DEPENDÊNCIA AO EXERCÍCIO FÍSICO E A SÍNDROME DO EXCESSO DE TREINAMENTO: CONSEQUÊNCIAS DO EXCESSO DE EXERCÍCIO



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Revista da Unifebe Artigo Original DEPENDÊNCIA AO EXERCÍCIO FÍSICO E A SÍNDROME DO EXCESSO DE TREINAMENTO: CONSEQUÊNCIAS DO EXCESSO DE EXERCÍCIO PHYSICAL EXERCISE DEPENDECE AND THE OVERTRAINING SYNDROME: CONSEQUENCES OF EXCESSIVE EXERCISE Altair Argentino Pereira Júnior¹ Izabel Cristina Provenza de Miranda Rohlfs² Walter Celso de Lima³ RESUMO A prática regular de exercício físico pode produzir vários efeitos benéficos à saúde, mas estudos indicam que, quando os exercícios são realizados de maneira compulsiva, podem resultar em dependência patológica. Para alguns indivíduos, o exercício pode tornar-se uma obsessão ocasionando a dependência do exercício. Os indivíduos diagnosticados com dependência ao exercício ficam vulneráveis ao quadro da síndrome do excesso de treinamento (SET) que tem como sintomas alterações no humor, decréscimo no desempenho atlético, fadiga constante, mudanças neuroendócrinas e imunológicas, insônia, anorexia dentre outros. Estudos apontam que o sintoma de abstinência é uma das principais características da dependência ao exercício físico que causa a sensações desagradáveis quando há supressão de um ou alguns dias de treinamento. Estas sensações possivelmente estão relacionadas à produção e dependência dos opióídes endógenos. As desordens alimentares comumente ocorrem como uma das conseqüências da dependência ao exercício, uma vez que o indivíduo faz dieta alimentar para perda de peso como meio de melhora do desempenho desportivo A situação se agrava quando surge o consumo de esteróides e anabolizantes a fim de garantir essa melhora ocasionando sérias conseqüências para a saúde do indivíduo. Este artigo objetiva realizar uma revisão e análise da literatura sobre estudos relacionados à dependência de exercício e à síndrome do excesso de treinamento. PALAVRAS-CHAVE: Desempenho Atividade Física. Opióides Endógenos. Desportivo. ABSTRACT The practice of regular physical exercises can produce many beneficial health effects, but studies indicate that when exercises are conducted on a compulsory basis, can result in pathological dependence. For some individuals, exercise can become an obsession causing dependence. The individuals diagnosed with exercise dependence are vulnerable to the framework of the overtraining syndrome (SET) which has symptoms such as changes in mood, decrease in athletic performance, constant fatigue, neuroendocrine and immunological changes, insomnia, anorexy, among others. Studies indicate that the symptom of abstinence is a key feature of addiction to physical exercise that causes unpleasant sensations when deletion of one or a few days of training. These sensations are possibly related to the production and dependence on endogenous opioids. The food disorders commonly occur as one of the consequences of addiction to exercise, since the individuals is diet for weight loss as a means of improving the sporting performance. The situation is worse when anabolic steroids are used to ensure that improve, causing serious consequences to the health of the individual. The aim of this study was to conduct a review and analysis of literature on studies related to the dependence of exercise and the overtraining syndrome. ¹ Mestre em Ciências do Movimento Humano pela Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC. Docente do Centro Universitário de Brusque - Unifebe e do Centro Universitário Leonardo Da Vinci - Uniasselvi. ² Mestre em Ciências do Movimento Humano pela UDESC. Funcionária do Minas Tênis Clube ³ Doutor em Sistemas Biomédicos pela Universidade Federal de Itajubá UNIFEI. Docente do PPG em Ciências do Movimento Humano - UDESC Correspondência para: Altair Argentino Pereira Júnior E-mail: altjunior@unifebe.edu.br Recebido: 13/04/2009 - Aceito: 27/08/2009

