A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ORTODONTISTA POR DANO MORAL CAUSADO AO PACIENTE



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UNIVALI UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CEJURPS - CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS CAMPUS DE SÃO JOSÉ CURSO DE DIREITO GUILHERME COELHO HAVIARAS A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ORTODONTISTA POR DANO MORAL CAUSADO AO PACIENTE São José 2008

GUILHERME COELHO HAVIARAS A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ORTODONTISTA POR DANO MORAL CAUSADO AO PACIENTE Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Direito, na Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas. Orientador: Prof. MSc. Carlos Alberto Luz Gonçalves. São José 2008

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo. São José, 30 de novembro de 2008. GUILHERME COELHO HAVIARAS Graduando

GUILHERME COELHO HAVIARAS A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ORTODONTISTA POR DANO MORAL CAUSADO AO PACIENTE Esta Monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de bacharel em Direito e aprovada pelo Curso de Direito, da Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas. Área de Concentração: Direito Civil. São José, 30 de novembro de 2008. Prof. Carlos Alberto Luz Gonçalves Orientador Prof. Membro Prof. Membro

Dedico este trabalho ao meu pai, Nicolau Jorge Haviaras, a minha mãe, Consuelo Coelho Haviaras, aos meus irmãos, André Coelho Haviaras e Marcelo Coelho Haviaras, e, especialmente, a minha avó, Dalva Cordeiro Coelho.

AGRADECIMENTOS difíceis. Agradeço a DEUS pela vida, saúde e pela coragem nos momentos Agradeço sempre, e nunca em excesso, a minha família, em especial a minha mãe, Consuelo, e meu pai, Nicolau, pela educação e pelo amor incondicional. Aos professores do curso de direito pelos conhecimentos transmitidos e pela compreensão ao longo de todos esses anos de aprendizado. A todos os colegas de universidade, pelo companheirismo, amizade e apoio durante todo o curso e, principalmente, na oportunidade da realização deste trabalho. Gonçalves. Agradeço especialmente ao meu orientador, Professor Carlos Alberto Luz

Traçar um rumo nesse mar revolto; numa torrente de vocábulos descobrir um conceito; entre acepções várias e hipóteses divergentes fixar a solução definitiva, lúcida, precisa; determinar o sentido exato e a extensão da forma legal é a tarefa do intérprete. Não lhe compete apenas procurar atrás das palavras os pensamentos possíveis, mas também entre os pensamentos possíveis o único apropriado, correto, jurídico. (Carlos Maximiliano)

RESUMO Pesquisa monográfica realizada sobre a responsabilidade civil do ortodontista por dano moral causado ao paciente com o objetivo geral de analisar a possibilidade de ressarcimento dos danos morais sofridos em virtude de tratamento ortodôntico, considerando o aumento de demandas judiciais envolvendo cirurgiões-dentistas e pacientes. Os objetivos específicos, por sua vez, consistem no estudo do instituto da responsabilidade civil, da responsabilidade civil do cirurgião dentista, especialmente das obrigações de meio e de resultado e, ainda, na análise da responsabilidade civil nos casos de tratamento relacionados à especialidade da odontologia denominada ortodontia. Desta maneira, com base em pesquisas realizadas no ordenamento jurídico brasileiro, na doutrina e na jurisprudência, observou-se a importância da informação do paciente acerca dos riscos e resultados do tratamento e a consciência ética, moral e profissional do ortodontista para o sucesso do tratamento ortodôntico, bem como para evitar futuras e indesejáveis demandas judiciais. Além disso, foi possível notar que é perfeitamente cabível, haja vista os julgados colacionados à pesquisa, a condenação do ortodontista ao pagamento de indenização por dano moral causado à paciente em face de tratamento ortodôntico, principalmente quanto a erro técnico e promessas antecipadas de resultados estéticos inatingíveis. Palavras-chave: Responsabilidade civil. Ortodontia. Dano moral.

SUMÁRIO INTRODUÇÃO...10 1 DA RESPONSABILIDADE CIVIL...12 1.1 BREVE COMENTÁRIO HISTÓRICO...12 1.2 CONCEITO...16 1.3 CLASSIFICAÇÃO DA RESPONSABILIDADE...17 1.3.1 Responsabilidade penal e responsabilidade civil...17 1.3.2 Responsabilidade contratual e extracontratual...19 1.3.3 Responsabilidade civil subjetiva e objetiva...20 1.4 REQUISITOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL...23 1.4.1 Ação ou omissão do agente...24 1.4.2 Culpa...25 1.4.3 Dano...26 1.4.4 Nexo causal...28 2 DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO CIRURGIÃO DENTISTA...31 2.1 DA RESPONSABILIDADE CIVIL PROFISSIONAL...31 2.2 DA RESPONSABILIDADE DO CIRURGIÃO DENTISTA...33 2.2.1 A Profissão do Cirurgião Dentista Breve Escorço Histórico...35 2.2.2 Normas Regulamentadoras da Profissão e da Responsabilidade Civil do Cirurgião Dentista...36 2.3 DAS OBRIGAÇÕES DE MEIO E DE RESULTADO...40 2.3.1 Natureza Obrigacional dos Serviços Odontológicos: Obrigação de Meio ou de Resultado?...42 2.4 RESPONSABILIDADE CIVIL DO CIRURGIÃO DENTISTA E O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR...46 3 A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ORTODONTISTA...50 3.1 ASPECTOS GERAIS DA ORTODONTIA...50

3.2 RESPONSABILIDADE CIVIL DO ORTODONTISTA...52 3.2.1 Natureza Jurídica da Obrigação do Ortodontista:...55 3.2.2 Direito à Informação...59 3.2.3 A Responsabilidade do Ortodontista no Pós-tratamento...62 3.3 A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ORTODONTISTA POR DANO MORAL CAUSADO AO PACIENTE...64 CONCLUSÃO...72 REFERÊNCIAS...75

