Brazilian Journal of Sports and Exercise Research, 2010, 1(2): 84-88



Documentos relacionados
CONSUMO MÁXIMO DE OXIGÊNIO DE FISICULTURISTAS UMA ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS DE DETERMINAÇÃO DIRETO E INDIRETO

UNIVERSIDADE GAMA FILHO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FISIOLOGIA E CINESIOLOGIA DA ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE PROF. DR.

Protocolo em Rampa Manual de Referência Rápida

Comparação de diferentes índices obtidos em testes de campo. campo para predição da performance aeróbia de curta duração no ciclismo

Diminua seu tempo total de treino e queime mais gordura

PRESCRIÇÃO DE EXERCÍCIO AERÓBIO

Relação entre velocidade crítica, limiar anaeróbio, parâmetros associados ao VO 2 max, capacidade anaeróbia e custo de O 2 submáximo

VELOCIDADE CRÍTICA: ESTIMATIVA DE TRÊS MODELOS DE ANÁLISE

Orientações para montagem

CIRCUITO TREINO * O fator especificador do circuito será a qualidade física visada e o desporto considerado.

TÍTULO: MAGNITUDES DE FORÇA PRODUZIDA POR SURFISTAS AMADORES CATEGORIA: EM ANDAMENTO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE SUBÁREA: EDUCAÇÃO FÍSICA

PROTOCOLOS PARA TESTES DE AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE CARDIORRESPIRATÓRIA

EFEITOS DE DIFERENTES INTERVALOS RECUPERATIVOS NO NÚMERO DE REPETIÇÕES NO EXERCICIO SUPINO RETO LIVRE Marcelo dos Santos Bitencourt

A CIÊNCIA DOS PEQUENOS JOGOS Fedato Esportes Consultoria em Ciências do Esporte

Treino em Circuito. O que é?

Projeto Esporte Brasil e a Detecção do Talento Esportivo: Adroaldo Gaya CENESP/UFRGS

A Proposta da IAAF 03. Campeonato para anos de idade 03. Formato da Competição 04. Organização da Competição 05.

RELATÓRIO DE ANÁLISE DO COMPORTAMENTO

O IMPACTO DO PROGRAMA DE GINÁSTICA LABORAL NO AUMENTO DA FLEXIBILIDADE

Palavras-chave: Controle Autonômico; Recuperação; Treinamento Esportivo; Esportes Coletivos.

Portal da Educação Física Referência em Educação Física na Internet

Período de Preparação Período de Competição Período de Transição

Colunista da Revista W Run e colaborador das Revistas The Finisher e Revista O2

PERIODIZAÇÃO APLICADA AO TREINAMENTO FUNCIONAL

MS

4 Avaliação Econômica

A PLANIFICAÇÃO DO TREINO DA FORÇA NOS DESPORTOS COLECTIVOS por Sebastião Mota

MODIFICAÇÃO DO TESTE DE NORMALIDADE DE SHAPIRO-WILK MULTIVARIADO DO SOFTWARE ESTATÍSTICO R

Treinamento Concorrente

CAPITULO III METODOLOGIA

ANÁLISE DAS RESPOSTAS NEUROMUSCULARES DOS EXTENSORES DO JOELHO APÓS PROGRAMA DE EXERCÍCIO RESISTIDO COM CONTRAÇÕES RECÍPROCAS

Os Benefícios do Taekwon-do na Infância e na Adolescência

Avaliação da via aeróbia numa equipa de Futebol Júnior

Dr. Milton Mizumoto Diretor Médico da Corpore

BIKE PERSONAL TRAINER O TREINO DE CICLISMO DEPOIS DOS 50 ANOS

TESTE DO QUADRADO REALIZADO EM ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL DE UMA ESCOLA ESTADUAL DO MUNICÍPIO DE BARRETOS-SP 1

SUMÁRIO. Página LISTA DE TABELAS LISTA DE FIGURAS

ARTIGO. Comparação do VO 2 max de homens fisicamente ativos mensurado de forma indireta e direta.

RODOLFO ANDRÉ DELLAGRANA RELAÇÃO DE ÍNDICES FISIOLÓGICOS E NEUROMUSCULARES COM O DESEMPENHO DE CORRIDA EM ADOLESCENTES FUNDISTAS

Objetivo da aula. Trabalho celular 01/09/2016 GASTO ENERGÉTICO. Energia e Trabalho Biológico

Por que devemos avaliar a força muscular?