KEY-WORDS: Physical Performance. Physical Activity. Endogenous Opioids. 1 Introdução Nos dias atuais existe uma grande preocupação com a qualidade de vida dos profissionais nas diversas áreas do conhecimento. Busca-se sempre oferecer ao trabalhador boas condições de trabalho, propiciando qualidade de vida. Na área esportiva não é diferente. Vários males podem comprometer o atleta, podendo retardar ou interromper sua vida profissional (CHIMINAZZO; MONTAGNER, 2004). Inúmeros estudos têm demonstrado que o exercício físico pode produzir benefícios crônicos e agudos na saúde mental, mas as evidências sugerem que os exercícios realizados de maneira extrema podem resultar em dependência patológica (CIAPPA, 2003). Para alguns indivíduos, o exercício pode tornar-se uma obsessão que tem sido referida na literatura como dependência ao exercício, compulsão por exercício, exercício obrigatório e tem recebido atenção dos pesquisadores desde a descrição desse fenômeno por Baekeland em 1970 (BAEKELAND, 1970; KIM, 2003). A adicção ou dependência ao exercício é um transtorno no qual indivíduos realizam práticas esportivas de forma continua, compulsiva e intensa, a ponto de exigir constantemente de seu organismo, não se importando com eventuais conseqüências ou contra-indicações, mesmo quando orientadas por profissionais da área de saúde. O indivíduo diagnosticado com dependência ao exercício fica vulnerável ao quadro de síndrome do excesso de treinamento (SET), que tem como principal causa uma incorreta condução do treinamento em termos de volume e/ou intensidade e/ou pausas de recuperação, levando a alterações metabólicas, redução do desempenho atlético e da resposta ao treinamento em indivíduos saudáveis, dentre outros vários sinais e sintomas associados (ADAMS; KIRKBY, 1998; HEDELIM et al., 2000). Observa-se que a dependência ao exercício e a SET estão associadas a uma época determinada e a valores culturais, uma vez que surgem de uma sociedade consumista, competitiva e onde o culto à imagem adquire uma grande importância, levando atletas e não atletas a excederem os limites de suas capacidades físicas e psicológicas (ADAMS; KIRKBY, 1998). As desordens alimentares comumente ocorrem como uma das conseqüências da dependência ao exercício, uma vez que o indivíduo faz dieta alimentar para perda de peso como meio de melhora do desempenho desportivo. A situação se agrava quando surge o consumo de esteróides e anabolizantes a fim de garantir essa melhora. O consumo destas sustâncias aumenta o risco de doenças cardiovasculares, lesões hepáticas, disfunções sexuais, diminuição do tamanho dos testículos e maior propensão ao câncer da próstata (DECOVERLEY 1987; KANAYAMA et al., 2003). Estudos apontam que o sintoma de abstinência é uma das principais características da dependência ao exercício físico que causa a sensação de desconforto, irritabilidade, ansiedade, alteração no estado do humor e depressão como conseqüência da supressão de um ou alguns dias de treinamento. Estas sensações desagradáveis parecem ser similares à síndrome de abstinência que grande parte das drogas causa, e possivelmente estão relacionadas à produção e dependência dos opióides endógenos (ROSA; MELLO; FORMIGONI, 2003). Este artigo objetiva realizar uma revisão e análise da literatura sobre estudos relacionados à dependência de exercício e à síndrome do excesso de treinamento e apontar possibilidades de estudos que investiguem melhor as respostas dos opióídes endógenos ao exercício físico. 2 Atividade física e saúde mental

Várias hipóteses têm sido levantadas para explicar os efeitos benéficos de atividade física sobre a saúde mental. As principais são: a- melhora da auto-eficácia que, como o exercício físico pode ser visto como uma atividade desafiadora, conseguir se engajar numa atividade física regular poderia levar a uma melhora do humor e da auto-confiança (NORTH; McCULLAGH; TRAN, 1990); b- a distração provocada pela atividade física (MORGAN,1985); c- a interação social ocasionada pela atividade física (RANSFORD, 1982); d- o aumento dos opióides endógenos e o efeito analgésico das encefalinas e endorfinas aumentadas durante e após o exercício (MORGAN, 1985; RANSFORD, 1982, NICOLOFF, 1995); e- hipótese das monoaminas que se apóia na no fato que a atividade física aumenta a transmissão sináptica das monoaminas (MORGAN, 1985; RANSFORD, 1982), funcionando supostamente como antidepressevisos (NICOLOFF, 1995; DUNN, 1991). Essa hipótese, apesar de plausível, parece simples demais para explicar a melhora de humor associada à atividade física (MORGAN, 1985; DUNN, 1991); f- a supressão do cortisol em resposta ao stress causado pelo aumento da aptidão física que leva a melhora na função emocional; g- outros mecanismos fisiológicos como os efeitos termogênicos, das catecolaminas e o modelo cardíaco. Entretanto, parece difícil que qualquer um desses mecanismos isoladamente explique essa complexa relação (MCAULEY; RUDOLPH, 1995). Também no campo da suposição está uma possível ligação entre aumento de irritabilidade, inquietação, nervosismo e sentimentos de frustração, relatados por indivíduos fisicamente ativos quando impedidos de se exercitar, e a uma abstinência de endorfinas (MORRIS et al., 1990; ALENN, 2000). 