10 INTRODUÇÃO As pessoas procuram em todas as esferas de relações humanas serem aceitas pelos seus semelhantes, razão pela qual a estética ocupa relevante espaço na sociedade. Neste contexto, denota-se que a ortodontia, especialidade da odontologia, desempenha importante função, haja vista ter como principal objetivo a correção dos dentes e dos ossos maxilares posicionados de forma inadequada. No entanto, a difusão dos meios de comunicação e a elevação do nível de escolaridade da população têm levado as pessoas a exigir, a cada dia, mais respeito à sua dignidade e, ainda, a buscar a efetivação de seus direitos. Com isso, verifica-se um aumento considerável de demandas judiciais indenizatórias, inclusive na esfera da ortodontia, especialmente em virtude das inúmeras promessas de tratamento e resultados publicados por profissionais que, por sua vez, acabam iludindo e causando graves danos aos pacientes. É neste contexto que se insere o tema da presente monografia, visto que a mesma possui como objetivo principal analisar a responsabilidade civil do ortodontista por dano moral causado ao paciente em face de tratamento ortodôntico ineficaz. A relevância da pesquisa, por seu turno, consiste na análise dos principais aspectos que envolvem a responsabilidade civil do cirurgião dentista especialista em ortodontia e, especialmente, dos fatores do tratamento ortodôntico que terminam causando danos ao paciente e, conseqüentemente, na propositura de ações judiciais, a exemplo da não observância do direito à informação do paciente por parte dos profissionais. As idéias centrais do trabalho, por sua vez, dizem respeito ao estudo do instituto da responsabilidade civil, dos aspectos relevantes e jurídicos da odontologia e da ortodontia, bem como da responsabilidade do ortodontista por dano moral causado ao paciente. O tipo de pesquisa utilizada na construção deste trabalho é a exploratória, baseada no levantamento bibliográfico e jurisprudencial e no estudo da legislação vigente. No que tange aos procedimentos metodológicos, partiu-se do método de

11 abordagem dedutivo, sistema que se baseia em teorias e leis gerais para a análise de fenômenos particulares. O método de procedimento utilizado, por sua vez, foi o monográfico, estudo de um único tema. Registra-se, também, que a presente monografia encontra-se estruturada em três capítulos: No primeiro capítulo aborda-se a responsabilidade civil: estudo das principais características do instituto, principalmente quanto aos requisitos indispensáveis do direito à indenização. O capítulo três, por sua vez, trata da responsabilidade civil do cirurgião dentista: análise das características gerais da profissão de cirurgião dentista, da legislação aplicável e, especialmente, das obrigações de meio e de resultado. Por fim, analisa-se a responsabilidade civil do ortodontista por dano moral causado ao paciente: momento destinado para a abordagem do tema central e específico da monografia, incluindo os aspectos gerais da ortodontia, do póstratamento, do direito à informação, da natureza jurídica da obrigação assumida pelo ortodontista, além do dano moral e da possibilidade de indenização de danos causados em virtude de tratamento ortodôntico. Anota-se, ainda, que, no último capítulo, o presente trabalho apresenta alguns julgados com o objetivo de analisar o tema abordado à luz do caso concreto.

12 1 DA RESPONSABILIDADE CIVIL Para o desenvolvimento do tema A responsabilidade civil do ortodontista por dano moral causado ao paciente, entende-se imprescindível, neste capítulo inicial, abordar os principais aspectos do instituto da responsabilidade civil. Para tanto, importante destacar um breve comentário histórico, o conceito, a distinção entre responsabilidade civil e penal, contratual e extracontratual e subjetiva e objetiva, além dos requisitos indispensáveis da responsabilidade civil. 1.1 BREVE COMENTÁRIO HISTÓRICO No estudo da história da responsabilidade civil, cumpre destacar, inicialmente, que este instituto [...] tem natureza essencialmente dinâmica, tendo de se transformar e se adaptar através dos tempos, adequando-se à evolução da própria civilização. 1 De acordo com a doutrina, trata-se de [...] algo inarredável da natureza humana, 2 visto que, [...] desde os primórdios, desde os primeiros grupamentos humanos, lá nas tribos nômades, já se constata a noção e, mais precisamente, a aplicação da responsabilidade civil e seus efeitos. 3 Registra-se que [...] essa imposição estabelecida pelo meio social regrado, através dos integrantes da sociedade humana, de impor a todos o dever de responder por seus atos, traduz a própria noção de Justiça existente no grupo social estratificado. 4 1 COUTO FILHO, Antônio Ferreira; SOUZA, Alex Pereira. Responsabilidade civil médica e hospitalar: repertório de jurisprudencial por especialidade médica; teoria da eleição procedimental; iatrogenia. Belo Horizonte: Del Rey, 2001. p. 22. 2 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. 6. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004. p. 59. 3 COUTO FILHO, Antônio Ferreira; SOUZA, Alex Pereira. Responsabilidade civil médica e hospitalar: repertório de jurisprudencial por especialidade médica; teoria da eleição procedimental; iatrogenia. Belo Horizonte: Del Rey, 2001. p. 22. 4 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. 6. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004. p. 59.

