III Seminário do Centro de Ciências Sociais Aplicadas Cascavel 18 a 22 de Outubro de 2004



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ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O DESEMPENHO RECENTE DO MERCADO HOTELEIRO EM FOZ DO IGUAÇU 1 Denise Rissato (Unioeste/Campus de Cascavel) 2 Andréia Polizeli Sambatti (Unioeste/Campus de Cascavel) 3 Resumo: Este trabalho tem como objetivo analisar e caracterizar o desempenho do setor hoteleiro, em Foz do Iguaçu, no período de 1990 a 2003. Constatou-se que o referido setor enfrentou dificuldades, ao longo do período estudado, apresentando uma significativa redução no número total de estabelecimentos, no número de leitos e na taxa média de ocupação hoteleira, em decorrência de fatores conjunturais internos e externos e de fatores estruturais inerentes ao próprio destino turístico. Todavia, a que se destacar também que os indicadores de desempenho analisados evidenciam o dinamismo e a sensibilidade do setor, bem como, a sua capacidade de dar respostas rápidas às mudanças ocorridas no mercado. Palavras-Chave: oferta turística, setor hoteleiro, Foz do Iguaçu-Pr 1. Introdução No Brasil, o desenvolvimento da indústria do turismo iniciou bem mais tarde que nos países europeus e nos Estados Unidos. Esses mercados turísticos emergiram após a II Guerra Mundial graças aos importantes avanços obtidos nos setores de transportes e telecomunicações e à melhoria da qualidade de vida de suas populações. A atividade turística brasileira, até a década de 1970, restringia-se a um único pólo conhecido internacionalmente que possuía a infra-estrutura necessária para receber turistas, o Rio de Janeiro. Somente na década de 1980, o turismo brasileiro começou a se desenvolver como resultado direto do aumento da oferta hoteleira em novos pólos de turismo tais como a cidade de São Paulo, a Serra Gaúcha, a cidade de Blumenau e o litoral catarinense e nordestino, com destaque para a Bahia, Rio Grande do Norte, Ceará e Pernambuco (EMBRATUR, 1998, p.4). Observa-se que, no período de 1987 a 1995, o PIB turístico passou de R$38,7 bilhões para R$52,7 bilhões, apresentando um crescimento de 36% em menos de dez anos. Contudo, apesar do turismo brasileiro ter crescido, está longe de esgotar as potencialidades turísticas do país (EMBRATUR, 1998, p 5). De Norte a Sul, o Brasil possui muitos e variados atrativos turísticos. Na região Norte a principal atração é o Ecoturismo, destacando-se também a rica cultura regional indígena. No Centro-Oeste, a principal vocação turística é o ecoturismo no Pantanal Matogrossense, cuja flora e fauna de espécies raras atraem o interesse de turistas do mundo inteiro. No Nordeste, as manifestações culturais que mesclam influências indígenas, africanas e européias, as festas populares e o extenso litoral compõem o rol de atrativos já explorados com grande infra-estrutura turística. O Sudeste destaca-se por ser o maior centro de negócios do Brasil, com forte potencial para o turismo de eventos, além do tradicional carnaval do Rio de Janeiro e São Paulo e do rico patrimônio histórico das cidades mineiras. A região Sul tem na cultura herdada dos colonizadores europeus, nas agroindústrias regionais, nos eventos culturais e nas belezas naturais um grande potencial para o desenvolvimento turístico. Neste contexto está inserido o Paraná que também possui grandes possibilidades para o desenvolvimento turístico em suas mais variadas modalidades que vão desde o

