PARECER CÍVEL N. 2/3.027/15 ARGUIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI 92247-52.2015.8.09.0000 (201590922476) COMARCA DE ORIGEM ITAGUARI/GO ÓRGÃO FRACIONÁRIO DE ORIGEM 2ª TURMA DA 4ª CÂMARA CÍVEL ÓRGÃO JULGADOR CORTE ESPECIAL RELATOR SUBPROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA PARA ASSUNTOS JURÍDICOS DES. CARLOS ESCHER SPIRIDON N. ANYFANTIS INCIDENTE DE INCONSTITUCIONALIDADE DA LEI N. 192/2010, DO MUNICÍPIO DE ITAGUARI. VINCULAÇÃO DO REAJUSTE DE VENCIMENTOS DOS SERVIDORES PÚBLICOS MUNICIPAIS AO ÍNDICE NACIONAL DE PREÇOS DO CONSUMIDOR. 1. Embora não conste limitação, no acórdão em que instaurado o incidente, ao art. 2º da Lei n. 192/2010, do Município de Itaguari, é nele, e apenas nele, que se define, como índice a adotar-se, o INPC, de tal sorte que somente em face da regra dele extraída é que 0
se revela legítima a instauração do incidente, que não deve, pois, abranger dispositivo diverso que conste do mesmo ato normativo legislativo primário. 2. A regra do art. 2º da Lei n. 192/2010, do Município de Itaguari, contraria o princípio federativo, no que subordina a vida financeira da pessoa política local ao que venha a ser definido, anualmente, em índice emanado da União: jurisprudência do STF, expressa, outrora, na Súmula n. 681, e, atualmente, na Súmula Vinculante n. 42. 3. PARECER, (1) preliminarmente, pelo conhecimento do incidente somente em relação ao art. 2º da Lei n. 192/2010, do Município de Itaguari, e, (2) no mérito, pela DECLARAÇÃO, INCIDENTER TANTUM, DE INCONSTITUCIONALIDADE desta referida norma. Colenda Corte Especial Eminente Relator Cuida-se, na origem, de Mandado de Segurança impetrado por CRISTIANE MORAES GOMES contra ato alegadamente inquinado de inconstitucionalidade, atribuído ao PREFEITO DO MUNICÍPIO DE ITAGUARI. Na causa de pedir do writ, sustenta-se que, muito embora o art. 2º da Lei n. 192, de 3.12.2010, imponha reajuste aos vencimentos dos impetrantes com observância do mesmo índice de reajustamento do Índice Nacional de Preços ao Consumidor INPC -, havendo-se, como base em tal disciplina legal, em 2011, ocorrido o reajuste da remuneração dos servidores públicos daquela Municipalidade, não se deu aplicação à sobredita regra nos anos seguintes. 1
Pediu-se, então, a concessão, em sede de tutela de urgência e em caráter definitivo, da segurança, para o efeito de determinar à autoridade coatora que procedesse ao pagamento dos reajustes dos vencimentos dos servidores públicos de Itaguari, referentes aos anos de 2011 e 2012, com base no INPC (fl. 19). A decisão de fls. 97/98 indeferiu o pleito de tutela de urgência. O Município de Itaguari prestou as informações de fls. 103/109, alegando, preliminarmente, carência da ação em virtude da inadequação da via eleita e, no mérito, decadência do direito dos impetrantes. O Ministério Público de primeiro grau, às fls. 125/132, manifestou-se no sentido da declaração, incidenter tantum, da inconstitucionalidade da Lei Municipal n. 192/2010, eis que o referido diploma legal determinaria a vinculação do reajuste dos vencimentos dos servidores públicos de Itaguari a índice federal de correção monetária, ofendendo, de pronto, o princípio federativo, segundo disposto no verbete n. 681, da Súmula de Jurisprudência Predominante do Supremo Tribunal Federal. Na sentença de mérito, o juízo de primeiro grau extinguiu o processo sem resolução do mérito, quanto ao pedido de pagamento dos vencimentos atualizados, ao passo que, quanto ao pedido de reconhecimento do direito à revisão geral anual dos vencimentos, por meio do INPC, julgou extinto o processo, com resolução de mérito, fundando-se na inconstitucionalidade da Lei n. 192/2010, de Itaguari, para denegar o pleito de cunho revisional (fls. 134/146). Em sede de recurso de apelação, os impetrantes reiteraram os argumentos da exordial, defendendo, ademais, a constitucionalidade da Lei Municipal 192/2010 (fls. 152/173). 2