Acerca da responsabilidade civil nos primórdios da história humana, anota-se a doutrina de Carlos Roberto Gonçalves: 13 Nos primórdios da humanidade, entretanto, não se cogitava do fator culpa. O dano provocava a reação imediata, instintiva e brutal do ofendido. Não havia regras, nem limitações. Não imperava, ainda, o direito. Dominava, então, a vingança privada, forma primitiva, selvagem talvez, mas humana, da reação espontânea e natural contra o mal sofrido; solução comum a todos os povos nas suas origens, para a reparação do mal pelo mal. 5 Logo, verifica-se que [...] a origem do instituto está calçada na concepção de vingança privada, forma por certo rudimentar, mas compreensível do ponto de vista humano como lídima reação pessoal contra o mal sofrido. 6 Por conseguinte, sublinha-se que a base do instituto da responsabilidade civil encontra-se no direito humano, principalmente na famosa Lei do Talião que, por sua vez, pregava a retribuição do mal pelo mal. 7 Contudo, em um estágio mais avançado, com o surgimento da autoridade soberana, passa-se a vedar a possibilidade do ofendido fazer justiça pelas próprias mãos, assim como ensina a doutrina: A vingança privada é, portanto, substituída pela composição, ao alvedrio da vítima. Porém, a exemplo do ocorrido com o talião, há a interveniência estatal, vedando, pois, à vítima, fazer justiça com as próprias mãos e impondo que a composição seja fixada pela autoridade. É o momento da composição tarifada, agasalhada pela Lei das XII Tábuas, em que era estipulado, para cada caso, o valor do resgate (pena) a ser pago pelo ofensor. 8 Desta maneira, registra-se que [...] quando a ação repressiva passou para o Estado, surgiu a ação de indenização. A responsabilidade civil tomou lugar ao lado da responsabilidade penal. 9 5 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil. 8. ed. rev. de acordo com o novo código civil. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 4. 6 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 10. 7 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004. v.4. p.14. 8 COUTO FILHO, Antônio Ferreira; SOUZA, Alex Pereira. Responsabilidade civil médica e hospitalar: repertório de jurisprudencial por especialidade médica; teoria da eleição procedimental; iatrogenia. Belo Horizonte: Del Rey, 2001. p. 23. 9 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil. 8. ed. rev. de acordo com o novo código civil. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 5.

14 De outra banda, lembra a doutrina que um ponto relevante na história da [...] responsabilidade civil se dá, porém, com a edição da Lex Aquilia, cuja importância foi tão grande que deu nome a nova designação da responsabilidade delitual ou extracontratual. 10 A respeito da evolução da responsabilidade civil e da importância do surgimento da responsabilidade aquilina, ou seja, pautada na culpa, colaciona-se a doutrina de Alvino Lima: Partimos, como diz Ihering, do período em que o sentimento de paixão predomina no direito; a reação violenta perde de vista a culpabilidade, para alcançar tão-somente a satisfação do dano e infligir um castigo ao autor do ato lesivo. Pena e reparação se confundem; responsabilidade penal e civil não se distinguem. A evolução operou-se, conseqüentemente, no sentido de se introduzir o elemento subjetivo da culpa e diferenciar a responsabilidade civil da penal. E muito embora não tivesse conseguido o direito romano libertar-se inteiramente da idéia da pena, no fixar a responsabilidade aquiliana, a verdade é que a idéia de delito privado, engendrando uma ação penal, viu o domínio da sua aplicação diminuir, à vista da admissão, cada vez mais crescente, de obrigações delituais, criando uma ação mista ou simplesmente reipersecutória. A função da pena transformou-se, tendo por fim indenizar, como nas ações reipersecutórias, embora o modo de calcular a pena ainda fosse inspirado na função primitiva da vingança; o caráter penal da ação da lei Aquilia, no direito clássico, não passa de uma sobrevivência. 11 [grifo no original]. Com isso, observa-se que [...] é na lei Aquilia que se esboça, afinal, um princípio geral regulador da reparação do dano. Embora se reconheça que não continha ainda uma regra de conjunto, nos moldes do direto moderno, [...]. 12 Ainda sobre a responsabilidade aquilina, anota-se: Permitindo-se um salto histórico, observe-se que a inserção da culpa como elemento básico da responsabilidade civil aquiliana contra o objetivismo excessivo do direito primitivo, abstraindo a concepção de pena para substituí-la, paulatinamente, pela idéia de reparação do dano sofrido foi incorporada no grande monumento legislativo da idade moderna, a saber, o Código Civil de Napoleão, que influenciou diversas legislações do mundo, inclusive o Código Civil brasileiro de 1916. 13 10 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 11. 11 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 12. 12 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil. 8. ed. rev. de acordo com o novo código civil. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 5. 13 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 13.

espécies. 16 Pode-se observar, então, que os principais aspectos históricos do instituto 15 Contudo, com a transformação do mundo, das relações humanas e do direito, verifica-se que o instituto ora estudado também evoluiu. A necessidade de tutelar a reparação dos danos causados ao homem e ao seu patrimônio fez com que o tema da responsabilidade civil ganhasse cada vez mais relevância no direito civil brasileiro. Conforme Gonçalves, o surto de progresso, o desenvolvimento industrial e a multiplicação dos danos acabaram por ocasionar o surgimento de novas teorias, tendentes a propiciar maior proteção às vitimas. 14 Nesse viés, destaca-se que a consolidação da teoria do risco e, conseqüentemente, da responsabilidade civil subjetiva, atualmente prevista no Código Civil de 2002. Nesse sentido, sobre a problemática que envolve a reparação dos danos, ensina Maria Helena Diniz: Deveras, a todo instante surge o problema da responsabilidade civil, pois cada atentado sofrido pelo homem, relativamente à sua pessoa ou ao seu patrimônio, constitui um desequilíbrio de ordem moral ou patrimonial, tornando imprescindível a criação de soluções ou remédios que nem sempre se apresentam facilmente, implicando indagações maiores que sanem tais lesões, pois o direito não poderá tolerar que ofensas fiquem sem reparação. Quem deverá ressarcir esses danos? Como se operará a recomposição do statu quo ante e a indenização do dano? Essa é a temática da responsabilidade civil. 15 Em face de tudo isso, importante consignar que, nos dias atuais, a tendência, hoje facilmente verificável, de não se deixar irressarcida a vítima de atos ilícitos sobrecarrega os nossos pretórios de ações de indenização das mais variadas da responsabilidade civil, bem como a sua importância para a regulamentação da justa medida para a reparação dos danos sofridos pelo homem e seu patrimônio. 14 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil. 8. ed. rev. de acordo com o novo código civil. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 6. 15 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 18. ed. rev., aum. e atual. de acordo com o novo Código Civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002) e o Projeto de Lei n. 6.960/2002. São Paulo : Saraiva, 2004. v. 7. p. 3. 16 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil: doutrina, jurisprudência. 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 1.