litoral com praias e ilhas, o planalto central com inúmeros atrativos naturais e históricos até o oeste do Estado que conta com uma agroindústria forte e diversificada que favorece a exploração da atividade turística no meio rural e com recursos naturais que potencializam o ecoturismo (PARANÁ TURISMO, 2004). No Paraná, a que se destacar o município de Foz do Iguaçu que está localizado no extremo Oeste do Estado, na fronteira do Brasil com o Paraguai e a Argentina e que, por sua localização geográfica, por seus recursos naturais, artificiais e culturais, se transformou no terceiro destino turístico mais visitado no Brasil, por turistas estrangeiros (EMBRATUR, 2004). Como os serviços de hospedagem são imprescindíveis para viabilização e desenvolvimento da atividade turística, Foz do Iguaçu estruturou-se para receber e hospedar turistas do mundo todo se destacando, atualmente, por possuir o terceiro maior parque hoteleiro do país (CAMPOS & GONÇALVES, 1998, p.70-71; CWIKLA, 2001, p.45). Tendo em vista que, no período de 1990 a 2003, o Parque Nacional do Iguaçu recebeu, em média, 780 mil visitantes por ano e que, mais de 75% dos turistas que vêm a Foz ficam hospedados em hotéis, é possível se ter uma idéia da importância econômica do setor hoteleiro. Ainda, com o intuito de avaliar a importância da atividade turística e da hoteleira na geração de empregos em Foz do Iguaçu, a que se observar que, em 2001, foram gerados 7.016 empregos diretos, dentre os quais, 2.130 empregos familiares e 4.886 empregos de terceiros. Naquele ano, a hotelaria respondeu por, aproximadamente, 46,29% desses empregos. Atualmente, são gerados, cerca de 7.313 postos de trabalho no setor turístico, dos quais 48,82% são gerados pelo setor hoteleiro (SINDHOTÉIS, 2002 4 ; 2004). Considerando a importância dos meios de hospedagem para o desenvolvimento do turismo e, por conseguinte, para a economia local, buscou-se, por meio deste trabalho, analisar e caracterizar o desempenho do mercado hoteleiro em Foz do Iguaçu. 2. Oferta Turística As diversas motivações que dão origem às viagens e às múltiplas necessidades dos viajantes não permitem definir claramente oferta turística. Em outras atividades, geralmente, é fácil determinar quais bens e serviços são demandados. No turismo isso não ocorre, pois existem produtos e serviços que se destinam, ao mesmo tempo, à satisfação das necessidades turísticas e não turísticas. A atividade turística exige a oferta de bens e serviços destinados, exclusivamente, ao atendimento dos turistas, tais como agenciamento de viagens, hospedagem, etc. No entanto, a permanência fora da residência habitual resulta em um conjunto de necessidades adicionais para os viajantes tais como, as atividades de lazer para ocupar o tempo livre, a comunicação de longa distância, os serviços de alimentação, infra-estrutura de transportes, etc, sobre as quais os residentes acabam tendo acesso. Assim, apesar de comporem a oferta turística, algumas atividades não são classificadas como tal, justamente, por não satisfazerem apenas às necessidades de consumo turístico. Desta forma, CUNHA (1997, p.150) define oferta turística como o conjunto de fatores naturais, equipamentos, bens e serviços capazes de promover o deslocamento e a permanência de viajantes, satisfazendo suas necessidades.