A Procuradoria de Justiça com atuação no feito suscitou a inconstitucionalidade da Lei n. 192/2010, de Itaguari, pugnando pela instauração do correlato incidente. Na 2ª Turma Julgadora da 4ª Câmara Cível, determinou-se a instauração do incidente de inconstitucionalidade do sobredito preceito da legislação municipal (fls. 186/189-v), remetendo os autos à Corte Especial deste Egrégio Tribunal de Justiça. Vista à Procuradoria Geral de Justiça, para o desempenho da função de custos legis, por força do disposto no art. 480, caput, do Código de Processo Civil. É o relatório. I 1. De início, cabe consignar que a declaração de inconstitucionalidade de lei ou outro ato normativo, incidenter tantum, encontra seu fundamento na relevância da resolução da arguição para o deslinde da causa ou de aspecto processual que lhe diga respeito. 2. Imprescindível é o registro de que, do perlustro dos autos, constatase que a questão constitucional, cuja análise é imprescindível para o julgamento do mérito do recurso proposto, deve cingir-se, logicamente, ao artigo 2º, caput, da Lei Municipal n. 192/2010, de Itaguari, que promovera a vinculação da revisão geral anual dos vencimentos dos servidores públicos municipais ao que apurado pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). 3
3. Nessa senda, considerando o fato de o acórdão de fls. 186/189-v haver admitido o presente incidente de inconstitucionalidade em relação a toda Lei Municipal n. 192/2010, sem estabelecer qualquer restrição quanto aos artigos que efetivamente influenciam no pedido de inconstitucionalidade suscitado pelo Parquet, o fato é que tudo concorre para a restrição da análise do texto do artigo 2º, da sobredita lei, único pertinente à controvérsia de direito material subjacente à espécie. 4. Cuida-se, assim, de questão prejudicial, superiormente definida por notável jurista como aquela cuja resolução predefine a maneira como se há de resolver outra que lhe seja logicamente dependente, não importa se atinente esta a tema de fundo ou a matéria tipicamente processual (BARBOSA MOREIRA, José Carlos, Questões Prejudiciais e Coisa Julgada, tese de concurso, Rio de Janeiro: 1967; Direito Processual Civil ensaios e pareceres, Rio de Janeiro: Borsoi, 1971, p. 85, v. g.). 5. Demais disso, ainda quanto ao cabimento da presente arguição, insta consignar a não incidência do disposto no artigo 481, parágrafo único, do Código de Processo Civil, pois, em consulta aos sítios mantidos pelo Supremo Tribunal Federal e por este Egrégio Tribunal de Justiça, na rede mundial de computadores, não foi constatada a existência de pronunciamento colegiado anterior, emitido pelo Plenário e Órgão Especial respectivos, acerca da constitucionalidade ou não do ato normativo ora debatido. II 6. No que tange ao mérito da questão constitucional trazida à liça, cumpre ressaltar que a Lei n. 192/2010, do Município de Itaguari, a pretexto de instituir a revisão geral anual dos servidores públicos do Município de Itaguari, vinculou o cálculo da atualização ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). 4
7. A mencionada lei, em seu artigo 2º, caput, assim dispõe, litteris: Art. 2º O índice adotado no Município de Itaguari/GO, para a revisão geral anual dos cargos e funções a que se refere o artigo 1º desta lei, é o ÍNDICE NACIONAL DE PREÇOS AO CONSUMIDOR INPC, acumulado no ano anterior. 8. Da análise do dispositivo transcrito, extrai-se que a Lei Municipal sob exame, em seu artigo 2º, caput, vincula o reajuste de vencimentos dos servidores públicos municipais a índice federal. 9. Contudo, regra como a de que ora se ocupa, segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, vulnera, a mais não poder, o princípio federativo, no que subordina a vida financeira do ente político, integrante do pacto federal, de modo automático, ao que venha a definir-se na conformidade de índice emanado do ente federado central. 10. Ressabida, a propósito, a intelecção do Supremo Tribunal Federal, cujo reiterado magistério, outrora pacificado no verbete n. 681 da Súmula de Jurisprudência Predominante, logrou recente conversão na Súmula Vinculante n. 42, verbis: É inconstitucional a vinculação do reajuste de vencimentos de servidores estaduais ou municipais a índices federais de correção monetária". 11. Desse modo, revela-se impositiva a declaração de inconstitucionalidade da regra do art. artigo 2º, caput, da Lei n. 192/2010, do Município 5
de Itaguari, no que vincula o reajuste da remuneração dos servidores públicos municipais ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). III 12. DO EXPOSTO, manifesta-se o Ministério Público do Estado de Goiás, por sua Procuradoria-Geral de Justiça, pelo acolhimento da arguição formulada, com a declaração incidental da inconstitucionalidade da regra do artigo 2º, caput, da Lei n. 192/2010, do Município de Itaguari, devolvendo-se, em sequência, os autos ao órgão colegiado fracionário de origem, para que proceda como de direito. Goiânia, 14 de abril de 2015. Spiridon N. Anyfantis Subprocurador - Geral de Justiça para Assuntos Jurídicos Port. Nº1.492/2014 DOMP 1224ª ed. 6