CARLOS HENRIQUE DE SOUZA



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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO EM EXERCÍCIO FÍSICO NA PROMOÇÃO DA SAÚDE CARLOS HENRIQUE DE SOUZA EXERCÍCIOS PARA O DESENVOLVIMENTO DAS CAPACIDADES NEUROMOTORAS EM IDOSOS Londrina 2015

CARLOS HENRIQUE DE SOUZA EXERCÍCIOS PARA O DESENVOLVIMENTO DAS CAPACIDADES NEUROMOTORAS EM IDOSOS Cidade ano AUTOR Relatório Técnico apresentado ao Centro de Pesquisa em Ciências da Saúde, Universidade Norte do Paraná, Unidade Piza, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre Profissional em Exercício Físico na Promoção da Saúde. Orientador: Prof. Dr. Denilson De Castro Teixeira Londrina - Paraná 2015

CARLOS HENRIQUE DE SOUZA EXERCÍCIOS PARA O DESENVOLVIMENTO DAS CAPACIDADES NEUROMOTORAS PARA IDOSOS Relatório Técnico apresentado à UNOPAR, referente ao Curso de Mestrado Profissional em Exercício Físico na Promoção da Saúde, Área e Concentração Exercício Físico na Idade Adulta como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre Profissional conferido pela Banca Examinadora: Prof. Dr. Denilson de Castro Teixeira Universidade Norte do Paraná Prof. Dr. Vanessa Suziane Probst Universidade Norte do Paraná Prof. Dr. Abdallah Achour Junior (Membro Externo) Prof. Dr. Dartagnan Pinto Guedes Coordenador do Curso

SOUZA, Carlos Henrique. Exercícios para o desenvolvimento das capacidades neuromotoras para idosos. 84. Relatório Técnico. Mestrado Profissional em Exercício Físico na Promoção da Saúde. Centro de Pesquisa em Ciências da Saúde. Universidade Norte do Paraná, Londrina. 2015. RESUMO As alterações biológicas decorrentes do processo de envelhecimento podem levar o idoso a ter prejuízos na sua capacidade funcional, que por sua vez, pode levá-lo à perda da sua independência física. A prática de exercícios físicos é apontada como um dos principais recursos para a manutenção da funcionalidade física, sobretudo exercícios que venham manter as capacidades neuromotras dos idosos que estão relacionadas diretamente à manutenção da atividade funcional. Os exercícios neuromotores, apesar de serem importantes para a manutenção da capacidade funcional de idosos ainda são pouco trabalhados em programas de exercícios para essa população. Com base nessas considerações, este trabalho tem como objetivo desenvolver uma mídia para auxiliar profissionais de Educação Física a prescreverem exercícios físicos para o desenvolvimento das capacidades neuromotoras para a população idosa fisicamente independente. A mídia será veiculada em DVD e incluirá exercícios para o desenvolvimento do equilíbrio corporal, coordenação motora, tempo de reação e agilidade corporal. As estratégias apresentadas contarão com exercícios individuais, em duplas e em grupos, com a utilização de materiais alternativos e sempre que possível, de baixo custo. Palavras-chave: Neuromotor. Exercício físico. Habilidades motoras. Idosos.

SOUZA, Carlos Henrique. Exercises for the development of neuromotor skills for seniors. 84. Relatório Técnico. Mestrado Profissional em Exercício Físico na Promoção da Saúde. Centro de Pesquisa em Ciências da Saúde. Universidade Norte do Paraná, Londrina. 2015. ABSTRACT The biological changes resulting from the aging process can lead the elderly to take losses on their functional capacity, which in turn, can lead you to loss of physical independence. The physical exercise is seen as one of the main resources for the maintenance of physical functioning, especially exercises that will keep neuromotor capabilities of elderly people who are directly related to the maintenance of functional activity. Neuro-motor exercises, although they are important for the maintenance of functional capacity of older people they are still little explored in exercise programs for this population. Based on these considerations, this study aims to develop one media to assist professionals of Physical Education to prescribe exercise for the development of neuromotor abilities to physically independent elderly population. The media will run on DVD and include exercises for the development of body balance, coordination, reaction time and body agility. The strategies presented will have performed individually, in pairs and in groups, with the use of alternative materials and whenever possible, low cost. Key words: Neuromotor. Physical exercise. Motor skills. Elderly.

Sumário 1. INTRODUÇÃO... 7 2. REVISÃO DE LITERATURA CONTEXTUALIZAÇÃO... 10 2.1 PROCESSO DE ENVELHECIMENTO... 10 2.2 ENVELHECIMENTO E ALTERAÇÕES NA APTIDÃO FUNCIONAL... 14 2.3 EXERCÍCIO FÍSICO PARA IDOSOS... 16 2.4 CAPACIDADES NEUROMOTORAS NO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO... 19 2.4.1 EXERCÍCIOS NEUROMOTORES... 22 2.4.1.1 Equilíbrio... 22 2.4.1.2 Tempo de Reação... 24 2.4.1.3 Agilidade... 24 2.4.1.4 Coordenação Motora... 25 3. DESENVOLVIMENTO... 27 3.1 IDENTIFICAÇÃO DAS NECESSIDADES PARA O DESENVOLVIMENTO DA MÍDIA.... 27 3.2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA... 27 3.3 ELABORAÇÃO E SELEÇÃO DOS EXERCÍCIOS... 27 3.3.1 Exercícios de equilíbrio... 28 3.3.2 Exercícios para Coordenação Motora... 28 3.3.3 Exercícios de Tempo de Reação... 28 3.3.4 Exercícios de Agilidade Corporal... 28 3.4 CONTRATAÇÃO DE PROFISSIONAL PARA A FILMAGEM DOS EXERCÍCIOS... 28 3.5 SELEÇÃO DE IDOSOS PARA A FILMAGEM DOS EXERCÍCIOS... 28 3.6 EDIÇÃO DO MATERIAL E FORMATAÇÃO DO PRODUTO... 29 3.7 REGISTRO DO MATERIAL E CARTÓRIO... 30 3.8 APRESENTAÇÃO DOS DVDS... 31 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS... 70 REFERÊNCIAS... 71 APÊNDICE A ARTIGO CIENTÍFICO... 76 APÊNDICE B PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA... 97 APÊNDICE C TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO... 98 APÊNDICE D TRABALHO APRESENTADO EM EVENTO CIENTÍFICO... 100

