Angel CORBERA MaRl (UNCAMP) ABSTRACT:There are three nasal phonemes in Agua~na: 1m/, n! and N. The dorsal N occurs phonetically as [TJ) J in the onset position oj the syllable The changing of N to [ TJ) J is interpreted as debuccalization, the process of removing the place node of a segment. KEY WORDS: ndian Languages, Jivaro Family, Phonology. Em Aguaruna, uma lingua indigena da familia Jivaro, ocorrem como fonemas as consoantes nasais m, nl e 1 N. No nivel fono16gico, essas consoantes ocupam posicoes de coda da sfiaba em interior de palavra, formando grupos homorganic os com as obstruintes iniciais das sfiabas seguintes, como em (1): (1) kln.ku tun.ka l mtin.tsu 'bambu' 'sungaro' 'ceio' man.tu a.n n.ti.ka.ta sum.pa 'gafanhoto' 'advertir' 'camaleao' Essas mesmas consoantes ocorrem na coda da sfiaba somente como resultado do processo de ap6cope do nucleo respectivo.assim, em (2), abaixo, as nasais estao em posicao de coda, pois 0 nueleo softeu queda na estrutura fonetica: (2) [yakum) 'macaco' [t1:inkun) 'cotovelo' [atum) 'voces' [1:iiN] 'bonito] [auhin] 'estudante' [ullin] 'meu filho' [himanbu] 'gemeos' [kahink u) 'apagado' [pahanb u) 'poco' [patakumtei) 'bracelete' [umk u) 'escondido' [yupintlu) 'nao diffcil' 461
Alem das caracterlsticas supra citadas, a nasal dorsal N numa forma can8nica [...CV...]; isto e, NY/, ocorre foneticamente como um glide larlngeo nasalizado [h)]. Assumo, nesta comunica~ao, que 0 fato da nasal N aparecer como [h)] seja um processo de debucaliza~ao, ou seja, essa consoante perde seu ponto de articula~ao dorsal mantendo, porem, a sua caracterfstica nasal. A perda do ponto de articul~ao origina um glide nasal N sobre 0 qual opera posteriormente uma regra de aspir~ao como forma de restabelecer a boa forma~ao da representa~ao fonetica. Como safda fonetica final, as vogais contiguas a larfngea nasalizada tambem se nasalizam. Teoricamente, a debucaliza~ao e definida como 0 processo em que 0 n6- Ponto de um segmento se perde Os estudos trans-lingwsticos mostram que todos os tipos de segmentos, exceto vog~s e fquidas, podem debucalizar-se ( Humbert, 1995). Assim, por exemplo, a debucaliza~o das consoantes nasais prinwias dci como resultado um glide nasallnl; isto e: m, n, N > N ( glide nasal sern ponto de articul~ao). Nos termos de Clements e Hume (1995), os segmentos debucalizados sao sempre realizados como [-consonantico], ou seja, como glides [+vocoide]. No que diz respeito a debucaliz~ao das consoantes nasais, elas perdem 0 ponto, mas retem 0 tra~o [+nasal], que se liga diretam.ente ao n6- raiz, como se mostra em (3): PC X R 11\ L N \ CO =F- \ [- continuo] Payne (1974), em seu estudo sobre a nasalizacao em Aguaruna, aflma que quase a metade das ocorrencias foncticas das vogais nasalizadas acham-se contiguas a [h»). Assim, com base no vocabulario Aguaruna (Larson, 1966), Payne constatou que aproximadamente 175, de 575 ocorrencias de vogais nasalizadas, estavap1 adjacentes a [h»), como em (4): (4) [ilh)\» t) [ilh)\» m] [leu) 11)\» ] [l:i)h)i) leap] 'coisa velha' 'mais tarde, logo' 'porco espinho' flume de borracha' [sah)a) talc] [tu) 11)i) ] [hu) 11))t) [18) 11»)] 'garoa' 'sarna' 'parir' 'aranha'
Altemancias morfofonernicas dessa lfngua moslram a relacao entre a nasal velar subjacente e 0 glide nasallaringeo na estrutura fonetica, como nos exemplos a seguir: (5) a [ut.i - N] 'meu filho' [ut.i )- h)u) - n] 'meu filho (acus.)' [buuk 1- N] 'minha cabe~a' [buuk - h)u) - ka] 'rninha cabe~a?' b. [kumpa - N] 'meuamigo' [kumpa) - T\)u) ] 'amigo (voc.)' [bapa - N] 'meu veado' [bapa) - h)u) ] 'veado (voc.)' c. [tila-n-ta ] 'descasca!' [ ti:i )-ll)u) -~ \k] 'voce descascou?' [tsupi-n-ta ] 'corta!' [tsupi ) -ll)u~,- m -k] 'voce corta?' d. [biman] 'dois (nom.)' [bima) h)a) - n ] 'dois (acus.)' [tsat.tn] 'arvore (nom.)' [tsat.i ) T\)a) - n ] 'more (acus.)' [PNKM 'bom, limp 0' [PNK 1)T\)a) - k] 'bom?, bonito?' Como se ve nos exemplos acima (5 a, b, c, d ) a nasal velar N ocorre como [N] em posicao de coda na forma fonetica, ap6s a queda do seu nl1cleo. Porem, em posicao de onset essa mesma consoante manifesta-se foneticamente como [ ll) ];isto e, urn glide laringeo nasalizado. Na mudanca de N para [ h) ] haveria um processo de debucalizacao da consoante nasal. Assim, a nasal perde seu ponto de articulacao dorsal, mantendo, porem, sua caracteristica laringea e nasal, dando como resultado urn glide nasallnl sem ponto de articulacao. Ter-se-ia 