Palavras-chave: Aptidão Física. Saúde. Projeto Esporte Brasil.

Valor verdadeiro, precisão e exatidão. O valor verdadeiro de uma grandeza física experimental às vezes pode ser considerado

Análise da Freqüência das Velocidades do Vento em Rio Grande, RS

Crescimento e Desenvolvimento de Atletas Jovens nas Distâncias de Fundo e Meio Fundo: Fases Sensíveis

Programa UNIBRAL Edital CGCI n. 014 /2007

INFLUÊNCIAS DA KINESIOTAPING NO DESEMPENHO DO SALTO EM DISTÂNCIA, EM INDIVÍDUOS SADIOS JOVENS

António Graça Quantificação do Limiar anaeróbio Controlo Através da Lactatémia

AVALIAÇÃO FÍSICA O QUE PODEMOS MEDIR? PRAZOS PARA REAVALIAÇÃO.

Check-up Performance

A Meta-Analytic Review of Psychosocial Interventions for Substance Use Disorders

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Perfil antropométrico e fisiológico de jogadores de rugby.

AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE DE EXERCÍCIO DE IDOSOS COM LOMBALGIA E SUA INTERFERÊNCIA NA QUALIDADE DE VIDA

ERRATA II - CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO

EQUAÇÕES DE INFILTRAÇÃO PELO MÉTODO DO INFILTRÔMETRO DE ANEL, DETERMINADAS POR REGRESSÃO LINEAR E REGRESSÃO POTENCIAL

CORRELAÇÃO ENTRE A APTIDÃO CARDIORESPIRATÓRIA E O PERCENTUAL DE GORDURA CORPORAL DE ATLETAS AMADORES DE MOUNTAIN BIKE

1 Aluno Curso de Educação Física,UFPB 2 Professor Departamento de Educação Física, UFPB 3 Professor Departamento de Biofísica e Fisiologia, UFPI

Adaptações Cardiovasculares da Gestante ao Exercício

Bases Metodológicas do Treinamento Desportivo

AVALIAÇÃO: A Ed. Física VALOR: 7.5 (SETE E MEIO) (AHSE) DATA: 22/09 HORA: Série: 1º ano Professores Ministrantes: Kim Raone e Marcus Melo

VELOCIDADE CRÍTICA, CONCENTRAÇÃO DE LACTATO SANGÜÍNEO E DESEMPENHO NO REMO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA REABILITAÇÃO PROCESSO SELETIVO 2013 Nome: PARTE 1 BIOESTATÍSTICA, BIOÉTICA E METODOLOGIA

SUGESTÕES DE PROGRAMAS DE TREINAMENTO FISICO PARA OS CANDIDATOS AOS CURSOS DE OPERAÇÕES NA SELVA

Utilização de Planilhas Excel na Engenharia Civil

PRESCRIÇÃO DO TREINAMENTO PARA EMAGRECIMENTO. obesa envolve um plano de ação muito mais complexo, sendo prescrito de acordo com a condição

4 Análise dos Resultados

UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA CAMPUS DE JI-PARANÁ DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA AMBIENTAL LISTA DE EXERCÍCIOS 3

Efeitos da Inactividade e Readaptação Física do Desportista após uma lesão

MEDIDAS DA FORÇA E RESISTÊNCIA MUSCULAR

Programa de 5 Km Iniciantes Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo

A presente seção apresenta e especifica as hipótese que se buscou testar com o experimento. A seção 5 vai detalhar o desenho do experimento.

Brazilian Journal of Biomotricity ISSN: Universidade Iguaçu Brasil

Qual o efeito da radiação solar na evaporação da água?

