Senado Federal Gabinete Senador Armando Monteiro PARECER N, DE RELATOR: Senador ARMANDO MONTEIRO

Transcrição

1 PARECER N, DE 2012 Da COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO, JUSTIÇA E CIDADANIA (CCJ), em decisão terminativa, sobre o Projeto de Lei do Senado n 289, de 2008, que altera o 2º do art da Lei nº , de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), para dispensar o empresário e a sociedade optantes pelo Regime Especial Unificado de Arrecadação de Tributos e Contribuições devidos pelas Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Simples Nacional) da obrigação de seguir um sistema de contabilidade e de levantar anualmente o balanço patrimonial e o de resultado econômico. RELATOR: Senador ARMANDO MONTEIRO I RELATÓRIO Esta Comissão examina, em decisão terminativa, o Projeto de Lei do Senado (PLS) n 289, de 2008, de autoria do Senador Paulo Paim, estruturado em dois artigos. O art. 1 propõe alterar o 2 do art da Lei n , de 10 de janeiro de 2002 Código Civil, com o intuito de desobrigar o empresário e a sociedade optantes pelo Regime Especial Unificado de Arrecadação de Tributos e Contribuições devidos pelas Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Simples Nacional) de seguir um sistema de contabilidade e de levantar anualmente o balanço patrimonial e o de resultado econômico. O art. 2, cláusula de vigência, estabelece que a lei em que se converter a proposta entrará em vigor cento e oitenta dias após a sua publicação. 1

2 Na justificação, o autor pondera que a proposta não impede o microempresário e o pequeno empresário de manter escrituração contábil e de elaborar o balanço patrimonial, podendo fazê-lo desde que seja do seu interesse. II ANÁLISE Não foram oferecidas emendas ao projeto de lei. É prerrogativa desta Comissão pronunciar-se sobre a constitucionalidade, juridicidade e regimentalidade da proposição sob exame, devendo, ainda, emitir parecer quanto ao mérito, de acordo com o disposto no art. 101, incisos I e II, alínea d, do Regimento Interno do Senado Federal. Quanto à constitucionalidade formal, a matéria do projeto de lei em apreciação está inserida na competência legislativa da União, conforme o disposto no art. 22, inciso I, do texto constitucional. Segundo o art. 48, cabe ao Congresso Nacional dispor sobre o assunto. Além disso, é legítima a iniciativa parlamentar, nos termos do art. 61 da Lei Maior. No que concerne à constitucionalidade material, note-se que a proposição sob comento não contraria preceitos constitucionais. Em relação à juridicidade, o projeto de lei cumpre as exigências de inovação, efetividade, espécie normativa adequada, coercitividade e generalidade. No tocante ao mérito, observe-se que o caput do art da referida Lei n , de 2002, impõe ao empresário e à sociedade empresária que sigam um sistema de contabilidade e levantem anualmente o balanço patrimonial e o balanço de resultado econômico. O 2 desse artigo dispensa dessas exigências o pequeno empresário mencionado no art. 970, o qual prevê que a lei assegurará tratamento favorecido, diferenciado e simplificado ao pequeno empresário, quanto à inscrição e aos efeitos daí decorrentes. 2