0 seguinte processo : X R [+ cons] \ 0 CO \ L * \ [+ N] PC \ [- cont] [dorsal] b. X R [- cons] 11\ \ Co \ L [+N] observa-se, em (6 a), 0 desligamento do Ponto de Consoante (PC) da cavidade oral transformado 0 segmento em um glide nasallnl(6b). Como 0 articulador para os fonemas consonanticos e desligado da cavidade oral, 0 segmento resultante muda automaticamente de [+consonantico] para [- consonanticol, ficando como unicos articuladores visiveis 0 n6s laringeos e nasais. (Halle,1995). Entretanto, como observa Halle (op.cit), a estrutura representacional resultante da debucalizacao, como em (6b), e uma representacao mal-formada. Considerando esse fato, e necessario, entao, postular estrategias de reparacao que se aplicariam em vanos pontos da derivacao. Nesse
sentido, para explicar a ocorrencia do glide larfngeo nasalizado em Aguaruna. deve-se postular uma regra de redundancia do tipo: A regra em (7) opera como uma forma de repara~ao da estrutura resultante, pois, de outro modo, 0 segmento resultante nao se manifestaria na forma fonetica. Outro fato interessante a observar em Aguaruna e que as consoantes nasais mj e n! nao sofrem debucaliz~ao; ou seja. somente a nasal dorsal e mais suscetvel a ser afeto por esse tipo de processo (Trigo, 1988). Uma vez aceito p processo de debucaliza~ao da nasal dorsal e a regra de redundincia (7), a variayao morfofonemica de N para [ h) ], nos exemplos em (5), ficam explicados. Contudo, como dar conta de itens como em (4) que nao apresentam varia~oes morfofonemicas?. Apesar de nos exemplos apresentados em (4) ocorrerem urn glide lar.fngeo nasalizado [ h) ] em posi~ao intervocatica, 0 que, na verdade acontece e que este som ocupa a posi~ao onset da silaba. sto provoca a nas~io das vogais contfguas a ela. Uma evid!ncia de que 0 segmento [h)} 6 a realiza~io fonetica do fonema nasal dorsal N pode ser comprovada quando se compara esta situa~ao com l{nguas estreitamente aparentadas ao Aguaruna. 0 Huambisa. por exemplo. Com efeito, Payne (1974) observa que os itens com [h) ] no Aguaruna corresponde a [r] no Huambisa, como em: [lib)'\» m] [ts) 1'\)') ] [tu) 1'\)i)] [arum] [tsp) [turi ] 'mais tarde' 'aranha' 'sarna' Por outro lado, a nasal [N] em [mal de silaba do Aguaruna mostra tambem uma [r] nas palavras cognatas do Huambisa: (9) Aguaruna Huambisa [himan] [himr] 'dois' [sunkun] [sunkur] 'tosse' [tantan] [tantar ] 'escudo' Os dados corilparativos de (8) e (9) mostram que os exemplos de (4) podem ser tratados como contendo urna Dasal dorsal na forma subjacente e que foneticamente mantem urn glide laringeo nasalizado [b) ]. Em (4) ve-se tambcm que 0 segmento [h)] 464
espraia 0 seu traco [+ Nasal] bi-direcionalmente; ou seja, para os nucleos adjacentes. Contudo, as obstruintes e as consoantes nasais sao opacas ao espraiamento da nasalizacao, ora progressiva, ora regressivamente (Cf. os exemplos em 5). Em suma, se pode postular a derivacao seguinte: o kunu 0 debucali~ kuh)u 0 aspir~io [ leu)ll)u)] 'porco espinho' nasali~(bi-direcional) As variacoes morfofonemicas nos itens derivados evidenciam uma relacao entre a consoante nasal dorsal N eo glide larfngeo nasalizapo [h) ], que ocorre em.onset na estrutura fonetica. Assume-se igualment.e que 0 glide laringeo nasalizado, que ocorre nos it.ens nao derivados, seria tammm a manifestacao fonetica da nasal dorsal. As evidencias, nesse caso, provem de dados comparativos. Em ambos os casos, a mudanca de [N] para [h)] e considerada como processo de debucalizacao. 0 efeito final do som [ h) ] e espraiar a sua nasalidade para as vogais adjacentes a ele. RESUMO: Existem tres/onemas nasais primdrios em Aguaruna, a saber: 1m/,n! e N. A nasal velar varia mor/%nemicamente com 0 glide lar(ngeo nasalizado [h)] na/orma /onetica. Assumo que essa manijestafiio esta ligada a debucalizafiio da nasal velar, que se desliga de seu no-ponto de articula~iio. PALA VRAS-CHA VE: Unguas ndfgenas, Familia Jivaro, Fonologia. CLEMENTS, G.N. & HUME, Elizabeth V. (1995) The nternal Organization of Speech Sounds. n John GOLDSMTH (cd.) The Handbook of Phonological Theory, 245-306. Cambridge, MA.: Blackwelt Publishers. HUMBERT, Beatrijs H. (1995) Phonological Segments. Their Strucutre and Behaviuor. Dordrecht: Holland Academic Graphics.(HL Dissertations 12). TRGO, Lorenza (1988) On the Phonological Derivation and Behavior of Nasal Dissertation, MT Working Papers in Linguistics. Glides. Doctoral