TUTORIAL CERTIFICAÇÕES SCIENCE SYSTEMS

DESENVOLVIMENTO DE UM SOFTWARE NA LINGUAGEM R PARA CÁLCULO DE TAMANHOS DE AMOSTRAS NA ÁREA DE SAÚDE

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO SUL DE MINAS GERAIS CAMPUS MUZAMBINHO Bacharelado em Educação Física

PERCEPÇÃO SUBJETIVA DE ESFORÇO E % DA V máx ESTIMADA PELO CUSTO DE FREQUÊNCIA CARDÍACA PREDIZEM LIMIAR GLICÊMICO EM CORREDORES RECREACIONAIS

Validade do Teste de Corrida de 1600m em estimar o VO2max em praticantes de CrossFit - Um estudo piloto

PÓS GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DE FLORESTAS TROPICAIS-PG-CFT INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA-INPA. 09/abril de 2014

Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira INEP. Ministério da Educação MEC

Seleção e Monitoramento de Fundos de Investimentos

Controle estatístico de processo: algumas ferramentas estatísticas. Linda Lee Ho Depto Eng de Produção EPUSP 2009

PROGRAMA PROGOVERNO BIRD

FACULDADE METODISTA DE SANTA MARIA CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA JOSÉ OTAVIO FRANCO DORNELLES CREF2/RS 3700

OS PRINCIPAIS MÉTODOS DE PRATICAR EXERCÍCIOS AERÓBICOS *

ANÁLISE QUÍMICA INSTRUMENTAL

2 Materiais e Métodos

Prof.. Claudio Pavanelli

Educação baseada em evidências

AUMENTO DRAMÁTICO DO INTERESSE E PARTICIPAÇÃO DE CRIANÇAS NO ESPORTE DE ALTO NÍVEL

Brazilian Journal of Biomotricity ISSN: Universidade Iguaçu Brasil

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE ENGENHARIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA ENG03108 MEDIÇÕES TÉRMICAS

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE

Opinião N15 ANÁLISE DO DESEMPENHO ACADÊMICO DOS COTISTAS DOS CURSOS DE MEDICINA E DIREITO NO BRASIL

COMPARAÇÃO DE MÉDIAS DIÁRIAS E MENSAIS DE TEMPERATURA DO AR OBTIDAS POR VÁRIOS MÉTODOS. (1) Departamento de Meteorologia da UFPa

Programa Institucional de Iniciação Cientifica do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos PIC/UNIFEB

Como Selecionar Projetos Seis Sigma

Transcrição:

TESTE DE CINCO MINUTOS (T5) PREDIZ A VELOCIDADE PICO DE CORRIDA EM ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS FIVE MINUTES TEST (T5) PREDICTS THE PEAK RUNNING VELOCITY IN UNIVERSITARY STUDENTS Hugo Alexandre de Paula Santana 1 ; Willson Botelho Neto 1 ; Marcelo Pereira; Magalhães de Sales 1 ; Guilherme Gularte de Agostini 2 ; Ricardo Yukio Asano 1 ; João Mauricio de Oliveira Coelho 1 ; Jéssica Cardoso de Souza 1 ; Jonato Prestes 1 1 Programa de pós- graduação Stricto Senso em Educação Física da Universidade Católica de Brasília (UCB- DF). 2 Centro Universitário de Araxá (UNIARAXA- MG). 3 Faculdade de Educação Física FAEFI da Universidade Federal de Uberlândia (UFU- MG). RESUMO Introdução: Um dos determinantes do desempenho aeróbio é a velocidade pico de corrida (vvo 2pico ) alcançada no final de um teste incremental máximo. Quando é realizado um teste retangular na vvo 2máx, o tempo até a exaustão varia entre dois e oito minutos. Objetivo: Determinar a vvo 2pico alcançada em diferentes protocolos (pista e esteira) de teste incremental (TI) máximo e compará- las à velocidade média obtida pela distância máxima percorrida em cinco minutos (T5). Métodos: Nove indivíduos do sexo masculino, fisicamente ativos, com idade 24,0±5,0 anos, estatura 176,7±5,7 cm, massa corporal 72,6±3,5 kg foram submetidos a três sessões experimentais em ordem randomizada e separadas por no mínimo uma semana: 1) TI em esteira, iniciando com 10 km.h - 1 de velocidade, com incrementos de 1 km.h - 1 a cada dois minutos até a exaustão voluntária; 2) TI em pista, iniciando a 10 Km.h - 1 de velocidade, com incrementos de 1 Km.h - 1 a cada três minutos e com um minuto de intervalo entre cada estágio; 3) T5 consiste em correr a máxima distância possível em cinco minutos em uma pista de 200m. ANOVA one- way foi utilizada para comparar os valores dos testes e correlação de Pearson para verificar grau de associação entre os mesmos, assim como a técnica de Bland e Altman para verificar o grau de concordância entre os protocolos. O nível de significância adotado foi de p<0,05. Resultados: A velocidade máxima em pista foi 16,7±0,7 Km.h - 1, a de esteira 16,1±0,8 Km.h - 1 e a velocidade média do T5 foi 16,6±0,9 Km.h - 1. Os resultados não foram significativamente diferentes (p>0,05) e houve uma alta correlação entre os três testes: pista e esteira (r=0,87; p<0,05); pista e T5 (r=0,92; p<0,05) e esteira e T5 (r=0,80; p<0,05). Conclusão: Baseado nos resultados acima, pode- se concluir que o T5 pode ser utilizado como método para determinar a vvo 2pico. Palavras- chave: vvo 2pico, teste incremental, esteira, pista, desempenho. ABSTRACT Introduction: One of the determinants of endurance performance is the peak speed running (vvo 2peak ), which is achieved by the end of a maximal incremental test. When a rectangular test is performed at the vvo 2max the time to exhaustion varies between two and eight minutes. Objective: To determine the vvo 2peak achieved in different protocols (track and treadmill) incremental test (IT) maximum and compare them to the average speed obtained by the maximum distance covered in five minutes (T5). Methods: Nine physically active individuals, aged 24.0±5.0 years, height 176.66±5.74 cm, body mass 72.61±3.53 kg underwent three experimental trials applied in a randomized order and separated by at least one week: 1) IT treadmill, initiating at 10 km.h - 1 speed, with increments of 1 km.h - 1 every two minutes until volitional exhaustion; 2) track IT, initiating at 10 Km.h - 1 speed, with increments of 1 Km.h - 1 every three minutes and one minute interval between each stage; 3) T5 consists to run the maximum distance as possible in five minutes on a track of 200m. One- way ANOVA was used to compare the values of the tests and Pearson s correlation to determine degree of association between them, as well as the technique of Bland and Altman to determine the degree of agreement between the protocols. The adopted level of significance was p <0.05. Results: The maximum speed on the track was 16.7±0.7 km.h - 1, in the treadmill 16.1±0.8 km.h - 1 and mean speed of T5 was 16.6±0.9 km.h - 1. The results were not significantly different (p> 0.05) and there was a high correlation between the three tests: track and treadmill (r=0.87, p<0.05); track and T5 (r=0.92 p<0.05), and treadmill and T5 (r=0.80, p<0.05). Conclusion: Based on the above mentioned results, it can be concluded that T5 can be used as a method to determine the vvo 2peak. Keywords: peak running velocity, treadmill, track, performance. INTRODUÇÃO A mensuração do consumo máximo de oxigênio (VO 2máx ), tornou- se um procedimento padrão em testes fisiológicos tanto para atletas quanto para não atletas (1). Esse tipo de avaliação é freqüentemente utilizada para mensurar o nível de condicionamento cardiorrespiratório de um indivíduo (2). Além disso, o VO 2máx têm sido amplamente utilizado como fator determinante do desempenho em eventos de resistência aeróbia (3). Na literatura científica, o 84