A oferta turística, segundo ELESBÃO & ELESBÃO (2000), caracteriza-se por ser, basicamente, uma oferta de serviços, ou seja, de bens intangíveis e não estocáveis. Aliado a isso, a impossibilidade de transportar o serviço ou produto turístico exige o deslocamento do consumidor até o local em que o referido produto é oferecido. Outra importante característica da oferta turística é a sua extrema rigidez, (CUNHA, 1997, p. 152) e (LAGE & MILONE, 2001, p. 81). Isso decorre, em geral, da alta especificidade dos equipamentos turísticos, que possuem poucas possibilidades de reemprego em uso alternativo, sem incorrer em custos adicionais e irrecuperáveis 5. Com isso, a oferta turística torna-se menos flexível e menos sensível, no curto prazo, em relação às exigências e alterações do mercado. A oferta turística destaca-se também pela heterogeneidade dos bens e serviços oferecidos que, para Ruschmann (1997) citada por ELESBÃO & ELESBÃO (2000), podem ser agrupados em dois tipos: as atrações (recursos naturais, tecnológicos e sócioculturais) que são responsáveis pela escolha que o turista faz entre um destino e outro e os equipamentos e serviços (hospedagem, alimentação, entretenimentos, transporte, comunicações, etc) que são responsáveis pela maior ou menor permanência do turista em determinada localidade. Nesse sentido, considerando como bem ou serviço tudo aquilo que está disponível e é capaz de satisfazer uma necessidade humana, CUNHA (1997, p. 151) destaca que a oferta turística compõe-se de quatro grupos de bens e serviços: bens livremente disponíveis (recursos naturais), bens imateriais (tradições e culturas), bens turísticos artificiais (atrativos artificiais) e bens e serviços turísticos complementares (comunicação, hospedagem, restauração, transportes, agências de viagens, etc). LAGE & MILONE (2001, p. 72), por sua vez, classificam a oferta em três categorias de bens e serviços: os atrativos (recursos naturais, históricos e culturais, realizações técnico-científicas e eventos programados); os equipamentos e serviços turísticos (meios de hospedagem, serviços de alimentação, entretenimentos, operadoras e agências de viagens, transportadoras turísticas, serviços de informação turística, locação de veículos e imóveis, casas de câmbio, comércio turístico, etc) e infra-estrutura de apoio turístico (serviços de informação, sistema de transportes, sistemas de comunicações, serviços de utilidade pública, sistemas de segurança e de saúde). Além disso, a que se destacar que algumas atividades são objeto de demanda somente quando integram um produto turístico que, segundo CUNHA (1997, p. 154) compreende o conjunto de bens e serviços que, quando comercializados, motivam os deslocamentos, gerando uma demanda. Os serviços de hotelaria, por exemplo, fazem parte de um conjunto de bens e serviços que motivam os deslocamentos, criando a demanda turística. Em geral, as pessoas não viajam apenas para ficarem hospedadas em um hotel, mas deixam de viajar para lugares muito interessantes se não existirem meios de hospedagem. Diante do que foi discutido até o momento, observa-se que a existência de um conjunto potencial, conhecido ou desconhecido, de bens materiais e imateriais disponíveis ao homem que depois de transformados podem ser empregados para a satisfação de necessidades turísticas não garante, por si só, a existência de atividade nem de oferta turística. São necessários os recursos turísticos, ou seja, um conjunto de bens e serviços que facilitem o deslocamento e assegurem a permanência dos viajantes.