7 1. INTRODUÇÃO As mudanças biológicas decorrentes do processo de envelhecimento e do estilo de vida, como a redução da massa muscular e óssea, diminuição da capacidade cardiorrespiratória e redução da rede neural, podem trazer prejuízos à capacidade funcional do indivíduo idoso. Isto porque, essas alterações, que acontecem de maneiras diferentes, dependendo do sistema corporal, de fatores genéticos e estilo de vida, podem ultrapassar o limite da normalidade e serem acentuadas a ponto de provocar as incapacidades precocemente. A literatura científica há muito tempo reforça a posição de destaque do exercício físico como um importante recurso para minimizar essa degeneração, constituindo-se em prática obrigatória para uma velhice bem-sucedida 1. Considerando esse contexto, pesquisas científicas têm oferecido condições para que o planejamento de programas e prescrições de exercícios físicos para essa população, estejam em constante evolução, na busca por intervenções mais atrativas e eficientes. Uma das modalidades que há pouco tempo vem se posicionando como ferramenta importante é a dos exercícios resistidos, até então, pouco praticada por idosos, isto porque, quase não eram recomendados por profissionais da área médica, por serem associados ao treinamento de fisiculturistas, envolvendo assim preconceitos e desconhecimentos sobre as diferentes formas de treinamento e seus benefícios 2. Com a evolução do conhecimento científico da área, essa prática, é reconhecida atualmente, como uma das mais importantes intervenções para a preservação da funcionalidade física do idoso 3,4. Semelhantemente ao treinamento resistido, observa-se na atualidade, que exercícios de habilidades motoras voltados para a manutenção e melhora das capacidades neuromotoras, como equilíbrio, tempo de reação, agilidade corporal e coordenação motora, ainda são pouco trabalhados nos programas de exercícios físicos para idosos. Normalmente as intervenções se pautam quase que exclusivamente em conteúdos voltados à aptidão física relacionada à saúde como a força muscular, a capacidade cardiorrespiratória e a flexibilidade. Diferentemente dos fatores que levaram à falta de indicação da prática da musculação no passado, a pouca utilização dos exercícios neuromotores nos programas de exercícios físicos para idosos parece estar mais relacionada ao fato

8 de ser uma área de pesquisa mais recente dos que os exercícios físicos voltados à aptidão física relacionada à saúde e, consequentemente, por suas recomendações, feitas por órgãos e instituições competentes, também serem mais recentes. Sem desconsiderar a importância das capacidades voltadas à aptidão física relacionada à saúde para a aptidão física e funcional do idoso, a inserção nos programas de exercícios físicos de atividades para o desenvolvimento das capacidades neuromotoras tem se mostrado necessária. Estudos têm demonstrado que exercícios para o treinamento de habilidades motoras estão associados à melhora no equilíbrio, redução de quedas, melhora na atividade cognitiva e na atividade funcional 5,6,7. Mais recentemente, as recomendações do American College of Sports Medicine 8 para a prática de atividade física e exercício físico para adultos e a específica para idosos, publicada em 2009, sugerem a inclusão de atividades neuromotoras em programas de exercícios físicos para pessoas mais velhas, principalmente as que possam auxiliar na manutenção do equilíbrio e na prevenção de quedas. As quedas são consideradas uma das maiores ameaças à saúde e qualidade de vida do idoso por terem forte associação com as morbidades, incapacidades e mortalidade. A incidência de quedas na população de idosos aumenta com o avançar da idade 9 e os estudos conduzem a conclusões pouco animadoras com relação a elas, indicando que trinta por cento dos idosos com mais de 65 anos de idade caem pelo menos uma vez ao ano 10 sendo, aproximadamente os mesmos 30% destas quedas resultando em uma lesão que requer atenção médica. As quedas também são responsáveis diretas pelas fraturas, cerca de 10%, alimentando em 90% as estatísticas de aumento de fraturas do quadril, situação, que segundo Suzuki 12, representa a sexta maior causa de mortes entre pacientes com mais de 60 anos 12. Muitos estudos que utilizaram exercícios de equilíbrio e neuromotres verificaram efeitos positivos na mobilidade funcional e redução das quedas de indivíduos idosos 13. Sendo assim, considerando que essas atividades ainda são pouco difundidas e aplicadas na prática profissional, faz-se necessário a criação de materiais didáticos que possam auxiliar os profissionais que atuam com exercícios físicos para idosos a inserirem essas atividades em seus programas de exercícios físicos. Segundo levantamento realizado, praticamente é inexistente no Brasil material com o

9 conteúdo proposto neste trabalho à disposição dos profissionais que atuam com idosos. Acreditamos que o desenvolvimento de uma mídia, com conceitos, exemplos de exercícios e dicas de planejamento para esse fim, atende as necessidades profissionais e contribuirá para o desenvolvimento dessa área. A mídia, particularmente o DVD, possui um formato mais dinâmico e se adequa às características da proposta deste produto, pois permite uma visualização mais adequada dos exercícios e o comportamento dos idosos na sua execução. Ademais esse produto se enquadra nas Tecnologias de informação e comunicação (Tic s), estando em consonância com as propostas atuais governamentais, para a disseminação de conhecimentos, sobretudo, nos cursos de graduação e especialização. Espera-se que o desenvolvimento desta mídia, com orientações para a prescrição de exercícios neuromotores para idosos, possa contribuir com a capacitação dos profissionais e futuros profissionais de Educação Física e de áreas afins que trabalham com o movimento corporal, a aplicarem exercícios físicos para as habilidades motoras, como uma alternativa para a preservação da capacidade funcional de indivíduos idosos. Esse produto poderá ser útil como material didático em vários âmbitos da formação profissional ao ser disponibilizado em instituições de ensino superior, academias, clínicas de exercício e em sites especializados.