aumento do VO 2máx é o marcador mais comum para demonstrar o efeito do treinamento (2). Entretanto, quando a variação do VO 2máx é pequena, principalmente em atletas altamente treinados, a correlação entre VO 2máx e desempenho é relativamente baixa (4,5). Diante disso, alguns estudos têm relatado que o verdadeiro determinante do desempenho é a velocidade pico de corrida (vvo 2pico ) ou a potência máxima alcançada no final de um teste incremental (wvo 2máx ) (6,7). Apesar de o VO 2máx ser frequentemente utilizado na elaboração da prescrição de exercício físico para a melhoria da aptidão cardiorrespiratória (2), Daniels et al. (8) reportaram que a vvo 2máx é uma variável importante e que quando combinada com o VO 2máx e economia de corrida, torna- se um fator chave para identificar diferenças em parâmetros relacionados a potência aeróbia em corredores. Sendo assim, a velocidade associada ao VO 2máx possui grande aplicação prática na prescrição do exercício. A acessibilidade a laboratórios equipados com analisadores de gases para a mensuração do VO 2máx é limitada, além disso fatores como economia de corrida, taxa máxima de trabalho, fatores musculares e/ou cerebrais que determinam a resistência à fadiga e adaptação à forma de corrida em esteiras não são específicos em ambientes laboratoriais (9). Contudo, com a finalidade de verificar o grau de condicionamento cardiorrespiratório e para prescrição de treinos, surge a necessidade da existência de testes de campo com aplicabilidade prática, sendo os mesmos tão eficientes quanto os utilizados em laboratórios de fisiologia do exercício. Sendo assim, o objetivo do presente estudo é comparar a vvo 2pico determinada no teste de cinco minutos com o teste incremental realizado em esteira e em pista. Nossa hipótese inicial era de que os valores de velocidade pico de corrida seriam similares entre os testes. MÉTODOS Após assinarem um termo de consentimento livre e esclarecido, foram selecionados nove indivíduos do sexo masculino, fisicamente ativos, com idade média de 24,5±5,0 anos, estatura 176,6±5,7 cm e massa corporal 72,6±3,5 kg. Todos os indivíduos foram submetidos a três sessões experimentais, sendo duas realizadas de forma incremental até a exaustão voluntária para determinar o VO 2máx de forma indireta e a vvo 2máx, sendo que na terceira sessão os indivíduos deveriam correr a maior distância possível em 5 minutos, a fim de obter a velocidade aeróbia média. As três sessões foram aplicadas em ordem randômica, e separadas por pelo menos uma semana. Teste Incremental em esteira (TI esteira) Foi realizado em esteira elétrica (Movement, modelo RT- 150, São Paulo- Brasil) e iniciou com a velocidade de 10 km.h - 1 com um % de inclinação fixa, sendo que, a cada dois minutos a velocidade foi incrementada em 1 km.h - 1. O término do teste ocorreu por exaustão voluntária. Teste Incremental em pista (TI pista) Nesta sessão os indivíduos foram submetidos a um TI realizado em pista de atletismo de 200m. O teste foi iniciado com velocidade de 10 km.h - 1, com acréscimo de 1 km.h - 1 a cada três minutos, com um minuto de intervalo entre cada estágio para informar o incremento da velocidade. O final do teste foi determinado pela incapacidade dos voluntários em manter a velocidade determinada previamente para aquele estágio. Para os testes incrementais, a vvo 2pico foi determinada como a última velocidade alcançada no teste crescente, quando o estágio foi completamente realizado. Para estágios incompletos, a mesma foi determinada pela última velocidade completada, mais a fração incompleta da velocidade do referido estágio. Teste de 5 minutos (T5) Também realizado em pista de atletismo de 200m, os voluntários deveriam percorrer a maior distância possível em cinco minutos (T5). Tendo como objetivo do teste comparar a velocidade obtida com as velocidades máximas obtidas nos testes incrementais. Análise estatística Os resultados são apresentados por meio da estatística descritiva (média ± desvio padrão). ANOVA one- way foi empregada para comparar os valores de VO 2ind e as vvo 2pico. A correlação linear de Pearson foi empregada para verificar o grau de associação entre os VO 2ind e entre as vvo 2pico. A técnica de Bland & Altman (10) foi utilizada para verificar o grau de concordância entre os mesmos. O nível de significância adotado foi p<0,05. RESULTADOS Os resultados indicam que não houve diferença significativa entre os diferentes métodos aplicados para determinar o consumo máximo de oxigênio de forma indireta (VO 2ind ) e a vvo 2pico (p>0,05) (tabela 1). Além disso, correlações significativas foram encontradas tanto para os valores de VO 2ind quanto para os diferentes métodos de identificação da vvo 2ind, (tabela 2 e 3), bem como uma boa concordância. (Figura 1). 85

