audiovisual, bem como a compreensão e discussão quanto a sua utilização no ambiente escolar no Ensino Médio. O recurso audiovisual analisado é intitulado A Deficiência Visual e o Mercado de 3249

Trabalho, que se encontra no Banco Internacional de Objetos Educacionais (BIOE). 3 Este recurso se encontra no BIOE dividido em três partes parte 1, parte 2 e parte 3, sendo que o enfoque da entrevista é diferente em cada momento. O BIOE é um banco de livre acesso de materiais digitais educacionais, que viabiliza recursos para todos os níveis de ensino. Nele, encontram-se materiais diversificados (simulações, hipertextos, experimentos práticos, imagens, vídeos, softwares educacionais, mapas e áudios), que são identificados como objetos educacionais. O referido recurso foi desenvolvido e disponibilizado por meio de um trabalho desenvolvido por pesquisadores do Centro de Promoção da Inclusão Digital, Educacional e Social (CPIDES). Resultados e Discussões O recurso audiovisual A Deficiência Visual e o Mercado de Trabalho está disponível na seção Ensino Médio, disciplina Sociologia. Encontra-se dividido em três partes e tem como objetivo possibilitar o conhecimento sobre as pessoas com deficiência visual, enfocando sua inserção no mercado de trabalho, bem como dificuldades e pontos positivos nessa área de atuação. 1ª Parte do Vídeo: A Deficiência Visual e o Mercado de Trabalho Figura 1 A primeira parte do vídeo (figura1) tem 09 minutos e 57 segundos de duração. Nesta primeira parte, os massoterapeutas Silvinho Alves Santana e Nelson Borges de Souza, ambos deficientes visuais, descrevem o que é a massoterapia e a importância dessa técnica de massagem, bem como seus processos de formação profissional de inserção no mundo do trabalho. Os massoterapeutas também relatam que sofreram com o preconceito, devido à deficiência. As pessoas tinham receio de se aproximar deles e esse paradigma só foi extinto quando tiveram a oportunidade de mostrar sua capacidade, expõem eles. No trabalho em sala de aula com os alunos do ensino médio, além de utilizar o referido contexto para o trabalho de alguns aspectos da Língua Portuguesa, é importante ressaltar e conscientizar os alunos que a deficiência visual não é um fator impeditivo para a atuação na sociedade e em certas profissões, como a massoterapia. Além disso, os deficientes 3 Disponível em: http://objetoseducacionais2.mec.gov.br/ 3250

visuais aprendem da mesma maneira que um vidente, desde que lhe sejam dadas oportunidades de aprendizagem adequadas. 2ª Parte do Vídeo: A Deficiência Visual e o Mercado de Trabalho Figura 2 A segunda parte do vídeo (figura 2) tem duração de 05 minutos e 36 segundos. Nessa parte os massoterapeutas retratam seu caminhar profissional. Ambos relatam sobre o período antes da formação profissional e como se sentem sendo massoterapeutas hoje. Para eles, a nova profissão foi essencial para a inserção na sociedade, já que, por meio dela, têm a oportunidade de conhecer novas pessoas, são reconhecidos como profissionais e, além disso, ressaltam o sentimento de utilidade. Um novo paradigma foi criado, já que os clientes dos massoterapeutas não os veem como pessoas com deficiência, mas como seres humanos e profissionais competentes no que fazem, apesar das limitações. No ambiente escolar, é importante sensibilizar os alunos acerca do potencial do deficiente visual. Embora não tenham o sentido da visão ou esse se encontra reduzido, possuem a mesma capacidade de aprender que um vidente. Se estimulados e dada a devida atenção, podem desenvolver o trabalho da mesma maneira que aqueles que enxergam. 3ª Parte do Vídeo: A Deficiência Visual e o Mercado de Trabalho Figura 3 3251

