PARECER N, DE RELATOR: Senador FLEXA RIBEIRO

Transcrição

1 PARECER N, DE 2009 Da COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO, JUSTIÇA E CIDADANIA, em decisão terminativa, sobre o PLS n 260, de 2003, de autoria do Senador Arthur Virgílio, que altera art. 13 da Lei nº 8.620, de 5 de janeiro de 1993, para regular a solidariedade de sócios minoritários relativamente a débitos junto à Seguridade Social. RELATOR: Senador FLEXA RIBEIRO I RELATÓRIO Tramita nesta Comissão, em caráter terminativo, o Projeto de Lei do Senado (PLS) n 260, de 2003, de autoria do Senador ARTHUR VIRGÍLIO, que altera art. 13 da Lei nº 8.620, de 5 de janeiro de 1993, para regular a solidariedade de sócios minoritários relativamente a débitos junto à Seguridade Social. O art. 1º do PLS n 260, de 2003, acrescenta um 2º ao art. 13 da Lei nº 8.620, de 1993, que passaria a vigorar com a seguinte redação: Art. 13. O titular da firma individual e os sócios das empresas por cotas de responsabilidade limitada respondem solidariamente, com seus bens pessoais, pelos débitos junto à Seguridade Social. 1º Os acionistas controladores, os administradores, os gerentes e os diretores respondem solidariamente e subsidiariamente, com seus bens pessoais, quanto ao inadimplemento das obrigações para com a Seguridade Social, por dolo ou culpa. 2º O sócio minoritário de sociedade por cotas de responsabilidade limitada, sem função de gerência, direção ou representação, goza do benefício de ordem em relação aos sócios majoritários e sua responsabilidade é limitada à proporção do capital subscrito (NR).

2 Em sua justificação, o autor da proposição argumenta que o art. 13 da Lei nº 8.620, de 1993, em relação às contribuições para a Previdência Social, ampliou sobremaneira o conceito de solidariedade, alcançando os sócios das sociedades de responsabilidade limitada, que, segundo a doutrina, não são de pessoas, mas de capital. Esclarece, ainda, que o Código Tributário Nacional (CTN), em seus arts. 134 e 135, já estabelece os casos em que os sócios respondem pelos débitos tributários da sociedade, que se limitam às ações ou omissões de que forem responsáveis e aos atos praticados com excesso de poderes ou infração à lei ou ao contrato social, norma respeitada pela legislação relativa aos tributos federais. Assim, o projeto defende o que chama de um modelo conciliatório para os débitos previdenciários, em que o sócio minoritário responde apenas na proporção de seu capital na empresa e tem benefício de ordem em relação aos majoritários, a fim de harmonizar o tratamento da questão aos princípios do direito tributário e do direito comercial. II ANÁLISE Não foram apresentadas emendas ao projeto. O projeto de lei analisado versa sobre matéria de competência da União (art. 22, I, da Constituição), compreendida entre as atribuições do Congresso Nacional (caput do art. 48 da Constituição). A iniciativa parlamentar é legítima, por força do caput do art. 61 da Constituição e em razão de a matéria tratada na proposição não se incluir entre as reservas do 1 do mesmo artigo. Trata-se, portanto, de proposição legislativa formalmente constitucional. Tampouco há norma constitucional que, no aspecto material, esteja em conflito com o teor do projeto em exame. Assim, não se vislumbra óbice algum quanto à constitucionalidade da medida. Também não se verifica vício de injuridicidade. Acerca da técnica legislativa, o projeto observa as regras previstas na Lei Complementar nº 95, de 26 de fevereiro de 1998, com as alterações promovidas pela Lei Complementar nº 107, de 26 de abril de Não há inclusão de matéria diversa ao tema tratado na proposição e a sua redação, a nosso ver, apresenta-se adequada. Quanto ao mérito, o PLC nº 260, de 2003, merece as considerações abaixo.

3 O art. 13 da Lei nº 8.620, de 1993, objeto da presente proposição, foi revogado pela Medida Provisória nº 449, de 2008, convertida na Lei nº , de 27 de maio de Assim considerado, o dispositivo deixa de existir no ordenamento jurídico e, portanto, a responsabilidade de sócios e administradores por débitos junto à Seguridade Social volta a ser regulada apenas pelo modelo disposto nos arts. 134 e 135 do Código Tributário Nacional, o qual será descrito a seguir. O modelo adotado pelo Código Tributário Nacional não obriga sócios e administradores a pagar os tributos da pessoa jurídica (por exemplo, uma sociedade simples ou empresária), salvo se comprovada a participação pessoal de cada sócio ou administrador em atos ilícitos que ocasionaram o não recolhimento do tributo devido. Pouco importa, para caracterizar a responsabilidade pessoal do sócio, que seja este majoritário ou minoritário, administrador ou não. O que importa é verificar se o sócio ou o administrador agiu com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos. Trata-se, portanto, da adoção da clássica responsabilidade subjetiva, segundo a qual quem causar dano, por dolo ou culpa, será obrigado a repará-lo. Preliminarmente, deve-se observar que contribuições previdenciárias são tributos e que normas gerais sobre obrigações tributárias (no caso, a responsabilidade de sócios e administradores pelo pagamento de contribuições previdenciárias) devem ser reguladas por lei complementar (CF, art. 146, III, b). Desse modo, o (hoje revogado) art. 13 da Lei nº 8.620, de 1993, lei ordinária, regula tema reservado à lei complementar. No entanto, superado esse óbice, observa-se que o modelo de responsabilidade de sócios e administradores previsto no revogado art. 13 da Lei nº 8.620, de 1993, é bem mais rigoroso do que o adotado pelo CTN, porquanto não se limita a responsabilizar sócios e administradores que, em caráter pessoal, tenham praticado ato ilícito, mas também responsabiliza:

4 a) Em seu caput (art. 13), todos os sócios da pessoa jurídica, em caráter solidário não somente com a pessoa jurídica, mas também entre si (de sócio para com sócio), sempre que houver débitos junto à Seguridade Social, pouco importando se os sócios, ou algum deles, tenha praticado ato ilícito. Ou seja, trata-se de verdadeira responsabilidade objetiva (que não depende de comprovação de culpa ou dolo) imposta a cada um dos sócios, seja majoritário ou minoritário, podendo cada sócio, isoladamente, ser responsabilizado pelo pagamento de todo o débito junto à Seguridade Social; b) Em seu parágrafo único (art. 13), o sócio controlador e todos os administradores, desde que tenham agido com culpa ou dolo. Aqui, o parágrafo único se choca com a regra do caput, em dois aspectos: i) o caput relaciona todos os sócios e nenhum administrador, com adoção de responsabilidade objetiva (sem necessidade de provar culpa ou dolo); e ii) o parágrafo único relaciona apenas um tipo de sócio, o controlador, e todos os administradores, imputando-se, em regra mais suave, a responsabilidade subjetiva (por culpa ou dolo). Ora, a redação adotada para o art. 13 levava à seguinte interpretação, a fim de se evitar entendimentos contraditórios: a) os administradores respondem subjetivamente (isto é, mediante prova de culpa ou dolo) pelos débitos junto à Seguridade Social; b) o sócio controlador responde subjetivamente (ou seja, mediante prova de culpa ou dolo), sendo aplicado apenas o parágrafo único, e não o caput; c) por conseqüência, os sócios minoritários (não controladores), não citados no parágrafo único, seguiam a rigorosa regra do caput: respondiam, cada um, pelo valor integral do débito previdenciário, e de forma objetiva (sem necessidade de prova de culpa ou dolo). Aqui fica compreensível a questão intrincada que o art. 13 da Lei nº 8.620, de 1993, causou: foi criada uma responsabilidade mais rigorosa para os sócios minoritários (objetiva) e foi mantida uma responsabilidade mais suave justamente para o sócio controlador (subjetiva), aquele que mais capital investiu e que possui o poder de controle da sociedade, direcionando suas atividades e elegendo a maioria de seus administradores.

5 Daí a necessidade de projeto de lei que esclarecesse melhor a responsabilidade dos sócios minoritários, no caso, o PLS nº 260, de 2003, que: a) buscou suavizar a responsabilidade do sócio minoritário via inclusão de 2º ao art. 13, com o seguinte propósito: em nada inovou quanto ao sócio minoritário que seja administrador, o que significa dizer que, nesse aspecto, tal sócio-administrador minoritário responderá subjetivamente enquanto administrador e objetivamente enquanto sócio, ou seja, responderá objetivamente; b) suavizou a responsabilidade do sócio minoritário que não seja administrador de duas formas: i) manteve o regime de responsabilidade objetiva, mas limitou a responsabilidade do sócio minoritário ao valor da proporção do capital subscrito, isto é, se o sócio minoritário possui 1% do capital social, deverá pagar, tão-somente, 1% do valor total do débito previdenciário; essa limitação proporcional não existe para o sócio majoritário, o qual está obrigado a pagar 100% do débito previdenciário, ainda que não possua 100% do capital social; ii) exigiu que o sócio minoritário fosse acionado judicialmente a pagar o débito apenas na hipótese de o sócio majoritário já ter sido acionado judicialmente. Por sua vez, a minuta de parecer anexada ao processado, de autoria do Senador Papaléo Paes, e que não foi votada na CCJ (portanto, sem efeito algum), apresenta substitutivo que iguala a regra aplicada ao sócio minoritário não administrador (item b acima) à regra adotada para o sócio minoritário administrador. Nessa solução, passa o sócio minoritário administrador a responder, enquanto sócio, de forma objetiva, mas pagará apenas parte do débito previdenciário, parte esta equivalente à proporção de que participe do capital social.

6 Essa solução traz, porém, uma dúvida: se o sócio minoritário administrador praticar atos ilícitos culposos ou dolosos no exercício da administração, responderá enquanto administrador, pelo valor integral do débito previdenciário, ou responderá apenas proporcionalmente ao valor de que participe do capital social? Em conclusão, o PLS nº 260, de 2003, está prejudicado pela Lei nº , de 27 de maio de 2009 ( Medida Provisória nº 449, de 2008), que ao revogar o art. 13 da Lei nº 8.620, de 1993, objeto da presente proposição, remeteu a responsabilidade de sócios e administradores por débitos junto à Seguridade Social ao disposto nos arts. 134 e 135 do Código Tributário Nacional. III VOTO Ante o exposto, o voto é pela constitucionalidade, juridicidade, boa técnica legislativa e, no mérito, pela prejudicialidade do Projeto de Lei do Senado nº 260, de Sala da Comissão,, Presidente, Relator