16 1.2 CONCEITO Para tratar do conceito de responsabilidade civil, inicialmente cumpre registrar que a [...] noção de responsabilidade pode ser haurida da própria origem da palavra, que vem do latim respondere, responder a alguma coisa, ou seja, a necessidade que existe de responsabilizar alguém por seus atos danosos. 17 De modo semelhante, no âmbito técnico jurídico, a responsabilidade civil pode ser definida [...] como a obrigação que pode incumbir uma pessoa a reparar o prejuízo causado a outra, por fato próprio, ou por fato de pessoas ou coisas que dela dependam. 18 De forma ampla, de acordo Fernando Noronha, a responsabilidade conceitua-se como [...] uma obrigação de reparar danos: danos causados à pessoa ou ao patrimônio de outrem, ou danos causados a interesses coletivos, ou transindividuais, sejam estes difusos, sejam coletivos stritctu sensu. 19 Neste sentido, o autor entende que se trata de [...] um dever jurídico sucessivo que surge para recompor o dano decorrente da violação de um dever jurídico originário. 20 Igualmente, para Maria Helena Diniz, A responsabilidade civil é a aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela mesma praticado, por pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertencente ou de simples imposição legal. 21 17 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. 6. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004. p. 118. 18 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: responsabilidade civil. 20. ed. rev e atual. de acordo com o novo código civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002). São Paulo: Saraiva, 2003. v. 4. p. 6. 19 NORONHA, Fernando, 2003 apud VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004. p. 13. 20 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil. 5. ed. aum. e atual. de acordo com o novo Código Civil. 2. tir. São Paulo: Malheiros Editores, 2004. p. 24. 21 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 18. ed. rev., aum. e atual. de acordo com o novo Código Civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002) e o Projeto de Lei n. 6.960/2002. São Paulo : Saraiva, 2004. p. 40.

17 Em resumo, observa-se que responsabilidade civil é sinônimo de reparação de dano, ou seja, trata-se da possibilidade de compelir uma pessoa, através da indenização, a reparar o dano causado a outrem em virtude de ato ilícito. 1.3 CLASSIFICAÇÃO DA RESPONSABILIDADE 1.3.1 responsabilidade penal e responsabilidade civil Denota-se da leitura do artigo 935, do Código Civil vigente, que a responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal. 22 Desta maneira, verifica-se a relação de independência que existe entre a responsabilidade civil e a criminal, embora, conforme se extrai do dispositivo acima mencionado, a sentença penal produza efeitos no âmbito civil. Sobre o tema, colhe-se os seguintes ensinamentos da lavra de Sílvio de Salvo Venosa: De início há um divisor de águas entre a responsabilidade penal e a civil. A ilicitude pode ser civil ou penal. Como a descrição da conduta penal é sempre uma tipificação restrita, em princípio a responsabilidade penal ocasiona o dever de indenizar. Por essa razão, a sentença penal condenatória faz coisa julgada no cível quanto ao dever de indenizar o dano decorrente da conduta criminal, na forma dos arts. 91, I do Código Penal, 63 do CPP e 584, II do CPC. As jurisdições penal e civil em nosso país são independentes, mas há reflexões no juízo cível, não só sob o mencionado aspecto da sentença penal condenatória, como também porque não podemos discutir no cível a existência do fato e da autoria do ato ilícito, se essas questões foram decididas no juízo criminal e encontram-se sob o manto da coisa julgada (art. 64 do CPP, art. 935 do atual Código Civil). De outro modo, a sentença penal absolutória, por falta de provas quanto ao fato, quanto à autoria, ou a que reconhece uma dirimente ou justificativa, sem estabelecer a culpa, por exemplo, não tem influência na ação 22 BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.

indenizatória que pode revolver autonomamente toda a matéria em seu bojo. 23 18 Por conseguinte, com base na doutrina supra colacionada, frisa-se que a sentença penal condenatória constitui coisa julgada no juízo cível, vez que a autoria e a existência dos fatos não poderão ser novamente ventilados nessa esfera do Poder Judiciário. De outro norte, ressalta-se que a sentença criminal absolutória por falta de provas, por sua vez, não vincula o julgamento da responsabilidade na esfera civil. A configuração de responsabilidade civil e penal de forma simultânea não constitui hipótese incomum, assim como explica Rogério Marrone de Castro Sampaio: Importante frisar que não é incomum a mesma conduta configurar ilícito penal e civil. Diante dessa situação, ao mesmo tempo em que se autoriza ao Estado aplicar uma sanção penal prevista em lei, atribui-se também à vítima o direito de se indenizar pelos prejuízos causados em função do mesmo comportamento. É o que ocorre, a título de exemplo, quando tipificado o crime de homicídio. Condenando o réu, a ele impõe-se a aplicação de uma sanção penal (pena privativa de liberdade) em função da caracterização de um ilícito penal. Esse mesmo fato, porém, autoriza a vítima (aquele que dependia do falecido ou que com ele guardava uma relação afetiva) a postular a reparação dos danos (materiais e morais) causados (ressarcimento das despesas com tratamento médico, luto e funeral, pagamento de prestação de alimentos etc.). 24 Logo, percebe-se que um mesmo ato ilícito pode gerar responsabilidade civil e penal e, ainda, que as duas esferas são independentes, ou seja, cabe ao agente responsável arcar com a punição criminal, bem como com a indenização imposta na seara cível. 23 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004. v. 4. p. 23. 24 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito civil: responsabilidade civil. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 23.