A terceira parte (figura 3) do vídeo tem 06 minutos e 17 segundos de duração. Neste momento da entrevista, os dois massoterapeutas relatam as principais funções da massoterapia e argumentam o quanto a deficiência visual os ajuda na profissão, uma vez que a massoterapia depende basicamente do tato. No contexto escolar, pode-se ressaltar a importância da profissão na vida dessas pessoas, já que o exercício da nova profissão foi a oportunidade que tiveram de ser incluídas na sociedade novamente, considerando que a deficiência de ambos foi adquirida. Outro ponto a ser abordado é a posição e atitude do deficiente na sociedade - de acordo com os entrevistados, o portador de deficiência deve, antes de tudo, conquistar sua autonomia e independência, sempre ultrapassando as dificuldades e buscando o reconhecimento pela sua capacidade. A educação básica tem passado por constantes mudanças, dentro do desenvolvimento do processo histórico-cultural político e econômico. As transformações culturais e sociais do mundo contemporâneo refletem diretamente na educação. De acordo com o PCNEM (BRASIL, 2000), o ensino médio, que antes se configurava como conteudista e era estritamente voltado para o vestibular, passou a assumir a responsabilidade de completar a educação básica. Nessa perspectiva, isso significa preparar o educando para a vida, qualificar para a cidadania e capacitar para o aprendizado permanente, seja no mercado de trabalho ou no ensino superior. Nesse contexto, as linguagens, ciências e humanidades continuam sendo disciplinares, mas é preciso desenvolver seus conhecimentos de forma a constituírem, a um só tempo, cultura geral e instrumento para a vida, ou seja, desenvolver, em conjunto, conhecimentos e competências. (BRASIL, 2000). A disciplina Língua Portuguesa está inserida na área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Os pressupostos básicos do funcionamento da Língua Portuguesa são ensinados no ensino fundamental. Cabe, portanto, ao ensino médio, oferecer aos educando oportunidades de maior compreensão dos mecanismos que regulam a língua materna. As competências e habilidades que norteiam o ensino da língua mãe no ensino médio permitem concluir que se busca desenvolver no aluno a capacidade de interpretar as diversas situações e posicionar-se diante delas, com olhar crítico, além de estimular a percepção das várias possibilidades de expressão lingüística e capacitação como real leitor, não somente dos mais diversos textos, mas do mundo que o cerca. Atualmente, não é primordial que o educando memorize mecanicamente as regras gramaticais, ou saiba todas as características de uma escola literária, ou domine todas as regras de produção textual e características dos diversos gêneros textuais de forma descontextualizada. Mais importante que dominar as regras, é oportunizar o educando a ampliar e articular conhecimentos e competências que o permitam lidar com as inúmeras situações de uso da língua com que se depara, nas relações que estabelece no dia-a-dia, nos diversos grupos sociais em que está inserido. Para que este objetivo seja alcançado, é necessário que o conteúdo desenvolvido nas diferentes áreas do conhecimento e nas várias disciplinas sejam trabalhados de maneira articulada, em que os saberes se interligam e ganham sentido. Na sociedade atual, estar formado para a vida significa participar ativa e criticamente das diferentes situações, enfrentar problemas e ser capaz de elaborar críticas, propostas e argumentos. Por isso, a interdisciplinaridade, que consiste no diálogo entre as diversas áreas do conhecimento e disciplinas, é essencial para contribuir para que o processo de ensinoaprendizagem seja significativo, acarretando numa educação de qualidade, integradora e transformadora, promovendo as competências. Segundo Prado (1999), a interdisciplinaridade 3252

é a fórmula em que conteúdos de várias disciplinas se misturam, abraçados por um tema comum. A articulação de diversas disciplinas não as descaracteriza, como ainda é pensamento de muitos professores que atuam no ensino médio. Promove-se, com a interdisciplinaridade, o desenvolvimento das competências gerais, que dependem do conhecimento pertinente à cada disciplina do currículo. Além disso, o conteúdo de caráter interdisciplinar não precisa ser necessariamente desenvolvido em duas ou mais disciplinas, ou por dois ou mais professores, mas pode ser realizada numa mesma disciplina, articulando diferentes conhecimentos. Por isso, pode-se tratar de um tema que é próprio de determinada disciplina, com interdisciplinaridade, sem outras disciplinas estarem tratando do mesmo assunto no mesmo momento. Para que esse trabalho seja realizado de maneira efetiva e se atinjam os objetivos previamente traçados, é necessário que o professor esteja em constante atualização e domine os temas transversais do qual irá tratar em sua aula. Considerando a nova configuração do ensino médio, o recurso apresentado e analisado neste trabalho permite a interdisciplinaridade entre conhecimentos de língua portuguesa e sociologia, bem como a inclusão de alunos portadores de deficiência visual na sala de aula regular. A proposta de utilização desse recurso no contexto escolar consiste na contextualização e trabalho com temas transversais como pressuposto para o trabalho de Redação, um dos aspectos da Língua Portuguesa. Além disso, pretende-se a promoção da inclusão escolar. O professor, para utilizar esse recurso, deve inicialmente, propor uma discussão em sala acerca da deficiência, em geral, com o intuito de tomar conhecimento da bagagem cultural dos alunos, bem como de pensamentos errôneos quanto às deficiências e a portadores de deficiência, para que estes assuntos possam ser posteriormente discutidos e que sejam cumpridos alguns dos papeis da educação, que são formar e transformar. Após o levantamento de conhecimentos prévios e discussão, segue-se com a apresentação das três partes do recurso. O professor deve ter o cuidado, junto aos alunos de explicitar e descrever que o recurso consiste em uma entrevista com dois DVs, massoterapeutas, e que estão devidamente inseridos no mundo do trabalho. Esta preocupação em deixar claro no que consiste o recurso se faz necessária pela presença de alunos portadores de deficiência visual na sala de aula, uma vez que o objeto de aprendizagem consiste em um vídeo. Depois de assistirem à entrevista, segmentada em três partes, propõe-se que os alunos vejam novamente o recurso e que o professor proponha, durante a exibição, discussões a respeito do que está sendo falado. Em tais discussões, é importante que a opinião do aluno deficiente visual seja ouvida por todos, a fim de promover uma aula realmente inclusiva e que paradigmas e mitos, incrustados no pensamento de muitos e da sociedade atual sejam quebrados. Todas essas discussões, para que ocorra a interdisciplinaridade e a proposta de trabalho para o ensino médio seja alcançada, devem ser permeadas por temas inerentes à Sociologia. Esta disciplina foi novamente incorporada à grade curricular do ensino médio em 2008, já que o domínio dos conhecimentos dessa disciplina permite o exercício efetivo da cidadania. A utilização do recurso, bem como as discussões travadas a partir dele, servem de contexto para a proposta para a aula de Língua Portuguesa, que é a redação. A proposta consiste na produção de um texto de cunho dissertativo a respeito do que foi discutido. Como tema para essa redação, pode ser utilizado o próprio tema do recurso, que versa sobre a inclusão do deficiente visual na sociedade. A partir dos debates e da discussão, o professor ao 3253

