PROCESSO TRT 15ª REGIÃO Nº 0021100-83.2007.5.15.00014 RECURSO ORDINÁRIO - SEÇÃO DE DISSÍDIOS COLETIVOS RECORRENTE: SINDICATO DOS TRABALHADORES NA MOVIMENTAÇÃO DE MERCADORIAS EM GERAL DE LIMEIRA RECORRIDOS: 1. SINDICATO DOS EMPREGADOS NO COMÉRCIO DE LIMEIRA 2. BOLSÃO COMÉRCIO DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS LTDA. ORIGEM: 1ª VARA DO TRABALHO DE LIMEIRA JUIZ SENTENCIANTE: RENATO DE CARVALHO GUEDES Inconformado com a r. sentença de fls.195/201 que julgou improcedente a ação e procedente em parte a oposição, recorre SINDICATO DOS TRABALHADORES NA MOVIMENTAÇÃO DE MERCADORIAS EM GERAL DE LIMEIRA. Sustenta ser o legítimo representante dos trabalhadores na movimentação de mercadorias da cidade de Limeira, o que o faz credor das contribuições sindicais pretendidas. Comprova o recolhimento das custas. Um segundo recurso foi apresentado para discutir a decisão proferida em sede de oposição (fls. 216/218, com igual comprovação de recolhimento das custas (fl. 219). Não foram ofertadas contrarrazões (fl. 221 - verso). Manifesta-se o Ministério Público do Trabalho pelo conhecimento e não provimento aos recursos (fls. 225/228). 1
É o breve relato. V O T O Apesar de apresentados em peças apartadas com duplo recolhimento de custas, conheço como recurso único, dado que aviados na mesma data e horário, sem ofensa ao princípio da unirrecorribilidade,estando presentes os demais pressupostos de admissibilidade. O recorrente ajuizou ação declaratória de representação sindical cumulada com cobrança de contribuição sindical em face da segunda recorrida. Afirmou ser o legítimo representante da categoria diferenciada dos trabalhadores na movimentação de mercadorias de Limeira e Região, pedindo fosse declarada essa condição e, consequentemente condenada a ré ao pagamento das contribuições sindicais dos exercícios de 2002 a 2006, bem como as parcelas vincendas. Em resposta a ré arguiu preliminar de ilegitimidade ativa do autor e afirmou que as contribuições são formuladas em favor de outro sindicado (primeiro recorrido), pedindo fosse ele integrado à lide. O Sindicato dos Trabalhadores no Comércio de Limeira ingressou na lide na qualidade de opoente, postulando para si a legitimidade da representação dos empregados da ré. Sem contestação à oposição, os opostos foram declarados revéis (fl. 182). Considerou o julgador primário que a requerida não possui empregados componentes da categoria diferenciada dos trabalhadores na movimentação de mercadorias, a qual abrange 2
tão somente os avulsos, o que levou à improcedência da ação declaratória, prejudicando as pretensões condenatórias. A seu turno, a oposição foi julgada procedente, com declaração de que o sindicato oposto (primeiro recorrido) legitimamente representa os trabalhadores da requerida. Inconformado, recorre o autor. Pretende a reversão das decisões proferidas na ação e na oposição, com o reconhecimento de que é o legitimo representante de parte dos trabalhadores da requerida, com direito ao percebimento das contribuições sindicais postuladas na inicial. Assiste-lhe razão. Ressalta-se que, a princípio, a representação sindical se faz pela atividade preponderante do empregador, ressalvada apenas a hipótese de o trabalhador pertencer a categoria diferenciada, conforme previsto no parágrafo 3º do artigo 511 da CLT. Esta Egrégia SDC já fixou entendimento no sentido de que a categoria diferenciada dos movimentadores de mercadoria não abrange somente os avulsos, mas também os empregados. Veja-se a respeito o voto condutor do Acórdão proferido nos autos do proc. nº. 00250-2005-014-15-00-3, relatado pelo Exmo. Sr. Desembargador Federal do Trabalho, Dr. Lorival dos Santos Ferreira, cujos fundamentos peço licença para transcrever e adotar: REPRESENTAÇÃO SINDICAL/ CONTRIBUIÇÃO SINDICAL PATRONAL Sustenta o sindicato-autor que é o legítimo e único representante dos trabalhadores na movimentação de mercadorias em geral do município de Limeira, que se trata de categoria diferenciada, não dependendo, 3