10 2. REVISÃO DE LITERATURA CONTEXTUALIZAÇÃO 2.1 PROCESSO DE ENVELHECIMENTO O envelhecimento é um fenômeno universal e por isso inevitável no ser humano. Esse processo não é uma simples passagem do tempo e sim, uma manifestação biológica, um fator deletério do organismo que não se sabe ao certo quando e onde se inicia. Segundo Papaléo Netto 14, o envelhecimento se processa basicamente de duas formas: a senescência e a senilidade. A senescência se resulta do somatório das alterações orgânicas, funcionais e psicológicas, próprias do envelhecimento natural em que essas alterações ocorrem sem comprometer bruscamente a homeostase do organismo, enquanto que a senilidade se constitui por mudanças determinadas por afecções que frequentemente acometem as pessoas idosas, e podem acelerar o processo de envelhecimento. A ciência tem dificuldades em precisar os parâmetros para a classificação do indivíduo nesses dois processos, pois muitas vezes a linha entre senescência e senilidade é tênue; isto porque, esses processos são permeados por influências genético-biológicas e ambientais 15. Apesar da evolução do conhecimento científico e das pesquisas nas áreas da Geriatria e Gerontologia, ainda existem dúvidas a respeito de como e porque envelhecemos. Apesar dessas dúvidas há consenso de que esse processo se inicia por volta dos 30 anos de idade e é caracterizado pela diminuição contínua da reserva física e funcional adquirida no processo de crescimento e desenvolvimento físico 16,17,18. Farinatti 18 ressalta que há teorias que tentam explicar a gênese do envelhecimento humano e que elas são enquadradas em duas categorias: as de natureza genético-desenvolvimentista e de natureza estocástica. As primeiras entendem o envelhecimento no contexto de um continuum, programado geneticamente, enquanto as últimas trabalham com a hipótese de que o processo dependeria, principalmente, do acúmulo de agressões ambientais, como poluição, radiação, produtos químicos e alimentação. Independentemente da categoria, é bem aceito que o ser humano envelhece porque erros ocorrem no interior das células na transcrição e transporte de material genético, ou mutações somáticas. Esses erros acarretariam consequências negativas à renovação celular, gerando células

11 defeituosas ou empobrecendo sua população, repercutindo em longo prazo na função de sistemas orgânicos inteiros. À medida que o indivíduo envelhece, suas reservas fisiológicas diminuem, provocando alterações nos sistemas cardiorrespiratório, neurológico e na composição corporal. Essas mudanças podem levar ao declínio das funções físicas do idoso, que podem ser mais ou menos acentuadas de acordo com o estilo de vida adotado ao longo dos anos 18,20,21. As principais alterações são descritas a seguir. A função cardiovascular depende da estrutura e da função do coração, do volume e componentes do sangue em circulação no organismo, da árvore arterial, que ao longo do processo de envelhecimento diminui a sua elasticidade. Com o passar dos anos essas alterações afetam o retorno venoso, no qual o efeito-bomba exercido pelos músculos dos membros inferiores e a função das válvulas venosas é comprometida 22. Essas alterações têm efeitos mínimos nos indivíduos em repouso, mas tornam-se mais importantes durante o exercício físico 23. Vários estudos buscam explicar o declínio da capacidade aeróbica máxima no processo de envelhecimento, em função das alterações no sistema cardiovascular central, mas poucos levam em consideração as múltiplas variáveis que provavelmente exerçam influência neste declínio, tais como aspectos culturais, diferenças no condicionamento físico e atividade física habitual 24,17. Com o avançar da idade o volume máximo de oxigênio (VO 2max ) diminui e em condições não patológicas esta alteração não implica em modificações importantes na função respiratória, o que ocorre são mudanças nas estruturas pulmonares, vias aéreas e caixa torácica, sendo um dos motivos das limitações da ventilação pulmonar na prática do exercício físico pelo indivíduo idoso. Fatores genéticos e estilo de vida também exercem influências na capacidade cardiovascular e respiratória do idoso 21,25. Mudanças associadas ao envelhecimento também ocorrem na composição corporal, que é constituída basicamente por dois elementos: a massa livre de gordura, ou massa magra 26. A massa magra, além dos órgãos, é constituída pelos sistemas ósseo e muscular passíveis de alterações mais importantes e que geram maiores influências no decorrer do envelhecimento. Com o passar do tempo, as alterações biológicas, somadas ao estilo de vida, como alimentação e prática de exercícios físicos, provocam mudanças importantes na composição corporal dos indivíduos como aumento da massa de gordura, e diminuição dos componentes

12 ósseo e muscular. Essas alterações podem repercutir negativamente na saúde do idoso, caso diminua drasticamente as suas reservas funcionais 17,18. O Sistema neurológico também sofre alterações no processo de envelhecimento, principalmente no sistema nervoso central (SNC). Segundo Drachman 27 mudanças neurobiológicas e neurofisiológicas ocorrem no cérebro como a diminuição das sinapses, lentidão do fluxo axoplasmático, mudanças neuroquímicas e estruturais. O SNC é o responsável pelas sensações, movimentos, funções psíquicas e pelas funções biológicas internas. Com o avançar do tempo, esse sistema sofre uma deterioração geneticamente programada como consequência do envelhecimento celular e a finitude da capacidade das células se dividirem, renovar-se e regenerarse. É importante destacar, que além dos fatores genéticos, essas mudanças são decorrentes também de outros fatores intrínsecos como o sexo, sistema circulatório, metabólico e radicais livres; extrínsecos como ambiente, sedentarismo, tabagismo, drogas e radiação 28,29. As alterações no sistema nervoso são uma das principais causas das incapacidades em indivíduos idosos 30. Mesmo as mudanças desencadeadas pelo envelhecimento normal tornam esse sistema mais lento e com mudanças contínuas na cognição, função motora e nos órgãos dos sentidos como a visão, audição, paladar e olfato 31,32. As mudanças cognitivas associadas ao envelhecimento incluem alterações na memória de curto prazo, diminuição na velocidade de processamento de informações, especialmente na tomada de decisões e declínio no desempenho cognitivo, especialmente quando a atenção é dividida, como fazer duas ou mais tarefas ao mesmo tempo. Esses declínios podem trazer dificuldades ou impedir que o idoso tenha uma vida independente. É digno de nota, que o envelhecimento cognitivo não afeta os indivíduos da mesma maneira e que essas alterações podem variar consideravelmente 31. A maioria dos idosos desenvolve algum grau de déficit de memória com a idade, especialmente após os 70 anos e, as mulheres com mais de 85 anos tendem a ter mais alterações cognitivas do que os homens. As causas não são bem conhecidas, mas acredita-se que se deve a diversos fatores como doenças, seleção natural em que os homens mais saudáveis possuem maior longevidade e diferenças sociais e ambientais que permitem a eles maiores vantagens, sobretudo na estimulação cognitiva 32. Há um consenso de que o envelhecimento cognitivo normal é influenciado por processos genético biológicos, também chamado de inteligência fluída e, de