propor a produção da redação, deve chamar a atenção para a estrutura da dissertação, em que o tema deve ser limitado. A partir do recurso, pode listar na lousa diversos temas que podem ser tratados na dissertação, como as dificuldades enfrentadas pelo DV, ou os aspectos positivos de terem uma nova profissão. A avaliação desse trabalho em sala de aula é formativa e realizada desde a apresentação do recurso até a produção da dissertação. O professor deve avaliar não somente se o aluno aprendeu a estrutura do texto dissertativo, ou as características desse gênero, mas também se houve a quebra de paradigmas e pensamentos errôneos acerca da deficiência e da inclusão. Outro aspecto a ser observado durante o desenvolvimento desse trabalho é se a inclusão e integração de alunos portadores de deficiência e os outros alunos da sala está realmente acontecendo. Esse recurso foi produzido e catalogado pela equipe do CPIDES. O processo de seleção e catalogação desses recursos pela equipe do CPIDES parte de uma investigação criteriosa nas quais pesquisadores e graduandos envolvidos no projeto, procuram identificar as possibilidades de sua utilização articulados ao conteúdo de suas áreas especificas de forma que possam ser introduzidos no planejamento das aulas. Para o desenvolvimento desse recurso digital, um projeto que envolve seis Universidades Públicas de Ensino foi articulado, entre elas a Universidade Estadual Paulista (FCT/UNESP). Esse processo de investigação, seleção e catalogação realizado pela equipe da FCT/UNESP segue procedimentos pré-estabelecidos pelo Ministério da Educação tais como: a realização de buscas e pesquisas em sites, nacionais e internacionais dentro da área de abrangência permitida a cada equipe; a análise dos objetos educacionais (OE) de forma a identificar se possuem relevância significativa em termos educativos, se estão de acordo e articulados com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) para que possam ser utilizados como recursos educacionais no planejamento das aulas do educador; a viabilização do contato com os autores dos respectivos OE, por meio de e-mail e telefonemas, em que se procura solicitar a autorização deles, para que esse material seja enviado e submetido para serem publicados no BIOE; a realização de uma descrição clara do OE, por meio de um formulário elaborado pela equipe da FCT/UNESP; no caso de uma resposta positiva do autor, o material selecionado passa por uma análise criteriosa pelos pesquisadores da FCT/UNESP envolvidos no projeto; a Submissão e disponibilização do material no Banco (repositório) passa por um processo de avaliação por uma Comissão Avaliadora do MEC; após, a avaliação da Comissão Avaliadora, ocorre a liberação por parte do avaliador local para todos os profissionais ligados a educação, no repositório do BIOE. De acordo com os dados atuais do site do BIOE (dados coletados no site https://objetoseducacionais.mec.gov.br em 02/09/2011) o banco possui 14.728 objetos educacionais publicados para todos os níveis de ensino, 3.120 em processo de avaliação ou aguardando a autorização dos autores para a publicação e um total de 1.760.277 visitas de 163 países. Neste banco podemos pesquisar por meio de diversos tipos de buscas, que auxiliam o usuário na pesquisa dos OE. Sendo que todos os materiais disponibilizados podem ser acessados por educadores do mundo todo no planejamento e produção de aulas a serem desenvolvidas e trabalhadas em sala de aula e/ou em laboratórios de informática. Considerações finais 3254