portanto, da atividade econômica desenvolvida na empresa; argumenta que não pode prosperar a tese do ilustre magistrado a quo no sentido de restringir a representatividade do sindicato autor apenas aos trabalhadores avulsos, posto que o quadro anexo ao art. 577 da CLT aprovado pela Portaria 3204/88 não restringe a representação dessa categoria apenas aos avulsos e nem poderia, já que a lei faz referência expressa à palavra empregados ; afirma que o estatuto social do sindicato ou sua carta sindical fazem menção expressa a avulsos, sendo que, na verdade, mencionam expressamente somente trabalhadores em empresas privadas; aduz que, por meio da análise das RAIS, identificou inúmeros embaladores à mão, operadores de prensa de enardamento e operadores de empilhadeiras, que são funcionários intrinsecamente ligados à movimentação de mercadoria; requer seja declarada a representação legal do sindicato em relação aos trabalhadores na movimentação de mercadorias em geral de Limeira e, em decorrência, o deferimento das contribuições sindicais vindicadas. Historicamente, o trabalho de movimentação de mercadorias em geral surgiu, na sociedade, com o transporte aquaviário, e ao longo dos tempos, foi utilizado de acordo com a evolução dos sistemas de transportes, sendo certo que, no Brasil, a atividade dos movimentadores de mercadoria ganhou ênfase no 4
âmbito portuário, inicialmente, contudo, essa atividade espalhou-se pelo país, sendo necessária não apenas na zona portuária. De início, a atividade na movimentação de mercadorias era intermediada pelo sindicato, constituindo-se seus trabalhadores em avulsos, e mesmo o trabalho desenvolvido fora do porto, à semelhança do serviço portuário, era intermediado por seus sindicatos, sendo certo que, através da Lei 8630/93, no regime de exploração dos portos organizados e instalações portuárias, foi abolida a atuação do ente sindical na intermediação do labor prestado nas lides portuárias, tarefa que passou a ser exercida pelos Órgãos Gestores de Mão de Obra (OGMO). Na hipótese retratada, verifica-se que a categoria profissional dos trabalhadores na movimentação de mercadorias em geral foi criada pela Portaria MTb 3176/87. Essa nova categoria foi criada com o intuito de representar indistintamente todos os trabalhadores que prestam serviços no setor de movimentação de cargas, ou seja, não apenas os que prestam serviços em zona portuária, como também os que prestam serviços em zonas urbanas. E, com a edição da Portaria MTb 3204/88, os 5
trabalhadores na movimentação de mercadorias em geral passaram a ser agregados em categoria diferenciada, integrante do 3º Grupo Trabalhadores no Comércio Armazenador do plano da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio, previsto no quadro de atividade e profissões a que se refere o art. 577 da CLT. Em razão disso, pode-se afirmar que, segundo o Quadro de Atividade, constituem categorias diferenciadas as dos aeroviários; aeronautas; atores teatrais, cenotécnicos e auxiliares de teatro; cabineiros; classificadores de origem vegetal; condutores de veículos rodoviários; desenhistas técnicos, artísticos, industriais, copistas, projetistas técnicos e auxiliares; profissionais de enfermagem, técnicos, duchistas, massagistas e empregados em hospitais e casas de saúde; práticos de farmácia; gráficos oficiais; jornalistas profissionais; manequins e modelos; maquinistas e foguistas de geradores termoelétricos e congêneres; trabalhadores em movimentação de mercadorias em geral; músicos profissionais; operadores de mesas telefônicas; parteiros; professores; trabalhadores em agências de propaganda; agenciadores de publicidade; publicitários; propagandistas e vendedores de produtos farmacêuticos; oficiais de radiocomunicações e radiotelegrafistas da Marinha Mercante; profissionais de relações públicas; secretárias; 6