13 natureza sociocultural, denominado de inteligência cristalizada 33. Os aspectos genéticos biológicos determinam os declínios no funcionamento sensorial e diminuição na velocidade de processamento de informações, ambos associados a alterações neurológicas típicas do envelhecimento. Já o processo de natureza sociocultural, pode ter uma ação compensatória em relação às perdas do envelhecimento biológico 34,35. Dentro desse contexto, Etnier e Berry 36 destacam que o processo de envelhecimento parece não afetar todos os aspectos da memória e inteligência igualmente e, que a idade influencia negativamente a inteligência fluída (raciocínio, memória, orientação espacial e velocidade perceptual), mas parece não influenciar ou provocar efeitos positivos na inteligência cristalizada (processo de socialização e experiência, como habilidades de leitura e escrita, qualificações educacionais e profissionais e capacidade de resolver problemas). Como já ressaltado anteriormente, os idosos encontram mais dificuldades para realizarem múltiplas tarefas simultaneamente, sendo assim, durante um exercício, por exemplo, quando um idoso está concentrado em um movimento particular ou exercício, ele pode parar o movimento completamente se alguém lhe perguntar alguma coisa. O declínio da função cognitiva pode levar o idoso a perder a sua autonomia, a aumentar o risco de quedas, a ter dificuldades de interagir com o ambiente de forma eficiente, especialmente em novas circunstancias 31. Mudanças relacionadas à idade no sistema nervoso central e periférico resultam na lentidão do tempo de reação simples e de escolha e redução da velocidade da condução nervosa em aproximadamente 10 a 15%, bem como as mudanças na habilidade para integrar a informação sensorial recebida. Mudanças neurológicas significativas incluem o decréscimo da propriocepção no pé e tornozelo, decréscimo da sensibilidade vibratória nos pés e reduz a função do sistema vestibular 37. Essas mudanças são continuas com o avançar da idade e afetam mais as os membros inferiores do que superiores 31. O desempenho de tarefas motoras que requerem processamento do sistema nervoso central é desacelerado com a idade, particularmente aquelas que requerem integração sensorial, organização ou preparação de resposta. Os idosos podem cometer erros mais graves de desempenho motor quando necessitam se mover mais rápido do que em habilidades que exigem se mover com maior precisão. Anormalidades somatossensoriais, tais como dificuldades de posicionamento do corpo no espaço ou na sensibilidade ao toque, são associadas ao aumento na

14 incidência de quedas e instabilidade postural 31. Os autores ressaltam ainda, que as mudanças no processamento do sistema nervoso central afetam também os movimentos dos membros inferiores diretamente relacionados à manutenção da postura. As alterações no sistema neurológico afetam também a visão e audição dos idosos. As mudanças anatômicas na córnea, lentes, íris, humor vítreo e córtex visual resultam em uma progressiva alteração visual, que podem iniciar em idades mais precoces da vida. A acuidade visual decresce com a idade, com algum prejuízo na visão de perto e foco. Particularmente após os 50 anos ocorrem também mudanças na sensibilidade de frequência espacial, visão periférica, sensibilidade ao brilho, adaptação ao escuro, percepção de profundidade e sensibilidade ao contraste 37. Fuller 38 acrescenta que o processamento da informação visual e auditiva é diminuído, tendo como consequência dificuldades na discriminação de figuras e seus detalhes, diminuição do campo visual e redução do poder de discriminação fonética. A audição e função vestibular também diminuem com a idade. A audição normal e interpretação de sons dependem da acuidade, localização do som e a habilidade para mascarar sons estranhos, todos os quais, declinam com a idade. Pessoas idosas comumente queixam-se da audição ao ouvirem alguém falando, e às vezes não conseguem entender o sentido das palavras 31. Enfim, entender as principais alterações no organismo do idoso é dever do profissional que irá atuar com eles, mas é importante que considere que as alterações descritas sofrem forte influência do meio ambiente e estilo de vida e que podem ocorrer em ritmos diferenciados entre cada indivíduo. É comum em um mesmo grupo de idosos encontrarmos indivíduos com capacidades funcionais bem diferentes, o que vai exigir competência e sensibilidade do profissional ao planejar as atividades motoras para essa população. 2.2 ENVELHECIMENTO E ALTERAÇÕES NA APTIDÃO FUNCIONAL O envelhecimento bem sucedido parece depender consideravelmente das condições de independência física e autonomia do indivíduo idoso. Nesse sentido, a manutenção da capacidade de realizar as tarefas do cotidiano é um dos principais aspectos neste contexto. Essa condição, também denominada de capacidade

15 funcional é conceituada por Neri 39 como o grau de preservação da capacidade de realizar tarefas do cotidiano. Spirduso 18 ressalta que a capacidade funcional é composta pelas atividades básicas da vida diária (AVD) e atividades instrumentais da vida diária (AIVD). As atividades básicas estão relacionadas às atividades de higiene pessoal como o auto-cuidado, tomar banho, se vestir e alimentar-se. Já, as atividades instrumentais, são aquelas que requerem maiores deslocamentos e maior gasto energético como arrumar a casa, ir às compras e utilizar transporte coletivo. A capacidade funcional do indivíduo idoso é influenciada por diversos fatores, dentre eles as alterações biológicas inerentes ao processo de envelhecimento, já citadas anteriormente, e o estilo de vida adotado ao longo da sua existência 16. As alterações estruturais (biológicas) no organismo do indivíduo gradativamente influenciarão a sua função, ou seja, se o idoso diminuir consistentemente a sua capacidade de exercício, como a diminuição da força muscular e da capacidade cardiorrespiratória, consequentemente acarretará prejuízos à sua capacidade de realizar suas tarefas cotidianas 18. Sendo assim, o desempenho e condição para a realização das atividades cotidianas pelo idoso sofrem importantes variações que vão da incapacidade total à execução com alto desempenho. Com base nas observações dessa realidade, Spirduso 17 propõe o Nível de Status Funcional que constitui na classificação do idoso por sua atividade funcional e prática de atividades físicas e esportivas. A autora propõe a classificação do idoso em cinco níveis independente da idade cronológica: 1) fisicamente dependente, 2) fisicamente frágil, 3) fisicamente independente, 4) fisicamente apto e 5) atleta de elite. Essa classificação é um meio prático e adequado para o profissional de Educação Física conhecer as diferenças funcionais dos idosos e se instrumentalizar para oferecer programas de exercícios físicos adequados para essa população. Na sequência, são apresentados os cinco níveis de Status funcional proposto por Spirduso 17 e suas principais características. Fisicamente dependente: o idoso nesse nível depende de cuidados contínuos de terceiros e, por serem muitos frágeis, não conseguem realizar sozinhos as AVDs e as AIVDS. Fisicamente frágil: o idoso desse nível depende de cuidados parciais de terceiros. Conseguem realizar as AVDS, ou quase todas, mas mantém dificuldades em realizar as AIVDs, ou seja, manter o ambiente externo à casa, como fazer compras e