3 Opióides Endôgenos Dentre as várias substâncias que são diariamente secretadas em nosso organismo a fim de manter sempre um funcionamento orgânico equilibrado (homeostase), os hormônios são as que desempenham o papel principal. Em situações de desequilíbrio orgânico qualquer, eles entram em cena a fim de amenizar ou restabelecer a homeostase (psicofisiológica). Podemos considerar o exercício físico como sendo uma situação de estresse ao organismo, já que diversas funções e necessidades orgânicas (principalmente energéticas) são alteradas. Dentre os diversos hormônios que são liberados constantemente no organismo, os opióides endógenos, sendo as mais conhecidas a betaendorfina e também as encefalinas, parecem desempenhar um papel bastante importante no controle do estresse (EBERT; LOOSEN; NURCOMBE, 2000). Na década de setenta, enquanto um grupo de cientistas estudava os efeitos analgésicos dos peptídeos opiáceos (como a morfina) sobre a função cerebral, descobriram que nosso cérebro apresenta áreas receptoras que reconhecem estas substâncias como neurotransmissores ou neuromoduladores, concluindo que nosso próprio cérebro produzia substâncias semelhantes aos opiáceos, capazes de realizar alterações comportamentais (EBERT; LOOSEN; NURCOMBE, 2000). Atualmente sabemos que a betaendorfina é responsável por diversas alterações psicofisiológicas, que vão desde o controle da dor até a sensação de bem estar proporcionada pela prática da atividade física embora alguns autores ainda discordem (McGOWAN, 1993). A beta-endorfina pode ser encontrada basicamente em regiões específicas do sistema nervoso central (SNC), ou mesmo na circulação sangüínea. Assim sendo, Thorén et al. (1990), apontam que a beta-endorfina pode ter tanto um efeito sobre áreas cerebrais responsáveis pela modulação da dor, do humor, depressão, ansiedade como pela inibição do sistema nervoso simpático. Desta forma, muitos estudos têm tentando verificar o efeito do exercício físico sobre as concentrações de endorfinas no SNC (cérebro) ou no plasma. Estudos que tentam

identificar estes opióides no SNC são bastante evasivos e conseqüentemente restritos a animais. Em humanos, muitos estudos têm verificado as respostas da beta-endorfina plasmática durante o exercício e suas possíveis conseqüências. Atualmente sabemos que a betaendorfina é secretada para o sangue, pela hipófise. De acordo com Heitkamp et al. (1993), ocorre um aumento plasmático significante das beta-endorfina e também do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), após uma corrida de maratona. O aumento dos dois hormônios ocorreu de forma bastante similar, atingindo os valores mais altos ao término da corrida (aproximadamente cinco vezes maior que em repouso) e retornando aos valores de repouso após 24 horas. Concluiu-se que a beta-endorfina é liberada em situações de estresse do organismo e parece estar envolvida na promoção de um efeito analgésico, e também na melhora dos aspectos emocionais. Por outro lado, alguns estudos não têm verificado aumento da beta-endorfina após exercícios de intensidade leve a moderada (< 60% VO2max) (LANGENFELD; HART; KAO, 1987). Desta forma, a intensidade e a duração do exercício parece ser responsável pela potencial alteração destas substâncias no sangue. Embora muitos estudos tivesse sido realizados a fim de melhor compreender as respostas dos opióides endógenos durante o exercício, muitas dúvidas ainda permanecem e devem ser investigadas mais profundamente, apesar de existir um consenso de que de há uma grande variação interindividual nas respostas dos opióides endógenos ao exercício. Grande parte das alterações do estado de humor e bem estar em indivíduos que seguem uma prática de atividade física, pode ser atribuída aos efeitos no SNC que a beta-endorfina proporciona (HARBER; SUTTON, 1984). Uma possível dependência causada pelo exercício físico também vem sendo alvo de estudos recentes. Estas sensações desagradáveis relacionadas à privação de um ou alguns dias de treino, parecem ser similares à síndrome de abstinência que grande parte das drogas causa, e possivelmente estão relacionadas à produção e dependência dos opióides endógenos. 