técnicos de segurança do trabalho; trabalhadores em atividades subaquáticas e afins; tratoristas (exceto rurais); e vendedores e viajantes do comércio. Consoante a Classificação Brasileira de Ocupações de 2002 aprovada pela Portaria 397/02 do Ministério do Trabalho e Emprego, as ocupações arroladas no código 7822 operadores de equipamentos de movimentação de cargas incluem os operadores de empilhadeiras, operador de docagem e guincheiro. Considerando-se que a categoria de movimentação de mercadorias não faz qualquer menção aos trabalhadores avulsos, não há como se concluir que estariam excluídos dessa categoria os trabalhadores com vínculo empregatício. Destarte, considerando-se que o objeto social da reclamada é o comércio atacadista, importação e exportação de frutas em geral e insumos, e considerando-se, ainda, que na Relação Anual de Informações Sociais são indicados empregados que estariam atuando em ocupações arroladas no código 7822 da CBO de 2002 (vide fls. 353 e 364, exemplificativamente), deve ser dado provimento ao recurso para declarar a representatividade do sindicato autor em relação aos trabalhadores que integrem as ocupações arroladas sob o código 7822 da CBO de 2002, autorizando-se a cobrança das 7
contribuições sindicais respectivas, com juros e correção monetária, além da multa postulada, que observar os ditames do art. 412 do Código Civil. DJ 30.01.2009. No caso presente, a requerida tem por objeto o comércio varejista de produtos alimentícios e distribuição de cestas básicas (fl. 55). Resta saber se parte de seus funcionários pode se enquadrar como movimentadores de mercadorias. Nos termos do artigo 2º da Lei nº. 12.023 de 27.08.2009 São atividades da movimentação de mercadorias em geral: I cargas e descargas de mercadorias a granel e ensacados, costura, pesagem, embalagem, enlonamento, ensaque, arrasto, posicionamento, acomodação, reordenamento, reparação da carga, amostragem, arrumação, remoção, classificação, empilhamento, transporte com empilhadeiras, paletização, ova e desova de vagões, carga e descarga em feiras livres e abastecimento de lenha em secadores e caldeiras; II operações de equipamentos de carga e descarga; III pré-limpeza e limpeza em locais necessários à viabilidade das operações ou à sua continuidade Após apresentação das relações anuais de informações sociais pela requerida, o autor indicou, como integrantes da categoria diferenciada que representa, os seguintes profissionais com os respectivos códigos ocupacionais: 8
49090 vendedor de comércio varejista; 55220 faxineiro 521110 vendedor de comércio varejista; 784105 embalador; 514210 faxineiro; 511125 repositor; 783225 ajudante de motorista De todos esses, somente se enquadram como movimentadores de mercadorias, de acordo com o Código Brasileiro de Ocupações do Ministério do Trabalho (http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/pesquisas/buscaportituloresultado.jsf), os ajudantes de motorista (código 783225). Declaro, portanto que o recorrente representa os empregados da requerida que atuam na função de ajudantes de motorista. Considerando que esse profissional somente se apresenta na RAIS de 2006, condeno a requerida a pagar ao recorrente as contribuições sindicais referentes aos empregados por ele representados apenas no exercício de 2006, acrescidas de juros, atualização monetária e multa, observado o limite do artigo 412 do Código Civil. Deixo de condenar em parcelas vincendas, uma vez que não há como saber, antecipadamente, se haverá empregados da requerida representados pelo requerente no futuro, tampouco o respectivo número. Arbitra-se em R$1.000,00 a condenação. Reconhecido que o recorrente representa a categoria diferenciada dos movimentadores de mercadorias que atuam em favor da requerida, julga-se improcedente oposição. 9
Do exposto decido conhecer e dar provimento ao recurso para declarar a representatividade do SINDICATO DOS TRABALHADORES NA MOVIMENTAÇÃO DE MERCADORIAS EM GERAL DE LIMEIRA em relação aos trabalhadores integrantes da categoria diferenciada dos movimentadores de mercadorias (CBO 7832), condenando a requerida a satisfazer-lhe as contribuições sindicais postuladas para o ano de 2006, em relação aos ajudantes de motorista, acrescidas de juros, correção monetária e multa, observado o limite do artigo 412 do Código Civil, tudo nos termos da fundamentação. Por consequência, julga-se improcedente a oposição. Custas em reversão: da ação pela requerida, calculadas sobre o valor da condenação, no importe de R$20,00 e da oposição pelo opoente, sobre o valor da causa, no importe de R$20,00. ADELINA MARIA DO PRADO FERREIRA JUÍZA RELATORA 10