Tabela 1. Valores expressos em média e (±) desvio padrão da velocidade pico e do consumo máximo de oxigênio em corrida de pista, esteira e T5 e (n=9) Pista Esteira T5 vvo 2pico 16,67 ± 16,06 ± 16,55 ± 0,9 (Km.h - 1 ) VO 2ind (mlo 2.kg - 1.min - 1 ) 0,66 59,07 ± 2,22 0,77 57,03 ± 2,56 58,67 ± 2,99 vvo 2pico velocidade pico de corrida; VO 2ind Consumo máximo de oxigênio medido de forma indireta Tabela 2. Matriz de correlação entre os protocolos estudados para a identificação da vvo 2pico. T5 Teste de cinco minutos Pista Esteira T5 Pista - - - 0.87* 0,92* Esteira - - - - - - 0,80* *correlação significativa (p<0,05) Tabela 3. Matriz de correlação entre o consumo máximo de oxigênio (VO 2ind ) obtido nos três testes VO 2ind P VO 2ind E VO 2ind T5 VO 2ind P - - - 0,88* 0,93* VO 2ind E - - - - - - 0,80* VO 2ind P consumo máximo de oxigênio medido em pista; VO 2ind E consumo máximo de oxigênio medido em esteira; VO 2ind T5 consumo máximo de oxigênio obtido pelo T5; *correlação significativa (p<0,05) Figura 1. (B, D e F) Limites de concordância entre as vvo 2pico obtidas em pista (vvo 2pico P), esteira (vvo 2pico E) e T5 (vvo 2pico T5). (A, C e E) Limites de concordância entre o consumo máximo de oxigênio indireto em pista (VO 2ind P), em esteira (VO 2ind E) e T5 (VO 2ind T5). 86

A técnica de Bland e Altman (10) mostrou boa concordância entre as vvo 2pico, bem como, VO 2pico nos diferentes testes (pista, esteira e T5) baseado no baixo viés, assim como nos estreitos limites de concordância [viés (± 95% de intervalo de confiança)]. Para a vvo 2pico em pista (vvo 2pico P) e vvo 2pico no T5 (vvo 2pico T5) [0,1 ± (0,8) km.h - 1 ], bem como para vvo 2pico P e vvo 2pico em esteira (vvo 2pico E) [0,6 ± (0,7) km.h - 1 ] e para vvo 2pico E e vvo 2pico T5 [0,5 ± (1,1) km.h - 1 ]. Além disso, para o VO 2ind em pista (VO 2ind P) e VO 2ind no T5 (VO 2ind T5) [0,4 ± (2,5) mlo 2.kg - 1.min - 1 ], para o VO 2ind P evo 2ind em esteira (VO 2ind E) [2,0 ± (2,5) mlo 2.kg - 1.min - 1 ], assim como para VO 2ind E e VO 2ind T5 [- 1,6 ± (3,5) mlo 2.kg - 1.min - 1 ] (figura 1). DISCUSSÃO O presente estudo analisou a correlação entre o consumo máximo de oxigênio medido de forma indireta (VO 2ind ) realizado em pista, esteira e no desempenho do teste de cinco minutos (T5). Houve correlação significativa (r=0,88, r=0,93 e r=0,90 p<0,05) para os valores de VO 2ind realizados em pista, esteira e T5, respectivamente. A vvo 2pico também foi significativamente correlacionada entre o desempenho do T5 e os testes incrementais realizados em esteira e pista (tabela 3). O principal achado foi a similaridade entre as vvo 2pico identificadas pelos diferentes protocolos, bem como a forte e significativa correlação da vvo 2pico do T5 e os protocolos incrementais testados (r=0,92 e r=0,80; p<0,05) pista e esteira, respectivamente. Alguns autores mencionam que o tempo de corrida em um T máx (teste de manutenção da vvo 2máx por maior tempo possível) estaria em média dentro de cinco minutos. Apesar de Billat (11) observar uma grande variabilidade inter- individual do tempo limite no VO 2máx, os tempos vão de quatro a 11 minutos, sendo a média de seis minutos a mais comum. Medbo et al. (12) propõem que o déficit de O 2 ou a capacidade anaeróbica pode ser determinada durante um exercício extenuante menor que cinco minutos. Logo, o T5 não poderia ser um teste muito curto (menor que a capacidade anaeróbia), porém não longo demais, para que desta forma os voluntários conseguissem manter uma velocidade alta o suficiente para se correlacionar com a vvo 2pico, como outros testes comumente utilizados, por exemplo, o teste de 12 minutos (13) tem uma duração superior a capacidade média de sustentar o VO 2máx e a vvo 2máx em corredores (11). Segundo Astrand e Saltin (14), a duração da manutenção de uma potência aeróbia máxima (ou velocidade aeróbia máxima) seria determinada entre dois e oito minutos. Logo, o T5 estaria compreendido na metade deste período, sendo um teste de corrida contínua com alguma variação de velocidade, o que o difere de um T máx, porém máximo. Sendo a vvo 2máx um índice válido de desempenho (15) e útil para aplicação em competidores de corridas longas dos quais os atributos de VO 2máx e economia de corrida são diferentes (8), o T5 aplicado no presente estudo é um teste válido para mensurar a vvo 2máx quando comparado a testes incrementais de pista (r=0,92; p<0,05) e testes incrementais em esteira (r=0,80; p<0,05). O T5 é um teste acessível, com economia de tempo de realização quando comparado com outros destes de vvo 2máx, além do baixíssimo custo e da facilidade de aplicação, principalmente em grandes grupos. Portanto, uma vez confirmado a validade do T5 para determinar o vvo 2máx, esse instrumento de avaliação pode ser de grande valia na prática da avaliação física. Os resultados apresentados neste estudo demonstram que o T5 pode ser utilizado para determinar o vvo 2pico quando comparado com testes incrementais em pista e esteira. Além disso, o T5 pode ser um instrumento útil para avaliação física em grandes grupos. AGRADECIMENTOS À Micromed e ao grupo Salvapé pelo apoio técnico prestado. Os pesquisadores deste trabalho são apoiados pela CAPES e CNPq em suas pesquisas e estudos. REFERÊNCIAS 1. Gore CJ, Physiological tests for elite athletes. Australian Sports Commission. Champaign (IL): Human Kinetics, 2000. 2. Bassett Jr DR, Howley ET. Limiting factors for maximum oxyen uptake and determinants of endurance performance. Med Sci Sports Exerc 1999; 70-84. 3. Saltin B, Åstrand PO. Maximal oxygen uptake in athletes. J Appl Physiol 1967; 23: 353-8. 4. Conley DL, Krahenbuhl GS. Running economy and distance running performance of highly trained athletes. Med Sci Sports Exerc 1980; 12: 357-60. 5. Sjödin B, Svedenhag J. Applied physiology of marathon running. Sports Med 1985; 2: 83-99. 6. Noakes TD. Implications of exercise testing for prediction of athletic performance: A contemporary perspective. Med Sci Sports Exerc 1988; 20: 319 30. 7. Noakes TD, Myburgh KH, Du Plessis J, Lang L, Lambert M, Van Der Riet C. Metabolic rate not % dehydration predicts rectal temperature after marathon running. Med Sci Sports Exerc 1990; 23:443 49. 8. Daniels JT. A physiologist s view of running economy. Med Sci Sports Exerc. 1985; 17: 332-38. 9. Noakes T. Lore of running. Ed. 4ª, Cape Town, South Africa: Human Kinetics, 2003. 10. Bland MJ, Altman GD. Statistical Methods for assessing agreement between two methods of clinical measurement. Lancet 1986; 1(8476):307-10. 87