4 Dependência ao exercício Observa-se atualmente que a prática compulsiva de exercícios físicos pode desencadear um comportamento compulsivo (tabela 1). Desde 1970 vêm sendo publicados alguns estudos nos EUA, Canadá e Inglaterra, centrados no excesso de exercício físico (DAVIS; FOX, 1993; PIERCE et al., 1993; THORTON; SCOTT, 1995; ADAMS; KIRKBY, 1998; DAVIS et al., 1999). A partir daí, inúmeros termos foram aplicados para descrever tal fenômeno. Glasser (1976) usou o termo positive addiction (dependência positiva) considerando a idéia de que a prática regular de exercícios físicos leva a alterações físicas e psicológicas benignas, embora, Morgan (1979) tenha utilizado o termo negative addiction, ao avaliar que a prática excessiva de exercícios está associada a aspectos prejudiciais à saúde física e mental do indivíduo. Lyons e Cromey (1989), em sua pesquisa, relacionaram o excesso da prática de exercícios a sintomas de transtornos alimentares, usando o termo compulsive jogging. Decoverley (1987) propôs o termo dependência ao exercício, por considerá-la similar aos demais tipos de dependência. Sugeriu-se que a dependência ao exercício poderia ser análoga a Anorexia Nervosa (AN) tanto pela obsessão em musculatura como pela compulsão aos exercícios e ingestão de substâncias que aumenta a massa muscular, quanto pela fragrante distorção do esquema corporal. Outros pesquisadores têm sugerido que a dependência ao exercício deveria ser vista como um transtorno mental distinto e que ambos, a anorexia nervosa e a dependência ao exercício são variantes de um transtorno obsessivocompulsivo (YATES; LEEHEY; SHISSLAK, 1983; HOLLANDER, 1997). A dependência ao exercício caracteriza-se pelos seguintes critérios: 1) estreitamento do repertório, levando a um padrão estereotipado de exercícios uma ou mais vezes

por dia; 2) saliência do comportamento de praticar exercícios, dando prioridade sobre outras atividades, para que seja mantido o padrão de exercícios; 3) aumento na tolerância à quantidade e freqüência dos exercícios com o decorrer dos anos; 4) sintomas de abstinência relacionados a transtornos de humor (irritabilidade, depressão, ansiedade, etc.), quando interrompida a prática de exercícios; 5) alívio ou prevenção do aparecimento de síndrome de abstinência por meio da prática de mais exercícios; 6) consciência subjetiva da compulsão pela prática de exercícios; 7) rápida reinstalação dos padrões prévios de exercícios e sintomas de abstinência após um período sem prática de exercícios. Outras características associadas à dependência de exercício são: 1) o indivíduo continua a prática de exercícios, mesmo quando se apresenta doente, lesionado ou com qualquer outra contra-indicação médica, ou a prática de exercícios físicos interfere negativamente nos relacionamentos com o companheiro, familiares, amigos ou no trabalho; 2) o indivíduo faz dieta alimentar para perda de peso como um meio de melhorar o desempenho, podendo fazer uso de esteróides e anabolizantes a fim de garantir essa melhora. O consumo destas sustâncias aumenta o risco de doenças cardiovasculares, lesões hepáticas, disfunções sexuais, diminuição do tamanho dos testículos e maior propensão ao câncer da próstata (DECOVERLEY, 1987). De acordo com Morris et al (1990), alguns corredores apresentavam sintomas de abstinência, tais como irritabilidade, ansiedade, depressão e sentimentos de culpa, quando eram impedidos de participar de suas rotinas de corridas regulares. Entre as evidências que fortalecem a hipótese da existência de dependência de exercício, encontram-se relatos de corredores sobre a interferência da prática regular de corrida no convívio familiar, social e no ambiente de trabalho (SACHS; PARGMAN, 1979). Rolf (1995), relata ser comum a existência de vários tipos de lesões músculoesqueléticas e/ou demais complicações devidas a cargas excessivas de exercícios físicos, em indivíduos que praticam exercícios físicos com alta freqüência e/ou intensidade. 