3 Por sua vez, destaque-se que o art. 68 da Lei Complementar (LC) nº 123, de 14 de dezembro de 2006, Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, com a redação dada pela LC n 139, de 10 de novembro de 2011, considera pequeno empresário, para efeito de aplicação do disposto nos aludidos arts. 970 e do Código Civil, o empresário individual caracterizado como microempresa na forma da LC n 123, de 2006, que aufira receita bruta anual de até R$ ,00 (sessenta mil reais). O objetivo da proposta sob comento é estender a dispensa de seguir um sistema de contabilidade e de levantar anualmente o balanço patrimonial e o balanço de resultado econômico ao empresário e à sociedade optantes pelo Regime Especial Unificado de Arrecadação de Tributos e Contribuições devidos pelas Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Simples Nacional). O art. 16 da LC n 123, de 2006, dispõe que a pessoa jurídica enquadrada na condição de microempresa e empresa de pequeno porte poderá fazer a opção pelo Simples Nacional. Segundo o art. 3 da LC n 123, de 2006, o empresário, a pessoa jurídica, ou a ela equiparada que aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a R$ ,00 (trezentos e sessenta mil reais) é qualificado como microempresa (inciso I); enquanto que o empresário, a pessoa jurídica, ou a ela equiparada, que aufira, em cada anocalendário, receita bruta superior a R$ ,00 (trezentos e sessenta mil reais) e igual ou inferior a R$ ,00 (três milhões e seiscentos mil reais) é classificado como empresa de pequeno porte (inciso II). Ressalte-se que o art. 27 da LC n 123, de 2006, admite a adoção, opcional, de contabilidade simplificada para os registros e controles das operações realizadas pelas microempresas e empresas de pequeno porte optantes pelo Simples Nacional, de acordo com regulamentação do Comitê Gestor do Simples Nacional (CGSN), vinculado ao Ministério da Fazenda. Dessa maneira, a obrigatoriedade de seguir contabilidade, mesmo que simplificada, seria aplicada somente para objetivos fiscais, não 3

4 se justificando que o Código Civil imponha às empresas de menor porte econômico manter escrituração de todas as suas operações. Além disso, por força do disposto no art. 178 da Lei n , de 9 de fevereiro de 2005, que regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária, pratica crime de omissão dos documentos contábeis obrigatórios, quem deixar de elaborar, escriturar ou autenticar, antes ou depois da sentença que decretar a falência, conceder a recuperação judicial ou homologar o plano de recuperação extrajudicial, os documentos de escrituração contábil obrigatórios. Como a redação atual do art da Lei n , de 2002, não exime o empresário e a sociedade empresária optantes pelo Simples Nacional da escrituração contábil e da elaboração do balanço patrimonial e do balanço de resultado econômico, eles estão sujeitos à responsabilização pelo referido crime falimentar caso não cumpram essas exigências de natureza contábil. A nosso ver, parece-nos apropriado dispensar também as microempresas e as empresas de pequeno porte das exigências contidas no caput do art do Código Civil. No que tange à parte contábil, saliente-se que os custos elevados de um sistema de contabilidade tradicional podem desencorajar parcela considerável de empreendedores potenciais que nem se arriscam a abrir seu negócio, além de outros pequenos empreendedores preferirem ficar no mercado informal. Portanto, a redução dos custos decorrente da adoção de um sistema de contabilidade mais simplificado serve para incentivar muitos pequenos empreendedores e, por conseguinte, é significativo o ganho para a economia do País. No entanto, consideramos necessário proceder a um ajuste do teor da proposta mediante a apresentação de emenda de mérito à proposição. Trata-se da inclusão da empresa individual de responsabilidade limitada, instituída pela Lei n , de 11 de julho de 2011, que é 4

5 constituída por uma única pessoa titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado. De igual modo, justifica-se desobrigá-la de manter sistema de contabilidade completo e de elaborar os balanços patrimonial e de resultado econômico, caso opte pelo Simples Nacional. A emenda consiste em incluir a empresa individual de responsabilidade limitada no rol das dispensas constantes do 2 do referido art III VOTO Ante o exposto, somos pela constitucionalidade, juridicidade, regimentalidade e, no mérito, pela aprovação do Projeto de Lei do Senado n 289, de 2008, com a emenda a seguir indicada. EMENDA Nº CCJ Dê-se ao art. 1º do Projeto de Lei do Senado nº 289, de 2008, a seguinte redação: Art. 1 O 2 do art da Lei n , de 10 de janeiro de 2002, passa a vigorar com a seguinte redação: Art º São dispensados das exigências deste artigo o pequeno empresário a que se refere o art. 970, bem como o empresário, a empresa individual de responsabilidade limitada e a sociedade optantes pelo Regime Especial Unificado de Arrecadação de Tributos e Contribuições devidos pelas Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Simples Nacional). (NR) Sala da Comissão,, Presidente, Relator 5