Ao analisar os três vídeos dentro da proposta da educação inclusiva, e levando em consideração a articulação das disciplinas de Sociologia e Língua Portuguesa, além de desenvolver nos alunos do ensino médio o conhecimento acerca da pessoa com deficiência, suas capacidades, potencialidades e habilidades, evidenciamos a importância da utilização desse recurso como contribuição do processo de inclusão da pessoa com deficiência na sociedade, quebrando mitos e formando novos paradigmas. As discussões e socializações de vivências permitem que os alunos exponham suas experiências de vida, concepções acerca do assunto, o que conduz a formação de novos pensamentos, aquisição de novos conhecimentos e transformação de ideias que não condizem com a realidade acerca da inclusão de pessoas com deficiência na sociedade. Outro ponto relevante que identificamos nessa proposta foi a preocupação com o planejamento de uma aula inclusiva. Nessa perspectiva, propõe-se que o professor de Língua Portuguesa contextualize a história do recurso, e que descreva minuciosamente o que será apresentado. Para a descrição, o professor pode apenas descrever o que será apresentado, ou se utilizar de técnicas de transformação de imagens em palavras, como a audiodescrição. Após terem assistido ao vídeo, é solicitado que seja realizada uma discussão acerca do que foi falado na entrevista. É uma oportunidade interessante para que o aluno com deficiente visual possa participar ativamente da aula, contribuindo com sua experiência e história de vida, ponto de vista e críticas, além de ter a possibilidade de concordar ou discordar com os entrevistados. Posteriormente, o professor trabalhará com a elaboração de uma redação dissertativa que verse sobre a inclusão da pessoa com deficiência visual na sociedade. Esta dissertação será, também, ao final do processo, uma das estratégias avaliativas do trabalho, já que é neste momento que o educando posiciona-se diante de determinado assunto e argumenta porque escolheu determinado posicionamento. O recurso audiovisual se torna importante nesse processo, uma vez que, além de prender a atenção dos alunos videntes, permite a inclusão educacional do aluno com deficiência visual, já que este recurso conta com o áudio e descrição do vídeo. Além de contribuir para o processo de ensino e aprendizagem, a discussão e o recurso utilizado permitem aos demais alunos o conhecimento e o entendimento das possibilidades de aprendizagem e de trabalho da pessoa com deficiência visual. Referências BRASIL. BANCO INTERNACIONAL DE OBJETOS EDUCACIONAIS, BIOE. http://objetoseducacionais2.mec.gov.br/. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Brasília: MEC, 2000. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Brasília: MEC, 2000. DALL ACQUA, M. J. C. Algumas reflexões sobre o processo de Inclusão em nosso contexto educacional. In Formação de Professores para a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais. Londrina: Eduel, 2010 3255

DOMINGUES, C. A et. al. Os alunos com deficiência visual: baixa visão e cegueira. 1. ed. Brasília: MEC/SEESP, 2010. 64p. (Coleção A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar, 3). PRADO, Ricardo. Um trem bão chamado interdisciplinaridade. Revista Nova Escola, São Paulo, maio de 1999 SANCHO, J.M.; HERNANDEZ, F. et al. (Org.) Tecnologias para transformar a educação. Porto Alegre: Artmed, 2006. SCHLÛNZEN, E.; RINALDI, R.; SANTOS, D. Inclusão escolar: marcos legais, atendimento educacional especializado e possibilidade de sucesso escolar para pessoas com deficiência. In: UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA. Prograd. Caderno de Formação: formação de professores didática geral. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011, p. 148 160, v.9. O deficiente visual e o mercado de trabalho. Parte 1. Disponível em: http://objetoseducacionais2.mec.gov.br/handle/mec/16010. Acesso em 20 de agosto de 2011. O deficiente visual e o mercado de trabalho. Parte 2. Disponível em: http://objetoseducacionais2.mec.gov.br/handle/mec/16009. Acesso em 20 de agosto de 2011. O deficiente visual e o mercado de trabalho. Parte 3. Disponível em: http://objetoseducacionais2.mec.gov.br/handle/mec/16008. Acesso em 20 de agosto de 2011. 3256