5 A Síndrome do excesso de treinamento (SET) Como conseqüência do controle do sedentarismo através da prática regular de exercícios, da mudança do padrão estético e das exigências do esporte competitivo é comum atletas e não atletas, em todos os níveis de performance, excederem os limites de sua capacidade física e psicológica. A manifestação clínica, devido a esses excessos, se dá por meio de um conjunto de sinais e sintomas conhecido como síndrome do excesso de treinamento (overtraining). Na literatura médica, encontram-se diversos significados para a síndrome do excesso de treinamento que são geralmente associados ao treinamento de sobrecarga, e ao que os americanos chamam de overreaching. O treinamento de sobrecarga refere-se ao treinamento duro, durante alguns dias, seguido de um curto período de descanso que é essencial nesse caso. A homeostase fisiológica corporal precisa ser estimulada por treinamento intenso para que a capacidade de performance possa ser melhorada. Esse processo é chamado de supercompensação. Muitos dias de treinamento intencionalmente pesado são seguidos por alguns dias de treinamento mais leve e descanso para que se consiga atingir a supercompensação e o ápice da performance. É essencial que se reconheça o tempo necessário para a supercompensação. Se um atleta ainda não se adaptou antes que um novo estímulo seja dado, um desequilíbrio progressivo e maior ocorrerá (UUSITALO, 2001). O resultado disso é o overreaching que é um conjunto de sintomas transitórios, sinais e mudanças que aparecem durante um treinamento pesado e são diagnosticados através de testes. Tanto o overreaching como a síndrome do excesso de treinamento cursam com diminuição de performance e sinais e sintomas semelhantes, porém a diferença entre eles refere-se ao tempo de recuperação. No overreaching 2 a 3 semanas

podem restabelecer o equilíbrio de performance do atleta, já na síndrome do excesso de treinamento este processo pode durar meses ou anos (FRY; MORTON; KEAST, 1991; HOUMRD, 1991). A síndrome do excesso de treinamento afeta uma considerável porcentagem de indivíduos envolvidos em programas de treinamento intensivo. Estudos têm demonstrado que os sinais e sintomas da síndrome apareceram em mais de 60% de corredores de distância durante sua carreira esportiva e em mais de 50% de jogadores de futebol profissional americano durante uma temporada competitiva de 5 meses (MORGAN et al., 1987; LEHMANN et al., 1992). Ela é definida como um distúrbio neuroendócrino (hipotálamo-hipofisário) que resulta do desequilíbrio entre a demanda do exercício e a capacidade funcional, podendo ser agravado por uma inadequada recuperação, acarretando decréscimo no desempenho desportivo e atlético, incidência de contusões, mudanças neuroendócrinas e imunológicas, alterações no estado de humor, fadiga constante, dentre outros sintomas (ROHLFS et al., 2004). Este conjunto de manifestações clínicas resulta em fadiga central pela incapacidade do Sistema Nervoso Central em atender às demandas do excesso de exercício. Atletas em todos os níveis de performance estão arriscados a desenvolver essa síndrome e um relevante número de sinais e sintomas tem sido associado à mesma. Fry et al. (1991), listou mais de 200 em sua revisão sobre overtraining. Porém, apesar dessa enorme lista, ainda não existem critérios diagnósticos bem estabelecidos, talvez até pela falta de uma cultura que implique sistemática e rotineira avaliação dos desportistas (ROHLFS et al., 2004). São considerados indivíduos altamente suscetíveis ao desenvolvimento do quadro (GORAYEB; BARROS, 1999): o Atletas muito motivados; o Atletas de alto rendimento; o Atletas que retornam precocemente aos treinos, antes de estarem completamente recuperados; o Atletas e não atletas autotreinados; o Indivíduos com orientação técnica não qualificada. O excesso de treinamento pode ser distinguido em basedovóideo (simpaticotônico) e adisonóideo (parassimpaticotônico). O primeiro é caracterizado pela predominância de processos de estimulação e intensa atividade motora. A recuperação após as cargas é insuficiente e retardada. Esta forma de overtraining é fácil de diagnosticar, pois o atleta sente-se doente e existe um grande número de sinais e sintomas indicadores. Trata-se de uma resposta prolongada ao estresse, precedendo a