UM ESTUDO SOBRE A LÍNGUA KAXARARI DA FAMÍLIA PANO: ANÁLISE DE ALGUNS ASPECTOS FONOLÓGICOS
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- Stefany Garrido Bandeira
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1 UM ESTUDO SOBRE A LÍNGUA KAXARARI DA FAMÍLIA PANO: ANÁLISE DE ALGUNS ASPECTOS FONOLÓGICOS Priscila Hanako Ishy 1 ; Gláucia Vieira Cândido 2 ; Lincoln Almir Amarante Ribeiro3 1 Bolsista PBIC /CNPq, graduanda do Curso de Letras, - UEG. 2 Orientador, docente do Curso de Letras, UnUCSEH/Anápolis UEG. 3 Co-orientador, professor aposentado do Departamento de Física da UFMG. Pesquisador do Grupo de Investigação Científica de Línguas Indígenas (GICLI). RESUMO Esta pesquisa tem como objeto de estudo a língua Kaxarari, pertencente à família lingüística Pano. A finalidade principal é estudar e investigar alguns aspectos fonológicos dessa língua, mais especificamente, objetiva-se descrever os inventários de fonemas consonantais e vocálicos, a partir dos discordantes quadros já levantados pelos pesquisadores dessa língua, e retratar alguns possíveis casos de alofonia. O motivo para isso é o fato de haver entre os poucos pesquisadores que estudaram essa língua algumas discordâncias no que se refere aos sistemas de fonemas propostos por cada um para a língua. Em vista disso, o presente trabalho foi proposto para analisar os dados fornecidos por esses estudiosos em suas investigações publicadas e para tentar encontrar, ou ao menos apontar, uma solução para a questão. Além disso, busca-se através deste estudo, indicar algumas outras características lingüísticas ainda não estudadas pelos demais pesquisadores, a saber, algumas ocorrências de alofonia na língua Kaxarari. Palavras-chave: Línguas Indígenas; Fonética e Fonologia; Família Pano; língua Kaxarari. INTRODUÇÃO A intenção desta pesquisa foi estudar a língua Kaxarari, falada por um grupo indígeno de mesmo nome, localizado em regiões do município de Labréa, no sudeste do Estado do Amazonas e no município de Porto Velho, a noroeste do Estado de Rondônia,. 1
2 Há também algumas famílias que vivem isoladamente em outras áreas. No âmbito acadêmico, a língua Kaxarari ainda é pouco conhecida, pois não há muitos estudiosos sobre ela. Ademais, a maioria desses estudiosos fixou seu trabalho na pesquisa fonológica da língua. Dentre os estudos fonológicos do Kaxarari, notou-se a existência de algumas disparidades entre os trabalhos disponíveis. A falta de acordo entre os pesquisadores se encontra nos quadros de sons da língua, o que tornou conveniente uma pesquisa que propusesse a resolução desse problema. Outro detalhe a se mencionar, é que nenhum dos trabalhos utilizados como fontes de informações apresentou dados sobre alofonias nessa língua, tanto no nível consonantal, quanto no vocálico. Dessa forma, os objetivos da pesquisa foram descrever os fonemas da língua Kaxarari e montar o quadro fonológico da mesma, além de investigar algumas possíveis ocorrências de alofones. MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa desenvolveu-se na linha descritiva com abordagem sincrônica, visto que para a sua efetuação tomou-se como análise dados fonológicos expostos em trabalhos publicados por outros pesquisadores dessa língua. Os dados utilizados na pesquisa foram retirados de estudos realizados pelos seguintes pesquisadores da língua Kaxarari: Pickering (1973), Souza (1986), Lanes (2000), Sousa (2004) e Couto (2005). Para a obtenção dos resultados, foram utilizados alguns métodos e