16 pegar transporte. Fisicamente independente: o idoso desse nível é fisicamente independente, com autonomia funcional por conseguir realizar as AVDs e AIVDs sem ajuda. Apesar dessa independência, possui baixa reserva funcional, é sedentário e está sujeito a cair para o nível 2. Fisicamente aptos: o idoso desse nível é independente e com maior reserva física. Normalmente está inserido em programas de exercícios físicos. Atletas de elite: possui ótima condição física e treinam e regulamento para melhorar o seu desempenho esportivo. Não há estudos específicos com a população idosa brasileira que indique a porcentagem de idosos em cada um dos níveis propostos por Spirduso 17, mas acredita-se que os números são próximos da realidade americana com a qual a autora desenvolveu seus estudos. Estima-se que nos Estados Unidos, cerca de 20% da população idosa possui algum grau de dependência física, necessitando de cuidados de terceiros e, somente 5% possui uma ótima condição física e se mantém inserida regularmente em práticas de exercícios físicos. Sendo assim 75% dos idosos são fisicamente independentes e realizam suas atividades cotidianas normalmente, mas apresentam baixa aptidão física e funcional, o que os colocam mais vulneráveis a contrair doenças e agravos que levem a fragilidade física e a consequente dependência. 2.3 EXERCÍCIO FÍSICO PARA IDOSOS Evidências científicas têm apontado a prática de exercícios físicos como um dos principais recursos para a manutenção da aptidão física e funcional de indivíduos idosos. Nesse sentido, Mazo, Cardoso e Aguiar 40 ressaltam que em um contexto geral, a prática de exercícios físicos traz inúmeros resultados positivos e benefícios para a saúde, ou seja, quem mantém um estilo de vida saudável e ativo, tem maiores chances de prevenir e minimizar os efeitos degenerativos da idade. Os autores destacam ainda, que além dos benefícios fisiológicos e anatômicos, o exercício físico também exerce influências positivas na auto eficácia, autoestima e sensação de bem-estar mental. Peterson et al. 41, por meio de uma meta-análise investigaram os efeitos dos

17 exercícios de resistência muscular no ganho de força de indivíduos idosos. Foram incluídas 47 pesquisas totalizando 1079 participantes e, apesar da heterogeneidade entre os estudos, os resultados apontam para um efeito positivo de ganho de força, e que quanto mais intenso for o treino maior são os benefícios, sendo os exercícios de resistência muscular uma estratégia a ser considerada para impedir a fraqueza muscular relacionada ao processo de envelhecimento. Em outra meta-análise realizada por Peterson, Sen e Gordon 42, cujo objetivo foi determinar os efeitos dos exercícios de resistência na composição corporal de homens e mulheres idosos, 49 estudos foram considerados totalizando 1328 participantes. A meta-regressão apontou que as intervenções com maior volume de treinamento e os idosos mais jovens tiveram associações significativas mais fortes com o aumento da massa corporal magra. Miller et al. 43 argumentam em um estudo de revisão que o exercício físico tem sido considerado como um dos fatores da promoção de um envelhecimento cognitivo saudável. Segundo os autores, vários estudos tentam comprovar esta hipótese, mas encontram dificuldades metodológicas em suas pesquisas que dificultam uma conclusão geral a este respeito. Nos estudos considerados, a associação entre exercício e cognição preservada durante o envelhecimento é demonstrada, mas a hipótese específica de que o exercício físico é uma das causas do envelhecimento cognitivo saudável ainda precisa ser validada. As atividades físicas, sociais e mentais são apontadas como intervenções que promovem um envelhecimento cognitivo saudável, o que se desconhece ainda é qual o tipo ou os tipos de atividades que contribuiriam de maneira sistemática a este fim. Em relação às capacidades neuromotoras, vários estudos de intervenção com idosos tem sido realizados com o objetivo de avaliar a sua eficácia. Em estudo realizado por Ueno et al. 44 em que foram avaliados 94 idosos independentes participantes de diferentes modalidades de exercícios físicos, durante quatro meses, três vezes por semana, com duração de 45 a 60 minutos, constataram que a prática regular de atividade física orientada e sistematizada independente da modalidade, melhoram os componentes agilidade e equilíbrio dinâmico. Já Lima et al. 45, que realizaram um estudo de intervenção experimental, verificaram que treze semanas e meia de exercícios neuromotores, três vezes por semana, foram suficientes para melhorar o equilíbrio e a agilidade de idosos com déficits nessas capacidades. É importante destacar que a melhora do desempenho neuromotor, parece