Em outras palavras, o bom desempenho da oferta turística pressupõe a existência de recursos naturais e de atividades humanas capazes de motivar o deslocamento, bem como, de satisfazer as necessidades decorrentes desse deslocamento (CUNHA, 1997, p. 150). Contudo, para atingir esse objetivo, as empresas turísticas e as instituições públicas precisam conhecer o mercado, em suas mais diversas dimensões. Além disso, o planejamento do turismo, em termos globais, também exige o conhecimento da dinâmica do setor. Desse modo, CUNHA (1997, p. 28-29) ressalta que é possível obter uma grande variedade de informações, tanto relacionadas à demanda quanto à oferta turística, que permitem caracterizar a organização e avaliar o desempenho de um mercado turístico. Essas informações requerem a coleta primária e contínua de dados. No entanto, em virtude do turismo implicar na mobilidade de pessoas, de não existir um sistema padrão de pesquisa e de existirem diferentes interpretações conceituais, não é fácil determinar e avaliar os movimentos turísticos. Com relação à demanda, geralmente, são pesquisadas as seguintes informações: o número de visitantes, o número de hóspedes, a origem dos turistas, os meios de transporte utilizados, os gastos médios, o motivos da viagem, o tempo de permanência no destino, os meios de hospedagem utilizados, entre outros. No que diz respeito à oferta turística, as informações, normalmente, coletadas são: o número de estabelecimentos de hospedagem e sua capacidade de alojamento, os atrativos turísticos, as condições de acesso, a disponibilidade de infra-estrutura básica, os empregos gerados, os investimentos e a oferta de equipamentos e serviços turísticos complementares. 3. O Desempenho Recente do Mercado Hoteleiro de Foz do Iguaçu Dentre os equipamentos e serviços que compõem a infra-estrutura turística, os meios de hospedagem se destacam por serem imprescindíveis à viabilização do turismo em qualquer uma de suas modalidades. Em função disso, existe uma grande variedade de meios de hospedagem que se desenvolveu ao longo do tempo, para atender às necessidades da demanda turística dos mais diferentes segmentos demográficos, econômicos, sociais e psicográficos da sociedade. De acordo com CWIKLA (2001, p. 46), os meios de hospedagem podem ser classificados em estabelecimentos hoteleiros e extra-hoteleiros. Os estabelecimentos hoteleiros compreendem os hotéis, hospedarias, pousadas, motéis, dormitórios e albergues, enquanto os estabelecimentos extra-hoteleiros compreendem os campings e os flat s. Ao analisar a oferta de meios de hospedagem ao longo da década de 1990, em Foz do Iguaçu, observa-se que esta apresentou um crescimento de 47,88% no período de 1990 a 1996, conforme Tabela 1. Essa expansão dos meios de hospedagem, na primeira metade da década de 1990, esteve associada ao crescimento do turismo de negócios e ao comércio na tríplice fronteira. Não obstante, também é relevante evidenciar que a implantação do Plano Real, em 1 o de julho de 1994, fez a taxa de câmbio 6 cair para R$ 0,91 em julho e R$ 0,86 em agosto e que, de julho a outubro daquele ano, a moeda nacional valorizou-se, cerca de 17%. Entre 1995 e final de 1998, sob um regime de câmbio mais rígido foi adotado um regime de bandas cambiais, o que garantiu que a moeda brasileira se mantivesse valorizada frente ao dólar (ZINI JR, 1996, p. 126).