princípios fundamentais para a análise fonológica, tais como a verificação de ocorrência de contrastes em ambientes idênticos e também chamados de pares mínimos, procedimento este que se caracteriza por ser uma relação lingüística entre dois sons em que a diferença fonética correspondente a uma diferença de significado ou de estrutura fonológica ou gramatical (KINDELL, 1981), ou seja, consiste em investigar pares de palavras em que haja diferença de apenas um som entre ambas, mas que tenham um significado diferente. Para a descrição dos aspectos da fonologia Kaxarari, foi utilizada uma metodologia diferenciada, ainda não empregada por nenhum outro pesquisador, testada durante esse trabalho e à espera de comprovação quanto à sua eficácia. Esse método foi sugerido a fim 2
3 de determinar a fonologia de uma língua que já obtenha dados fornecidos por outros pesquisadores. Desse modo, cada pesquisador é considerado como se fosse um informante da língua estudada. Sabendo-se da competência e integridade dos pesquisadores, é aceitável supor que os dados de cada um fossem como que de uma mesma aldeia e de uma mesma época. Diante dessa metodologia, é possível que se faça uma análise lingüística, com todos os dados concedidos pelos pesquisadores, nos moldes tradicionais. Se essa metodologia vier a ser comprovada futuramente, acredita-se que também poderá ser usada no estudo de línguas já extintas, mas que ainda possuam registros confiáveis. Inicialmente, a pesquisa constituiu-se em estudos teóricos sobre análise lingüística, principalmente no que se refere à descrição fonológica de uma língua, tendo como fundamentos os estudos de Kindell (1981), Silva (1999) e Santos e Souza (2003). O segundo passo para a pesquisa foi listar todos os vocábulos descritos nos trabalhos dos estudiosos da língua Kaxarari. Posteriormente, os dados foram analisados a fim de encontrar pares mínimos, dentre todos os vocábulos, que comprovassem a existência de determinados fonemas Kaxarari. A partir da definição dos sons que fazem parte da língua Kaxarari, foi montado o quadro fonológico. Por último, foram apontadas algumas hipóteses de ocorrência de alofones, ou seja, casos em que um fone constitui-se em apenas uma variação de outro som. RESULTADOS E DISCUSSÃO Considerando os objetivos da pesquisa, o resultado foi primeiramente a apresentação de um novo quadro fonológico da língua Kaxarari em que as discordâncias entre os estudiosos da língua pudessem ser neutralizadas, além do início de um estudo sobre uma questão ainda não estudada, como é o caso dos alofones Kaxarari. Diante disso, após a catalogação de todos os fones da língua descritos pelos estudiosos, montou-se o quadro fonético com todos os sons registrados na língua Kaxarari, tanto consonantais, quanto vocálicos, como vistos nos quadros I e II, a seguir: 3
4 BILABIAL LÁBIO- DENTAL ALVEOLAR ÁLVEO- PALATAL RETRO FLEXO PALATAL VELAR GLOTAL OCLUSIVA π β κ / OCLUSIVA ϑ κϑ PALATALIZADA βϑ OCLUSIVA LABIALIZADA κω OCLUSIVA ASPIRADA Η OCLUSIVA PRÉ- VOCALIZADA β NASAL µ ν NASAL PALATALIZADA VIBRANTE TEPE Ρ AFRICADA σ Σ AFRICADA ASPIRADA ΣΗ FRICATIVA FRICATIVA LABIALIZADA Β φ ϖ νϑ ρ σ Σ Χ ξ η ΒΩ FRICATIVA PRÉ- VOCALIZADA Β APROXIMANTE ω ϕ APROX.IMANTE LATERAL λ Quadro I: Quadro Fonético da Língua Kaxarari os fones consonantais. Ω ANTERIOR CENTRAL POSTERIOR NÃO ARREDONDADA NÃO ARREDONDADA ARREDONDADA ORAL NASAL ORAL NASAL ORAL NASAL ORAL NASAL ALTO-FECHADO ι ι) ) ) υ υ) SEMI-FECHADO Ι Ι) MÉDIO-ALTO ε Φ Φ) ο MÉDIO Ε Ε_ ) MÉDIO-BAIXO ) ) SEMI-ABERTO Θ ) BAIXO α α) Quadro II: Quadro Fonético da Língua Kaxarari os fones vocálicos. 4