19 1.3.2 Responsabilidade contratual e extracontratual No que tange à natureza jurídica da norma, pode-se afirmar que a responsabilidade civil pode ser classificada em contratual e extracontratual. Silvio Rodrigues, por seu turno, afirma se tratar de uma questão muito importante a diferenciação existente [...] entre responsabilidade contratual e extracontratual, pois uma pessoa pode causar prejuízo a outra tanto por descumprir uma obrigação contratual como por praticar outra espécie de ato ilícito. 25 Rogério Marrone de Castro Sampaio explica a responsabilidade contratual, assim como segue: Na responsabilidade contratual, o dever de indenizar os prejuízos decorre do descumprimento de uma obrigação contratualmente prevista. Tanto é assim que estabelece o art. 389 do Código Civil que, não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado. No Código de 1916, o tema vinha regulado no art. 1.056, que manteve a idéia central, apenas referindo-se, genericamente, ao dever de reparar perdas e danos. 26 Desta forma, tem-se que a responsabilidade contratual é aquela que deriva do descumprimento de um contrato, ou seja, há uma relação jurídica entre as partes anterior a ocorrência do dano. Nesse sentido, colaciona-se a seguinte lição: No tocante à responsabilidade extracontratual ou aquiliana, o dever de indenizar os danos causados decorre da prática de um ato ilícito propriamente dito (ilícito extracontratual), que se consubstancia em uma conduta humana positiva ou negativa violadora de um dever de cuidado (culpa em sentimento lato). Encontra previsão legal no art. 186 do Código Civil (art. 159 do CC/1916). Em outras palavras, a obrigação de reparar o dano não está relacionada à existência anterior de um contrato e ao descumprimento culposo de uma obrigação por ele gerada. Origina-se, outrossim, de um comportamento (genericamente tratado pelo ordenamento jurídico no referido art. 186 do CC) socialmente reprovável. Cita-se como 25 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: responsabilidade civil. 20. ed. rev e atual. de acordo com o novo código civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002). São Paulo: Saraiva, 2003. v. 4. p. 8. 26 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito civil: responsabilidade civil. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 24.

exemplo a hipótese do indivíduo que, dirigindo imprudentemente seu veículo, atropela um pedestre, causando-lhe lesões corporais. 27 20 Para destacar, ainda, a diferenciação entre a responsabilidade contratual e a extracontratual, importante lembrar que na responsabilidade extracontratual, o agente infringe um dever legal, e, na contratual, descumpre o avençado, tornando-se inadimplente. 28 Assim, basta a verificação da existência de relação jurídica anterior a ocorrência do dano para distinguir a responsabilidade civil contratual da responsabilidade civil extracontratual. 1.3.3 Responsabilidade civil subjetiva e objetiva A responsabilidade civil, não obstante as demais classificações já abordadas, pode ser classificada, ainda, em objetiva e subjetiva. Na verdade, [...] não se pode afirmar serem espécies diversas de responsabilidade, mas sim maneiras diferentes de encarar a obrigação de reparar o dano. 29 No que se refere à responsabilidade civil subjetiva, sublinha-se que a mesma é considerada a regra do instituto e encontra-se prevista no artigo 186 do Código Civil 30, bem como no artigo 927 31 do mesmo diploma legal. A responsabilidade subjetiva, também chamada de responsabilidade aquiliana ou por atos ilícitos, é aquela pautada na teoria da culpa, assim como menciona a doutrina: A responsabilidade civil subjetiva ou clássica, em que se estruturava o Código Civil de 1916, funda-se, essencialmente, na teoria da culpa. Tem-se 27 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito civil: responsabilidade civil. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 24. 28 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil: doutrina, jurisprudência. 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 26. 29 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: responsabilidade civil. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. v. 4. p. 11. 30 Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito 31 Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

como elemento essencial a gerar o dever de indenizar o fator culpa entendido em sentido amplo (dolo ou culpa em estrito). Ausente tal elemento, não há que se falar em responsabilidade civil. Assim, para que se reconheça a obrigação de indenizar, não basta apenas que o dano advenha de um comportamento humano, pois é preciso um comportamento humano qualificado pelo elemento subjetivo culpa, ou seja, é necessário que o autor da conduta a tenha praticado com a intenção deliberada de causar um prejuízo (dolo), ou, ao menos, que esse comportamento reflita a violação de um dever de cuidado (culpa em sentido estrito). 32 21 Na responsabilidade civil subjetiva, Carlos Roberto Gonçalves escreve que: A prova da culpa do agente passa a ser pressuposto necessário do dano indenizável. Dentro desta concepção, a responsabilidade do causador do dano somente se configura se agiu com dolo ou culpa. 33 Sérgio Cavalieri Filho, por seu turno, explica a culpa como requisito para a configuração da responsabilidade civil subjetiva: A idéia de culpa está visceralmente ligada à responsabilidade, pó isso que, de regra, ninguém pode merecer censura ou juízo de reprovação sem que tenha faltado com o dever de cautela em seu agir. Daí ser a culpa, de acordo com a teoria clássica, o principal pressuposto da responsabilidade civil subjetiva. 34 Para Sílvio de Salvo Venosa, [...], dentro da concepção tradicional a responsabilidade do agente causador do dano só se configura se agiu culposa ou dolosamente. De modo que a prova de culpa do agente causador do dano é indispensável para que surja o dever de indenizar. A responsabilidade, no caso, é subjetiva, pois depende do comportamento do sujeito. 35 Dessa maneira, nota-se que a responsabilidade subjetiva, chamada também de aquiliana ou por ato ilícito, é aquela pautada na teoria da culpa, pressuposto indispensável para a sua caracterização. Contudo, observa-se que [...] nos últimos tempos vem ganhando terreno a chamada teoria do risco que, sem substituir a teoria da culpa, cobre muitas 32 CASTRO, Rogério Marrone de. Direito civil: responsabilidade civil. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 26. 33 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil: doutrina, jurisprudência. 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 21. 34 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil. 5. ed. aum. e atual. de acordo com o novo Código Civil. 2. tir. São Paulo: Malheiros Editores, 2004. p. 38. 35 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004. p. 11.