18 também estar associada ao maior nível de atividade física habitual em idosos fisicamente independentes. Em um estudo transversal, realizado com 202 idosos de ambos os gêneros, Piccoli et al. 46 verificaram correlações positivas entre a atividade física habitual e a coordenação motora global (r=0,27; p<0,01) e o equilíbrio estático (r=0,19; p<0,01) desses idosos. As inúmeras pesquisas realizadas e publicadas sobre os efeitos da prática de exercícios físicos para a população idosa, independente da modalidade, têm fornecido subsídios para os consensos e ou recomendações para guiar a atuação dos profissionais que trabalham com o exercício. Normalmente a construção e publicação dessas recomendações ficam a cargo de instituições ou organizações com credibilidade nas áreas da atividade física, exercício físico e esporte, como por exemplo, o American College of Sports Medicine 8, que há décadas tem apresentado as recomendações de prática de atividade física e exercício físico para as diversas faixas etárias. Em sua mais recente publicação, a American College of Sports Medicine 8, com base em uma revisão de diversos estudos, apresenta de maneira mais explícita a recomendação da prática de exercícios neuromotores para os idosos, que envolvem principalmente o equilíbrio, a agilidade, a marcha, a coordenação motora e o treinamento proprioceptivo, somando-se às recomendações existentes há mais tempo, relacionadas à aptidão física e saúde, que são as capaciadades de resistência, de força muscular e flexibilidade. A orientação é que essas atividades sejam desenvolvidas de duas a três sessões semanais de 20 a 30 minutos de duração, inclusas nas sessões de exercícios de > 60 minutos incluindo os mais tradicionais exercícios cardiorrespiratórios, resistidos e de flexibilidade. O documento aponta ainda a importância desses exercícios para a melhora do comportamento motor, da propriocepção, da qualidade de vida e capacidade de diminuir os riscos de quedas. Programas de exercícios físicos que contemplem o desenvolvimento das capacidades neuromotoras podem auxiliar os idosos a atingir as recomendações do American College of Sports Medicine 1, ademais, podem também contribuir para a motivação e aderência à prática pelos idosos, pois esses exercícios geralmente são trabalhados em ambiente lúdico e descontraídos, com grande variedade de materiais tradicionais e alternativos, o que possibilita ao profissional a utilização de estratégias diversificadas.

19 2.4 CAPACIDADES NEUROMOTORAS NO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO As transformações biopsicossociais inerentes ao processo de envelhecimento já mencionadas no tópico anterior exigem com que os programas de exercícios físicos respeitem as modificações estruturais e funcionais no indivíduo idoso. A manutenção da boa aptidão física e funcional permite ao idoso boa saúde e condições para manter a sua funcionalidade física e autonomia. Assim, a prática de exercício físico é apontada como um importante recurso para o desenvolvimento e manutenção dessa condição no idoso. Para melhor compreensão das variáveis que envolvem o desenvolvimento das capacidades neuromotoras, serão apresentados alguns importantes conceitos para a compreensão desse contexto: - Capacidade motora: característica de uma pessoa, de origem genética, não modificável pela prática e que influencia o nível de desempenho a ser alcançado na execução de uma habilidade específica 47,48. Como exemplo, podemos citar as capacidades inatas do indivíduo como de equilíbrio, capacidade de coordenar movimentos, agilidade corporal, tempo de reação e ritmo. Um indivíduo só executará suas tarefas diárias e atividades esportivas se possuir um grau de desenvolvimento mínimo de suas capacidades motoras. - Habilidade motora: característica individual na realização de uma tarefa com objetivo específico, que exige movimentos voluntários do corpo e/ou membros, cujo nível da execução e destreza da tarefa é determinado pela capacidade motora e experiência do indivíduo para realizar tal movimento. O termo habilidade motora também é utilizado para mencionar a aptidão do indivíduo para realizar uma tarefa como executar um trabalho manual ou atividades de lazer como jogar futebol e a realização de movimentos altamente complexos realizados normalmente em praticantes de esportes de alto nível 47,48. As habilidades motoras estão presentes nas tarefas diárias como colocar uma tomada no plug, lavar louça e praticar esporte de lazer, por exemplo, e no alto rendimento como em uma série de alta complexidade como no basquetebol, driblar o adversário e a média ou longa distância arremessar e converter a cesta.

20 - Informação sensorial: é a informação proveniente de um estímulo sensorial (toque, visão, audição, paladar e olfato) que é enviado pelos receptores aferentes ao cérebro, que por sua vez analisa e processa essa informação em comandos (reação) desenvolvendo respostas adequadas a esses estímulos (via eferente). Essas informações são responsáveis para que o indivíduo perceba estímulos do ambiente externo e interno e reagir a eles. A informação sensorial (estímulos) é captada por células sensoriais ou terminações nervosas espalhadas por todo o corpo que garantem a adequada funcionalidade do corpo frente aos mais diversos estímulos ou informações 49. Exemplos: enxergar as coisas, ouvir um som, sentir o toque de um objeto ou outra pessoa na nossa pele, sentir o gosto dos alimentos, a temperatura ambiente, entre outros. - Percepção: Integração entre o que se sente e as informações psicologicamente significativas, provenientes de estímulos sensoriais periféricos já reconhecidos, promovendo interpretação e significado a esta nova sensação. Na percepção relacionada ao movimento, por exemplo, os sistemas sensorial/perceptual fornecem informações sobre o posicionamento do corpo no espaço e utilizam-se do ambiente para a regulação do movimento 49. - Sistema somatossensorial: é um sistema que se utiliza de receptores existentes nas articulações, nos músculos e tendões para o controle do reflexo espinhal para o ajuste da ação e contribuição para a percepção e controle do movimento proveniente de estímulos sensoriais 49, como por exemplo, o controle postural, o equilíbrio e a propriocepção. - Propriocepção: informa o cérebro sobre o estado de cada segmento corporal por meio da percepção das características do movimento corporal ou entre cada segmento. As vias neurais aferentes, sendo estes os receptores cutâneos, fusos neuromusculares, sistema de Golgi, receptores articulares, ouvido interno e sistema visual, enviam ao sistema nervoso central informações como a direção do movimento do corpo e/ou dos membros, velocidade, localização espacial e ativação muscular 47. - Aprendizagem: Catania 50 considera difícil uma definição única para aprendizagem, sendo dependente do contexto em que a palavra é utilizada. Pode-se