5 Depois da análise dos pares mínimos e da definição dos sons pertencentes ao sistema de fonemas da língua Kaxarari, pôde-se montar o quadro fonológico, também no nível consonantal e vocálico, o qual é apresentado nos quadros III e IV, a seguir: Quadro Quadro BILABIAL ALVEOLAR ÁLVEO- PALATAL RETRO FLEXO PALATAL VELAR GLOTAL OCLUSIVA π τ κ / NASAL µ ν VIBRANTE ρ AFRICADA τσ τσ FRICATIVA Β σ Σ η APROXIMANTE APROXIMANTE LATERAL ω λ Fonológico da Língua Kaxarari os fonemas consonantais. ϕ III: ARREDONDADO ORAL ORAL ORAL ALTO-FECHADO ι υ MÉDIO-FECHADO MÉDIO-ABERTO BAIXO α Quadro IV: Quadro Fonológico da Língua Kaxarari os fonemas vocálicos. Finalmente tem-se as sugestões dos possíveis casos de alofonia, em que se constatou que os fones [β], [ϖ], [Χ], [ξ], [ ], [φ], [Ρ], [ ] e [ο] poderiam ser alguns prováveis casos de alofonia, visto que estes sons ficaram fora do quadro de fonemas da língua. Isso ocorreu porque não foi possível encontrar pares mínimos e nem análogos que comprovassem sua existência no sistema de sons Kaxarari, impossibilitando suas comprovações como fonemas ou mesmo alofones da língua. Todavia, como se sabe, um dos princípios da análise fonológica é o de que os sons foneticamente semelhantes são, potencialmente, pronúncias alternantes de uma só unidade relevante do sistema de sons, o que os tornam alofones de um fonema (KINDELL, 1981). Tem-se, portanto, que os casos não resolvidos com pares mínimos podem ser alofones do Kaxarari. Visto que nenhum deles ocorre em todos os pesquisadores e, mesmo naqueles em que são descritos, poucas são suas ocorrências. 5
6 CONCLUSÃO Dentro dos limites possíveis para a realização de uma pesquisa com dados retirados de outros trabalhos já realizados sobre a língua Kaxarari, pôde-se definir o sistema de sons como fonemas dessa língua e indicar alguns casos de alofonia. Entretanto, como foram poucas as informações utilizadas e como não se obteve recursos que financiassem uma pesquisa de campo para maior exatidão dos dados, é preciso que se considerem parciais os resultados dessa pesquisa, já que estão passíveis de novas investigações e modificações a serem feitas futuramente em nível de mestrado. Portanto, a conclusão desse trabalho não encerra as investigações sobre o quadro fonológico e os alofones da língua Kaxarari, mas abre oportunidades para novas pesquisas na área. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA COUTO, A. Ortografia Kaxarari uma proposta. Porto Velho: SIL, KINDELL, G. E. Guia de Análise Fonológica. Brasília: Summer Institute of Linguistics, LANES, E. Mudança fonológica em línguas da Família Pano f. Dissertação (Mestrado em Lingüística. Área de concentração: Línguas Indígenas) Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, PICKERING, W. R. Vocabulário Kaxararí. SIL-SLM, v. 1, p , SANTOS, R. S.; SOUZA, P. C. Fonética. In: FIORIN, J. L. (org.) Introdução à Lingüística. II. Princípios de análises. São Paulo: Contexto, p Fonologia. In: FIORIN, J. L. (org.) Introdução à Lingüística. II. Princípios de análises. São Paulo: Contexto, p
7 SILVA, T. C. Fonética e Fonologia do Português. São Paulo: Contexto, SOUSA, G. C. Aspectos da Fonologia da Língua Kaxarari f. Dissertação (Mestrado em Lingüística) Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas: UNICAMP, SOUZA, I. C. de. Kaxarari (Família Pano). ALEM (ms.)
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