De acordo com LAGE & MILONE (2001, p.145-146), quando ocorre uma valorização da moeda nacional, há um estímulo para a expansão da demanda de viagens ao exterior, favorecendo o turismo emissivo em detrimento do turismo receptivo. No entanto, se a moeda nacional se desvaloriza frente à moeda estrangeira, as viagens ao exterior se tornam mais caras, retraindo o turismo emissivo e criando-se condições favoráveis ao crescimento do turismo doméstico e receptivo. Tabela 1 Oferta de meios de hospedagem em Foz do Iguaçu no período de 1990 a 2003. 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Estabelecimentos hoteleiros Hotéis Classificados 48 48 48 49 44 44 44 42 39 38 38 149 122 118 Hotéis nãoclassificados 91 121 118 119 129 131 161 151 109 107 103......... Motéis 13 14 14 13 13 15 15 16 16 16 16 19 19 20 Pousadas 6 9 * 9 9 9 15 17 17 17 18 13 14 15 Hospedarias 2 6 4 4 5 4 3 3 5 3 2 0 0 0 Albergue 1 1 * 1 1 0 0 1 2 n.d. n.d 2 2 1 1 Dormitório 1 1 n.d n.d. 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Total 162 199 194 195 200 210 239 231 186 181 179 183 156 164 Estabelecimentos extra-hoteleiros Flat's 1 2 3 3 3 3 3 2 n.d. 2 2 2 1 1 Campings 2 2 2 1 3 2 2 1 n.d. 2 3 2 2 2 Total 03 04 05 04 06 05 05 03 0 04 05 04 03 03 Total Geral 165 203 199 199 206 215 244 234 186 185 184 187 159 157 Fonte: SMTU - Divisão de Planejamento e Estudos Turísticos (2004). Nota 1 : Sem considerar o potencial de camas extras Nota 2 : ( * ) 1991 - Albergue e Pousada Verde Vale ( no mesmo estabelecimento) Assim, seria de se esperar que a valorização cambial tivesse um efeito negativo sobre o turismo receptivo de Foz do Iguaçu, principalmente, tendo em vista que os turistas estrangeiros representam, em média, 30% dos visitantes recebidos. Contudo, com a criação Zona de Livre Comércio em Ciudad Del Este, no Paraguai, o mercado turístico de Foz do Iguaçu foi beneficiado por um significativo fluxo de visitantes, atraídos pelo turismo de negócios e pela facilidade em obter produtos importados, a preços competitivos (SECRETARIA MUNICIPAL DE TURISMO DE FOZ DO IGUAÇU, 2004). Com isso, o setor hoteleiro de Foz do Iguaçu, mais especificamente, os hotéis não classificados pela Embratur, apresentou um crescimento no número de estabelecimentos de, aproximadamente, 77% no período de 1990 a 1996 (Tabela 1), desenvolvendo-se, assim, um novo segmento hoteleiro, para atender a demanda que surgiu com o turismo de compras no Paraguai. Todavia, a consolidação do Mercosul com a adoção de uma tarifa externa comum e as sucessivas desvalorizações do real que culminaram com a adoção de um câmbio livre, a partir de janeiro de 1999, contribuíram para reduzir, significativamente, o turismo de

compras e, por conseguinte, a atividade dos hotéis, sobretudo, daqueles não classificados, o que explica a drástica redução no número de estabelecimentos em atividade, de 1997 a 2003. Ademais, vale ressaltar que o número total de hotéis (118) e de meios de hospedagem (157) em atividade, no ano de 2003, foi menor do que o existente, em 1990, quando estiveram funcionando 165 estabelecimentos de hospedagem, dentre os quais 139 eram hotéis. Outro aspecto importante para a caracterização do setor hoteleiro, em Foz do Iguaçu, é a sua taxa média de ocupação. Observa-se que, de 1990 a 2003, a taxa de ocupação nos hotéis de Foz do Iguaçu tem se reduzido, de forma persistente e significativa, conforme Tabela 2. A menor a taxa de ocupação hoteleira (23,2%) ocorreu no ano de 2002, em decorrência de fatores conjunturais, tais como, o clima de incerteza que antecedeu eleições presidenciais e que afetou a demanda doméstica, o agravamento da crise na economia Argentina no segundo semestre de 2001, uma vez que, de acordo com SECRETARIA MUNICIPAL DE TURISMO (2004), este é o principal país emissor de turistas para Foz do Iguaçu e, sobretudo, as elevações na taxa de câmbio que afetaram o turismo de compras no Paraguai. De acordo com a EMBRATUR (2004), constata-se que a taxa média de ocupação na hotelaria brasileira, em 2002, foi em média de 50,60%, enquanto em Foz do Iguaçu esta taxa foi de, aproximadamente, 23,2% (Tabela 2). Essa diferença se explica, pelo fato da taxa de ocupação