21 aprender sobre alguma coisa ou como fazer alguma coisa, sendo um processo onde se adquiri um comportamento ou conhecimento novo por meio da observação, do estudo e da experiência, podendo estes fatores ser independentes ou relacionados, que será adicionado ao repertório do que o indivíduo já sabe e ou já faz, promovendo ou não mudanças de forma relativamente permanente. - Aprendizagem motora: processo que leva à aquisição ou modificação do movimento, por meio da prática ou experiência. Esse processo leva a mudanças relativamente permanentes de uma ação motora, provenientes de procedimentos complexos de percepção/cognição e ação 49. Como exemplo, podemos citar o aprendizado de um novo movimento como quicar a bola por meio da repetição de movimentos. - Controle Motor: habilidade de regular ou direcionar os mecanismos essenciais do movimento, direcionado ao estudo da natureza do movimento e como o movimento é controlado ao longo da vida, envolvendo aspectos neurais, físicos e comportamentais. O controle motor tem o seu foco no controle do movimento já adquirido 51,49. Exemplos: Acompanhamento do controle postural e da coordenação motora no decorrer do processo de envelhecimento. - Desenvolvimento motor: Processo contínuo de mudanças no comportamento motor relacionado à idade, podendo, neste sentido, ser mais rápido ou lento em diferentes períodos e também, de acordo com características individuais e do meio ambiente 53,51. - Exercícios neuromotores: são atividades que incorporam habilidades motoras tais como, equilíbrio, coordenação, marcha, agilidade e treinamento proprioceptivo 8,52,17. Os conceitos desenvolvidos neste capítulo são importantes para o entendimento do conteúdo a seguir, os quais serão apresentados exemplos de atividades neuromotoras, bem como aspectos a serem considerados no planejamento das mesmas.

22 2.4.1 EXERCÍCIOS NEUROMOTORES Os exercícios neuromotores são atividades que objetivam estimular o desenvolvimento das capacidades neuromotoras como equilíbrio, tempo de reação, agilidade, coordenação motora e ritmo. São considerados importantes para o trabalho com as pessoas idosas, pois estão associados à melhora da mobilidade e a uma consequente movimentação mais segura e independente. Esses exercícios também estão relacionados à diminuição dos riscos de queda, à manutenção e/ou melhora dos níveis funcionais, e à contribuição para a manutenção da autonomia e longevidade desses indivíduos 8,52,17. O seu desenvolvimento tem sido apontado pelo American College Sports of Medicine 8 como fundamentais, incluindo os exercícios neuromotores na prescrição de atividades para indivíduos idosos. 2.4.1.1 Equilíbrio O equilíbrio corporal é conceituado por Spirduso 17 como a habilidade do corpo em manter-se sobre sua base de apoio, sendo que esta base pode estar parada ou em movimento, assim o equilíbrio é classificado como estático, dinâmico e rotacional. Essas condições são alteradas de acordo com a postura ou deslocamento do corpo. A identificação e exemplificação dessas três formas de equilíbrio são apresentadas a seguir: Estático: habilidade do corpo em manter-se em certa posição estacionária, como por exemplo, na posição em pé com apoio bipodal e unipodal, posição sentada entre outras. Dinâmico: habilidade do indivíduo em manter o equilíbrio quando em movimento de um ponto a outro, exigindo inclinação do corpo para frente, para os lados ou para trás, como por exemplo, em atividades de apanhar um objeto em cima de uma mesa e abrir a porta. O equilíbrio dinâmico pode ser executado em situações de deslocamento e no equilíbrio recuperado, em que o indivíduo desloca o centro de

23 massa do seu corpo, desestabilizando a sua postura e recupera o seu equilíbrio, como por exemplo, dando um passo à frente para não cair, quando a pessoa está em pé em um transporte coletivo e esse executa uma parada brusca. Os sistemas sensoriais visual, vestibular e somatossensorial (propriocepção) são responsáveis pela manutenção do equilíbrio e por isso, devem ser estimulados por meio de estratégias de exercícios variados e combinados. A visão é responsável por informações espaço-temporais e pela identificação de possíveis obstáculos no ambiente a ser interagido. O sistema vestibular, localizado no ouvido interno, controla as oscilações posturais, o equilíbrio dinâmico e rotacional, fornecendo informações sobre os movimentos da cabeça. Já o sistema somatossensorial inclui informações da pele (receptores cutâneos), articulações (receptores articulares) e posturais/vibratórios (receptores musculares), importantes para a percepção dos movimentos corporais 49,17. Também há células especiais nos sistemas somatossensorial (neurônios aferentes do grupo I e II, moto neurônios) e visual (bastonetes, cones, células bipolares e células ganglionares) que respondem melhor ao estímulo móvel e são sensíveis à direção 49. Eckert 54 alega que o equilíbrio é importante para que ajustes corporais ocorram rapidamente quando há variação do centro de gravidade e no tamanho da base de apoio nos mais variados movimentos corporais do cotidiano ou em exercício, sendo importante a variabilidade de atividades favorecendo assim o equilíbrio global do indivíduo. A diminuição do equilíbrio em idosos, que leva à instabilidade postural, pode estar relacionada às várias mudanças que ocorrem nos sistemas corporais do ser humano com o passar dos anos, como as alterações no sistema neurológico, diminuição das fibras musculares de contração rápida e a perda significativa da força muscular 51. Assim, a preservação do equilíbrio do idoso depende de vários fatores e, sob o ponto de vista biológico é preciso adotar nas intervenções tanto exercícios

24 específicos para o equilíbrio como para a manutenção ou melhora das capacidades físicas como força, velocidade e potência muscular. 2.4.1.2 Tempo de Reação O tempo de reação representa o tempo que um indivíduo demora entre o estímulo apresentado e a ativação da musculatura apropriada para desempenhar uma tarefa 55,49,56. Esse período é composto por três estágios: identificação do estímulo (percepção), seleção da resposta (decisão) e programação da resposta (ação). O estímulo pode ser visual, auditivo e/ou tátil, ou seja, o indivíduo pode reagir ao estímulo de um som, como atender o interfone; reagir ao atravessar a rua quando o sinal verde é sinalizado ao pedestre e reagir ao toque, quando, por exemplo, o indivíduo encosta parte do seu corpo em um objeto quente ou quando outra pessoa a toca. Shumway-Cook e Woollacott 49 destacam que os movimentos voluntários solicitam um tempo maior de processamento do que os movimentos reflexos ao reagirem a um estímulo sensorial ou proprioceptivo, sendo que os estímulos visuais têm resposta mais lenta em relação aos outros. As autoras destacam também que o tempo de reação é mais rápido se o indivíduo conhece a resposta a ser dada e é menor quando se acrescenta informações, ou seja, opções ao longo do processo. Nesse sentido, quando a situação envolve apenas um estímulo e uma resposta, como se deparar com um obstáculo e parar é denominado de tempo de reação simples e quando envolve outras opções de estímulos ou respostas como, por exemplo, recuar ou correr ao atravessar a rua quando um carro aparece subitamente, ou reagir diferentemente a estímulos diversos, são denominados de tempo de reação de escolha. A habilidade de reagir rapidamente a um estímulo, também é recrutada em diversas atividades do cotidiano como pegar um objeto rapidamente antes que caia no chão, sair de um elevador quando a porta se abre automaticamente, entre outras. 2.4.1.3 Agilidade A agilidade corporal é caracterizada pela ação de se locomover o mais rápido possível, em diversas direções com alteração do centro de gravidade 57,55. Essa