22 hipóteses em que o apelo às concepções tradicionais se revela insuficiente para a proteção da vitima. 36 Desta feita, sublinha-se que, apesar da regra geral disciplinar a responsabilidade civil subjetiva, o art. 972, parágrafo único, do Código Civil prevê a possibilidade da responsabilidade sem culpa, ou seja, da responsabilidade civil objetiva: Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. 37 Silvio de Salvo Venosa leciona acerca do tema: Na responsabilidade objetiva, como regra geral, leva-se em conta o dano, em detrimento do dolo ou da culpa. Desse modo, para o dever de indenizar, bastam o dano e o nexo causal, prescindindo-se da prova da culpa. Em que pese a permanência da responsabilidade subjetiva como regra geral entre nós, por força do art. 159 do Código de 1916 e do art. 186 do atual Código, é crescente, como examinamos, o número de fenômenos que são regulados sob a responsabilidade objetiva. O próprio Código Civil de 1916 adotara a responsabilidade objetiva em algumas situações, como a do art. 1.529 (atual, art. 938) (responsabilidade do habitante de casa por queda ou lançamento de coisas em lugar indevido). Tendo em vista a realidade da adoção crescente da responsabilidade objetiva pela legislação, torna-se desnecessária a discussão de sua conveniência no âmbito de nosso estudo e no atual estágio da ciência jurídica. 38 Destarte, observa-se que a responsabilidade objetiva é denominada, habitualmente, [...] como a responsabilidade sem culpa. Em termos de maior apuro técnico, o melhor é defini-la como ocorrente independentemente de culpa; ou seja, esta pode ou não existir. 39 Nesse viés, ensina Silvio Rodrigues que: Na responsabilidade objetiva a atitude culposa ou dolosa do agente causador do dano é de menor relevância, pois, desde que exista relação de causalidade entre o dano experimentado pela vítima e o ato do agente, surge o dever de indenizar, quer tenha este último agido ou não culposamente. 40 36 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil. 8. ed. rev. de acordo com o novo código civil. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 6. 37 BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. 38 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004. p. 22. 39 CASTRO, Guilherme Couto de. A responsabilidade civil objetiva no direito brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 2000. p. 31. 40 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: responsabilidade civil. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 11.

23 Desse modo, frisa-se que a responsabilidade civil objetiva pressupõe apenas a presença do dano e do nexo de causalidade, vez que a culpa não é requisito necessário para o dever de indenizar. Ademais, anota-se, ainda, as seguintes diferenças apontadas por Inácio de Carvalho Neto: [...] na responsabilidade subjetiva, além da prova da ação ou omissão do agente, do dano experimentado pela vítima e da relação de causalidade entre um e outro, faz-se mister provar a culpa com que agiu o agente. Já na responsabilidade objetiva, esta culpa é irrelevante; são suficientes aqueles três requisitos. 41 Por derradeiro, cumpre destacar, ainda, que a responsabilidade civil subjetiva é a regra, enquanto a responsabilidade civil objetiva encontra-se presente apenas em algumas hipóteses previstas na legislação e naquelas situações enquadradas no parágrafo único do art. 927 do Código Civil. Conclui-se, portanto, que a responsabilidade civil objetiva, diferentemente do que ocorre com a subjetiva, independe da comprovação da culpa, ou seja, exige apenas, para a configuração do dever de indenizar, a presença da ação ou omissão do agente, do dano e do nexo causal. 1.4 REQUISITOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL Com base no artigo 186 do Código Civil, já mencionado anteriormente, denota-se que a lei exige alguns requisitos para que surja a responsabilidade civil, ou seja, a obrigação de reparar o dano causado. Nesse sentido, Silvio Rodrigues salienta que, da análise do art. 186 do CC, denota-se [...] que ele envolve algumas idéias que implicam a existência de alguns pressupostos, ordinariamente necessários, para que a responsabilidade civil emerja. 42 41 CARVALHO NETO, Inácio de. Responsabilidade civil no direito de família. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2005. v. IX. p. 48-49. 42 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: responsabilidade civil. 20. ed. rev e atual. de acordo com o novo código civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002). São Paulo: Saraiva, 2003. v. 4. p. 15.

24 Logo, destaca-se que constituem requisitos da responsabilidade civil: a ação ou omissão do agente, a culpa, o dano e o nexo de causalidade. Assim sendo, cabe, a seguir, o estudo individual de cada um desses pressupostos configuradores da responsabilidade civil. 1.4.1 Ação ou omissão do agente Dentre os requisitos da responsabilidade civil, destaca-se, inicialmente, a ação ou omissão do agente causador do dano e, conseqüentemente, a pessoa obrigada a indenizar. A ação ou omissão do agente, para Maria Helena Diniz, consiste no ato [...] humano, comissivo ou omissivo, ilícito ou lícito, voluntário e objetivamente imputável, do próprio agente ou de terceiro, ou o fato de animal ou coisa inanimada, que cause dano a outrem, gerando o dever de satisfazer os direitos do lesado. 43 Sérgio Cavalieri Filho, ao tratar desse requisito da responsabilidade civil, afirma que: Consiste, pois, a ação em um movimento corpóreo comissivo, um comportamento positivo, como a destruição de uma coisa alheia, a morte ou lesão corporal causada em alguém, e assim por diante. Já, a omissão, forma menos comum de comportamento, caracteriza-se pela inatividade, abstenção de alguma conduta devida. 44 Para Carlos Roberto Gonçalves, A responsabilidade pode derivar de ato próprio, de ato de terceiro que esteja sob a guarda do agente, e ainda de danos causados por coisas e animais que lhe pertença. 45 Nesse sentido, anota a lição de Sílvio Rodrigues: 43 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 18. ed. rev., aum. e atual. de acordo com o novo Código Civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002) e o Projeto de Lei n. 6.960/2002. São Paulo : Saraiva, 2004. p. 43. 44 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil. 5. ed. aum. e atual. de acordo com o novo Código Civil. 2. tir. São Paulo: Malheiros Editores, 2004. p. 43. 45 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil: doutrina, jurisprudência. 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 32.