hoteleira nacional refletir o desempenho médio brasileiro, sem levar em consideração as características e modalidades de turismo presentes nas diversas regiões que resultam em diferentes padrões de comportamento da demanda. Na praia, por exemplo, as pessoas tendem a permanecer por mais tempo, enquanto que em locais onde apenas observam os atrativos tendem a permanecer pelo tempo mínimo necessário para a visitação. Desse modo, a taxa de ocupação nos hotéis de Foz do Iguaçu, parece estar, diretamente, relacionada com o tempo de permanência dos turistas na cidade (ver tabela 2) que, por sua vez, decorre das modalidades turísticas locais que são o ecoturismo contemplativo e o turismo de negócios e compras. Tabela 2. Oferta Hoteleira, Taxa de Ocupação Hoteleira e Permanência, em Foz do Iguaçu, no Período de 1990 a 2003. Ano N o de Hotéis Variação % a.a. N o de Leitos Variação % a.a. Taxa de Ocupação Foz Taxa de Ocupação Permanência Média (dias) Foz Brasil 1 1990 139-18.870-35,0 - - 1991 169 21,58 20.785 10,15 32,2 - - 1992 166-1,78 22.589 8,68 30,8 - - 1993 168 1,20 23.294 3,12 30,3-3,7 1994 173 2,98 23.791 2,13 30,3 54,93 3,6 1995 175 1,16 24.291 2,10 28,7 60,67 3,9 1996 205 17,14 25.538 5,13 27,5 58,33-1997 193-5,85 22.325-12,58 27,5 62,37-1998 148-23,32 21.809-2,31 27,3 61,53-1999 145-2,03 22.013 0,94 29,5 59,63 -

2000 141-2,76 21.692-1,46 28,2 60,33 3,9 2001 149 5,67 19.963-7,97 24,9 54,33 3,8 2002 122-18,12 18.532-7,17 23,2 50,60 3,7 2003 118 7,38 18.568 4,05 29,5-3,0 Média 158 21.719 28,92 58,08 3,7 Fonte: Secretaria Municipal de Turismo de Foz do Iguaçu (2004); 1. EMBRATUR (2004); Isto posto, vale salientar que destinos turísticos com tais características podem ter um ciclo de vida mais curto se, além de atrair novos visitantes, não forem capazes de motivar o retorno daqueles que já visitaram o local. Uma outra característica intrínseca ao mercado hoteleiro é a sazonalidade a que este mercado está exposto. Nas atividades de lazer, os períodos e datas das viagens são definidos a partir das exigências pessoais do indivíduo, em função do seu tempo livre e das condições climáticas. 120.000 100.000 80.000 60.000 40.000 20.000 0 Dez Nov Out Set Ago Jul Jun Mai Abr Mar Fev Jan Número Médio de Visitantes Recebidos Gráfico 1 Número Médio de Visitantes Recebidos, por mês, no Parque Nacional do Iguaçu, no período de 1990 a 2003. Fonte: Secretaria Municipal de Turismo (2004). No mercado turístico de Foz do Iguaçu não é diferente. Utilizando como uma proxy da demanda turística, o número médio mensal de visitantes recebidos no Parque Nacional do Iguaçu de 1990 a 2003, é possível observar as flutuações da demanda turística em Foz do Iguaçu (Gráfico 1). Observa-se que os meses de janeiro e julho caracterizam a demanda de alta temporada. Nos meses de fevereiro e abril, a demanda apresenta uma pequena elevação, devido à ocorrência de datas como o Carnaval e a Semana Santa, que atraem turistas brasileiros vindos de grandes centros e, principalmente, argentinos. Além disso, os grandes hotéis vendem pacotes turísticos nesses feriados prolongados. No 2 o semestre, o mercado apresenta uma ligeira recuperação, pela concentração de eventos nacionais e internacionais, geralmente, realizados na cidade. Para finalizar, é preciso destacar que, com o intuito de minimizar os efeitos da sazonalidade, foi criado o Iguassu Conventions & Visitors Bureaux (ICVB), uma organização sem fins lucrativos, mantida por colaboradores que representam as empresas