25 habilidade é utilizada em várias situações do cotidiano como correr para pegar um ônibus, atender rapidamente o telefone e deslocar-se rapidamente para atravessar uma rua. Com o passar dos anos a velocidade de locomoção diminui gradualmente, levando o idoso a demorar mais para concluir algumas tarefas físicas relacionadas às AVDs (atividades da vida diária) e AIVDs (atividades instrumentais da vida diária) e as atividades laborais. Essas alterações podem aumentar a pressão social sobre os idosos, intimidando-os e desestimulando-os a terem uma participação ativa dentro e fora de suas casas 17. Com a prática de exercícios físicos regulares e devidamente orientados, a conservação dos níveis de agilidade pode levar a uma redução de acidentes domésticos em indivíduos idosos 57, inclusive às quedas. 2.4.1.4 Coordenação Motora Coordenação motora é a capacidade de integrar sistemas motores separados por estruturas sensoriais e articulares em um movimento eficiente 53. Ela depende dos componentes de aptidão motora de equilíbrio, velocidade e de agilidade, porém não está necessariamente alinhada à força e à resistência 57. Sendo assim, a coordenação motora representa a organização corporal do ser humano, permitindo que o corpo mantenha o equilíbrio entre os grupos musculares grandes ou pequenos com intensidade adequada a um movimento ou sequência de movimentos simples ou complexos de forma eficiente, respondendo a comandos neurológicos ligados as funções automáticas como pressão, caminhada e respiração 58,59,17. A coordenação motora apresenta variações em relação a sua complexidade. De acordo com Eckert 54, a coordenação do movimento se torna mais complexa à medida que se aumenta o número de segmentos corporais envolvidos na tarefa e o nível de experiência no movimento completo. A coordenação motora é classificada em coordenação motora fina e grossa, que são baseadas na precisão dos movimentos e ao efeito correspondente da musculatura requerida para o sucesso da execução da tarefa (movimento). A coordenação motora fina envolve movimentos precisos, realizados com grupos musculares menores, como por exemplo, em atividades manipulativas como costurar um botão, desenhar e cortar legumes. Já a coordenação motora grossa envolve movimentos com grandes grupos musculares,

26 com menor ênfase na precisão e que normalmente são resultantes de movimentos dos membros do corpo. Apesar dessa classificação algumas habilidades requerem esforços combinados de grandes e pequenos grupos musculares como pedalar andando de bicicleta e ao mesmo tempo acionar os freios de mão ou a campainha/buzina 60. Como já mencionado, a coordenação motora envolve a combinação de movimentos dos membros do corpo. Nesse sentido, Coker 60, ao apresentar a Taxonomia de habilidades motoras proposta por Fleishman mostra que movimentos que envolvem a coordenação bilateral dos hemisférios corporais de membros inferiores, superiores e Intermembros são denominados de coordenação de múltiplos membros. Como base nessas definições as atividades de coordenação motora podem ser realizadas em tarefas que envolvem separadamente a coordenação de membros inferiores, superiores e combinação de ambos, denominadas de coordenação multimembros. A capacidade de coordenar movimentos depende de várias informações sensoriais, que quase sempre acontecem simultaneamente. Isso quer dizer que os receptores sensoriais especializados (visual, auditivo e tátil/cinestésico) transmitem esses estímulos para o cérebro a fim de garantir a execução eficiente da tarefa solicitada 53. Os autores apresentam ainda a coordenação motora classificada em coordenação olho-mão e coordenação olho-pé, que expressam a dependência do movimento eficiente de precisão em relação à informação sensorial do indivíduo. As tarefas esportivas de lançar uma bola de basquete à cesta e chutar uma bola e as do cotidiano como varrer a casa e subir degraus podem ser exemplificadas respectivamente como atividades de coordenação olho-mão e olho-pé.

27 3. DESENVOLVIMENTO Com base nas necessidades mencionadas na introdução, a construção da mídia foi realizada nas seguintes etapas: 3.1 IDENTIFICAÇÃO DAS NECESSIDADES PARA O DESENVOLVIMENTO DA MÍDIA. Inicialmente foi realizado um levantamento bibliográfico e de mídias existentes na internet e a venda no mercado sobre exercícios relacionados ao desenvolvimento das capacidades neuromotoras em idosos. Foram pesquisados sites que comercializam materiais esportivos, livros impressos, E-books e sites de compras que comercializam produtos diversificados nacionais e importados. Foi constatado que o material relacionado a este objetivo é insuficiente em língua portuguesa, tanto em material impresso como em mídia eletrônica. Com base nessa pesquisa, justificamos assim, a necessidade do desenvolvimento deste produto. Esta etapa foi realizada no segundo semestre de 2014, sendo que o levantamento bibliográfico foi realizado em um tempo de aproximadamente seis meses e as pesquisas referentes à existência de mídias sobre exercícios neuromotores em um período de 30 dias. 3.2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Foi realizado levantamento bibliográfico em livros e artigos científicos e outros materiais relevantes para o embasamento teórico da mídia, como conceitos, recomendações para o desenvolvimento de exercícios neuromotores, benefícios entre outros. Os materiais foram consultados nas bibliotecas disponíveis no município, acervo pessoal e bases de dados on-line (MEDLINE, SCIELO e BIREME). 3.3 ELABORAÇÃO E SELEÇÃO DOS EXERCÍCIOS Nesta etapa foram criados e selecionados exercícios de caráter individual e em grupos que contemplem as capacidades de equilíbrio, coordenação motora, tempo de reação e agilidade, conforme detalhamento a seguir. A descrição dos principais exercícios que farão parte da mídia estão apresentados no na sessão 3.8.