exaustão, que acomete atletas mais jovens de esportes anaeróbios que envolvem velocidade, força e potência. Alguns dos sintomas característicos são: anorexia, perda de peso, sudorese, dores de cabeça, falta de energia, aumento de freqüência cardíaca basal e da pressão arterial, irritabilidade, insônia e dificuldade de concentração (LEHMANN et al., 1998). A síndrome de origem parassimpaticotônica é caracterizada pela predominância de processos de inibição, fraqueza física e falta de atividade motora. O atleta pode expressar que ele não se sente cansado, mas não se encontra em condições de mobilizar energia necessária para participar de um evento esportivo. O atleta em repouso pode não apresentar sintoma algum, mas os mesmos podem sobrevir furtiva e inesperadamente. Ocorrem também manifestações de ordem depressiva e neurohormonais, apatia e baixa freqüência cardíaca de repouso (LEHMANN et al., 1998). Esse tipo afeta atletas altamente treinados em esportes aeróbios como triatlon, natação de longa distância, maratona e ciclismo de estrada e é mais comum em indivíduos mais velhos, com maior tempo de vida desportiva (FROEHLICH, 1995; LEHMANN; FOSTER; KEUL, 1993). As principais alterações hormonais que ocorrem em ambos são o aumento do cortisol sérico (ação catabólica) e a diminuição da testosterona (ação anabólica). Percebem-se

também alterações na tolerância à glicose (ARMSTRONG; VANHEEST, 2002). O único tratamento efetivo é o repouso prolongado e a melhor maneira de se evitar a manifestação da síndrome é a prevenção. Como ainda não existem marcadores fisiológicos ou biológicos objetivos que permitam um diagnóstico precoce do quadro, o uso de instrumentos que possibilitam medidas de estados de humor tem demonstrado eficácia na detecção de sinais iniciais da síndrome do excesso de treinamento, possibilitando e prevenindo seu desenvolvimento completo (MACKINNON, 2000; RAGLIN; MORGAN, 1994). Autor (ano) Glasser (1976) Morgan (1979) Lyons e Cromey (1989) Decoverley (1987) Morris et al. (1990), Rolf (1995) Resultados encontrados A prática regular de exercícios físicos leva a alterações físicas e psicológicas benignas. A prática excessiva de exercícios está associada a aspectos prejudiciais à saúde física e mental do indivíduo Relação entre o excesso da prática de exercícios a sintomas de transtornos alimentares, Indivíduo pratica atividade física mesmo lesionado; Alteração nos relacionamentos interpessoais,; Dieta alimentar e uso de esteróides. Sintomas de abstinência, tais como irritabilidade, ansiedade, depressão e sentimentos de culpa, quando eram impedidos de participar de suas rotinas de corridas regulares. Vários tipos de lesões músculo-esqueléticas e/ou demais complicações devidas a cargas excessivas de exercícios físicos Tabela 1 Resultados das pesquisas sobre as manifestações da dependência ao exercício 6 Considerações finais A dependência de exercícios e a SET exemplificam bem a influência sociocultural na incidência de alguns transtornos emocionais que podem causar danos à saúde de indivíduos engajados em programas de treinamento e atividade física. O conceito de dependência do exercício necessita de mais clareza. Pode-se considerar aderência ao exercício e a regularidade como características necessárias, mas não suficientes para se considerar um indivíduo dependente ao exercício. No entanto, o aspecto disfuncional que envolve o excesso de treinamento se encontra em processo de discussão. O trabalho conjunto de cientistas e especialistas do esporte e da saúde tem proporcionado um desenvolvimento dos métodos, dos instrumentos vinculados ao contexto e das pesquisas na área da Ciência do Esporte, servindo como um sistema de alimentação para enriquecer a teoria e a metodologia do treinamento, que tem como sujeitos da investigação o desportista e o indivíduo que esteja engajado em programas de atividade física, os quais representam vasta fonte de informação, tanto para o treinador, como para o cientista do esporte e saúde. Diante dessa perspectiva, sugere-se que novos estudos sejam realizados a fim de esclarecer as dúvidas pertinentes ao assunto apresentado neste artigo, bem como o desenvolvimento de novos métodos que possam analisar os mecanismos exatos da relação dos opióídes endógenos e o exercício.

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