Vimos, assim, que a responsabilidade do agente pode advir de ato próprio ou de ato de terceiro. Mas pode, igualmente, ser ele obrigado a reparar o dano causado por coisa ou animal que estava sob sua guarda, ou por dano derivado de coisas que tombem de sua morada. 46 25 Desta maneira, observa-se que o requisito da ação configura-se pelo ato ou omissão do próprio agente, de terceiro sob sua guarda, ou, ainda, pelo fato de coisas e de animais que lhe pertençam e que venham a causar danos a terceiros. 1.4.2 Culpa Quanto à culpa, anota-se que este requisito, em sentido amplo, não compreende apenas [...] o ato ou conduta intencional, o dolo (delito, na origem semântica e histórica romana), mas também os atos ou condutas eivados de negligência, imprudência ou imperícia, qual seja, a culpa em sentido estrito (quase delito). 47 Dessa maneira, verifica-se pela doutrina de Maria Helena Diniz que o pressuposto culpa compreende o dolo: A culpa em sentido amplo, como violação de um dever jurídico, imputável a alguém, em decorrência de fato intencional ou de omissão de diligência ou cautela, compreende: o dolo, que é a violação intencional do dever jurídico, e a culpa em sentido estrito, caracterizada pela imperícia, imprudência ou negligência, sem qualquer deliberação de violar um dever. Portanto, não se reclama que o ato danoso tenha sido, realmente, querido pelo agente, pois ele não deixará de ser responsável pelo fato de não ter-se apercebido do seu ato nem medido as suas conseqüências. 48 Por conseguinte, tem-se que [...] a conduta culposa do agente erige-se, como assinalado, em pressuposto principal da obrigação de indenizar. 49 46 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: responsabilidade civil. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 16. 47 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. 4. ed. São Paulo: Atlas,, 2004. p. 28. 48 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 18. ed. rev., aum. e atual. de acordo com o novo Código Civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002) e o Projeto de Lei n. 6.960/2002. São Paulo : Saraiva, 2004. p. 46. 49 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil. 5. ed. aum. e atual. de acordo com o novo Código Civil. 2. tir. São Paulo: Malheiros Editores, 2004. p. 48.

26 Ainda, importante destacar que, conforme lembra a doutrina, a prova da culpa não é tarefa fácil, em muitos casos torna-se um obstáculo ao ressarcimento dos prejuízos, senão vejamos: Ordinariamente, para que a vítima obtenha a indenização, deverá provar entre outras coisas que o agente causador do dano agiu culposamente. O encargo de provar a culpa, imposto à vítima, às vezes se apresenta tão difícil que a pretensão daquela de ser indenizada na prática se torna inatingível. Com efeito, não é fácil, para o herdeiro, provar que o motorista do automóvel que atropelou seu pai e de cujo acidente lhe resultou a morte, vinha dirigindo com imprudência. 50 Diante disso, a vontade do agente não tem relevância para a responsabilidade civil, isso porque o que realmente interessa para o recebimento da indenização é a comprovação da culpa. Por fim, na responsabilidade civil, conforme se extrai das citações acima, a culpa compreende o dolo, ou seja, é entendida em seu sentido amplo. 1.4.3 Dano O dano é último pressuposto exigido pelo art. 186 do Código Civil. Desta forma, cumpre assinalar que [...] desde a antigüidade o dano vem sendo considerado como o prejuízo causado pela ação contrária à norma legal, do qual decorra a perda ou um desfalque ao patrimônio do lesionado. 51 Para Sílvio de Salvo Venosa, Dano consiste no prejuízo sofrido pelo agente. Pode ser individual ou coletivo, moral ou material, ou melhor, econômico e não econômico. A noção de dano sempre foi objeto de muita controvérsia. 52 Nessa mesma linha, anota-se o seguinte conceito de dano: Dano é prejuízo. É diminuição de patrimônio ou detrimento a afeições legítimas. Todo ato que diminua ou cause menoscabo aos bens materiais 50 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: responsabilidade civil. 20. ed. rev e atual. de acordo com o novo código civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002). São Paulo: Saraiva, 2003. p. 17. 51 REIS, Clayton. Avaliação do dano moral. Rio de Janeiro: Forense, 2002. p. 3. 52 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. 4. ed. São Paulo: Atlas,, 2004. p. 33.

ou imateriais, pode ser considerado dano. O dano é um mal, um desvalor ou contravalor, algo que se padece com dor, posto que nos diminui e reduz; tira de nós algo que era nosso, do qual gozávamos ou nos aproveitávamos, que era nossa integridade psíquica ou física, as possibilidades de acréscimos ou novas incorporações, [...]. 53 27 Ademais, [...] o dano deve ser considerado como uma lesão a um direito, que produza imediato reflexo no patrimônio material ou imaterial do ofendido, de forma a acarretar-lhe a sensação de perda. 54 No mesmo sentido, Maria Helena Diniz aduz que O dano é um dos pressupostos da responsabilidade civil, contratual ou extracontratual, visto que não poderá haver ação de indenização sem a existência de um prejuízo. 55 Nesse contexto, mister apresentar a distinção entre dano moral e dano patrimonial: Quando o prejuízo afeta bem material, diz-se que o dano é patrimonial. [...] Quando, ao contrário, a lesão afeta sentimentos, vulnera afeições legítimas e rompe o equilíbrio espiritual, produzindo angústia, humilhação, dor etc., diz-se que o dano é moral. 56 Acerca do dano patrimonial, registra-se a doutrina de Arnaldo Rizzardo: No dano patrimonial, há um interesse econômico em jogo. Consuma-se o dano com o fato que impediu a satisfação da necessidade econômica. O conceito de patrimônio envolve qualquer bem exterior, capaz de classificarse na ordem das riquezas materiais, valorizável por sua natureza e tradicionalmente em dinheiro. Deve ser idôneo para satisfazer uma necessidade econômica e apto de ser usufruível. 57 Já no que concerne ao dano moral, a doutrina afirma que se trata daquele prejuízo que [...] atinge valores eminentemente espirituais ou morais, como a honra, a paz, a liberdade física, a tranqüilidade de espírito, a reputação etc. 58 Sobre o dano moral, acrescenta-se: 53 SANTOS, Antônio Jeová. Dano moral indenizável. 4. ed. rev., ampl. e atual. de acordo com o novo código civil. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003. p. 74. 54 REIS, Clayton. Avaliação do dano moral. Rio de Janeiro: Forense, 2002. p. 4. 55 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 18. ed. rev., aum. e atual. de acordo com o novo Código Civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002) e o Projeto de Lei n. 6.960/2002. São Paulo : Saraiva, 2004. p. 63. 56 SANTOS, Antônio Jeová. Dano moral indenizável. 4. ed. rev., ampl. e atual. de acordo com o novo código civil. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003. p. 78. 57 RIZZARDO, Arnaldo. Responsabilidade civil: Lei nº 10.406, de 10.01.2002. 3. ed. - Rio de Janeiro: Forense, 2007. p. 17. 58 RIZZARDO, Arnaldo. Responsabilidade civil: Lei nº 10.406, de 10.01.2002. 3. ed. - Rio de Janeiro: Forense, 2007. p. 246.