turísticas privadas, cuja função principal é fazer a captação de eventos para a cidade de Foz do Iguaçu, viabilizando a utilização da infra-estrutura já existente, principalmente, nos grandes hotéis. 4. Considerações Finais Com a realização deste trabalho foi possível constatar que o setor de hospedagem de Foz do Iguaçu enfrentou dificuldades, ao longo do período analisado (1990 a 2003), apresentando uma significativa redução no número total de estabelecimentos, no número de leitos e na taxa média de ocupação hoteleira, em decorrência de fatores conjunturais internos e externos, tais como, a política econômica nacional, a crise Argentina, a criação da Zona de Livre Comércio no Paraguai e a adoção da Tarifa Externa Comum entre os países do Mercosul. No entanto, essa redução da atividade hoteleira, em Foz do Iguaçu, também pode estar relacionada a fatores estruturais inerentes ao produto turístico, como a sazonalidade e a dificuldade de aumentar o tempo de permanência dos visitantes na cidade. Contudo, o comportamento dos indicadores analisados ao longo do período, também, reflete o dinamismo do setor hoteleiro de Foz do Iguaçu, evidenciando a sua capacidade de se ajustar às transformações do mercado e às flutuações de demanda, em curto período de tempo. 5. Referências Bibliográficas CAMPOS, Luiz Cláudio de A.M; GONÇALVES, Maria Helena B. Introdução ao Turismo e à Hotelaria. Rio de Janeiro: Ed. Senac Nacional, 1998, 112p. CUNHA, Licínio. Economia e Política do Turismo. Portugal: McGraw-Hill, 1997. 350p. CWIKLA, Liliana.M.W. Qualidade de Atendimento: Estudo de Multicasos em Hotéis Luxo de Foz do Iguaçu. Florianópolis, 2001. 178p. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal de Santa Catarina. ELESBÃO, Ivo; ELESBÃO, Ildo. Oferta e Demanda no Turismo Rural. In. Congresso Internacional de Turismo Rural & Desenvolvimento Sustentável, 2., Santa Maria, 2000. Anais. Santa Maria: Centro de Ciências Rurais/Univ. Federal de Santa Maria, 2000. 1v. FOZ DO IGUAÇU. Secretaria Municipal de Turismo. http://www.fozdoiguacu.pr.gov.br/turismo/br/biblioteca. Acessado em 01/09/2004. EMBRATUR Anuário Estatístico. Brasília. 1998. EMBRATUR Evolução do Turismo no Brasil 1992-2002. www.embratur.gov.br Acessado em 01/09/2004. LAGE, B.H.G.; MILONE, C. Economia do Turismo. Campinas, SP: Papirus, 1991. 122 p. PARANÁ TURISMO. Cidades Turísticas. www.pr.gov.br. Acessado em 01/09/2004. SINDHOTÉIS Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Foz do Iguaçu. Empregos Gerados por Empresas Filiadas ao Sindhotéis. Comunicação Pessoal em 16/09/2002. SINDHOTÉIS Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Foz do Iguaçu. www.sindhotéisfoz.com.br. Acessado em 16/09/2004. ZINI JR., Álvaro A. Política cambial com liberdade ao câmbio. In: BAUMANN, Renato (org.). O Brasil e a Economia Global. Rio de Janeiro: Campus: SOBEET, p. 109 a 131, 1996.

1 Esse artigo apresenta resultados parciais do projeto de pesquisa entitulado O mercado hoteleiro de Foz do Iguaçu: um estudo sob a ótica da organização industrial coordenado pela profa. Denise Rissato. 2 Mestre em Economia Aplicada pela ESALQ/USP e Professora do Curso de Ciências Econômicas da Unioeste/Cascavel. E-mail drissato@certto.com.br. 3 Mestre em Economia/UEM e professora do curso de Economia da Unioeste/Cascavel. E-mail: andreiapolizeli@brturbo.com 4 Informações obtidas junto ao Sindhotéis, em 16/09/2002. 5 Os custos irrecuperáveis ocorrem pela impossibilidade de transacionar ativos específicos (plantas, equipamentos e capacitação específica), sem a perda total ou parcial do seu valor. Em outras palavras, ocorrem quando um ativo possui custo de oportunidade próximo ou igual a zero (PINDYCK & RUBINFELD, 2002). 6 Assumindo que, no Brasil, a taxa de câmbio representa o preço, em moeda nacional, de uma unidade de moeda estrangeira e que, uma elevação da taxa de câmbio representa uma desvalorização e uma queda, uma valorização.