11. Billat, V. Fisiología y metodología del entrenamiento; Ed. 1ª, Barcelona, España, 2002. 12. Medbo, JI, Mohn AC, Tabata, I, Bahr, R, Vaage O.and. Sejersted OM. Anaerobic capacity determined by maximal accumulated O2 deficit. J Appl Physiol. 1988; 64: 50-60. 13. Cooper KH. A mean of assessing maximal oxygen intake. JAMA. 1968; 203: 201-04. 14. Astrand, P.O.; Rodhal, K. Text book of work physiology. In: Physiological bases of exercise, 1986; 3ª ed., Nova York, McGraw- Hill International Editions,1986. 15. Morgan DW, Baldini FD, Martin PE, Kohrt W.M. Ten kilometer performance and predicted velocity at VO 2máx among well- trained male runners. Med Sci Sports Exerc. 1989; 21:78-83. Endereço para correspondência: Hugo Alexandre de Paula Santana Universidade Católica de Brasília Programa de Mestrado e Doutorado em Educação Física. Sala G- 017 - QS07 LT1 EPCT, Águas Claras 72022-900 Taguatinga, DF, Brasil. Tel: (61) 3356-9350 hsantana85@yahoo.com.br Recebido em: 17/10/2010 Aceito em: 05/11/2010 88