[...]. 60 Pelo exposto, o conceito de dano está diretamente relacionado à noção Muitos doutrinadores consideram árdua a tarefa de separar o joio do trigo, isto é, delimitar, frente ao caso concreto, o que venham a ser dissabores normais da vida em sociedade e o que venha ser danos morais. Esta questão é das mais tormentosas, exatamente por não existirem critérios objetivos definidos em lei, de tal sorte que o julgador acaba por buscar supedâneo na doutrina e na jurisprudência para aferir a configuração ou não do dano moral. É preciso haver, na avaliação do dano moral, prudência e bom senso, de tal sorte que se possa, considerando o homem médio da sociedade, ver configurado ou não a lesão a um daqueles bens inerentes à dignidade humana de que a Constituição nos fala. 59 28 Contudo, é sabido que as sensações desagradáveis, por si sós, que não trazem em seu bojo lesividade a algum direito personalíssimo, não merecerão ser indenizadas. Existe um piso de inconvenientes que o ser humano tem que tolerar de prejuízo. Em linhas gerais, significa a perda ou a diminuição de bens materiais ou morais. Por isso, afirma-se que não existe indenização sem dano, motivo pelo qual a demonstração do prejuízo é medida necessária para a responsabilização civil do agente. 1.4.4 Nexo causal O nexo causal também constitui um pressuposto necessário da responsabilidade civil, isso porque não é suficiente que a pessoa tenha realizado [...] uma conduta ilícita; tampouco que a vítima tenha sofrido um dano. É preciso que esse dano tenha sido causado pela conduta ilícita do agente, que exista entre ambos uma necessária relação de causa e efeito. 61 No que tange ao conceito de nexo de causalidade, registra-se: 59 MELO, Nehemias Domingos de. Dano moral: problemática do cabimento à fixação do quantum. São Paulo: Editora Juarez de Oliveira, 2004. p. 8. 60 SANTOS, Antônio Jeová. Dano moral indenizável. 4. ed. rev., ampl. e atual. de acordo com o novo código civil. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003. p. 113. 61 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil. 5. ed. aum. e atual. de acordo com o novo Código Civil. 2. tir. São Paulo: Malheiros Editores, 2004. p. 65.

O conceito de nexo causal, nexo etiológico ou relação de causalidade deriva das leis naturais. É o liame que une a conduta do agente ao dano. É por meio do exame da relação causal que concluímos quem foi o causador do dano. Trata-se de elemento indispensável. A objetiva dispensa a culpa, mas nunca dispensará o nexo causal. Se a vítima, que experimentou o dano, não identificar o nexo causal que leva o ato danoso ao responsável, não há como ser ressarcida. Nem sempre é fácil, no caso concreto, estabelecer a relação de causa e efeito. 62 29 Desta feita, denota-se que o denominado nexo de causalidade diz respeito [...] à relação de causa e efeito entre a ação ou omissão do agente e o dano verificado. Vem expressa no verbo causar, utilizado no art. 186. Sem ela, não existe a obrigação de indenizar. 63 Sílvio de Salvo Venosa, por seu turno, comenta sobre o nexo de causalidade: O conceito de nexo causal, nexo etiológico ou relação de causalidade deriva das leis naturais. É o liame que une a conduta do agente ao dano. É por meio do exame da relação causal que concluímos quem foi o causador do dano. Trata-se de elemento indispensável. A responsabilidade objetiva dispensa a culpa, mas nunca dispensará o nexo causal. Se a vítima, que experimentou um dano, não identifica o nexo causal que leva o ato danoso ao responsável, não há como ser ressarcida. Nem sempre é fácil, no caso concreto, estabelecer a relação de causa e efeito. 64 Conclui-se, desta maneira, que o nexo causal trata da relação causa e efeito que associa o ato do agente ao dano. A prova desse liame é medida necessária para o dever de indenizar, ou seja, para a o reconhecimento da responsabilidade civil do agente. Dessa forma, o nexo de causalidade é o liame que une a ação ou a omissão do agente e o dano experimento pela vítima. Por isso, a prova dessa relação de causa e efeito apresenta-se como medida necessária para o dever de indenizar, ou seja, para a o reconhecimento da responsabilidade civil do agente. Em últimas linhas, destaca-se a importância e a necessidade da presença de todos os requisitos acima mencionados para a configuração do instituto da 62 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. 4. ed. São Paulo: Atlas,, 2004. p. 45. 63 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil: doutrina, jurisprudência. 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 33. 64 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004. p. 45.